sábado, 6 de setembro de 2014

América Latina deve cuidar da água para saciar sua ‘sede’ de energia.
Hidrelétrica de Itaipu, a maior da América Latina. Foto: Itaipu Binacional

Você se lembra da última vez em que acabou a luz na sua casa? Algum dia ficou sem água? E o que faria se tais cortes ocorressem ao mesmo tempo e frequentemente? Estão aí reflexões de que nenhuma pessoa, na América Latina ou fora dela, vai conseguir escapar no futuro. Isso, porque o fornecimento de água e a geração de energia estão intimamente ligados, e o crescimento da população global nas próximas décadas aumentará a demanda por esses recursos cada vez mais limitados.

A premissa vale sobretudo para o mundo em desenvolvimento, segundo o Conselho Global de Energia (WEC, na sigla em inglês). A América Latina, por exemplo, é uma das regiões em que a produção de eletricidade mais aumentará até 2050: 550%, fazendo o consumo de água crescer 360%. Só perde para a África, cuja produção de energia subirá 700% até a metade do século, puxando em 500% o uso de água.

Os aumentos não serão impulsionados somente pelas hidrelétricas, que usam a força dos rios para gerar energia. O resfriamento de termelétricas e usinas nucleares, bem como a extração e o refino de combustíveis, por exemplo, também necessitam de água.

E números recentes da Associação Internacional de Energia (IEA) provam essa dependência: até 2035, o consumo mundial de energia crescerá 35%, enquanto o consumo de água pelo setor energético aumentará em 85%. Está claro que, quando falta energia, a produção, o tratamento, o transporte e o consumo final de água falham.
Arte: Banco Mundial

Além disso, tanto a energia como a água são usadas na produção agrícola, inclusive em culturas – como a cana de açúcar – destinadas a gerar energia por meio dos biocombustíveis.

Nos próximos anos, não é só o crescimento populacional que coloca em risco os ciclos de produção de água, energia e agricultura. As mudanças climáticas também ameaçam elevar a temperatura e o nível do mar, por exemplo, e provocar secas mais intensas e frequentes, o que reduz a disponibilidade da água.

Prejuízo para todos

Esse último problema é algo que o Brasil conhece bem. Em 2012, o nível de água nas barragens no sudeste e no centro-oeste do país chegou a 28% da capacidade devido à pior seca em 50 anos. O percentual está abaixo do suficiente para garantir o abastecimento de energia elétrica. Quase 10 anos antes, o país enfrentou oito meses de racionamento por causa da estiagem no nordeste, resultando em um prejuízo de R$ 54 bilhões para a indústria e impactando o crescimento econômico em 2001.

Outro país altamente dependente das hidrelétricas, a vizinha Venezuela, enfrentou em 2010 os mesmos problemas de interrupções no fornecimento de energia.

Mas, assim como não só as hidrelétricas dependem de água, as fornecedoras de outros tipos de energia também vêm sofrendo com a disponibilidade cada vez menor do recurso natural. Em 2007, na Austrália – que então vivia a pior seca em mil anos –, três usinas a carvão tiveram de reduzir a produção para proteger os reservatórios de água municipais.

Em síntese, 59% das empresas de energia e 67% das concessionárias de energia elétrica sofreram algum prejuízo relacionado aos recursos hídricos nos últimos cinco anos, informa o Relatório da Água (2013) divulgado pela CDP, consultoria na área de meio ambiente.

Se as empresas passam dificuldades com a falta de recursos hídricos e de energia, imagine a população. Hoje, 2,8 bilhões dentre as sete bilhões de pessoas em todo o mundo vivem em áreas em que a oferta de água é reduzida, segundo o Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos (WWAP). Para completar, de acordo com a IEA, 2,5 bilhões têm pouco ou nenhum acesso a eletricidade.

Num mundo que não cuide dos seus recursos naturais e afetado pelas mudanças climáticas, os números podem se tornar bem piores – com impactos para a economia e a estabilidade política de muitos países, discute o estudo “Energia Sedenta: Garantindo o Abastecimento em um Mundo com Disponibilidade Limitada de Água“, do Banco Mundial.

Planejamento realista

Apesar dessas preocupações, o planejamento e a produção no setor energético vinham sendo feitos sem levar em consideração as limitações de água atuais e futuras. Essa é uma das principais conclusões do estudo, o primeiro de uma iniciativa – também chamada Energia Sedenta –, cujo objetivo é incentivar os países a agir de forma diferente. A China, um dos primeiros países a trabalhar com ela, vai incorporar essa limitação a seu próximo planejamento quinquenal de energia (2016-2020).
  • Entre outras soluções propostas a ela e outros países, estão:
  • Usar mais energias renováveis, como a solar e a eólica
  • Reciclar e reutilizar a água usada na operação das usinas de energia
  • Substituir usinas antigas e ineficientes
  • Aumentar a eficiência da produção de biocombustíveis
  • Criar leis e regulações sobre o direito de uso da água em momentos de escassez;
  • Integrar a infraestrutura de energia e de água.
E, por último, a iniciativa estimula governos e população a fazer algo simples, mas nem sempre seguido: conservar os recursos hídricos e economizar energia, sempre que possível, não importa o lugar. Trata-se do primeiro passo rumo a um mundo em que os cortes de água e luz sejam cada vez menos uma ameaça.


Fonte: ONU Brasil

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