Feijão-caupi já responde por 85%
das exportações para o Oriente Médio, Ásia e à Europa.
Feijão-caupi. Foto: Agência Embrapa de
Informação Tecnológica
A BRS Guariba, cultivar de feijão-caupi
desenvolvida pela Embrapa Meio-Norte (Teresina-PI) após oito anos de intensas
pesquisa no campo e em laboratório, já responde por 85% das exportações de
feijão para o Oriente Médio, Ásia e à Europa. A cultivar tem excelentes
características comerciais: é de cor branca, tem o formato arredondado, alta
produtividade e é rica em proteínas, ferro e zinco.
Em 2013, o Brasil exportou 24 mil toneladas de
feijão-caupi, num total de US$ 16,5 milhões, segundo o Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Os maiores compradores foram a
Índia e o Egito. Mas o braço exportador brasileiro alcançou também os Emirados
Árabes, Arábia Saudita, Irã e Indonésia. Na Europa, Portugal concentra as
importações. Para este ano, a previsão é que os números se repitam.
O maior exportador individual de feijão do
Brasil, Paulo Henrique Ribeiro de Aguiar, sócio-gerente da Brasil Agropulses,
com sede no município de Sorriso, a 420 quilômetros de Cuiabá, no Norte
mato-grossense, comercializou, no ano passado, 9,5 mil toneladas. Para este
ano, ele acredita que vá negociar pelo menos 10 mil toneladas. O exportador
vende também internamente para as regiões Norte, Nordeste e Sudeste, com
destaque para o Rio de Janeiro e São Paulo.
Paulo Henrique diz que os outros 15% das
exportações brasileiras de feijão para o Oriente Médio, Ásia e Europa, foram
feitas com a cultivar BRS Novaera, também desenvolvida pela Embrapa Meio-Norte.
Todo o feijão exportado pelo Brasil é produzido no Mato Grosso e sai do País
pelo porto de Paranaguá, na região metropolitana de Curitiba.
Conhecido também como feijão-macassa e
feijão-de-corda, o caupi é cultivado com destaque nos estados do Ceará, Bahia e
Piauí, no Nordeste; e Pará, no Norte. Nas duas regiões, a produção é consumida
internamente, sendo base da alimentação das famílias principalmente nas áreas
semiáridas do Nordeste. Três países se destacam com 80% das exportações de
feijão-caupi: Estados Unidos, Peru e Brasil.
O passo-a-passo no nascimento de uma cultivar
O desafio para desenvolver a BRS Guariba começou
em 1996, por cruzamento controlado, coordenado pelo geneticista Francisco
Freire Filho. O passo seguinte foi instalar, em regime de sequeiro, 23 ensaios
de Valor de Cultivo e Uso, no Piauí e Maranhão, onde foram feitos os testes de
campo. Neles, uma revelação animadora: a produtividade média atingiu 1,5 toneladas
por hectare. À época, na região, a produtividade média de outras variedades
alcança apenas uma tonelada por hectare.
No trabalho diário, que envolveu diretamente mais
cinco pesquisadores e 10 auxiliares de pesquisa, o geneticista seguia à risca o
ritual dos cruzamentos vegetais: 1ª etapa –retirada dos órgãos masculinos da
flor. 2ª etapa – coleta do pólen na flor masculina. 3ª etapa – polinização do
botão floral, do qual foram retirados os órgãos masculinos.
Francisco Freire Filho diz que o desenvolvimento
de novas cultivares é sempre prazeroso: “As flores do feijão-caupi são
perfeitas e, quando elas abrem no início da manhã, geralmente já estão
autopolinizadas. Desse modo, a retirada das anteras – órgãos que abrigam os
grãos de pólen da flor feminina – é indispensável para a obtenção de
cruzamentos controlados. Contudo, as flores do feijão-caupi são relativamente
grandes, o que facilita muito o manuseio desses órgãos no processo de
polinização controlada”.
Em laboratório, a cultivar passou por testes
rigorosos de teores de proteína, ferro, zinco e para determinar o tempo médio
de cozimento. Os testes revelaram o seguinte perfil nutricional: proteínas
22,7%, lipídios 1,0%, fibras digestivas 24,9%, carboidratos 47,3%, ferro 69
mg/kg e zinco 33 mg/kg. O tempo médio de cozimento atingiu, no máximo, 21
minutos. Aprovada no campo e em laboratório, a BRS Guariba chegou com força ao
mercado em 2004.
Mais três cultivas chegam ao mercado em 2015
Até o final do primeiro semestre de 2015, o
mercado brasileiro de grãos ganhará mais três cultivares de feijão-caupi: BRS
Brancão, BRS Ouroverde e BRS Inhuma, desenvolvidas pela Embrapa Meio-Norte e
que serão recomendadas para as regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.
Coordenadora nacional do Programa de Melhoramento
Genético do Feijão-Caupi, a Embrapa Meio-Norte trabalha hoje com quatro
projetos com foco na tolerância à seca, na biofortificação e na caracterização
de germoplasma. Os estudos buscam melhor produtividade das cultivares,
resistência a pragas e doenças e boa qualidade comercial do grão. Entre as
novidades no horizonte da pesquisa estão a redução do impacto de doenças que
estão surgindo agora, como as nematoides e as bacterianas, e cultivares com
foco em tipos comerciais de cores preta, creme e rajada.
Pesquisa ganha fôlego no Centro-Oeste
Nos últimos oito meses, o pesquisador José Ângelo
Júnior, lotado na Embrapa Agrossilvipastoril (Sinop-MT), vem trabalhando com as
linhagens elite do Programa Nacional de Melhoramento Genético do Feijão-Caupi,
desenvolvidas em Teresina. Ele também mira o desenvolvimento de linhagens de
feijão-caupi no próprio estado do Mato Grosso, já que elas são desenvolvidas em
Teresina e apenas testadas no Centro-Oeste.
O pesquisador ressalta que com o desenvolvimento
das linhagens no próprio local onde elas serão cultivadas, “as chances de
sucesso serão maiores”. A partir dos bons resultados, a perspectiva de
desenvolver novas cultivares com adaptabilidade e estabilidade de produção para
o agronegócio empresarial e familiar no Mato Grosso cresce.
Avança a produção de sementes
Com a conquista do mercado externo nos últimos
anos e a consolidação da preferência na mesa do brasileiro, o feijão-caupi abre
outro espaço na atividade agrícola: a produção de sementes certificadas pela
Embrapa. No estado do Mato Grosso, por exemplo, são esperadas para este ano 3,6
mil toneladas de sementes, numa área de 2,6 mil hectares, segundo o fiscal
agropecuário Ubiratan Figueiredo, do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento.
E é no município de Sorriso que o gaúcho Leandro
Lodéa, de 38 anos, aposta tudo no avanço da produção de sementes de
feijão-caupi. Este ano, na safrinha de fevereiro a maio, ele plantou 1.150
hectares com a variedade BRS Tumucumaque, também desenvolvida pela Embrapa
Meio-Norte. A expectativa é de uma produção de pelo menos 1,2 toneladas. “Essa
produção vem para organizar o mercado de feijão no Mato Grosso”, garante o
produtor.
Mais adiante, a 486 quilômetros de Sorriso, em
Primavera do Leste, no Sudeste mato-grossense, o também gaúcho Moacir
Tomazetti, de 66 anos, pioneiro na produção de sementes de feijão-caupi no
Centro-Oeste, continua firme. Em 2009, ele foi o maior produtor de sementes do
País. Este ano, Tomazetti espera produzir 1,8 mil toneladas de sementes básicas
em parceria com a Embrapa Produtos e Mercados, numa área de mil hectares. As
variedades cultivadas são a BRS Guariba, BRS Novaera e BRS Tumucumaque.
O avanço no cultivo de sementes e grãos no estado
do Mato Grosso tem valorizado muito o hectare de terra nos municípios com forte
vocação agrícola. Em Sorriso, por exemplo, um hectare de terra agricultável
varia de R$ 15 mil a R$ 67 mil. A escala de preço sobe ou desce de acordo com a
qualidade do solo e a proximidade com áreas estruturadas – asfalto, armazéns, postos
de saúde, de combustíveis e escolas.
Para o consultor Andre Reiguel, 42 anos,
engenheiro agrônomo paranaense que trabalha no estado há 10 anos, o
feijão-caupi tem potencial para se tornar uma commodity. “Ele tem ampla
adaptabilidade às regiões tropicais e baixo custo de produção”, destaca.
Segundo ele, o produto não compete com a agricultura familiar do Nordeste. “O
mercado internacional paga um preço menor, mas em compensação, é mais regular
em volume movimentado”.
Fonte: Agência Embrapa de Notícias
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