Hora de ouvir quem está com a
vida sob risco.
José Claudio que era
castanheiro fazia campanhas contra o desmatamento ilegal da Amazônia. Foto:
Greenpeace/Felipe Milanez.
Exibição de filme em São Paulo e audiência pública
em Brasília dão voz às vítimas de violências na Amazônia.
“Será que eu vou ter que ser assassinado para que
vocês acreditem e tomem providências?”, disse Josias Paulino de Castro, 54
anos, em audiência realizada no dia 5 de agosto com o ouvidor Agrário Nacional
de Mato Grosso, desembargador Gercino José da Silva Filho. Apenas onze dias
depois da oitiva, o líder comunitário e sua esposa, Ereni da Silva Castro, 35
anos, foram mortos em uma emboscada. Josias era presidente da Associação dos
Produtores Rurais Nova União (Aspronu), do Assentamento Projeto Filinto Müller,
e conhecido na região por denunciar madeireiros que atuam no estado. Ele e sua
esposa são as mais recentes vítimas da violência e impunidade que imperam na
Amazônia.
Uma realidade que faz com que cidadãos que buscam
garantir seus direitos sobre a terra, o respeito à lei e a proteção da
floresta, sofram grave risco de perder a vida. A sucessão de tragédias mostra
que, por mais que alertem as autoridades, os ameaçados de morte não conseguem
obter a proteção necessária. Pior: na maioria dos casos, os algozes permanecem
impunes e prontos para reforçar a lei do mais forte sobre o Estado de Direito.
De acordo com um levantamento da Comissão Pastoral
da Terra (CPT), de 1985 a 2013 foram registradas 981 tentativas de assassinato
na Amazônia Legal. Nesse mesmo período, 699 mortes foram consumadas. De todos
esses crimes, apenas 35 foram julgados, condenando 20 mandantes e 27
executores. “Nesse contexto, infelizmente, assistimos perplexos os moradores da
região, muitos deles verdadeiros ativistas pelo meio ambiente, sair da lista de
ameaçados e entrar na de assassinados. Além de Josias, Zé Claudio e outros
tantos, quantos ainda vão ter que anunciar a própria morte?”, questiona Claudia
Caliari, da Campanha Amazônia do Greenpeace. Ainda segundo a CPT, este ano já
foram registrados 23 assassinatos em conflitos no campo, número superior ao de
casos identificados no mesmo período de 2013, que somou 21 mortes.
Para chamar a atenção da opinião pública e ampliar
o debate sobre a situação de insegurança em que vivem estes trabalhadores
extrativistas, além buscar soluções para o problema, a Comissão de Direitos
Humanos do Senado realizará, nesta quarta-feira 3 de setembro, uma Audiência
Pública com a presença de lideranças de comunidades afetadas pela exploração
ilegal de madeira e a violência atrelada à atividade. O Greenpeace estará
presente.
Entre os convidados estão a coordenadora da CPT,
que atua em Boca do Acre (AM), Maria Darlene Braga Martins, autora de denúncias
sobre irregularidades em Planos de Manejo Florestal e sobre a ação de
fazendeiros e madeireiros no estado. Maria Darlene está ameaçada de morte desde
2011. Também participará da audiência Antônio Vasconcelos, liderança na Reserva
Extrativista Ituxi (RESEX), localizada em Lábrea, no sul do Amazonas, ameaçado
de morte desde 2001, por defender a criação e manutenção da RESEX em que vive.
Claudelice Santos, irmã caçula de José Claudio,
assassinado em maio de 2011, no Pará, junto com sua esposa, Maria do Espírito
Santo, é outra importante presença confirmada. Zé Claudio, assim como Josias,
foi morto apenas alguns meses depois de denunciar publicamente que poderia
perder a vida a qualquer momento. Desde então sua irmã Claudelice luta para que
os acusados do crime sejam condenados.
Antes do evento em Brasília, neste domingo 31,
Claudelice passa por São Paulo para participar de um debate aberto ao público
no Museu da Imagem e do Som (MIS). O debate sucede a exibição do documentário
“Toxic Amazon: uma crônica de mortes anunciadas” (VICE, 2011), com entrada
gratuita, e conta também com a participação do trabalhador rural e agente
pastoral da CPT, Cosme Capistano da Silva, que atua em Boca do Acre e vive sob
ameaça de morte desde 2013.
O documentário “Toxic Amazon: uma crônica de mortes
anunciadas” (VICE, 2011), será exibido neste domingo, no Museu da Imagem e do
Som (MIS), com entrada gratuita (MIS – Avenida Europa, 158, Jardim Europa.
RacioCine – Auditório LabMIS, 18h). Após a projeção acontecerá um bate-papo,
com as presenças de Claudelice Santos, irmã caçula de José Claudio, e de Cosme
Capistano da Silva, agente pastoral da CPT.
Fonte: Greenpeace
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