segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Política climática precisa aproveitar palco mundial, por Irene Quaile.
Com cúpula da ONU em Nova York, clima global volta aos holofotes da opinião pública. Líderes políticos e econômicos devem usar plataforma para mostrar como pretendem combater as mudanças climáticas, opina Irene Quaile.
Irene Quaile é jornalista da redação de Ciência e Meio Ambiente da DW.

Em todo o mundo, organizações não governamentais e pessoas comuns atenderam ao chamado, entenderam a urgência da questão. No fim de semana, centenas de milhares demonstraram nas ruas de Nova York, Londres, Berlim e Melbourne ter reconhecido os perigos das mudanças climáticas e esperar ações eficazes de seus governos.

Ao convocar uma reunião de cúpula do clima extraordinária – fora das rodadas habituais de negociações –, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, sinaliza a importância da política climática para o futuro – para o futuro de uma população em crescimento mais acelerado do que o esperado, num planeta cujos recursos consumimos rápido demais.

O secretário-geral tirou, ao menos por alguns dias, as mudanças climáticas das salas escuras de negociações, onde os políticos debatem as mínimas cláusulas contratuais, e as levou ao palco da opinião pública mundial, na sede da ONU em Nova York. A política e a economia devem mostrar juntas que entenderam as ameaças para o clima global, que as soluções existem e que estão prontas para implementá-las. Imediatamente.

Há sinais de aviso mais do que suficientes para a necessidade urgente de ação. Os números mais recentes mostram que liberamos cada vez mais CO2 na atmosfera. O último relatório do Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC) foi assustador: a meta de dois graus Celsius está praticamente fora de alcance. Este verão foi o mais quente desde o início dos registros, em 1880.

Especialistas alertam para condições meteorológicas extremas, fome, escassez de água, elevação do nível do mar. Especialmente nas regiões mais pobres do mundo, as pessoas estão perdendo seus meios de subsistência. Conflitos sobre recursos escassos e ondas de refugiados estão previstos.

O abandono dos combustíveis fósseis e o desenvolvimento de fontes renováveis de energia são essenciais para reduzir as emissões de dióxido de carbono. E existe tecnologia para isso. De acordo com um estudo publicado recentemente, para a implementação de uma mudança completa da matriz energética falta apenas vontade política. E a política não pode ser freada pela pressão das indústrias do setor de combustíveis fósseis.

Cento e vinte chefes de governo atenderam ao chamado do secretário-geral da ONU. A “chanceler-clima” da Alemanha não está entre eles, e ONGs não são as únicas que consideram isso um erro. A Alemanha tem problemas para cumprir suas ambiciosas metas climáticas. A revolução energética desacelerou. E agora o país perdeu uma importante oportunidade de voltar à fileira dos países-modelos em temas climáticos. Entre os principais países industrializados, há muito poucos que não serão representados por seus chefes de Estado ou de governo, incluindo sobretudo aqueles que vão na contramão da proteção ambiental, como Rússia, Austrália e Canadá.

Ban Ki-Moon pediu aos líderes políticos e econômicos para “acelerarem o momento político”. Nesta reunião de cúpula, ele espera “anúncios ousados” de iniciativas de mudanças climáticas. Mas o principal dessa reunião deve ser um clamor público por uma ajuda eficaz para o clima mundial.

Ban Ki-Moon oferece aos poderosos do mundo uma oportunidade de serem reconhecidos internacionalmente como amigos do meio ambiente. Em seu palco em Nova York, eles poderão mostrar que entenderam a urgência do momento e que finalmente vão encarar a proteção ambiental de maneira séria.

Não há plano B para o clima global, porque não temos um planeta B, disse Ban Ki-Moon antes da cúpula. Os olhos da opinião pública estão voltados para Nova York. Precisa-se urgentemente de um sinal de que business as usual levará a mudanças climáticas catastróficas e de que política e economia estão dispostas a impedir que isso aconteça.


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