Suspeitas
na Petrobras: "mensalão 2" ou nova lista de Furnas?
Esquema da Petrobras pode mudar as eleições?
Nomes divulgados de supostos beneficiados dará
a tônica agora, diz blogueiro Matheus Picchonelli.
Foto: Agência Brasil*
Demorou, mas a Polícia Federal voltou a figurar
entre os atores principais de uma corrida presidencial. Foi assim em 2002, com
o Caso Lunus; em 2006, com os Aloprados; em 2010, com o dossiê anti-Serra.
Dessa vez é a Operação Lava Jato, que a PF
deflagrou em março e levou à prisão, entre outras pessoas, o doleiro Alberto
Youssef, amigo colorido de meia Brasília, e o ex-diretor de Refino e
Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. O esquema, segundo a polícia,
movimentou um volume astronômico de dinheiro, algo em torno de R$ 10 bilhões, o
que coloca no bolso todos os outros escândalos citados e não citados.
Preso sob a acusação de receber propina e
participar de um esquema de lavagem de dinheiro e evasão de divisas, Costa já
tinha dito em sua cela que, se falasse tudo o que sabia, não haveria eleição
neste ano. Pois agora ele resolveu falar.
Em depoimento que chegou no início da semana ao
ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, o ex-diretor da Petrobras
disse que 12 senadores, 49 deputados e ao menos um governador receberam
dinheiro desviado da estatal. De acordo com ele, os políticos ficavam com 3% do
valor dos contratos da Petrobras. O teor do depoimento começou a circular na
noite de sexta-feira, o que levou à apreensão de muita gente para saber se
aparecia ou não na lista.
A revista Veja que começou a circular
nesta semana trouxe o nome dos supostos beneficiados, entre eles os atuais
presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan
Calheiros (PMDB-AL), e os governadores Sergio Cabral Filho (PMDB-RJ) e Roseana
Sarney (PMDB-MA). O ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), morto em
um desastre aéreo no último dia 13, também é citado.
As acusações envolvem ainda o ministro de Minas e
Energia, Edison Lobão (PMDB), e o secretário nacional de finanças do PT, João
Vaccari Neto (PT).
Candidata à reeleição, a presidenta Dilma
Rousseff (PT) não é citada, mas a bomba lançada em seu colo tem potencial de
destruição considerável, sobretudo porque entre os supostos casos de propina
citados pelo delator está o negócio que resultou na compra da refinaria de
Pasadena, no Texas (EUA).
O episódio causou um prejuízo bilionário à empresa
brasileira, que comprou a parte de um sócio na refinaria com valores muito
acima da realidade, e motivou a instalação no Congresso de uma CPI. Dilma era a
presidente do Conselho de Administração da Petrobras na época do negócio.
Ainda que as suspeitas não se confirmem, é fato
que o assunto deve dominar o noticiário, até então marcado pela reprodução de
dos embates retóricos sobre novas e velhas formas de fazer política (e velhos
casos de corrupção). É tudo o que a oposição queria.
Costa passa a ser agora o símbolo máximo da velha
política que os adversários tentam associar ao atual governo. Ele foi indicado
ao cargo pelo PP, partido da base do governo, com a anuência do PT e do PMDB,
segundo a Folha de S.Paulo. De lá, afirma a PF, ele montou um esquema
de distribuição de propina que até agora tinham os nomes dos corrutos e não dos
corruptores. Os nomes da outra ponta, inclusive de construtoras bilionárias,
aparecem às vésperas da eleição – os demais escândalos haviam ocorrido na
largada da corrida eleitoral, e os atingidos tiveram tempo para reagir e
depurar o que era pedra e o que era cascalho. E agora?
Se a campanha precisava de um fato novo para
alterar o quadro eleitoral, o fato novo está lançado. Atinge as duas principais
candidaturas e dá fôlego a Aécio Neves (PSDB), que fatalmente usará o tema para
emparedar as rivais, sobretudo a presidenta. Em um primeiro pronunciamento, ele
citou as suspeitas como “Mensalão 2”. “São as mais graves denúncias da história
recente”, disse.
Trunfo eleitoral dos governos petistas nas
últimas eleições, a Petrobras se torna assim seu calcanhar de Aquiles. Como o
governo, a candidata e os citados no depoimento-bomba reagirão? O PSDB surfará
sozinho na crise? Ou ouvirá, como réplica, que seus dirigentes são também
suspeitos de receber propina em uma investigação similar, a do cartel do Metrô
em São Paulo?
Essas são as perguntas imediatas que passam a ser
respondidas pelos suspeitos, atingidos e não atingidos a partir de hoje. Será
um longo fim de semana, que provavelmente só terminará em outubro.
As perguntas
seguintes, quando cascalho e areia estiverem devidamente filtrados, serão
outras. Entre elas, se o caso será lembrado, no futuro, como um novo (e mais
grave, aparentemente) “mensalão”, que levou a cúpula do governo Lula à prisão,
ou um novo caso Furnas, esquema de corrupção e lavagem de dinheiro da central
elétrica para abastecer a campanha de políticos, a maioria do PSDB, que também
apareciam em uma lista com seus nomes e sobrenomes. Em um caso houve
investigação, acusação, julgamento, condenação e prisão. No outro houve
esquecimento. Essas são as perguntas que cabem apenas à Justiça.
*Na foto de Wilson Dias/ABr, o
ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, o senador Romero Jucá e o presidente
do Senado, Renan Calheiros, participam da sessão solene do Congresso, em
outubro do ano passado, em homenagem dos 60 anos da Petrobras. Todos aparecem
na lista de supostos beneficiários no esquema de propina na empresa, segundo
delator.
Fonte: YAHOO! NOTÍCIAS
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