A acidificação oceânica causa
tormentas aos países pesqueiros.
por
Desmond Brown, da IPS
A indústria pesqueira do Caribe emprega diretamente
mais de 120 mil pessoas, e milhares mais, especialmente mulheres, de maneira
indireta nos setores de processamento, comercialização, construção de barcos,
confecção de redes, entre outros. Foto: Desmond Brown/IPS
Pyeongchang, Coreia do Sul, 10/10/2014 – Cientistas
alertaram os países pesqueiros, em particular do Caribe, onde a pesca é uma
importante fonte de renda, que devem prestar atenção em um novo informe
internacional sobre a acidificação dos oceanos. O estudo, publicado pela
secretaria do Convênio sobre a Diversidade Biológica (CDB), coincide com a 12ª
reunião da Conferência das Partes (COP 12) do CDB, que começou no dia 6 nesta
cidade sul-coreana e terminará no dia 17.
“A acidificação oceânica pode ter impactos muito
específicos sobre determinados tipos de pesca, por isso é especialmente
importante para os pequenos Estados insulares em desenvolvimento e para as
pessoas que dependem de um tipo específico de pesca ou organismo”, afirmou à
IPS S. J. Hennige, editor principal do informe. “A reação dos organismos à
acidificação oceânica é variável, mas naqueles que são prejudicados, se a
pessoa depender desse tipo de peixe, então poderá enfrentar consequências muito
graves e é possível que precise mudar para um organismo diferente”,
acrescentou.
Na região da Comunidade do Caribe, a população é
muito dependente da pesca para seu desenvolvimento socioeconômico, o que
contribui em grande parte para a segurança alimentar, mitigação da pobreza, o
emprego, a renda em divisas, a estabilidade das comunidades rurais e costeiras,
a cultura, a recreação e o turismo. Esse subsetor emprega diretamente mais de
120 mil pessoas, e outros milhares, especialmente mulheres, de maneira indireta
nos setores de processamento, comercialização, construção de barcos, confecção
de redes, entre outros.
Uma equipe internacional de 30 especialistas,
liderada por cientistas da Grã-Bretanha, conclui no informe que a acidificação
dos oceanos já está em andamento e seu agravamento é quase inevitável, causando
prejuízos generalizados a organismos e ecossistemas marinhos e aos produtores e
serviços que proporcionam.
David Obura, diretor de Pesquisa e Desenvolvimento
da Costa Oceânica no Oceano Índico, disse que a segurança alimentar está sob
ameaça no Caribe e em outras regiões com forte dependência pesqueira. “A
acidificação oceânica altera a química da água marinha, o que afeta o
crescimento dos peixes, em geral negativamente. Assim, ocorre baixa na
produtividade”, apontou.
Há dez anos, apenas um punhado de cientistas
pesquisava os efeitos biológicos da acidificação dos oceanos. Apesar dos
resultados preocupantes, eram necessários mais medições e experimentos. Desde
então foram publicados mais de mil estudos e se estabeleceu que muitas espécies
marinhas sofrerão as consequências em um mundo com alta concentração de dióxido
de carbono (CO2), com repercussões para a humanidade.
Hennige pontuou que nos Estados Unidos já há
exemplos de mercados de ostras afetados pela acidificação oceânica, e explicou
que a causa subjacente do problema é o CO2. “Quanto mais CO2 é liberado dos
combustíveis fósseis mais se dissolverá no oceano. Há práticas que podem ser
aplicadas para compensá-lo temporariamente, mas o problema de fundo é que se
libera cada vez mais CO2 na atmosfera, e o problema só vai piorar se
continuarmos assim. Não é um problema provocado pelo Caribe, é mundial e
precisa de uma solução mundial”, ressaltou.
Susan Singh-Renton, subdiretora-executiva do
Mecanismo Regional Pesqueiro do Caribe, disse à IPS que tudo o que se diz no
informe pode ser aplicado à situação caribenha. “A acidificação oceânica é um
fenômeno preocupante porque significa que a água marinha, como um meio de apoio
para a vida, está mudando de maneira muito fundamental”, afirmou.
Além disso, prosseguiu, “como o ecossistema
oceânico é muito complexo, não é possível prever as consequências com certeza,
mas é seguro que serão importantes para as ilhas tropicais, especialmente para
aquelas cujas economias se baseiam na saúde e na beleza de seus arrecifes de
corais”, observou Singh-Renton. “A degradação dos arrecifes de corais afetará
muitos peixes tradicionais do mercado caribenho, como o pargo e a garoupa”,
entre outros, que dependem desses ecossistemas para sobreviver, acrescentou .
Também diminuirão “a saúde e a sobrevivência dos
animais que crescem em conchas de carbonato, como o caracol rainha, que
sustenta importantes pescas comerciais, geradoras de milhões de dólares no
Caribe. Com uma mudança tão fundamental na química da água marinha, é possível
que outras formas de vida sejam afetadas de maneira irreversível”, destacou
Singh-Renton.
Os autores do informe afirmam que a magnitude exata
dos custos ecológicos e financeiros ainda é incerta, devido às complexas
interações com outras alterações ambientais provocadas pela atividade humana. O
CDB destaca o risco para os arrecifes de coral porque esses ecossistemas são um
sustento essencial dos meios de vida de 400 milhões de pessoas, acrescentaram.
Até o final deste século, a acidificação dos oceanos causará perda econômica de
“US$ 1 trilhão”, indicou Hennige.
Carol Turley, coautora do informe, enfatizou que a
espiral descendente pode ser revertida, mas são necessárias medidas e fundos
urgentes. “Quem pode medir a acidificação? Na realidade, apenas os países
industrializados podem fazê-lo, por isso devemos começar a exportar esse
conhecimento para países como os caribenhos e os pequenos Estados insulares em
desenvolvimento”, disse à IPS. “Me preocupa nossa lentidão. Estamos em um mundo
onde o oceano se acidifica muito rapidamente, por isso temos que agir muito
rapidamente”, ressaltou.
Em 2013, os cientistas alertaram que a acidez dos
oceanos poderia aumentar 170% até o final do século causando prejuízos
significativos. O problema provavelmente altere os ecossistemas marinhos e a
biodiversidade oceânica, com consequências de longo alcance para os seres
humanos. Também alertaram na época que as perdas econômicas pela redução da
aquicultura de moluscos e a degradação dos arrecifes de coral tropicais podem
ser consideráveis devido à sensibilidade desses organismos à acidificação
oceânica.
Fonte: ENVOLVERDE
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