Alimentação saudável melhora o
aprendizado.
por Fernanda Kalena, do
Porvir
Projeto Merenda com o Chef, realizado em
Salvador, reformula as refeições servidas aos estudantes e já mostra resultados.
Uma alimentação balanceada pode ajudar a otimizar
o desempenho e o aprendizado dos alunos. É isso o que está mostrando o projeto
Merenda com o Chef, uma das ações do Bairro-Escola Rio Vermelho, de Salvador, que reúne chefs de
cozinha do bairro e merendeiras da rede pública de ensino para pensar e
implementar formas de tornar o lanche servido aos estudantes mais saudável.
A primeira escola a receber o projeto foi o
Colégio Estadual Alfredo Magalhães, que tem cerca de 400 alunos do 6o ao 9o ano
em período integral, além de outros 400 no período noturno. As merendeiras da
escola passaram a receber, desde o início de 2013, dicas do chef Ramon Simões,
dono do restaurante Armazém do Reino, que semanalmente visita a escola.
“O Ramon estabeleceu com elas [as merendeiras]
uma parceria na qual elas aprendem com ele mas também usam o que sabem. É essa
troca que abre caminho para uma alimentação mais saudável para os meninos”,
conta Orlando Souza Goes, vice-diretor do colégio.
O objetivo não é transformar inteiramente o modo
de preparo das refeições, mas usar os conhecimentos das merendeiras e os
ingredientes disponíveis na escola para preparar uma dieta mais balanceada e
saudável para os alunos. Mudanças pequenas como a redução do uso de sal e
açúcar, por exemplo, trazem benefícios visíveis no desempenho dos alunos.
“Os meninos passaram a ficar menos agitados e
mais concentrados nas aulas da tarde”, conta o vice-diretor, ao lembrar que
antes das mudanças no cardápio, durante o período da tarde, pós almoço, era
difícil manter o foco dos estudantes. “Com uma refeição balanceada e de fácil
digestão, a disposição deles para continuar estudando é bem maior. Os próprios
professores têm percebido eles mais dispostos”.
O chef Ramon conta que, primeiro, fez um tipo de
auditoria, para conhecer os ingredientes que a escola tinha a sua disposição.
“Selecionei alguns itens e separei outros que eram desnecessários, como creme
de leite, óleo de soja, enlatados em geral e salgadinhos”, explica.
Sobre a receptividade das merendeiras o chef diz
que a relação é ótima, mas que não as chama assim. “Existem títulos que
simbolizam estigmas, por isso as chamo de OA, orientadoras alimentares, pois é
isso que elas são”. Ele lembra que no começo elas acharam estranho, mas que
depois de algumas conversas se iniciou uma boa relação, pois tinham o mesmo
objetivo: levar uma alimentação mais gostosa e saudável para os alunos.
“Não podemos destruir parte do outro e
transformar o outro na gente. Temos que agregar o valor do outro. Foi isso que
eu fiz. Quero fazer a comida de cada uma delas, ajudar a melhorar cada receita,
dar uns toques”, argumenta Ramon.
E as OAs já incorporaram muitos desses
aprendizados. Raimunda Amorim de Jesus, por exemplo, conta que a escola sempre
teve soja, mas que os meninos não gostavam de comer porque o cheiro era muito
forte e esquisito. “A gente não sabia como cozinhar para ficar gostoso. O
professor [como as merendeiras chamam Ramon] nos ensinou a lavá-la para tirar o
cheiro forte e a fazer coisas diferentes com ela. Hoje os meninos comem e acham
uma delícia”, conta a cozinheira que trabalha há 18 anos na escola.
A colega de Raimunda, Sonia Maria Fontes Simas,
conta que os ensinamentos do chef vão além das receitas. “Aprendemos que na
cozinha o mais importante é a harmonia e a calma. Ele é paciente, cuida de cada
alimento. O que aprendi aqui me fez mudar algumas coisas em minha casa também,
serve para a nossa vida, nosso dia a dia, nossos filhos”.
Além da preocupação com a saúde, Ramon também se
preocupou em conscientiza-las sobre a importância da reciclagem, as ensinou a
separar o lixo e os resíduos orgânicos. “A educação da reciclagem começa na
cozinha”, diz o chef.
Próximos passos
Os planos para o projeto envolvem outros dois
pontos importantes para que ele possa ser mais efetivo e possível de ser
replicado em outras escolas: o cultivo de uma horta e a produção de um livro de
receitas.
Fazer uma horta na escola possibilita que as OAs
tenham a sua disposição ingredientes naturais e frescos para preparar as
merendas, independente de licitações e fornecedores atrelados às secretarias de
educação.
Além disso, Ramon enxerga na horta um jeito
interessante de entrar nas escolas e iniciar a discussão sobre a importância de
uma alimentação mais saudável e balanceada. “Existe todo um trabalho curricular
agregado, que envolve todo mundo, alunos, professores e funcionários”.
Visando levar a iniciativa para outras
instituições de ensino, Ramon está elaborando um guia, que vai ter uma ficha
técnica dessa dieta nutricional balanceada. “Estou criando junto com as OAs uma
Dieta da Merenda com o Chef, para mostrar para as secretarias que é possível
fazer refeições saudáveis com os ingredientes disponíveis e a horta”, explica.
“É importante fazer um trabalho que possa dar
seguimento, desenvolver e replicar. Estamos propondo uma reflexão e podemos
transformar isso em uma iniciativa nacional”, vislumbra o chef.
Fonte: O
Porvir
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