Alterações genéticas e glifosato.
Após oito anos de pesquisas, o grupo GEMA da UNRC
elaborou um relatório no qual confirma a “clara” vinculação do glifosato com
alterações genéticas que podem levar ao câncer, gerar abortos espontâneos e
nascimentos com malformações.
A reportagem é de Darío Aranda, publicada
por Página/12, 06-10-2014. A tradução é do Cepat.
Fonte: http://goo.gl/NrC7AO
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Oito anos de pesquisa, quinze publicações
científicas e uma certeza: os agrotóxicos causam alterações genéticas e
aumentam as probabilidades de contrair câncer, sofrer abortos espontâneos e
nascimentos com malformações. A declaração vem do Grupo de Genética e
Mutagêneses Ambiental (GEMA), pesquisadores da Universidade Nacional de Río
Cuarto (UNRC), que confirmaram com estudos em pessoas e animais, as
consequências sanitárias do modelo agropecuário. Glifosato, endosulfam,
atrazina, clorpirifos e cipermetrina são alguns dos agrotóxicos prejudiciais.
“A vinculação entre alteração genética e câncer é clara”, reafirmou Fernando Mañas, pesquisador da UNRC.
“La genotoxicidad del glifosato evaluada por el
ensayo cometa y pruebas citogenéticas” é o título que leva a pesquisa
publicada na revista científica Toxicologia Ambiental e Farmacologia (da
Holanda). O trabalho descreve o efeito genotóxico (o efeito sobre o material
genético) do glifosato sobre células humanas e ratos, que, inclusive,
confirmaram alterações genéticas em células humanas com doses de glifosato em
concentrações até vinte vezes inferiores às utilizadas nas pulverizações em
campo.
Outra pesquisa se chama “Genotoxicidad del AMPA
(metabolito ambiental del glifosato), evaluada por el ensayo cometa y pruebas
citogenéticas”. Publicada na revista Ecotoxicologia e Segurança
Ambiental (dos EUA). O AMPA é o principal produto da degradação do
glifosato (o herbicida se transforma, principalmente, pela ação de enzimas
bacterianas do solo, na AMPA). Confirmaram que o AMPA aumentou a alteração no
DNA de em culturas celulares e em cromossomos em culturas de sangue humano. “O
AMPA demonstrou ter tanta ou maior capacidade genotóxica que sua molécula
parental, o glifosato”, afirma a pesquisa da universidade pública.
“Em diversas pesquisas confirmamos alterações
genéticas em pessoas expostas a agrotóxicos. A alteração cromossômica que
vimos, indica quem tem mais risco de sofrer de câncer, a médio e longo prazo.
Assim como outras doenças cardiovasculares, malformações, abortos”, explicou Fernando
Mañas, doutor em Ciências Biológicas e parte da equipe da UNRC.
Mañas trabalha junto com Delia Aiassa e juntos
coordenam, desde 2006, o grupo de pesquisa. No início eram cinco pesquisadores.
Atualmente são 21 com enfoque multidisciplinar (biólogos, veterinários,
microbiólogos, psicopedagogos, veterinários e advogados). O eixo em comum são
os efeitos da exposição às substâncias químicas sobre a saúde humana, ambiental
e animal. Trabalham junto às populações expostas a agrotóxicos, estudam os
cromossomos, o DNA e o funcionamento do material genético.
Em seus quinze artigos científicos os pesquisadores
confirmaram o efeito dos agrotóxicos sobre o material genético, tanto em
animais de laboratório como em populações humanas expostas pelo trabalho e
involuntariamente às substancias químicas. A última pesquisa, de 2014, foi
realizada entre crianças entre 05 e 12 anos de Marcos Juárez e Oncativo
(Córdoba, Argentina) onde também verificou-se um aumento da alteração no
material genético das crianças.
Explicam que os estudos nos cromossomos são sobre o
material genético. Eles descobriram altos níveis de alterações genéticas em
pessoas expostas a produtos químicos. O dano em cromossomos (material genético)
alerta que a pessoa está sob o risco de desenvolver algumas doenças. “Quanto
maior o dano genético, maior a probabilidade de câncer”, afimrou Mañas.
Ao longo de suas quinze pesquisas, utilizaram
diferentes técnicas. Em todas confirmaram a alteração genética. “Os agrotóxicos
e a alteração que provocam estão absolutamente vinculados ao modelo agropecuário
vigente”, afirma Mañas, mesmo que esclareça que é uma opinião individual
e não uma postura de toda a equipe de pesquisa. Primeiro trabalharam com uma
mostra de vinte pessoas, da periferia de Río Cuarto. Aprofundaram com 50
pessoas em outras localidades e, logo, com 80 de Las Vertientes, Marcos Juárez,
Saira, Rodeo Viejo e Gigena. Os produtos mais encontrados e que provocam mais
dano são o glifosato, atrazina, cipermetrina, clorpirifos e endosulfam.
“Estrés oxidativo y ensayo cometa en tejidos de
ratones tratados con glifosato y AMPA” é o título de outra pesquisa
publicada na revista Genética Básica e Aplicada da Argentina. Confirmaram o
“aumento significativo” no dano ao DNA no fígado e no sangue. Na revista
científica Boletim de Contaminação Ambiental e Toxicologia (dos Estados
Unidos) confirmaram o dano genético nos trabalhadores rurais. “Estes resultados
mostram que a exposição humana à mescla de agrotóxicos pode aumentar o risco
que desenvolver doenças relacionadas com a genetoxidade (câncer, problemas
reprodutivos e/ou na descendência)”, aponta a publicação científica.
Boa parte das pesquisas do grupo acadêmico está
presente no livro “Plaguicidas a la carta. Daño genético y outros riesgos”
que trata das características dos pesticidas, os seus efeitos sobre o material
genético humano e de animais silvestres, a susceptibilidade das pessoas e os
efeitos do glifosato, entre outros agrotóxicos.
Fonte: IHU On-line
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