Aumento do nível
médio do mar reduz borda livre de cais e impacta estruturas portuárias.
Uma aceleração do aumento do nível médio do mar
nas últimas décadas, com ondas maiores e aumento da frequência de tempestades.
Essas foram as principais constatações de um extenso levantamento de dados das
marés em 13 em localidades da costa brasileira, realizado pelo professor Paolo
Alfredini, do Departamento de Engenharia Hidráulica e Ambiental (PHD), da
Escola Politécnica (Poli) da USP. O estudo também identificou os impactos
desses fenômenos sobre as estruturas portuárias, costeiras e estuarinas. Entre
os principais estão a redução de borda livre de cais (espaço entre o piso do
cais e a superfície da água), aumento de inundações em pátios e vias
portuárias, e aumento das dragagens.
Intitulado Impactos e adaptações das
estruturas portuárias e costeiras num cenário de mudanças climáticas globais,
o trabalho teve como objetivo identificar os impactos costeiros e estuarinos
ligados à variabilidade do clima, de ondas e de marés, que vem ocorrendo nas
últimas décadas e como eles afetam as obras de engenharia portuária e costeira.
“Essa identificação possibilitará a indicação de obras de adaptação ou
mitigação para o enfrentamento desta nova realidade”, explica Alfredini. “Deste
modo, torna-se possível buscar a quantificação de cada processo na região de
interesse, facilitando a conclusão das medidas de engenharia a serem planejadas
no futuro próximo.” Entre essas medidas estão o aumento de largura de canais de
acesso portuários e dos volumes de dragagem dos portos.
Dados maregráficos
De acordo com ele, foi realizada uma extensiva coleta das bases de dados maregráficos de um longo período na costa brasileira, que em alguns casos vai desde 1940 até os dias atuais. “As informações foram colhidas em localidades das Costas Sul [Rio Grande do sul ao Rio de Janeiro], Leste [Espírito Santo ao Rio Grande do Norte] e Norte [Rio Grande do Norte ao Pará] do Brasil”, conta. “Depois elas foram organizadas e sistematizadas, visando a obtenção das taxas de elevação do nível do mar e sua tendência recente.
Quanto às ondas, os dados estão sendo utilizados
para calibrar e validar modelos meteorológicos globais localmente, permitindo a
verificação das tendências desde a década de 1960.
Os dados de marégrafos de Ubatuba (SP), no
período de 1954 a 2005, Ilha Fiscal (RJ), de 1963 a 2009, Recife (PE), de 1947
a 1987, e Belém (PA), de 1948 a 1987, por exemplo, apontam para uma elevação do
nível médio do mar de 35 centímetros (cm) a 65 cm neste século. Vitória, cujo
estudo abrangeu o período de 1979 a 1981, é considerada a área mais crítica,
pois o aumento do nível do mar também colocaria cerca de 600 mil pessoas em
áreas de risco. Já a projeção para a Baixada Santista (SP) é de um aumento de
meio metro em cem anos.
O trabalho do pesquisador da Poli é pioneiro no
Brasil. “Ele começou em 2004, com projeto de um ano realizado com recursos do
Banco Mundial, por intermédio do Ministério do Meio Ambiente”, informa
Alfredini. “Depois, o estudo ganhou grande impulso a partir de 2010 com
recursos da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
[CAPES], por meio do Projeto Rede Litoral, no qual contamos com a colaboração
de professores do Politecnico di Torino, na Itália.”
A pedido da Secretária de Assuntos Estratégicos
da Presidência da República, a pesquisa caminha agora para mapear as adaptações
necessárias nos portos brasileiros frente às mudanças climáticas. Para esta
etapa, o estudo conta com recursos Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (PNUD).
Foto: Marcos Santos / USP Imagens
Fonte: Agência
USP de Notícias
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