sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Canabidiol mostrou eficácia na melhora da qualidade de vida e bem-estar de pacientes com doença de Parkinson.
Estudo com canabidiol mostrou eficácia para melhorar a qualidade de vida em pacientes.

Pela primeira vez em humanos, estudo com canabidiol (CDB) mostrou eficácia para melhorar a qualidade de vida e bem-estar geral em pacientes com Doença de Parkinson. Segundo um dos coordenadores da pesquisa, professor José Alexandre Crippa, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, “com a vantagem de não ter apresentado nenhum efeito colateral”.

O professor Crippa explica que até hoje todos os medicamentos utilizados para tratar a Doença de Parkinson atuam primordialmente no sistema dopaminérgico, conjunto de receptores da dopamina, substância química que tem um papel fundamental no controle das funções mentais e motoras, como a regulação da atenção, do estado de ânimo, a memória, a aprendizagem e o movimento, por exemplo. “Essa pode ser a causa de efeitos colaterais como alucinações, náuseas, delírios e de uma outra complicação motora chamada discinesia tardia, entre outras”.

Para o professor, o CDB provavelmente atua no sistema endocanabinoide, formado por um conjunto de neurotransmissores que são semelhantes aos compostos químicos existentes na Cannabis sativa, planta de onde é extraída a substância canabidiol. “Isso pode explicar a ausência de efeitos colaterais e, com isso, dá um importante passo para uma nova opção de tratamento da doença”, diz.

Outro aspecto apontado pelo pesquisador como animador foi a ausência de flutuação nos sintomas psiquiátricos, ou seja, a variação de humor comum em quem utiliza medicamentos para controle dos sintomas não-motores da doença, como depressão e ansiedade, por exemplo, que se dão entre os intervalos de uso dos medicamentos.

O estudo

Durante seis semanas, 21 pessoas com diagnóstico de Doença de Parkinson, sem demência ou problemas psiquiátricos, participaram do estudo. Os pacientes foram divididos em três grupos, um recebeu placebo, ou seja, somente com o óleo de milho, outro recebeu o CDB a 75mg/dia, dissolvido ao óleo de milho e o terceiro o CDB a 300mg/dia, também dissolvido ao óleo de milho.  O estudo foi duplo-cego, ou seja, nem os pacientes nem os profissionais que os acompanharam sabiam a que grupo cada sujeito pertencia.

O canabidiol foi fornecido em forma de pó, com 99,9% de pureza (e sem qualquer traço de THC, a substancia responsável pelos efeitos psicoativos da maconha), por uma empresa alemã. A droga dissolvida em óleo de milho foi colocada em cápsulas de gelatina, que foram armazenadas em frascos de vidro escuro. “As cápsulas somente com óleo de milho e com CDB foram fornecidas em cápsulas idênticas”, afirmam os pesquisadores.

Todos os pacientes participantes do estudo foram avaliados quanto aos sintomas motores e não motores da doença, por meio de instrumentos que inclui o Parkinson Disease Questionnaire–39 (PDQ-39), considerado atualmente o mais apropriado para avaliação da qualidade de vida e de sensação de bem-estar do paciente com Parkinson, segundo os pesquisadores. “Dentre os sintomas motores, podemos citar os tremores, sendo que entre os não motores estão, por exemplo, a apatia e a depressão, sintomas comuns em quem tem Parkinson”, relata o professor Crippa.

Após as seis semanas de uso do CDB e nova avaliação, foi relatada percepção de melhora da qualidade de vida e do bem-estar dos pacientes. “E esse relato foi feito pelo paciente e pelos seus familiares, tanto para os sintomas motores, como os não motores. E foram significantes para os que receberam CDB a 75mg/dia e, ainda maior, para os que receberam o CDB a 300mg/dia”, comemora o professor.

Os resultados acabam de ser publicados no Journal of Psychopharmacology, da Associação Britânica de Psicofarmacologia. Além do professor Crippa, também participaram do estudo os pesquisadores Antonio Waldo Zuardi, Vitor Tumas, Antonio Carlos dos Santos, Jaime Hallak, Marcos Hortes Chagas, Márcio Alexandre Pena-Pereira, Emmanuelle Sobreira, Mateus Bergamaschi, todos da FMRP, e Antonio Lucio Teixeira, da Universidade Federal de Minas Gerais.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens.


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