Propriedade de pecuária de corte
de Rondônia é modelo em sustentabilidade.
Giocondo plantou duas mil mudas de espécies
nativas nas áreas de preservação permanente.
“Já andei por todo estado e não vi coisa igual.
Eu sempre ouvi falar desse negócio de sustentabilidade, de preservar o meio
ambiente e tal, mas eu achei que isso não existia, estava enganado. Agora eu
tenho certeza de que só com tecnologia a gente pode conseguir produzir mais na
mesma área, pois hoje não se pode mais derrubar a mata e temos que recuperar as
áreas que temos”, comenta, impressionado, o pequeno produtor rondoniense Jair
Nepomuceno. Assim como ele, outras tantas pessoas que tiveram a oportunidade de
conhecer a Fazenda Don Aro, em Machadinho d’Oeste, Rondônia, saíram de lá com
uma visão real de que sustentabilidade no negócio rural não é uma utopia.
A fazenda é a primeira propriedade do estado a
receber o atestado de adequação pelo Programa de Boas Práticas Agropecuárias –
Bovinos de Corte (BPA), coordenado pela Embrapa. É ainda a segunda do Norte a
receber a classificação ouro, por atender a 100% dos itens obrigatórios e 80%
dos altamente recomendáveis pelo Programa, e a décima no Brasil nesta
categoria. “Este resultado é fruto de um trabalho diuturno, de anos. Nós
acreditamos veementemente no trabalho que estamos realizando e temos orgulho de
ter a Embrapa como parceira, uma empresa que está sempre ao lado da melhoria do
agronegócio”, destaca o proprietário da Don Aro, Giocondo Vale. O atestado foi
entregue pela Embrapa Rondônia durante o dia de campo em pecuária de corte,
realizado na fazenda no dia 26 de setembro.
A propriedade também é pioneira no estado em
relação ao Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS), bem como ao Plano
“Lixo Zero”. Além da tríplice lavagem de agrotóxicos, a propriedade realiza a
coleta seletiva com o devido destino de cada grupo (em sintonia com a Lei
12305/2010) e está investindo na recuperação das Áreas de Preservação
Permanentes (APPs), com duas mil mudas de espécies nativas, e ainda com o plantio
de nove mil mudas de castanheiras em outros locais da propriedade. “Somos prova
de que é possível ter uma empresa agrícola e atuar de forma sustentável, sendo
ecologicamente correto, economicamente viável e socialmente justo”, diz
Giocondo.
Há 20 anos ele trabalha com a questão da
sustentabilidade em sua propriedade e chegou a fazer uma pós-graduação em
gestão ambiental para administrar melhor seu negócio. Iniciou cedo a reposição
florestal, com o plantio de tecas e castanheiras, realizado há cerca de 16 anos,
possui ainda um grande ativo de madeiras. “A propriedade historicamente não
sabe o que é fogo. Nada é jogado fora, tudo é reaproveitado”, conta Giocondo. A
propriedade tem quase 1.600 hectares (ha), sendo 249 ha de áreas de preservação
permanente, 163 ha de reserva legal e 58 ha de reposição florestal.
As práticas incorporadas por Giocondo há anos
encontraram no Programa BPA orientações e apoio necessários para que ele
pudesse ajustar e melhorar as atividades realizadas em sua propriedade,
tornando o sistema de produção sustentável, mais competitivo e rentável. Ele
contou com um técnico, especializado em assistência técnica rural, da
secretaria de Agricultura da Prefeitura de Machadinho, que identificou os
pontos que necessitavam de melhorias e auxiliou na correção das não
conformidades observadas, de modo a atender os requisitos do Programa. Uma das
ações que podem ser facilmente percebidas é a identificação de toda
infraestrutura da propriedade. Assim como também é possível ver placas com
orientações quanto à realização adequadas das principais atividades.
A recuperação das pastagens com a integração da
pecuária com a lavoura, tecnologia recomendada pela Embrapa, é outra prática
adotada na Don Aro. Para se ter uma ideia, Rondônia conta com um rebanho de 12
milhões de cabeças de gado, em cerca de seis milhões de hectares de pastagem e
destes, 70% estão em algum estágio de degradação. Com o sistema de integração
lavoura-pecuária na propriedade é possível melhorar as condições físicas e
químicas do solo, gerando maior produtividade em uma mesma área e,
consequentemente, mais renda ao produtor. O sistema constitui uma importante
opção para produzir uma pastagem de qualidade, que pode ser adotada tanto por
pequenos como por grandes produtores. Com esta prática, Giocondo teve
lucratividade com a lavoura de arroz e, agora, poderá colocar mais cabeças de
gado por hectare quando voltar com a pastagem renovada.
De acordo com a coordenadora do Programa no
estado e zootecnista da Embrapa Rondônia, Elisa Osmari, o ouro recebido pela
propriedade mostra que a sustentabilidade é o caminho e que o Programa BPA é
uma visão de futuro para os produtores que aderirem às suas práticas. “Muitas
ações exigidas pelo BPA não são obrigatórias legalmente, mas em breve serão.
Desta forma, o produtor pode se prevenir, evitando multas quanto às questões
ambientais, problemas com a legislação trabalhista, dificuldades de
financiamentos por não adequação entre tantas outras. É importante ressaltar
que Rondônia exporta carne para 31 países e logo mais não haverá espaço para
quem não tiver um produto de qualidade e adequado ao que se exige mundialmente.
A não adequação dos produtores de Rondônia pode implicar em um impacto negativo
para a exportação de carne pelo estado e é preciso estar atento, olhar para
frente e estar preparado”, explica a zootecnista.
O pioneirismo de Giocondo Vale foi observado pelo
gerente-geral do Banco da Amazônia. “Ele é precursor de uma política de gestão
que é fundamental para que qualquer empreendimento rural hoje tenha sucesso.
Resultados e rentabilidade que muitos almejam, mas que não acreditam ser
possível conquistar com práticas sustentáveis, o Senhor Giocondo está provando
que é”, ressalta. Produtores rurais de Machadinho d’Oeste e região do Vale do
Jamari já estão seguindo o exemplo e adotando práticas sustentáveis em suas
propriedades. “Hoje eu reutilizo tudo na minha propriedade, que é pequena, não
jogo mais nada fora e nem queimo. Posso dizer que mudei muito a forma como eu
conduzo minha propriedade depois do que eu vi na Don Aro e estamos incentivando
nossos vizinhos a fazer o mesmo. O Giocondo é um apaixonado pelo que faz e isso
contagia a gente”, conta o produtor Jorge Ronconi.
Sustentabilidade na empresa rural, uma
utopia?
Ser sustentável hoje em dia é mais do que um
discurso apenas, tornou-se uma questão de necessidade até para que existam
recursos para as gerações futuras. Para isso, é preciso mudar comportamentos e
garantir a continuidade dos recursos. “Conhecimento só para mim é inútil. Ele
deve ser compartilhado, multiplicado aos quatro cantos. Acredito que não
adianta meu negócio ir bem, o mundo deve ir no mesmo sentido. Nós vivenciamos a
sustentabilidade no nosso dia-a-dia e aplicamos em todas as atividades da
propriedade.”, argumenta Giocondo.
Tratados como parceiros de negócios, Giocondo
conta que na última safra a equipe chegou a receber até o 16º salário, pois
tiveram participação nos lucros. “Eles colaboram produzindo e eu, como
empresário, dou retorno a eles com uma série de benefícios. somos como uma
engrenagem, todos os dentes são necessários para que funcione e isso é
reafirmado semanalmente à equipe”, explica. Além dos encontros semanais,
durante o ano são realizados eventos com palestras e atividades práticas com a
equipe e também com demais pessoas da cidade que são convidadas. Os assuntos
são dos mais variados, desde os ligados ao campo e às atividades que
desempenham na fazenda até outros ligados à saúde humana, nutrição, educação,
entre outros temas de relevância para o negócio e para a melhoria de vida das
pessoas.
A fazenda conta com seis trabalhadores de campo
que moram na propriedade com suas respectivas famílias, cada uma em sua própria
casa e é possível perceber mudanças nas rotinas da equipe. Segundo Irenildo
Assunção, que trabalha há 10 anos na Don Aro as perspectivas mudaram. “A gente
abraçou a missão da fazenda e está crescendo junto com ela. Estou fazendo um
excelente negócio aqui.”, comenta Irenildo. Além do estímulo ao crescimento
mutuo, práticas simples e importantes passaram a ser adotadas por todos na
fazenda. Isso desde a diminuição de frituras na alimentação, ao não desperdício
de alimentos, à melhoria do relacionamento. Gesiel de Oliveira conta que está
na propriedade há dois anos e reconhece as mudanças. “Ele incentiva muito a
gente, não só no trabalho, mas com ações de relacionamento entre os colegas e a
família”.
Boas Práticas Agropecuárias – Bovinos de
corte
O BPA-bovinos de corte é um conjunto de normas e
procedimentos a serem adotados pelos produtores para tornar os sistemas de
produção mais rentáveis e competitivos, assegurando a oferta de alimentos
seguros provenientes de sistemas de produção sustentáveis. Trata-se de uma
adequação do programa Global gap, da Organização das Nações Unidas para
Agricultura e Alimentação (FAO), à realidade brasileira. No país, é liderado
pela Embrapa, com o apoio do Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (Mapa). Existem três níveis de adequação dentro do programa,
ouro, prata e bronze. A propriedade que consegue atender 100% dos itens
obrigatórios e 80% dos recomendáveis atinge o nível ouro.
O principal objetivo do Programa BPA é melhorar a
competitividade do setor produtivo da pecuária de corte e reduzir o custo de
produção com a incorporação de tecnologias que tornem viáveis a utilização de
boas práticas no sistema de produção.
Mais informações sobre o Programa no site http://cloud.cnpgc.embrapa.br/bpa/.
Fonte: Embrapa
Rondônia
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