segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Resultantes sociais da atividade de turismo, artigo de Roberto Naime.
Impactos ou vetores das resultantes sociais do turismo tem maior complexidade e não podem ser classificados em positivos ou negativos. Identificam-se estágios diferenciados de convivência das comunidades receptoras com as atividades turísticas (RODRIGUES, A. B. Turismo: Desenvolvimento Local Organizado, HUCITEC, 1997).

A primeira fase pode ser denominado de magia eufórica. As pessoas estão entusiasmadas e vibram com o desenvolvimento do turismo ainda que não esteja convenientemente planejado. Recebem os turistas e registram sentimentos de satisfação. As oportunidades de emprego, geração de negócios e lucratividade são abundantes e aumentam com o crescimento da presença dos turistas. Ninguém ainda consegue vislumbrar a necessidade de prever, ordenar e organizar os fluxos turísticos.

O segundo estágio pode ser classificado como de apatia, na medida em que a atividade cresce e se consolida. A população receptora considera a rentabilidade e continuidade como garantidas, e o turista passa a ser concebido como um meio para obtenção do lucro fácil. Neste estágio os contatos humanos são mera formalidade e não existe mais euforia ou satisfação.

Posteriormente começa uma fase de irritação, quando a atividade turística começa a atingir níveis de saturação, ou quando a localidade não consegue atender as exigências da demanda, seja por falta de infraestrutura, seja por falta de planejamento. Os equipamentos existentes não correspondem mais às necessidades.

O quarto estágio na evolução deste processo social pode ser caracterizado pela denominação de antagonismo. Os moradores locais não escondem e já não disfarçam mais sua irritação e responsabilizam os turistas por todos os seus males. Os problemas da comunidade que tendem a crescer também são atribuídos às atividades turísticas. Destacam-se em geral, aumentos de impostos, de criminalidade, de desajustes na juventude, etc. A polidez e o respeito desaparecem e dão lugar ao antagonismo, com a hostilização do turista pela população local receptora.

O último momento pode ser interpretado como de conscientização da realidade. Nesta fase a população se conscientiza de que na ânsia de obter todas as vantagens da atividade turística a qualquer preço, não foram planejadas as atividades e todas as mudanças de paradigma tendem a se tornar rupturas sociais de gravidade variável.

Aqui, um dos principais itens afetados é o meio ambiente e os ecossistemas, que agredidos, nunca mais voltarão a ser o que eram antes do advento turístico, pela falta de planejamento, organização ou tarefas de controle ou compensação.

Por outro lado, a presença de grande número de turistas, de diversas procedências, estimula hábitos de consumo desconhecidos ou inacessíveis para a população receptora. Ocorrem drásticas alterações nos padrões de moralidade em função das mudanças de paradigma, com aumento da prostituição, criminalidade e do jogo organizado, com todas as consequências.

Além disso muitas vezes o turismo pode atuar como veículo ou agente de disseminação de doenças que a infraestrutura local não está preparada para enfrentar. E a importação de recursos humanos, geralmente deixa para as populações locais receptoras as ocupações de menor qualificação e renda.

O turismo é a indústria do futuro, pode ser a redenção econômica de muitas comunidades. Estados do Nordeste, Norte e Centro-oeste brasileiro tem belezas naturais, potencial e vocação turística.

Mas está claro que planejar, organizar, controlar e interceder sempre que necessário são necessidades que o setor público não pode deixar de praticar para que a atividade turística seja fonte de qualidade ambiental e qualidade de vida para as populações atingidas.

Num país em que o estado tem se notabilizado pela sua ausência nas suas funções precípuas de planejamento e regulação, um grande sonho pode se tornar um pesadelo.

Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

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Fonte: EcoDebate

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