domingo, 19 de outubro de 2014

Solução para a mudança climática está na biodiversidade.
por Desmond Brown, da IPS
A espécie mais conhecida de Santa Lúcia é o papagaio-de-santa-lúcia, em perigo de extinção. Foto: Steve Wilson/cc by 2.0.

Pyeongchang, Coreia do Sul, 16/10/23014 – A extraordinária biodiversidade dos países do Caribe, que já sofre impactos humanos como a exploração da terra, contaminação, espécies invasoras e cultivo excessivo de espécies de valor comercial, agora sofre a ameaça adicional da mudança climática. Por ocasião da 12ª Conferência das Partes (COP 12) do Convênio sobre a Diversidade Biológica (CDB), que começou dia 6 e termina hoje, em Pyeongchang, na Coreia do Sul, o coordenador de biodiversidade de Santa Lúcia, Terrence Gilliard, disse à IPS que a mudança climática tem um considerável impacto nessa ilha caribenha.

“Houve denúncias de descoloração dos corais pela elevação da temperatura marinha, e se alargou a safra produtiva de alguns produtos agrícolas”, disse Gilliard, que também é funcionário de desenvolvimento sustentável e ambiental de seu país. “Fenômenos meteorológicos extremos, como o furacão Tomás, em 2010, e a tempestade de Natal de 2013, “provocaram grandes deslizamentos de terra nas áreas de floresta e a perda de vida silvestre. Extensos períodos de seca limitam as existências de água e afetam a produção agrícola”, acrescentou.

Embora Santa Lúcia tenha superfície inferior a 616 quilômetros quadrados, sua fauna e flora são excepcionalmente ricas, com mais de 200 espécies únicas, entre elas 7% das aves e assombrosos 53% dos répteis do mundo. A espécie mais conhecida do país é o papagaio-de-santa-lúcia (Amazona versicolor). Outras espécies  de interesse como o cedro lápiz, o coral chifre de cervo e a cobra corredora de Santa Lúcia. Esta última, confinada à ilha María Mayor, de 12 hectares, possivelmente seja a serpente mais ameaçada do mundo.

A corredora de Antiga, uma pequena e inofensiva serpente que se alimenta de lagartos nessa ilha, sofreu a implacável depredação de mangustos e ratos, e em 2013 restavam apenas cerca de 1.020 exemplares.

Helena Brown, coordenadora da Divisão Ambiental do Ministério de Saúde e Meio Ambiente de Antiga, disse que o país tem dois programas de conservação dedicados à corredora e outra espécie em perigo de extinção, a tartaruga Carey. “Trabalha-se muito, mas são apenas duas espécies entre muitas. A biodiversidade é importante para nossa saúde, nossa posição, nosso atrativo com país e é importante que a conservemos e utilizemos de maneira sustentável, para as gerações futuras”, pontuou à IPS.

A Agência Ambiental e de Planejamento da Jamaica afirma que os ecossistemas dessa ilha mais vulneráveis às consequências da mudança climática são os arrecifes de coral, as florestas das terras altas e os mangues costeiros. A Jamaica tem mais de oito mil espécies registradas e ocupa o quinto lugar mundial em espécies endêmicas. A ilha tem 98,2% das 514 espécies autóctones de caracol de terra e 100% das 22 espécies autóctones de anfíbios.

Sua rica diversidade de espécies marinhas inclui espécies de peixes, anêmonas, corais negros, moluscos, tartarugas, baleias, golfinhos e peixe-boi. As florestas cobrem quase 30,1% do país e há dez bacias hidrológicas com mais de cem rios e riachos, bem como cursos de água subterrâneos, lagoas e mananciais.

Em São Cristóvão e Neves os efeitos da mudança climática ainda não são muito visíveis. “Será preciso mais tempo para confirmar algumas das mudanças sutis que são observadas. Por exemplo, em alguns casos parece haver períodos mais longos de seca que afetam os ciclos naturais de algumas plantas e também dos cultivos agrícolas”, apontou o diretor de Ordenamento Territorial e Ambiental do Ministério de Desenvolvimento Sustentável, Randolph Edmead.

“A temporada de chuvas parece mais curta e quando chove os episódios são mais intensos, com inundações repentinas”, acrescentou Edmead. Muitas das atividades e lugares relacionados com o turismo em São Cristóvão e Neves se baseiam na biodiversidade, como os arrecifes de coral. Ele também afirmou que estes arrecifes nutrem a pesca, que é uma importante fonte de alimento.

“A renda gerada com essas atividades incentiva o desenvolvimento e também é importante para os meios de vida” da população, destacou Edmead. Além disso, a biodiversidade das florestas é uma parte importante do produto turístico do país. “A biodiversidade também ajuda a proteger a erosão dos solos, que é importante não só para a agricultura, mas também para a proteção de infraestruturas vitais”, ressaltou.

O diretor-executivo do CDB, o brasileiro Braulio Ferreira de Souza Dias, afirmou à IPS que a mudança climática é uma ameaça importante para a biodiversidade e pediu que haja avanço na COP 20 da Convenção Marco das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que acontecerá em dezembro em Lima, no Peru.
Diretor-executivo do Convênio das Nações Unidas sobre a Diversidade Biológica (CDB), Braulio Ferreira de Souza Dias. Foto: Desmond Brown/IPS.

“As ameaças à biodiversidade continuam. Mas de onde surgem essas ameaças? Das políticas públicas, empresariais e de outros fatores que aparecem no setor socioeconômico: crescimento demográfico, aumento do consumo, mais contaminação, mudança climática. São alguns dos grandes impulsionadores da perda da biodiversidade”, afirmou Dias.

“Se não avançarmos nas negociações para reduzir as emissões de gases-estufa, a perda de biodiversidade provavelmente continuará”, pontuou Dias, que também apresenta a biodiversidade como parte da solução para o problema da mudança climática. Uma gestão melhor das florestas, dos mangues e de outros sistemas pode ajudar a reduzir os gases-estufa, destacou.

“Também podemos melhorar a adaptação porque esta não tem a ver apenas com a construção de muros para barrar a elevação do nível do mar nas zonas costeiras. Trata-se de ter ecossistemas mais resistentes aos diferentes cenários da mudança climática”, explicou o diretor do CDB.

“Precisamos conservar melhor os ecossistemas de nossa paisagem, ter uma paisagem mais diversificada com um pouco de floresta, mangues, zonas de captação protegidas. Atualmente, vamos para as paisagens mais simplificadas, apenas as grandes extensões de monoculturas, as grandes cidades, dessa forma seguimos na direção errada”, enfatizou Dias.


Fonte: ENVOLVERDE

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