A destruição da floresta não para.
por
Redação do Greenpeace
Área de desmatamento de corte raso recém queimado,
no norte do Mato Grosso. Preparação de terra para a expansão da agricultura.
Foto: ©PauloPereira/Greenpeace.
Em sobrevoo de monitoramento no Mato Grosso
Greenpeace identifica grandes queimadas florestais, desmatamento, além de
produção de soja e criação de gado em áreas embargadas pela justiça..
O Brasil conseguiu reduzir as taxas de desmatamento
nos últimos anos. Saiu de 25.000 Km2 para 5.000 Km2. Esta redução foi
comemorada e divulgada para o mundo inteiro. O setor agropecuário nacional
pegou carona nesse cenário repetindo um discurso de que, graças a ele, “moderno
e ambientalmente sustentável”, essa queda foi possível. Grandes expoentes do
setor chegaram a afirmar que não é mais necessário desmatar para ampliar a
produção agrícola.
Infelizmente a realidade é outra. Neste mês de
outubro, o Greenpeace realizou um sobrevoo de monitoramento no norte do estado
do Mato Grosso e Leste de Rondônia, algumas das maiores fronteiras da
agropecuária do País. Ali, a paisagem é de destruição. Desmatamentos de pequena
e grande extensão, produção de soja e criação de gado em áreas embargadas pela
justiça, incêndios em áreas de florestas – inclusive dentro de terras indígenas
– e extração ilegal de madeira estão entre os principais crimes e
irregularidades flagradas.
O “nortão” do Mato Grosso, como é chamada a região,
faz parte do bioma Amazônico. Esta área faz parte do arco do desmatamento, uma
espécie de cinturão que vai do norte do Maranhão ao sul de Rondônia, que exerce
pressão sobre o bioma devido ao avanço da fronteira. Atualmente essa região
monitorada do Mato Grosso, que fica no triângulo entre os municípios de
Brasnorte, Alta Floresta e Gaúcha do Norte, já não lembra em quase nada uma
verdadeira floresta, devido a intensa atividade agropecuária. Lá, o que resta
de floresta está sob séria ameaça.
Queimadas
Entre janeiro e outubro deste ano o número de focos
de queimadas cresceu 62% no Mato Grosso, na comparação com o mesmo período do
ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
O resultado coloca o estado no topo da lista de “territórios em chamas” entre
as demais unidades da federação.
Grande área de incêndio florestal dentro do Parque
Nacional Indígena do Xingu, no Mato Grosso. Foto: ©Paulo Pereira/Greenpeace.
Durante o sobrevoo, identificamos queimadas
realizadas em áreas recém desmatadas, mas também em perímetros de florestas
nativas e até dentro de uma das mais antigas áreas protegidas do Brasil, o
Parque Indígena do Xingu. “Todas essas queimadas dificultam muito o nosso
trabalho, toda a região sobrevoada estava mergulhada em uma cortina de fumaça,
tornando muito difícil a identificação das áreas.”, conta Rômulo Batista.
Agricultores sofrem com os efeitos do desmatamento
Outubro é o mês em que tradicionalmente se inicia o
plantio das safras na região. Durante o sobrevoo identificamos áreas desmatadas
depois de 2006 sendo preparadas para a semeadura, em desacordo com a moratória
da soja. Mas apesar de a preparação do terreno para o plantio estar em estado
avançado, poucos produtores já semearam de fato, devido a forte estiagem que
atinge diversas regiões do Brasil. Jornais da região estimam que a perda de
sementes de agricultores que já plantaram chegue a 60% este ano.
“Os próprios agricultores e pecuaristas estão
pagando caro pela falta de planejamento e desrespeito às florestas. A seca
prolongada que afeta o sudeste também é sentida no centro-oeste, região de
maior produção agrícola do País. Essa relação entre o desmatamento e a falta de
chuva, que ameaça o completo desabastecimento de grandes cidades como São
Paulo, foi recentemente reconhecida até pela diretor da Sociedade Nacional da
Agricultura”, observa Rômulo.
A região no norte do Mato Grosso também concentra
grande parte da produção pecuária. Mas o que mais se avista são áreas imensas
de pasto degradado com baixíssima concentração de bois. Durante o
monitoramento, foram identificados pecuaristas em plena atividade em áreas
embargadas pelo Ibama por crimes ambientais Os animais ocupavam grandes áreas
recém-desmatadas. Outro problema constatado durante o sobrevoo foi a criação
bovina dentro de Terras Indígenas.
Madeira derrubada nos últimos remanescentes
florestais da região
Além de registrar a dinâmica de avanço do
desmatamento na região, principalmente pela agropecuária, o sobrevoo também
flagrou focos de extração de madeira a pleno vapor nos remanescentes florestais
daquela parte do Mato Grosso. “O que mais nos surpreendeu foi o ritmo intenso
de exploração nas poucas florestas que ainda restam na região. Chegamos a
avistar grandes pátios de madeira ativos, um deles com cerca de 5 grandes
caminhões de carrocerias duplas sendo carregados com madeira nativa”, afirmou
Rômulo Batista.
Apesar da queda significativa do desmatamento nos
últimos anos (com exceção de 2013, que registrou nova subida no índice), o
Brasil continua sendo o segundo país que mais destrói suas florestas, perdendo
assim sua rica e única biodiversidade. O retrato da destruição que avistamos
durante esse monitoramento não condiz em nada com a imagem de país desenvolvido
e protagonista do combate às mudanças climáticas repercutida
internacionalmente.
A presidente Dilma Rousseff foi recentemente
reeleita para continuar governando o Brasil. Em sua campanha para o segundo
turno, Dilma assumiu um compromisso com a mudança, “Governo Novo, Ideias
Novas”, dizia o slogan. Pois é isso que esperamos, que nos próximos quatro anos
o governo mude a madeira de olhar e de tratar a Amazônia e seu povo. Nós do
Greenpeace continuaremos cumprindo a nossa missão de investigar, expor e
combater pacificamente qualquer crime e dano ambiental que ameace a Amazônia.
Veja a galeria de fotos do sobrevoo de
monitoramento no link original da matéria.
Fonte: Greenpeace
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