Alerta: desmatamento na Amazônia
tende a crescer.
por Redação do WWF Brasil
O mais recente relatório divulgado, na última
semana, pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC,
na sigla em inglês) alertou: o planeta precisa de mudanças, caso contrário os
danos ambientais e climáticos poderão ser irreversíveis. No Brasil, a situação
não é diferente. Muito há que ser mudado, principalmente, no que se refere à
conservação da maior floresta tropical do mundo, a Amazônia. Pelo fato de
desempenhar um papel essencial no combate aos efeitos das mudanças climáticas,
pesquisas recentes associam a destruição das florestas no norte do País às
graves consequências para o clima, devido à sua função na estocagem do carbono
e na regulação do regime das chuvas, que abastecem, por exemplo, as regiões
Sudeste e Sul.
Apesar do alerta e da necessidade de mudança, o
Brasil tem caminhado no sentido contrário, principalmente, no que diz respeito
ao desmatamento da Amazônia. Antes mesmo da divulgação das estimativas oficiais
de desmatamento em 2014, prevista para as próximas semanas, os números do
sistema de Detecção do Desmatamento em Tempo Real (Deter) apontam uma tendência
de crescimento no norte do País.
Segundo o sistema, baseado em estimativas a
partir de imagens de satélites e destinado a orientar a fiscalização em campo,
nos últimos três anos (2012, 2013 e 2014), houve um aumento de cerca de 49% nas
taxas correspondentes entre agosto de um ano a julho do ano seguinte. Na
comparação de 2013 a 2014, considerando apenas os meses do início da estação
seca na Amazônia (maio-julho), os quais concentram boa parte do desmatamento
anual, o valor dobrou, passando de 893 km2 para 1535 km2 (veja gráfico abaixo).
O sistema Deter é um dos sistemas de
monitoramento criado pelo governo para apontar alertas de desmatamento e
demonstrar suas tendências. Por esta razão, serve também para estimar o que
deve acontecer com os dados oficiais de referência para o monitoramento do desmatamento,
por meio de um segundo sistema mais acurado. Este segundo sistema é o que gera
os dados a serem divulgados nas próximas semanas, que terão por base os valores
levantados pelo Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia (Prodes),
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que registra, via
satélite, áreas equivalentes a pouco mais de seis campos de futebol (6,25
hectares). Esta estimativa é divulgada sempre no final do ano, geralmente no
mês de novembro. Em meados de julho do ano seguinte, as taxas são consolidadas
oficialmente, após o detalhamento dos estudos. Entretanto, as estimativas de
novembro contém uma imprecisão muito pequena em relação aos dados definitivos
que serão divulgados no ano que vem.
“As taxas de desmatamento da Amazônia,
consideradas como oficiais pelo governo brasileiro, são as do Prodes, que
trabalha com imagens de melhor resolução espacial, capazes de mostrar também os
pequenos desmatamentos. No entanto, os números apontados pelo Deter são
importantes indicadores para os órgãos de controle e fiscalização e para nos
mostrar a tendência que vem por aí”, explica Mauro Armelin, superintendente de
conservação do WWF-Brasil. O Prodes, em seu último levantamento, já havia
registrado um aumento em relação ao ano anterior de 29% nas taxas de
desmatamento para o período de agosto de 2012 a julho de 2013, em que 5.891 km²
de floresta amazônica foram perdidos. “Existe a tendência do Prodes acompanhar
a tendência do Deter, ou seja, haver aumento do desmatamento registrado
oficialmente em 2014. É claro que esperamos boas notícias, ou seja, que
estejamos errados em nossa análise, e que as novas taxas do Prodes mostrem o
recuo do desmatamento. Mas a tendência é justamente a contrária”, conclui.
Segundo Armelin, o Brasil corre o risco de fechar
o ano com a pior performance ambiental dos últimos anos. “Estamos numa situação
complicada. Ao mesmo tempo que o desmatamento tende a crescer, também não
avançamos em alternativas energéticas de baixo carbono. Para piorar, os incentivos
do governo têm aumentado para a expansão automobilística, com um forte
incentivo a combustíveis fósseis, com cada vez mais subsídios para a gasolina,
por exemplo”, avalia Armelin. Tais investimentos não contribuem em nada com as
metas divulgadas pelo relatório do IPCC. O documento sugere que o uso, sem
restrições de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás), seja suspenso até o
ano de 2100 e que o uso de alternativas renováveis suba até 70% até 2050.
“Acreditamos que para contribuir com essas recomendações, o Brasil precisa ter
um melhor planejamento energético que considere fontes de energia de menor
impacto, como solar, eólica, baseada em biomassa e em pequenas centrais
hidrelétricas, as PCHs”, explica Mauro.
Sem estes investimentos, continuaremos a ir na
direção contrária ao desenvolvimento sustentável. “Precisamos finalmente
entender, como sociedade, que as escolhas que fizermos agora irão refletir na
qualidade de vida das futuras gerações. Eventos climáticos extremos, como a
escassez de chuvas no sudeste que está ocorrendo agora, serão fenômenos que se
tornarão mais comuns enquanto a temperatura do planeta continuar a crescer. A
Amazônia é um ativo chave para a proteção da segurança climática, hídrica e
energética, não só da população brasileira, mas também mundial”, alerta
Armelin.
Alternativas
O atual cenário da Amazônia clama por uma
intervenção urgente. O governo precisa agir rapidamente para evitar que o
desmatamento fuja do controle e aumente os riscos para a região em termos da
perda de sua biodiversidade e da depreciação de seu capital natural, com fortes
impactos sobre sua população. “É preciso avançar em ações estruturantes, como a
implementação em larga escala do Cadastro Ambiental Rural, de iniciativas de
restauração florestal dentro das propriedades privadas, de forma a assegurar
cumprimento da lei ambiental, e de ações de ordenamento e de planejamento do
uso do solo”, ressalta Marco Lentini, coordenador do Programa Amazônia do
WWF-Brasil.
Além disso, segundo o especialista, é preciso
implementar de forma mais eficiente ações que levem ao bom uso e à valorização
de florestas, principalmente em iniciativas de manejo florestal, e que
apresentem alternativas econômicas contra o desmatamento. Um exemplo seria o
desenvolvimento de um amplo sistema para o Pagamento por Serviços Ambientais
(PSA) como carbono, água e biodiversidade. “A floresta amazônica, além de
proporcionar serviços imensuráveis em termos de regulação do clima e do regime
de chuvas, oferece uma ampla gama de produtos que podem ser aproveitados de
forma racional pela sociedade. Ou seja, podemos aliar conservação e
desenvolvimento. Nossa sociedade tem investido em modelos que priorizam ou um
objetivo, ou o outro. É chegado o momento de sairmos desta paralisia de
paradigma”, avalia Lentini.
Fonte: WWF Brasil
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