terça-feira, 4 de novembro de 2014

Emissões devem ser reduzidas de 40 a 70% até 2050 para se evitar o pior, diz IPCC.
por Redação do EcoD
Os danos causados pelas mudanças climáticas poderão ser irreversíveis, mas ainda há forma de evitá-los. A conclusão consta do mais recente relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU), divulgado no domingo, 2 de novembro, em Copenhague, na Dinamarca. O documento foi publicado depois de uma semana de debates entre cientistas e autoridades de governos de todo o mundo.

“A influência humana no sistema climático é clara, quanto mais perturbamos nosso clima, mais riscos temos de impactos graves, amplos e irreversíveis”, destacou à BBC o diretor do IPCC, Rajendra Pachauri. E, de acordo com Pachauri, o mundo todo será afetado por estes danos. “Quero destacar o fato de que a mudança climática não deixará nenhuma parte do mundo intocada pelos impactos que estamos vendo diante de nossos olhos e que, obviamente, terão uma relevância crescente no futuro.”

O diretor do IPCC afirmou que “agora a comunidade científica se pronunciou” e está “passando o bastão para os políticos, para a comunidade que toma as decisões”. No entanto, Pachauri afirmou que ainda há esperança, pois “felizmente nós temos os meios para limitar a mudança climática e construir um futuro mais próspero e sustentável”.

Segundo o documento, o uso sem restrições de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás), deve ser suspenso até o ano de 2100 se o mundo quiser evitar uma mudança climática perigosa.

O relatório também sugere que o uso dos combustíveis renováveis deverá subir da atual fatia de 30% para 80% do setor de energia até 2050. Já as emissões mundiais de gases que provocam o efeito estufa devem ser reduzidas de 40 a 70% entre 2010 e 2050 e desaparecer até 2100.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, também comentou os pontos principais do relatório. “Primeiro: a influência humana no sistema climático é clara e crescente. Segundo: temos que agir rapidamente e de forma decisiva se quisermos evitar resultados cada vez mais perturbadores. Terceiro: temos os meios para limitar a mudança climática e construir um futuro melhor.”

“Há um mito de que a ação para o clima custa muito, mas a falta de ação vai custar muito mais”, disse Ban Ki-moon.

“O relatório mostra que o mundo está muito mal preparado para os riscos das mudanças no clima, especialmente os pobres e mais vulneráveis, que contribuíram menos para este problema”, acrescentou.

‘Novo modelo’

Rajendra Pachauri afirmou que este último relatório é a mais forte e detalhada declaração a respeito da escala do problema da mudança climática e das soluções para isto. Trata-se do documento mais completo sobre o tema desde 2007. “Este relatório realmente estabelece um novo modelo em avaliação científica. Por um lado, o relatório traz todos os elementos do quebra-cabeça que constitui os vários aspectos da mudança climática, desde a base científica subjacente dos impactos, adaptação e vulnerabilidade e os tipos de opções de abrandamento que temos disponíveis.”

Pachauri destacou o fato de o relatório ter envolvido mais de 800 autores diretamente e milhares de outros revisores que analisaram cerca de 30 mil publicações para a elaboração do documento.

“Não podemos queimar todos os combustíveis fósseis que temos sem lidar com o resíduo resultante, que é o CO2, e sem despejar isto na atmosfera. Se não conseguirmos desenvolver (um sistema de) captura de carbono, teremos que parar de usar combustíveis fósseis se quisermos parar a perigosa mudança climática”, disse Myles Allen, professor da Universidade de Oxford, na Grã-Bretanha, e um dos membros do IPCC que participou da elaboração do documento.

Para David Shukman, editor de ciência da BBC, este relatório “mostra as opções de uma forma mais direta do que nunca”. “O IPCC tentou tornar (o relatório) mais aceitável afirmando que os combustíveis fósseis podem continuar sendo usados se as emissões de carbono forem capturadas e guardadas. Mas, até agora o mundo apenas tem uma usina operante comercialmente deste tipo, no Canadá, e o progresso no desenvolvimento da tecnologia é muito mais lento do que muitos esperavam”, disse.

Shukman afirma que a conclusão do relatório, de que não podemos continuar queimando estes combustíveis como sempre fizemos e que a queima destes combustíveis deve ser suspensa até o fim do século, apresenta aos governos do mundo uma escolha difícil. Opinião semelhante tem a cientista brasileira Suzana Kahn, vice-presidente do IPCC. De acordo com ela, os interesses econômicos dos países impedem a redução do gás carbônico.

Ativistas aprovaram a linguagem clara do documento. “O que eles disseram é que temos que chegar à emissão zero e isto é novo”, disse Samantha Smith, do organização World Wildlife Fund (WWF). “A segunda coisa (destacada pelo relatório) é que (a solução) é acessível, não vai incapacitar as economias”, acrescentou.

Segundo os cientistas, o mundo tem pouco tempo para conseguir manter o aumento global da temperatura abaixo do limite de 2ºC, a meta da comunidade internacional.

Entre o final de novembro e o início de dezembro, uma conferência da ONU sobre o clima que será realizada em Lima (Peru) terá a missão de estabelecer as bases para um acordo global de redução das emissões dos gases-estufa, que seria estabelecido em 2015, em Paris.



Fonte: EcoD

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