sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Governo e agência garantem que seca não vai atrapalhar transposição do Rio São Francisco, comentário de João Suassuna.
Meus Prezados,

Na reportagem do Jornal Nacional, de 30/11, sobre a transposição do São Francisco, as assertivas do presidente da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Ministro da Integração, de que os volumes retirados do rio, pelo projeto, são irrisórios, mostrou um semblante de preocupação em ambos. Pudera: afirmar que serão insignificantes os volumes que serão transpostos, em um momento no qual o rio está praticamente seco, bem retrata a fisionomia de tensão demonstrada pelas autoridades, em nível nacional.

O maior erro do governo, ao conduzir as obras da Transposição, no nosso modo de entender, foi o de não ter levado em consideração os alertas dos técnicos, quanto às possibilidades de o Velho Chico não dispor dos volumes necessários para o atendimento das demandas da população da região Setentrional nordestina.

Em 2004, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), já havia denunciado que o volume alocável do rio São Francisco era de aproximadamente 360 m³/s, e se levado em consideração à média de retirada volumétrica do projeto, de 65 m³/s, e a máxima de 127 m³/s, não haveria água suficiente, no Velho Chico, para o atendimento de uma população estimada em cerca de 12 milhões de pessoas e para a irrigação de 260 mil ha, conforme proposto no projeto.

Ora, a seca atual que assola toda a bacia hidrográfica do rio exauriu sua principal nascente, o seu leito está sendo atravessando de automóvel na região de Pirapora, a represa de Três Marias acumulou apenas 2% de sua capacidade, a represa de Sobradinho vem regularizando a vazão do rio em cerca de 1100 m³/s, contrariando as determinações do Ibama, que exige uma vazão mínima, na foz do rio, de cerca de 1300 m³/s, impossibilitando as hidrelétricas da Chesf de gerarem a energia necessária ao atendimento das demandas elétricas dos nordestinos.

Tudo isso se refletiu, na fisionomia das autoridades. Querer retirar mais volumes de um rio, com sua hidrologia debilitada, para a satisfação das metas do projeto, é uma tarefa fisicamente impossível, o que irá resultar, em caso de insistência, no comprometimento de todos os investimentos realizados ao longo de sua bacia hidrográfica. Só em geração de energia, por exemplo, a Chesf aplicou, na região, cerca de 13 bilhões de dólares, e costumamos dizer que “Energia” é sinônimo de “Desenvolvimento”, e não podemos estar brincando com isso!


Abraço

* João Suassuna – Eng° Agrônomo e Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco.


Fonte: EcoDebate

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