sábado, 21 de fevereiro de 2015

O mar não está pra peixe.
por Redação da Carta Capital
Uma tartaruga nas águas coralinas do Parque Nacional de Komodo, na Indonésia. Crédito: Cortesia da WilAid.

Vida marinha corre o risco de extinção em massa, dizem pesquisadores da Califórnia.

Os transtornos climatológicos e os desastres ambientais acabam de produzir mais uma péssima notícia: os oceanos encaminham-se rapidamente para a extinção em massa de grande parte da vida marinha. O alarme chegou esta semana com a credencial incontestável da revista Science, com base em pesquisa pilotada por Douglas J. McCauley, ecologista ligado à Universidade da Califórnia em Santa Bárbara.

“Certas espécies estão sendo dizimadas pela pesca sem restrições, mas também porque estão perdendo seus hábitats naturais”, diz o ecologista. As fazendas de peixes – áreas de exploração com recursos tecnológicos bem distantes da pesca artesanal – arriscam a eliminar espécies inteiras em menos de 20 anos.

Em todo o mundo, os recifes de corais já perderam 40% de sua superfície, obrigando os habitantes nativos a buscar novos ares, quer dizer, novos espaços. O aquecimento provocado pelas mudanças climáticas acelera as migrações para águas mais frias. Nem todos, porém, conseguem sobreviver à súbita mudança.

O black sea bass (Centropristis striata), cuja semelhança com a nossa garoupa fica apenas na aparência, começou a se mudar de seu hábitat na costa sul dos Estados Unidos para o norte (New Jersey e além). A espécie fragilizou-se; jamais haverá um black sea bass semelhante àquele, de 200 quilos e 5,4 metros, que um pescador californiano pescou décadas atrás – feito testemunhado em foto exposta na Biblioteca do Congresso.

Os mares também viraram alvo da cupidez financeira e o desastre é semelhante ao que a exploração comercial sem freios produz na terra, adverte Loren McClenachan, do Colby College, do Maine – estado em que a pesca é importante atividade, haja vista a lendária lagosta do Maine. A exploração submarina de metais na costa da América já avança por mais de 1 milhão de quilômetros quadrados (em 2000, era igual a zero). “O dano aos ecossistemas é brutal”, lamenta a doutora McClenachan.

As baleias ilustram uma triste ironia: entidades protetoras dos animais conseguiram não faz muito tempo sensibilizar a opinião pública e as autoridades em defesa da espécie, dizimada por ferozes caçadores do mar. A pesca foi praticamente abolida. Hoje, as baleias sofrem as consequências do tráfego de navios de transporte de contêineres. Desavisadas, muitas delas costumam colidir fatalmente com as pesadas barcaças.

As emissões de carbono na atmosfera – reafirma a pesquisa da Universidade da Califórnia em Santa Bárbara – estão alterando perigosamente a química da água marítima. “Se você aumenta a temperatura de um aquário doméstico e jogar algum ácido lá dentro, seu peixinho não ficará muito feliz”, compara o doutor Malin L. Pinsky, biólogo da Universidade de Rutgers em New Jersey e autor do relatório com o doutor McCauley. “É o que estamos fazendo com os oceanos.”

Os assustados pesquisadores lembram que, contrariando o que se pensava, espécies marinhas são historicamente tão indefesas ante a ação devastadora do homem quanto a fauna terrestre. Pássaros que sobrevivem à beira do mar, em especial, sofrem as consequências.

O estudo é alarmante, mas, ainda assim, os pesquisadores não entraram em pânico. “Dá tempo de reverter a situação”, convenceu-se Pinsky. “A saúde dos oceanos está abalada, mas a cura é possível.” A cura implica mudar a atitude dos homens e dos governos em relação ao ambiente. Eis aí um desafio que, além do saber da ciência, há de exigir muita fé.


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