terça-feira, 20 de outubro de 2015

Quinze anos e para sempre.
José Graziano da Silva. Foto: Cortesia do autor

Por José Graziano da Silva*

Roma, Itália, 29/9/2015 – Os próximos 15 anos serão decisivos para o futuro de nosso planeta. Durante esse período, enfrentaremos alguns dos maiores desafios do século 21, em meio a uma transição contínua e profunda na economia global.

A superação da fome e da pobreza extrema são os desafios mais importantes. Hoje em dia, quase 800 milhões de pessoas não têm alimento suficiente para comer, apesar de se produzir comida suficiente no mundo para alimentar a todos. É evidente que precisamos de soluções urgentes para superar os gargalos estruturais que impedem que os que sofrem fome tenham acesso aos alimentos.

Em outras palavras, a inclusão social deve se converter na coluna vertebral do desenvolvimento. Entretanto, não conseguiremos nem a inclusão social e nem o desenvolvimento, a menos que nossas decisões estejam guiadas pela sustentabilidade.

Somos a primeira geração que pode acabar com a fome e fazer com que a segurança alimentar e nutricional seja verdadeiramente universal. E talvez também sejamos a última geração em condições de evitar danos irreversíveis provocados pela mudança climática.

O contexto político necessário para avançar na direção correta requer um grau sem precedentes de compromisso político.

Este mês foi dado um importante passo nesse sentido, quando a comunidade internacional apoiou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com uma agenda ambiciosa para mudar o mundo para melhor nos próximos 15 anos.

Esse novo pacto global para o futuro inclui crucialmente acabar com a pobreza e a fome até 2030, a mitigação e adaptação à mudança climática e a busca de formas mais sustentáveis de fazer com que a oferta atenda a demanda.

As decisões que tomamos como consumidores se tornaram tão importantes para o futuro quanto as que tomamos como produtores.

Além dos cerca de 800 milhões de pessoas que sofrem desnutrição crônica, a má nutrição também é um problema importante com aproximadamente dois bilhões de pessoas sofrendo deficiências de micronutrientes e outros 500 milhões que sofrem obesidade, esta última uma doença que está aumentando em muitos países de renda média e alta.

O mundo que se prevê por meio da consecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável não é uma quimera inalcançável. Não é uma utopia e podemos torná-lo realidade.

A solução está no problema. Na medida em que a riqueza continuar ganhando distância da justiça, a sobrevivência dependerá mais e mais do imperativo da cooperação.

Ou construímos um futuro para todos, ou não haverá futuro aceitável para ninguém. Qualquer dúvida a respeito empalidece diante do êxodo que presenciamos, com refugiados arriscando suas vidas em uma tentativa desesperada de encontrar uma vida melhor em outro lugar.

Mais de 70% da insegurança alimentar no mundo se concentra nas zonas rurais dos países pobres e em desenvolvimento.

Uma das soluções é reconhecer e apoiar o papel que a agricultura familiar de pequena escala pode desempenhar para conseguir fome zero de uma maneira sustentável.

Para conseguir isso. precisamos de políticas públicas que desenvolvam as capacidades das pessoas, apoiar a produção, facilitar o acesso ao crédito financeiro, à tecnologia e a outros serviços, e promover a cooperação internacional.

Para erradicar a fome e a pobreza, devemos começar fazendo mais do que enfrentar situações de emergência quando ocorrem e em seu lugar dirigir nossos esforços para fazer frente às condições que as causam.

O custo do fracasso está claro. Se prevalecer o enfoque de negócio, como tem sido até agora, em 2030 ainda teremos 650 milhões de pessoas sofrendo fome.

Estimamos que para acabar com a fome até 2030 é necessária uma combinação de investimentos em proteção social e agricultura e desenvolvimento rural de aproximadamente US$ 267 bilhões. Isto significa cerca de US$ 160 ao ano para cada pessoa que sofre fome.

Isto é mais ou menos o preço de um telefone celular. Trata-se de uma quantidade relativamente pequena a pagar com a finalidade de liberar o mundo do flagelo da fome e de fazê-lo durante nossas vidas. Envolverde/IPS.

* José Graziano da Silva é diretor-geral da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).


Fonte: ENVOLVERDE

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