sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Educação: diálogos igualitários.
Eliane Curvelo. Foto: Divulgação

Por Eliana Curvelo*

Pensar a educação é mais fácil, muito mais fácil, do que agir na e para a educação. Agir significa tomar uma atitude e, assim provocar mudanças nas zonas de conforto de cada indivíduo.

As últimas notícias sobre a educação no Estado de São Paulo descrevem a “reorganização” das escolas. Como tudo, toda mudança pode ser bem ou mal conduzida. Independentemente de qual lado se esteja, isto não foi decidido por uma pessoa só, existiram pessoas que estudaram e se debruçam sobre as mudanças e transformações que deveriam ocorrer nas estruturas educacionais nas escolas públicas estaduais de São Paulo. Segundo o site da Secretária da Educação do Estado de São Paulo[1], a reorganização foi discutida com os dirigentes e educadores. Entretanto, não existe nenhuma palavra referente à participação dos estudantes e famílias.

E, é por esta lacuna de comunicação que ensejo o meu pensar sobre este assunto tão árido. Numa reflexão parcial, superficial e pessoal há o questionamento sobre o modelo atual de educação. As experiências dos professores (efetivos) nas escolas estaduais são de relatos, em sua maioria, da precariedade das condições físicas e humanas no ambiente educacional. Para os professores, os alunos freqüentam a “escola” e, por vezes não estão na “aula” e, cada vez mais não conseguem interpretar textos ou sequer fazer as operações matemáticas básicas.

Neste contexto, entendo que o papel da escola e seus partícipes não estão conseguindo atingir o seu propósito: educar suas crianças e jovens para a transformação de sua realidade social. São crianças e jovens que continuam à margem da sociedade. E, são estes, nesta condição, que mesmo assim se mobilizaram pela escola. E porque ninguém lhes explicou nada, cada um vai assumindo um discurso, que para os efeitos de comunicação podem surtir um mal-estar que pode ser utilizado pelas forças contrárias de poder – poder de uns sobre os outros.

Acredito que nesta mobilização poderá haver uma transformação na forma de entender o que é ser educado. Os jovens ocuparam as escolas, os professores e os pais estão presentes levando água e ou alimentos, estão participando de todas as decisões em defesa da escola pública e da aprendizagem que deve ser realizada dentro do espaço escolar. Decisões que, se bem conduzidas, poder-se-ia iniciar o diálogo, inclusive com os que determinaram as mudanças.

Há os que possam dizer: Não nos ouvem! Há os que podem dizer: Precisamos DIALOGAR[2]!

Um diálogo em que não houvesse a imposição de lados certos ou errados. Eis o segredo, este diálogo seria um “diálogo aberto e igualitário” no qual os “argumentos são avaliados por seu próprio valor intrínseco (afirmação de validade) e não devido a posição de poder daqueles que o promovem (afirmações de poder)” (FLECHA, 2013, p. 371). Este tipo de diálogo igualitário é utilizado nas comunidades de aprendizagem e têm sido um instrumento que vislumbra a participação efetiva de todos, principalmente dos pais dentro da escola em que formam grupos interativos cujo papel principal é gerar solidariedade e sucesso nas aprendizagens.

Voltando aos responsáveis pela “reorganização” das escolas, segundo o site, as modificações e estruturais decorrem da avaliação das estatísticas que demonstram melhora no nível de aprendizagem dos estudantes em escolas com um só ciclo.

Podemos nos enganar, tudo e todos podem nos enganar. Mas, como utopia, acreditar que, ambos os lados – sociedade civil X estado – deveriam dialogar, é no mínimo propor alternativas para romper com a cultura da queixa e não nos mantermos em zonas de conforto que não são zonas de conforto.

Dialogar não significa bater na mesa e muito menos impor formas de pensamento. Ambos os lados, acredito, desejam o sucesso acadêmico para todos sem discriminação. Portanto, precisam aprender e adquirir habilidades comunicativas, entendendo as posições uns dos outros.

Devemos considerar que no diálogo a “comunicação é muito mais que palavras; ela inclui olhares, tons de voz, gestos e muito mais nos relacionamentos entre professores, experientes, membros da família e estudantes” (FLECHA, 2013, p. 375). Desta forma, a prática de considerar a todos como iguais, será um exercício pleno de aprendizagem humana.

Mais que defender um ponto de vista é preciso ter a habilidade de manter um caleidoscópio em mãos e usá-lo para a poesia do encontro das possibilidades humanas de dialogar para mudar e, portanto agir.

* Eliana Curvelo é educadora escreve a coluna Ágora sobre Educação ao Agência14News.


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