segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Mudanças climáticas afetarão a saúde de crianças.
Família sofre com o rescaldo do furacão Patrícia, na praia de Colima, no México. Foto: Presidencia de La Republica / Fotos Publicas.

Associação de pediatria dos EUA alertou políticos e médicos para os impactos do aquecimento global, especialmente nas regiões já vulneráveis.

Por Tory Oliveira*

As mudanças climáticas e o aquecimento global atingirão em cheio a saúde das crianças. É o que diz um parecer da American Academy of Pediatrics, organização de pediatria norte-americana, dirigido para médicos da infância e gestores de políticas públicas.

Intitulado “Mudanças climáticas globais e a saúde das crianças”, o documento lista como ameaças à saúde infantil o aumento da ocorrência de desastres naturais, a elevação do calor, a piora da qualidade do ar e um possível cenário de desabastecimento de comida e água.

Malária, dengue, chikungunya, doença de lyme, diarreia a a meningoencefalite amebiana são algumas das doenças citadas como influenciadas pelo aquecimento.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), 88% das doenças atuais atribuídas às mudanças climáticas ocorrem em crianças com menos de 5 anos.

Efeitos da mudança climática

Os diversos efeitos do aquecimento global sobre a saúde foram divididos em três categorias: primários, secundários e terciários.

Eventos climáticos extremos, incluindo tempestades, enchentes e incêndios, por exemplo, são considerados efeitos primários, cuja frequência triplicou nos últimos 40 anos.

“Eventos climáticos extremos colocam a criança em risco de perder ou se separar de seus principais cuidadores, exposição à doenças infecciosas e um alto risco de desenvolver transtornos mentais como stress pós-traumático e depressão”, diz o documento da associação, que reúne 64 mil pediatras nos EUA.

As crianças também serão prejudicadas com o aumento da incidência de eventos climáticos extremos, uma vez que eles são capazes de devastar suas casas, escolas e comunidades.

O relatório também destaca o aumento da frequência e da intensidade das ondas de calor como um efeito negativo das mudanças climáticas na saúde das crianças e adolescentes.

“Crianças abaixo de 1 ano de idade e atletas no Ensino Médio parecem ser particularmente afetados pelo aumento do risco de doenças e mortes relacionadas com o calor intenso”, destaca o documento.

Há uma chance de 90% de que, ao final do século 21, as temperaturas no verão ultrapassem as maiores já registradas em várias regiões do globo, colocando em risco as crianças e suas famílias, explica o relatório, liderado pela médica Samantha Ahdoot.

Entre os chamados efeitos secundários, relacionados com as alterações ambientais nos ecossistemas, estão a qualidade do ar, capaz de exacerbar problemas respiratórios e asma em crianças.

A qualidade do ar pode piorar até o final do século por conta das elevações de temperatura relacionadas com a concentração de ozônio, além do aumento de incêndios e da temporada de alergias influenciadas pela quantidade de pólen presente no ar.

O documento aponta que determinar os efeitos do aquecimento global nas doenças infecciosas é complexo, por conta das contribuições do desenvolvimento econômico, do uso da terra, das mudanças nos ecossistemas, entre outros fatores.

Já é possível, porém, associar o clima mais quente com a expansão da doença de Lyme na América Latina. Outras projeções já dão conta do aumento da incidência de quadros como o da diarréia infantil na Ásia e na África Sub-saariana.

O relatório projeta, por exemplo, que o aquecimento global causará 48 mil mortes de crianças com menos de 15 anos por conta da diarréia até 2030 nessas regiões.

Por outro lado, transformações nas condições para o desenvolvimento agricultura – como a presença de temporadas de calor extremo, aumento da demanda por água e da incidência dos eventos climáticos extremos – afetarão a disponibilidade e o preço dos alimentos, especialmente em regiões mais vulneráveis, nas quais a desnutrição infantil já é uma ameaça.

Existem evidências de menor quantidades de proteína, ferro e zinco em plantações cultivadas em ambientes com mais CO², o que também impacta potencialmente a nutrição infantil.

O aumento no nível do mar, a redução da diversidade biológica na agricultura financeiramente viável, escassez de recursos hídricos, fome, imigrações em massa, redução da estabilidade global e potenciais aumentos de conflitos violentos estão entre os efeitos terciários das mudanças climáticas.

Tais alterações serão sentidas com mais força nas comunidades que já estão em desvantagens socioeconômicas, uma vez que o desenvolvimento biológico e cognitivo em crianças está ligado a um contexto de maior estabilidade nas famílias, na escola e nas comunidades.

Diante do quadro, alerta o relatório, falhar em agir rapidamente e de maneira efetiva será “uma injustiça com todas as crianças”.

Leia o estudo completo (em inglês).

* Tory Oliveira é editora responsável pela Carta Educação. É jornalista formada pela Cásper Líbero, trabalhou na editora PandaBooks e no Jornal da Tarde (Grupo Estado). Escreve sobre educação, ciência e tecnologia desde 2010.


Nenhum comentário:

Postar um comentário