terça-feira, 12 de janeiro de 2016

A biodiversidade do dia-a-dia.
Foto: Shutterstock

Por Sara Juarez e Tiago Egydio* 

Você já observou do que é feita sua casa? Quantas espécies fazem parte de seu cardápio? Sabe do que é feita sua roupa? Qual é o caminho da água até você abrir uma torneira e desfrutar deste valioso recurso? O que mantém o ar fresco todos os dias? Já parou para observar o estado de tranquilidade que sua mente fica ao contemplar uma bela paisagem natural ou escutar o relaxante som das ondas ou de uma cachoeira?

Você poderá chegar a diferentes conclusões, mas entre estas, você notará que o que sustenta seu telhado são madeiras de excelente qualidade que cresceram algum dia em alguma floresta; que em sua dieta há mais de 60 espécies de frutas, legumes e animais; com certeza a água que sai em sua torneira viajou muito mais do que você viajará em toda a sua vida neste planeta – uma única gota d’água já foi nuvem, água salgada, fez parte de um rio caudaloso, esteve em uma planta, esteve nas camadas mais profundas do solo até sair como uma água cristalina e pura de uma pequena nascente; todo calor emanado pela sua respiração, pela queima do combustível de seu carro e pelas ilhas de calor dos grandes centros urbanos são contrabalanceados pelas brisas frescas do oceano e dos remanescentes de vegetação nativa. Todos estes benefícios nos sãos proporcionados diariamente pela natureza e os chamamos de serviços ecossistêmicos.

Segundo o estudo realizado, em 1997, pelo pesquisador norte-americano Robert Constanza, se naquele momento houvesse uma valoração dos serviços ecossistêmicos que direta ou indiretamente consumimos, esta chegaria a um total de $18 trilhões por ano, já os danos gerados pela ação humana alcançariam os 6,6 trilhões anualmente.

Ampliando um pouco mais o campo de reflexão, segundo o pesquisador John Dixon, o consumo anual dos recursos naturais pela humanidade ultrapassa a capacidade da terra de auto recuperação e estamos utilizando cerca de 40% a mais dos recursos disponíveis por ano. É como se recebêssemos um salário anual e gastássemos tudo até agosto, e nos meses seguintes, a fonte de nosso dinheiro fosse o cheque especial.

A boa notícia é que existem iniciativas que visam traçar outro panorama para este cenário e, que embora ainda sejam discretas, vem ganhando força em debates nacionais e internacionais, tanto no campo teórico como prático. Entre estas iniciativas encontra-se o que é chamado de PSE ou PSA – Pagamento por Serviços Ecossistêmicos ou Ambientais, que são práticas estruturadas a partir de políticas públicas que valorizam e remuneram proprietários de terra que conservam nascentes de rios e matas ciliares – que protegem rios, entre outras áreas ambientais, fazendo o que se chama de serviços ecossistêmicos.

O grande desafio é como valorar estes serviços ecossistêmicos, como mensurar o ganho gerado pelas iniciativas de PSA e como engajar os diferentes atores que podem promover a mudança comportamental desejada para o sucesso da conservação da biodiversidade. No âmbito da indústria, uma ferramenta que pode auxiliar a visualizar onde ocorre maior demanda de recursos naturais são os estudos de Avaliação de Ciclo de Vida (ACV) de produtos e serviços, que visam quantificar o impacto do uso destes recursos, desde a extração e produção de matérias primas até o descarte do material produzido.

A valoração vem sendo aplicada por diferentes ferramentas que avaliam os estoques de diferentes serviços ecossistêmicos prestados em um determinado território, como também, quantificam os fluxos destes serviços desde sua fonte até os usuários finais. O resultado destes estudos orienta ações para a redução do consumo de matéria prima, do uso da água e de emissão de gases estufa; para a disseminação de práticas mais sustentáveis em toda a cadeia produtiva e para conscientizar a sociedade consumidora.

Especificamente no ambiente agrícola, os estudos revelam a importância das práticas de recuperação de matas ciliares, da contenção da perda de solo, melhora da produção de água, a fixação de carbono e o aumento da biodiversidade.

Consideramos que a biodiversidade e todos os serviços da terra possuem um valor imaterial, contudo, buscar atribuir um valor econômico aos recursos naturais é uma forma de tangibilizar e inserir este tema dentro de todos os setores da sociedade.

Certificar-se de que o valor do capital natural esteja visível para todas as economias pode ajudar a sociedade a abrir o caminho para soluções direcionadas a promover um planeta saudável para as futuras gerações.

Sara Juarez Sales é gerente de Educação para Sustentabilidade da Fundação Espaço ECO®.  Tiago Egydio Barreto é consultor de Conservação Ambiental da Fundação Espaço ECO®.

Fonte: ENVOLVERDE

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