terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Abrolhos, a nova vítima da tragédia.
Água do Rio Doce tomada pela lama de resíduos minerais desemboca no Oceano Atlântico.

Ibama alerta para suspeita da chegada da lama de rejeitos minerais da barragem da Samarco no Parque Nacional Marinho de Abrolhos, um verdadeiro santuário no oceano.

Após arruinar comunidades inteiras e tirar a vida do Rio Doce, a lama que vazou com o rompimento da barragem da mineradora Samarco em Mariana (MG) pode alcançar o litoral da Bahia, na região de Porto Seguro, Trancoso e do Parque Nacional de Abrolhos, que fica a 70 km da costa.

A suspeita de uma nova extensão da maior catástrofe ambiental do país foi anunciada na noite de ontem pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais e Renováveis (Ibama). Segundo o órgão, até agora a lama forma uma extensão de 392km2 de minério junto à foz do Rio Doce. Mas a área de sedimentos em menor concentração chega a quase 6,2 mil km2 na costa brasileira. Os resultados completos do Ibama devem sair no prazo de dez dias.

Pérola do litoral baiano, Abrolhos foi o primeiro Parque Nacional Marinho criado no Brasil, em 1983, com aproximadamente 910 km2. É a zona mais importante em biodiversidade marinha do Atlântico Sul, onde está o maior e mais exuberante banco de corais dessa parte do oceano. Além disso, Abrolhos é lar de mais de 1,3 mil espécies de invertebrados, peixes, tartarugas, aves e mamíferos marinhos.

Se for comprovado a presença de rejeitos minerais provenientes da Samarco na região, os danos ambientais causados pela lama nesse paraíso marítimo têm grandes chances de devastar a região. Para começo de conversa, as águas em zonas de corais são transparente, permitindo grande absorção de luz solar para a fotossíntese desses seres. Com o avanço da lama, os corais ficariam com o seu “céu” totalmente encoberto, levando à falta de oxigênio e à morte de todos os seres vivos que dependem desse ciclo natural.

Vale lembrar que além de ambientais, a chegada de sedimentos de minério à Bahia deve causar impactos significativos no turismo da região.

Notificada pelo Ibama, a Samarco também deve iniciar uma análise da água no local. A empresa ainda não foi multada pela nova ocorrência e no mês passado recorreu das cinco multas estipuladas no valor de R$50 milhões cada, mesmo diante de toda a catástrofe causada após a lama de rejeitos minerais vazar de uma de suas barragens em 5 de novembro do ano passado.

Em 2009, o Greenpeace lutou pela região de Abrolhos pedindo uma moratória da exploração de petróleo no entorno da região, que à época estava ameaçada pelo interesse da ANP (Agência Nacional de Petróleo) em expandir a exploração de gás e óleo no entorno do Parque.

Resultados sobre água do Rio Doce

O Greenpeace vem atuando em parceria com o coletivo científico-cidadão GIAIA (Grupo Independente de Avaliação do Impacto Ambiental), formado por pesquisadores voluntários de diferentes universidades e institutos brasileiros, para analisar a qualidade da água no Rio Doce como também dos detritos minerais e seus impactos na fauna e na flora da região impactada.

O coletivo divulgou no fim de dezembro um Relatório Parcial sobre a contaminação da bacia a partir de coletas realizadas em campo entre os dias 4 e 8 de dezembro. As amostras apontaram para índices de manganês, arsênio e chumbo muito acima do permitido. Clique aqui e saiba mais.


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