segunda-feira, 28 de março de 2016

Petróleo cai, mas armas fluem no Oriente Médio.
Os Estados Unidos são o principal exportador de armas para o Oriente Médio. Na foto, avião de combate F-35A. Foto: Força Aérea dos Estados Unidos.

Embora vários Estados que fornecem armas ao reino saudita tenham expressado preocupação sobre os ataques aéreos no Iêmen, se prevê que a Arábia Saudita continuará recebendo armas desses países, especificamente de Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, nos próximos cinco anos.

Por Thalif Deen, da IPS – 

Nações Unidas, 24/2/2016 – A queda do preço do petróleo ameaça repercutir diretamente na ajuda ao desenvolvimento, nas remessas dos trabalhadores migrantes e na assistência humanitária aos refugiados, entre outras áreas, mas é pouco provável que afete a entrada de armas no Oriente Médio. Os conflitos armados e a insurgência no Iraque, Líbia, Síria e Iêmen não dão sinais de distensão.

“A intervenção militar no Iêmen por uma coalizão de Estados árabes, que começou em 2015, foi facilitada pelos altos níveis de importação de armas” de vários países da região, segundo um informe publicado no dia 22, pelo Instituto Internacional de Estocolmo de Investigação para a Paz (Sipri).

A coalizão liderada pela Arábia Saudita e que combate a insurgência huti no Iêmen está integrada por Bahrein, Egito, Emirados Árabes Unidos (EAU), Jordânia, Kuwait, Marrocos, Catar e Sudão. Em 2011-2015, as importações de armas pela Arábia Saudita cresceram 275% em comparação com o período 2006-2010.

Embora vários Estados que fornecem armas ao reino saudita tenham expressado preocupação sobre os ataques aéreos no Iêmen, se prevê que a Arábia Saudita continuará recebendo armas desses países, especificamente de Estados Unidos, França e Grã-Bretanha, nos próximos cinco anos, segundo o Sipri.

O documento assegura que entre as armas pedidas, há 150 aviões de combate e milhares de mísseis ar-terra e antitanque dos Estados Unidos, 14 aviões de combate da Grã-Bretanha e um número indeterminado, mas grande, de veículos blindados do Canadá com torres da Bélgica .Os Estados Unidos, que também fornecem inteligência militar aos sauditas sobre a situação no Iêmen, se queixam do crescente número de vítimas civis atribuído tanto à Arábia Saudita quanto às forças rebeldes.

Como o preço do petróleo continua caindo, “fica difícil ver como a Arábia Saudita manterá o ritmo de compra de armas, embora isso dependa de quantos benefícios de longo prazo obtém com o baixo preço do petróleo, que afasta do mercado outros fornecedores com custos de produção muito mais altos”, afirmou PieterWezeman, pesquisador do Sipri.

Atualmente estão sendo entregues vários contratos de armas para Arábia Saudita, Emirados, Kuwait e Catar, e várias entregas se concretizarão em breve, afirmou Wezeman, acrescentando que “a previsão é que os volumes das importações de armas desses países continuem sendo altos durante os próximos cinco anos, aproximadamente”.

O petróleo caiu ao seu nível mais baixo em quase 13 anos, já que o preço do barril baixou para menos de US$ 30 nos últimos dias, em comparação com os US$ 110 alcançados em 2014. A recessão no mercado do petróleo também gerou importantes demissões em diferentes empresas do setor nos Estados Unidos, entre elas produtoras de xisto, que se declararam em quebra ou que lutam para sobreviver.As divisas obtidas com o petróleo cobrem entre 25% e 75% dos orçamentos nacionais dos países produtores de petróleo do Oriente Médio.

O informe do Sipri diz que os Estados Unidos foram o principal exportador de armas no período 2011-2015, com 33% do total. As exportações de armas pelos norte-americanos cresceram 27% em comparação com o período 2006-2010 e o país exportou armas para 96 Estados entre 2011 e 2015, um número muito maior de destinos em relação aos demais fornecedores.

Os maiores receptores foram Arábia Saudita com 9,7% das exportações de armas pelos Estados Unidos, e os Emirados, com 9,1%. Em nível regional, o Oriente Médio foi o maior receptor de armas norte-americanas, com 41% do total exportado. Por sua vez, Ásia e Oceania receberam 40% e a Europa 9,9%.Os aviões equivalem a 59% das exportações de armas pelos Estados Unidos. No final de2015, Washington tinha numerosos contratos de exportação de armas pendentes, entre eles a entrega de 611 aviões de combate F-35 para nove países.

Wezeman informou à IPS que a maioria dos países da coalizão liderada pelos sauditas emprega principalmente armas norte-americanas ou europeias. China e Rússia ainda não conseguiram grandes contratos com Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Marrocos ou Catar, indicou. “Em sua maior parte, equipamentosusados pelos líderes da coalizãoforamfornecidos pelos Estados Unidos, seguidos de armamento da Grã-Bretanha e França”, acrescentou.

Em particular a Rússia e a China, esta em menor grau, tiveram melhor sorte com o Egito, que historicamente busca diversificar seus fornecedores de armas, sabendo que os Estados Unidos têm a tendência de impor restrições ou embargos temporários segundo as circunstâncias políticas. Além disso, o preço também é um fator importante, recordou Wezeman.

O informe do Sipriaponta que os Emirados mantêm altos níveis de importação de armas desde 2001, com crescimento de 35% entre os períodos 2006-2010 e 2011-2015. As importações do Catar aumentaram 279% entre 2006-2010 e 2011-2015. Entre as entregas pendentes a esse país, 24 helicópteros de combate, nove sistemas de defesa aérea e três aviões de alerta dos Estados Unidos, 24 aviões de combate da França e 52 tanques da Alemanha.

As importações de armas do Egito cresceram 37% entre 2006-2010 e 2011-2015, e tiveram alta importante no ano passado, quando os Estados Unidos levantaram uma suspensão parcial de exportações ao país e lhe entregou 12 aviões de combate. A França também enviou uma fragata, poucos meses depois de assinado o acordo. Em 2014 e 2015, o Egito assinou vários contratos de venda de armas com Alemanha, França e Rússia.

O informe do Sipri acrescenta que seis dos dez maiores importadores de armas no período 2011-2015 se encontram na Ásia e Oceania, liderados por Índia (14% das importações mundiais de armas), 

China (4,7%), Austrália (3,6%), Paquistão (3,3%), Vietnã (2,9%), e Coreia do Sul (2,6%).


Fonte: ENVOLVERDE

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