segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Meio ambiente no currículo e na gestão da escola.
Foto: Shutterstock

Relatório da Unesco aponta que o tema ainda é um desafio para a educação brasileira: 60% dos estudantes com 15 anos só têm conhecimento básico no assunto.

Por Anna Luiza Guimarães –

O relatório lançado esse mês pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), com o tema “Educação para as Pessoas e o Planeta: criar futuros sustentáveis para todos”, deixa claro que os avanços na educação são indispensáveis para o desenvolvimento mundial.

Segundo a pesquisa, o Brasil atingiu a média mundial de investimentos em educação no ano de 2012, mas é preciso repensar a formação dos professores e valorizar novas metodologias de ensino. O Porvir conversou com a coordenadora de educação da Unesco no Brasil, Rebeca Otero, que comentou alguns dos principais pontos do relatório.


“No Brasil, vemos uma educação focada em determinados conteúdos para o Enem. Os currículos pautados apenas por livros didáticos. Não se vê a educação como esse instrumento de qualificação da vida das pessoas, para aprender a ser, conviver e fazer. A educação precisa construir um indivíduo cidadão, capaz de fazer boas escolhas para si e para a sua comunidade”.

Meio ambiente

Encontrar novas soluções para problemas ambientais e ter um futuro com indústrias mais verdes são alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Porém, segundo a pesquisa, metade dos países avaliados nem menciona explicitamente a mudança climática em seus currículos escolares.

Ainda de acordo com o estudo, nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), 40% dos estudantes de 15 anos de idade têm apenas conhecimentos básicos sobre temas ambientais. Já no Brasil, Uruguai, México e Argentina, esse índice sobe para mais de 60%.

“As escolas até aceitam bem o tema, por ser uma agenda positiva. Porém, ainda trabalham de forma muito superficial. Isso mostra o quanto precisamos renovar a educação. É preciso investir e repensar a formação dos professores”, alerta Rebeca. “A sustentabilidade, por exemplo, também deve ser levada a sério pelos gestores. Não adianta só tratar em sala de aula, é preciso também dar o exemplo e investir em uma gestão mais sustentável”.

Formar cidadãos engajados

O relatório apresenta um estudo feito em 35 países que mostrou que a abertura nas escolas para discussões de assuntos polêmicos, em que os alunos ouçam e expressem opiniões divergentes em sala de aula, aumenta a intenção da participação política dos estudantes.

“É impossível ter uma boa educação sem ter nas escolas o debate que promova o pensamento crítico da comunidade”, afirma Otero.

Dados da pesquisa mostram que o acesso amplo e igualitário à educação de boa qualidade ajuda a manter práticas e instituições democráticas. Níveis melhores de alfabetização responderam pela metade das transições para regimes democráticos entre 1870 e 2000.

Formação de professores

Além de incluir as mudanças climáticas e sustentabilidade no currículo de formação dos professores e gestores da educação, o relatório da Unesco afirma que é preciso romper urgentemente com as tendências do passado.

“Os professores sentem necessidade de uma formação melhor. É preciso atualizar o currículo para que eles estejam preparados para lidar com bullying ou crianças portadoras de necessidades especiais, entre outros tantos temas importantes atualmente nas escolas”, sugere.

A política salarial, educação continuada, redução de carga horária e as condições de trabalho do professor precisam de revisão. “Sem a valorização da carreira docente, fica mais difícil a renovação. 

Os jovens acabam não querendo seguir essa carreira. O que acontece aqui no Brasil, por exemplo, é que temos um déficit de professores em determinadas áreas”.

Educação superior

Em uma amostra de 76 países, 20% das pessoas mais ricas com idades entre 25 e 29 anos completaram pelo menos quatro anos da educação terciária, em comparação com menos de 1% das mais pobres.

A previsão é que até 2020 o mundo apresente um déficit de 40 milhões de trabalhadores sem ensino superior e um excesso de 95 milhões de trabalhadores com níveis educacionais básicos.

Para o Brasil conseguir vencer esse desafio, segundo a coordenadora de Educação da Unesco no Brasil, será necessário investir em cursos técnicos. “Não só aumentar a oferta dos cursos técnicos de curta duração, inclusive já no ensino médio, mas entender a verdadeira demanda. Hoje, 70% desses cursos no Brasil são de área administrativa. É preciso oferecer qualificação para outras áreas”.

O relatório

O relatório da Unesco monitora o objetivo global de educação da Agenda de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. São 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, um plano de ação e as 169 metas prioritárias que devem ser alcançadas pelos países-membros da ONU (Organização das Nações Unidas) até 2030. A nova agenda coloca a educação como o principal ponto para alcance das metas.


Fonte: Porvir

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