segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

O Futuro das Cidades: Crescimento das periferias é excludente.

Katherine Rivas, especial para a Envolverde
A urbanista Ermínia Maricato fará a palestra de inspiração durante a primeira edição do Envolverde Convida – O Futuro das Cidade, evento que vai propor temas para o debate sobre os rumos das cidades brasileiras nas próximas décadas.

As cidades brasileiras estão crescendo nas periferias e sendo esvaziadas no centro. Essa é a conclusão a que chegou a urbanista Ermínia Maricato, que já atuou na Secretaria de Habitação e Desenvolvimento Urbano em São Paulo e no Ministério das cidades, em Brasília. Ela afirmou que existe hoje uma nova dinâmica de crescimento nas cidades brasileiras, com abandono das áreas centrais e a ocupação desordenada das periferias.
Ermínia Maricato, arquiteta e urbanista, vai fazer a palestra de inspiração no evento Envolverde Convida – O Futuro das Cidades.

Segundo a urbanista, 80% dos municípios repetem este sistema, no entanto o crescimento da periferia é na sua maioria ilegal impactando no acesso aos serviços básicos.

Um relatório da ONU “Perspectivas da População Mundial- edição 2015” revela que até 2030 o crescimento populacional no Brasil implicará em mais 20,8 milhões de e o país deve chegar próximo a 230 milhões de habitantes. No entanto a dinâmica de crescimento das cidades está na contramão de condições adequadas de vida para este contexto.

Ermínia define esta realidade como o fenômeno de “exilio- exclusão” que ocorre nos 26 estados brasileiros onde a população periférica fica afastada do centro das cidades em loteamentos muitas vezes clandestinos, sem acesso a condições adequadas de transporte, saúde, educação. “Não adianta criar um conjunto habitacional e colocar a pessoa em uma casa no fim do mundo, ela terá problemas de transporte e saúde e este exílio gera violência. Com a crise de desemprego estas áreas são as mais prejudicadas. Sem lei, sem polícia, que só aparece para matar, geramos um caos” explica a especialista. Ela também aponta para o outro lado da história onde a população rica e de melhores condições cria uma espécie de autoexílio com moradias afastadas e fechadas em condomínios, mesmo inseridas na cidade.

O fenômeno alcança níveis superiores nas cidades de médio porte, tais como Blumenau, Chapecó, Juiz de Fora, Presidente Prudente, entre outras. Estas estão crescendo de forma acelerada em PIB e população, dispersando o conceito original de urbanismo, em virtude de um modelo que coloca moradia, trabalho e lazer em pontos distantes, exigindo a mobilidade por carro ou transporte coletivo.

Nos últimos anos a cidade de São Paulo experimentou uma transformação neste modelo com o Plano Diretor que trouxe melhorias a situação das áreas centrais, concentrando num mesmo local comércio e moradias, diminuindo assim a necessidade das pessoas de gastar tempo em viagens.

Cidades com crescimento errado impactam também no contexto ambiental. Invasões periféricas tomam conta de lugares próximos a mananciais, produzindo impactos diretos na falta de água ou em diminuição do cinturão verde, provocando perdas a setores da agro economia.

Ermínia cita também a qualidade de vida, os moradores de locais periféricos passam a maior parte do tempo viajando para trabalhar, estudar. Comunidades periféricas carecem também de locais esportivos e escolas com infraestrutura adequada afetando o desenvolvimento de crianças e adolescentes. Uma pesquisa do dr. Paulo Saldiva, médico e especialista em estudos de poluição, aponta ainda que o constante fluxo da população no trânsito produz níveis elevados de poluição que impactam diretamente no tempo de vida das pessoas.

O contexto e o futuro
Ermínia Maricato divide a história do Brasil em duas etapas urbanísticas, nos anos 80 e 90 ocorre o ciclo virtuoso da política urbana no país, e o declínio inicia anos depois no intervalo 2009 até 2014 onde as prioridades urbanísticas são vendidas às gestões políticas e a especulação imobiliária gerando a crise nacional dos nossos dias. Para ela os principais erros foram: a tragédia do transporte coletivo nacional, com rotas muito diferentes das necessidades do cidadão; a geração de empregos pela construção civil; políticas públicas priorizando o uso do carro; e a articulação de interesses dos proprietários de imóveis junto a alianças partidárias. Ermínia avalia o Minha Casa Minha Vida, mesmo com sua função social, como aliado da produção empresarial capitalista onde esquecemos que as pessoas não moram apenas dentro de uma casa e sim na cidade.

Um novo olhar
O cenário das cidades brasileiras é extremamente desigual e segregado. Mudanças no contexto urbanístico e de mobilidade são travadas pelos interesses de classes sociais. Ermínia comenta que não vê mudanças no modelo brasileiro no curto prazo, porém a médio e longo prazo ela tem certeza que as cidades vão mudar. Ela defende uma mudança de interesses e uma discussão democrática aberta que mostre em plebiscito os reais interesses do povo e não os apresentados pela mídia “Precisamos encarar as divergências de classes sociais, não adianta falar para alguém que tem privilégios que precisa deixar de usar o carro, eles não querem fazer isso, nem diminuir a velocidade nem usar bicicletas, mas precisamos também dar voz aos outros. É preciso que quem votou nulo ou em branco se manifeste pelo bem das cidades” diz.

Mesmo com o contexto abrupto, a urbanista vê nos jovens a saída a esta problemática “Tenho certeza que as novas gerações das comunidades periféricas vão construir um conceito urbanístico e lutar por uso do espaço público mais justo”, defende ela e mostra que hoje apesar das condições precárias existe valorização na periferia, sua cultura e arte e um constante empoderamento de mulheres periféricas e da população negra que na sua visão conformam a nova consciência brasileira.

Serviço
Quando: quarta-feira, 14 de dezembro das 10h00 às 12h00
Onde: Unibes Cultural – Rua Oscar Freire, 2.500 – São Paulo (SP)
Inscrições: https://goo.gl/3J1Ioh


Fonte: ENVOLVERDE

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