O Futuro
das Cidades: Crescimento das periferias é excludente.
Katherine Rivas, especial para a Envolverde
A urbanista Ermínia Maricato fará a palestra de
inspiração durante a primeira edição do Envolverde Convida – O Futuro das
Cidade, evento que vai propor temas para o debate sobre os rumos das cidades
brasileiras nas próximas décadas.
As cidades brasileiras estão crescendo nas
periferias e sendo esvaziadas no centro. Essa é a conclusão a que chegou a
urbanista Ermínia Maricato, que já atuou na Secretaria de Habitação e
Desenvolvimento Urbano em São Paulo e no Ministério das cidades, em Brasília.
Ela afirmou que existe hoje uma nova dinâmica de crescimento nas cidades
brasileiras, com abandono das áreas centrais e a ocupação desordenada das
periferias.
Ermínia Maricato, arquiteta e urbanista, vai fazer
a palestra de inspiração no evento Envolverde Convida – O Futuro das Cidades.
Segundo a urbanista, 80% dos municípios repetem
este sistema, no entanto o crescimento da periferia é na sua maioria ilegal
impactando no acesso aos serviços básicos.
Um relatório da ONU “Perspectivas da População
Mundial- edição 2015” revela que até 2030 o crescimento populacional no Brasil
implicará em mais 20,8 milhões de e o país deve chegar próximo a 230 milhões de
habitantes. No entanto a dinâmica de crescimento das cidades está na contramão
de condições adequadas de vida para este contexto.
Ermínia define esta realidade como o fenômeno de
“exilio- exclusão” que ocorre nos 26 estados brasileiros onde a população
periférica fica afastada do centro das cidades em loteamentos muitas vezes
clandestinos, sem acesso a condições adequadas de transporte, saúde, educação.
“Não adianta criar um conjunto habitacional e colocar a pessoa em uma casa no
fim do mundo, ela terá problemas de transporte e saúde e este exílio gera
violência. Com a crise de desemprego estas áreas são as mais prejudicadas. Sem
lei, sem polícia, que só aparece para matar, geramos um caos” explica a
especialista. Ela também aponta para o outro lado da história onde a população
rica e de melhores condições cria uma espécie de autoexílio com moradias
afastadas e fechadas em condomínios, mesmo inseridas na cidade.
O fenômeno alcança níveis superiores nas cidades de
médio porte, tais como Blumenau, Chapecó, Juiz de Fora, Presidente Prudente,
entre outras. Estas estão crescendo de forma acelerada em PIB e população,
dispersando o conceito original de urbanismo, em virtude de um modelo que
coloca moradia, trabalho e lazer em pontos distantes, exigindo a mobilidade por
carro ou transporte coletivo.
Nos últimos anos a cidade de São Paulo experimentou
uma transformação neste modelo com o Plano Diretor que trouxe melhorias a
situação das áreas centrais, concentrando num mesmo local comércio e moradias,
diminuindo assim a necessidade das pessoas de gastar tempo em viagens.
Cidades com crescimento errado impactam também no contexto
ambiental. Invasões periféricas tomam conta de lugares próximos a mananciais,
produzindo impactos diretos na falta de água ou em diminuição do cinturão
verde, provocando perdas a setores da agro economia.
Ermínia cita também a qualidade de vida, os
moradores de locais periféricos passam a maior parte do tempo viajando para
trabalhar, estudar. Comunidades periféricas carecem também de locais esportivos
e escolas com infraestrutura adequada afetando o desenvolvimento de crianças e
adolescentes. Uma pesquisa do dr. Paulo Saldiva, médico e especialista em
estudos de poluição, aponta ainda que o constante fluxo da população no
trânsito produz níveis elevados de poluição que impactam diretamente no tempo
de vida das pessoas.
O contexto e o futuro
Ermínia Maricato divide a história do Brasil em
duas etapas urbanísticas, nos anos 80 e 90 ocorre o ciclo virtuoso da política
urbana no país, e o declínio inicia anos depois no intervalo 2009 até 2014 onde
as prioridades urbanísticas são vendidas às gestões políticas e a especulação
imobiliária gerando a crise nacional dos nossos dias. Para ela os principais
erros foram: a tragédia do transporte coletivo nacional, com rotas muito
diferentes das necessidades do cidadão; a geração de empregos pela construção
civil; políticas públicas priorizando o uso do carro; e a articulação de
interesses dos proprietários de imóveis junto a alianças partidárias. Ermínia
avalia o Minha Casa Minha Vida, mesmo com sua função social, como aliado da
produção empresarial capitalista onde esquecemos que as pessoas não moram
apenas dentro de uma casa e sim na cidade.
Um novo olhar
O cenário das cidades brasileiras é extremamente
desigual e segregado. Mudanças no contexto urbanístico e de mobilidade são
travadas pelos interesses de classes sociais. Ermínia comenta que não vê
mudanças no modelo brasileiro no curto prazo, porém a médio e longo prazo ela
tem certeza que as cidades vão mudar. Ela defende uma mudança de interesses e
uma discussão democrática aberta que mostre em plebiscito os reais interesses
do povo e não os apresentados pela mídia “Precisamos encarar as divergências de
classes sociais, não adianta falar para alguém que tem privilégios que precisa
deixar de usar o carro, eles não querem fazer isso, nem diminuir a velocidade
nem usar bicicletas, mas precisamos também dar voz aos outros. É preciso que
quem votou nulo ou em branco se manifeste pelo bem das cidades” diz.
Mesmo com o contexto abrupto, a urbanista vê nos
jovens a saída a esta problemática “Tenho certeza que as novas gerações das
comunidades periféricas vão construir um conceito urbanístico e lutar por uso
do espaço público mais justo”, defende ela e mostra que hoje apesar das
condições precárias existe valorização na periferia, sua cultura e arte e um
constante empoderamento de mulheres periféricas e da população negra que na sua
visão conformam a nova consciência brasileira.
Serviço
Quando: quarta-feira, 14 de dezembro das 10h00 às 12h00
Onde: Unibes Cultural – Rua Oscar Freire, 2.500 – São Paulo (SP)
Inscrições: https://goo.gl/3J1Ioh
Quando: quarta-feira, 14 de dezembro das 10h00 às 12h00
Onde: Unibes Cultural – Rua Oscar Freire, 2.500 – São Paulo (SP)
Inscrições: https://goo.gl/3J1Ioh
Fonte: ENVOLVERDE
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