sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Estudo investiga atraso da estação chuvosa na Amazônia.
por Redação da Agência Fapesp
Observações sugerem que a transição do período de seca para o de chuva no sul da Amazônia está ocorrendo cerca de um mês mais tarde do que nos anos 1970. Foto: Neil Palmer/CIAT.

Agência FAPESP – A transição da estação seca para a estação chuvosa no sul da Amazônia costuma ocorrer entre os meses de setembro e outubro. Atrasos nesse processo causam fortes impactos na agricultura local, na geração de energia e no funcionamento dos grandes rios da região, dos quais a população depende até mesmo para se locomover.

As fortes secas que afetaram a Amazônia nos anos de 2005 e 2010, bem como as enchentes de 2009 e 2014, indicam uma crescente variabilidade no início do período das chuvas que os modelos de previsão do clima ainda não são capazes de detectar com sensibilidade.

Compreender melhor os fatores que influenciam essa transição e, dessa forma, aperfeiçoar os modelos matemáticos existentes é o objetivo de um projeto apoiado pela FAPESP e coordenado pelo pesquisador José Antônio Marengo Orsini, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em parceria com a cientista Rong Fu, da University of Texas, nos Estados Unidos.

“Observamos um aumento de quase um mês na duração do período de seca, quando comparado aos dados dos anos 1970. Os modelos matemáticos existentes indicam que esse atraso no início das chuvas tende a aumentar. Queremos investigar se há influência da pluma de poluição da região metropolitana de Manaus nesse processo”, contou Marengo.

A pesquisa está sendo realizada no âmbito da campanha científica Green Ocean Amazon (GOAmazon), que reúne pesquisadores de diversas universidades e institutos brasileiros e norte-americanos e conta com financiamento do Departamento de Energia dos Estados Unidos (DoE, na sigla em inglês), da FAPESP e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), entre outros parceiros.

Resultados preliminares foram apresentados na terça-feira (28/10), em Washington (Estados Unidos), durante o simpósio FAPESP-U.S. Collaborative Research on the Amazon.

“Evidências da literatura sugerem que a transição do período de seca para o de chuvas é influenciada por fatores externos, como anomalias na temperatura da superfície do oceano, transporte de umidade, entre outros. Mas o gatilho para essa transição está sem dúvida dentro da floresta”, disse Fu.

Os pesquisadores estão trabalhando com dois diferentes modelos, um americano, chamado Community Earth System Model (Cesm), e o Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre (Besm, na sigla em inglês). Mas, segundo Marengo, eles ainda não são capazes de representar com precisão os impactos da extensão da seca no sul da Amazônia.

Existem parâmetros que precisam ser melhorados, como a inclusão de aerossóis e a representação das nuvens baixas. A ideia é usar toda a gama de dados gerada pelos diversos experimentos do GOAmazon para alimentar esses modelos e aperfeiçoá-los”, contou Marengo.

De acordo com o pesquisador, a região sul da Amazônia é a que sofre mais com o atraso do início das chuvas, pois no norte não há um período de seca definido. Além do impacto sobre as populações, os cientistas temem que o prolongamento do período de seca possa causar danos permanentes à floresta.

“O ser humano se adapta, mas a floresta pode começar a secar e ficar mais vulnerável a queimadas. Quando começar a chover pode ser tarde demais. Somente com o aperfeiçoamento dos modelos poderemos ter mais certeza sobre os possíveis impactos”, disse Marengo.

Modelando nuvens

Outro projeto realizado no âmbito do GOAmazon que tem como objetivo o aperfeiçoamento de modelos de previsão climática foi apresentado no simpósio em Washington por Tercio Ambrizzi, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP e por seu colega Carlos Roberto Mechoso, da University of California em Los Angeles (Ucla).

“Nosso objetivo é investigar como os aerossóis produzidos pela região de Manaus influenciam o processo de formação de nuvens na Amazônia. Nós comparamos as simulações que os diversos modelos são capazes de fazer com dados reais que estão sendo produzidos nos diversos sítios de pesquisa do GOAmazon”, disse Ambrizzi.

Depois de aperfeiçoados, esses modelos poderão ser incorporados em programas que desenham cenários de mudança climática, aumentando o grau de confiabilidade das projeções, afirmou o pesquisador.

Ao todo, o grupo trabalha com cinco diferentes modelos matemáticos, entre eles um de previsão do clima global, um de previsão regional e um voltado especificamente à formação de nuvens. Há ainda um programa capaz de mapear a trajetória das nuvens, desde o desenvolvimento inicial, a maturação e o decaimento, na forma de chuva, com auxílio de imagens de satélite.

Por meio do chamado modelo lagrangiano de difusão de partículas, o grupo de Ambrizzi investiga detalhadamente de onde vem a umidade existente na região da Amazônia e para onde ela se dirige. Os primeiros resultados foram divulgados em artigo publicado na revista Hydrology and Earth System Sciences.

“É possível ver claramente pela trajetória das partículas que as regiões do Atlântico tropical norte e sul são fontes de umidade para a Amazônia. Essas partículas caminham até a região Sudeste, onde se transformam em chuva”, disse Ambrizzi.

Sítios de pesquisa

Desde o início de 2014, uma gama enorme de dados sobre composição química de aerossóis e gases atmosféricos, microfísica de nuvens e parâmetros meteorológicos está sendo coletada nos diversos sítios de pesquisa instalados na região amazônica para o projeto GOAmazon.

O chamado sítio T3, localizado em Manacapuru, a 100 km de Manaus, é onde está instalada a estrutura do Atmospheric Radiation Measurement (ARM) Facility – um conjunto móvel de equipamentos terrestres e aéreos desenvolvido para estudos climáticos e pertencente ao DoE. O local recebe a pluma de Manaus após percorrer um longo caminho e sofrer interações com partículas emitidas pela floresta e com a radiação solar.

O T2 está situado no município de Iranduba, situado na margem do Rio Negro oposta à cidade de Manaus, e recebe a pluma de poluição assim que ela é emitida. Lá foi instalado com apoio da FAPESP um contêiner com equipamentos semelhantes aos existentes em Manacapuru.

A infraestrutura para coleta de dados do GOAmazon conta ainda com duas torres instaladas dentro da cidade de Manaus, na sede do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), batizada de sítio T1, e um conjunto de torres ao norte de Manaus – conhecido como T0 –, que inclui a Torre Alta de Observação da Amazônia (Atto), com 320 metros de altura. O T0 está situado no lado oposto ao percorrido pela pluma e representa, portanto, as condições da atmosfera amazônica sem a influência da poluição.

“Estamos analisando os dados das estações antes da pluma de Manaus e depois da pluma de Manaus. A primeira constatação é que, sem conhecer a situação da química atmosférica antes da pluma, no T0, fica quase impossível interpretar os dados coletados no T3, onde está a infraestrutura do ARM”, ressaltou Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física (IF) da USP e idealizador do projeto GOAmazon ao lado de Scot Martin, da Harvard University, nos Estados Unidos.

A comparação entre os dados coletados nos diversos sítios, afirmou Artaxo, revela haver forte influência da pluma de Manaus na composição química dos aerossóis e dos gases traço observados em Manacapuru.

“Qual é o impacto e suas consequências ainda vamos analisar. Já vimos, em relação ao ozônio, que há um aumento de até quatro vezes na concentração quando se comparam o T0 e o T3. Passa de 10 partes por milhão (ppm) para 40 ppm após a pluma, chegando a níveis que podem ser danosos às plantas. Vimos também forte efeito no balanço de radiação atmosférica, alterando a quantidade de radiação disponível para as plantas realizarem fotossíntese”, disse.

Diante do desafio climático, devemos financiar projetos concretos.
por Anne Paugam*
Estaríamos nós diante de uma escolha impossível? De um lado as mudanças climáticas, com seu conjunto de fenômenos metereológicos excepcionais que ameaçam o progresso do desenvolvimento em todo o mundo, sobretudo nos países mais pobres. De outro o próprio desenvolvimento, visto que este vem acompanhado de um aumento do consumo de recursos naturais e de energia, o que pode agravar o problema das mudanças climáticas. Sem negar essa dupla realidade, pode-se, no entanto, adotar uma perspectiva nova que considere a existência de uma alternativa transformadora: o desenvolvimento pode (e deve) ser um elemento de resposta a esse desafio planetário.

É o que se observa, por exemplo, no Congo, onde a administração e as empresas florestais implementam um programa de manejo florestal que tem por objetivo dinamizar a economia local e ao mesmo tempo preservar o que é considerado como o segundo pulmão do planeta (atrás somente da Amazônia). O Burkina Faso desenvolve uma usina solar fotovoltaica, que não só aprimorará o acesso à energia elétrica no país, como evitará também a emissão de 40.000 toneladas de CO2 equivalente por ano. A cidade de Bangalore e muitas outras da Índia e de outros países desenvolvem redes de metrô, ônibus e tramways que facilitarão o deslocamento de seus habitantes, reduzindo a poluição decorrente da circulação de automóveis. São todas soluções concretas, entre outras centenas, que integram tanto a questão do desenvolvimento como a dos desafios climáticos.

Os bancos de desenvolvimento devem apoiar essa dinâmica. Isso pressupõe que eles mesmos operem a transformação cultural necessária, fazendo da relação entre o clima e o desenvolvimento um elemento estruturador de suas atividades. Essa atitude é essencial para promover a durabilidade das ações financiadas, o que pode ser facilmente entendido por qualquer um que trabalhe com o ordenamento de uma cidade ameaçada pelo aumento do nível das águas ou em uma zona agrícola vulnerável às secas. A questão da adaptação é determinante para as infraestruturas, cuja duração é muito frequentemente superior a cinquenta anos. Não se pode continuar, por exemplo, a construir barragens sem considerar, desde a sua concepção, os riscos de variações extremas na intensidade do fluxo dos rios, ligados a episódios de seca ou de inundações.

Tão importante quanto, é a questão da atenuação das mudanças climáticas, na qual a França foi pioneira. O governo atribuiu à Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) objetivos ambiciosos: 50% dos seus investimentos devem apresentar um impacto positivo sobre o clima. Desde 2007, mais de 15 bilhões de euros foram destinados a operações nos setores do transporte, da agricultura, das energias renováveis, das florestas… Outros financiadores apoiam projetos similares. Em 2012, os membros do Clube Internacional de Financiamento ao Desenvolvimento (IDFC), que agrega cerca de vinte bancos nacionais e regionais do Norte e do Sul, entre os quais a AFD, mobilizaram 50 bilhões de dólares (ou 38,9 bilhões de euros) em favor da luta contra as mudanças climáticas nos países do Sul.

Essa adoção de uma abordagem cada vez mais “verde” nas estratégias de desenvolvimento permitirá uma melhor mobilização dos financiamentos. Os fundos públicos têm um papel propulsor, que deve orientar de maneira inteligente as grandes somas geradas por fundos de pensão, seguradoras, fundos soberanos ou fundações.

Obrigações verdes

Entre os muitos caminhos possíveis, o das “obrigações verdes” ou “obrigações climáticas” (Green ou Climate Bound) parece particularmente promissor. Essas obrigações se distinguem pelo fato de que estão atreladas a projetos destinados ao desenvolvimento sustentável e ao combate às mudanças climáticas. Primeira boa notícia: o aumento da oferta. Há dois anos, as empresas vêm seguindo o caminhos das instituições financeiras internacionais, aumentando rapidamente o volume de obrigações “verdes” emitidas. Segunda boa notícia: a demanda também cresce, chegando até mesmo a ultrapassar a oferta. Nas últimas emissões de obrigações, a subscrição ultrapassou a oferta, o que revela a ampliação progressiva do ciclo de investidores interessados. Resta avançar nesse contexto: no momento, essas obrigações apresentam realidades muito diversas, tendo em vista que o nível de exigência em termos de impacto sobre as mudanças climáticas não é padronizado e as práticas de notação ainda devem ser aprimoradas e estendidas.

Convencida do potencial desse mercado e determinada a contribuir para sua estruturação, a AFD acaba de lançar “obrigações climáticas” pela primeira vez em sua história. Como outros estabelecimentos, ela se compromete a prestar contas a seus investidores a respeito da utilização dos recursos, se apoiando sobre uma sólida metodologia para a medição da pegada de carbono dos projetos financiados.

A Cúpula do Clima organizada no mês passado em Nova York pelo Secretário Geral das Nações Unidas, foi em parte dedicada aos desafios financeiros. Foi a ocasião de discutir a questão das normas e incitações suscetíveis de aumentar o alcance desses instrumentos e de vários outros. Todas as alavancas devem ser acionadas para promover a emergência de novos modelos de desenvolvimento mais resilientes, menos emissores de gases de efeito estufa e mais adequados para responder aos desafios econômicos e sociais.

Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD)

A Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD) é uma instituição financeira pública, executora da política definida pelo Governo francês, que atua há mais de setenta anos no combate à pobreza e na promoção do desenvolvimento nos países do Sul e na França ultramarina.

Presente em quatro continentes, onde dispõe de uma rede de 71 agências e escritórios de representação, sendo nove na França ultramarina e um em Bruxelas, a AFD financia e acompanha projetos que melhoram as condições de vida das populações, fomentam o crescimento econômico e protegem o planeta.

Em 2013, a AFD dedicou 7,8 bilhões de euros ao financiamento de ações nos países em desenvolvimento e em benefício da França ultramarina, contribuindo especialmente para a escolarização de crianças e adolescentes, a melhoria da saúde materna, a promoção da igualdade de gênero, o apoio a agricultores e pequenas empresas e o aprimoramento do acesso à água, à energia e aos transportes. Os novos projetos financiados pela AFD contribuirão também no combate às mudanças climáticas, proporcionando uma economia de cerca de 3,3 milhões de toneladas de CO2 equivalente por ano.

* Anne Paugam é diretora da Agência Francesa de Desenvolvimento(AFD).

** Publicado originalmente pelo jornal francês Le Monde, em 22 de setembro de 2013.


Fonte: ENVOLVERDE
Descaminhos percorridos da Rio 92 à agenda pós-2015.
por Iara Pietricovsky*
Nova York – EUA, Cúpula do Clima das Nações Unidas em Nova York. Foto: Palazzochigi/ Fotos Públicas.

Os que comandam hoje o nosso mundo são o Fórum Econômico Mundial, a OMC, as instituições financeiras internacionais, tendo tanto os Estados nacionais como a ONU capturados pelos interesses dessas.

A Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Meio Ambiente-Eco-92 foi uma importante inflexão dos países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a política ambiental e revelou uma agenda política internacional fundamental para as décadas que estavam por acontecer. Foi o maior evento organizado pela ONU até então. Dela surgiram acordos fundamentais, como a Agenda 21 e as Conferências das Partes sobre Biodiversidade e Clima. Desta última, o Protocolo de Kyoto e um plano de implementação. Outros eventos tão fundamentais quanto esse ocorreram nos anos posteriores.

A partir deste marcante evento, uma série de Conferências Globais foram realizadas com objetivo de aprofundar e comprometer os governos e povos com um novo marco de direitos e um novo significado para o desenvolvimento. Esse esforço foi feito em um contexto de disputa do sentido deste desenvolvimento e o intento de resignificá-lo. A palavra desenvolvimento esteve dialogando com praticamente todos os temas das cúpulas promovidas pela ONU de 1992 até o início dos anos 2000.

Foi um período em que a ONU gozava de confiança política o que permitiu que a mesma convocasse, com legitimidade, vários encontros internacionais de alto nível, sucedâneos à Rio 92 e que tiveram o marco dos direitos humanos como base da abordagem das mesmas. Dessa forma, foram realizadas as conferências de direitos humanos, em Viena; de desenvolvimento social, em Copenhague; sobre população e desenvolvimento, no Cairo; da condição da mulher, em Pequim; e dos problemas urbanos e o desenvolvimento, em Istambul. No início dos anos 2000 temas como o racismo, intolerância e discriminação entram na agenda, em Durban, e também um tema estruturante, o do financiamento ao desenvolvimento, em Monterrey. A esse ciclo de uma década nos referimos como o “ciclo social das Nações Unidas”.

O grande desafio, desde o começo desse processo, foi definir quem pagaria a conta pela transição do modelo predatório para um modelo de desenvolvimento sustentável do ponto de vista do financiamento e das responsabilidades históricas. Debate antigo e recorrente nas conferências da COP sobre Mudança Climática (UNFCCC) sobre as responsabilidades históricas dos países desenvolvidos comparativamente aos países em desenvolvimento, expressas na cláusula das responsabilidades comuns porém diferenciadas (CBDR). Todos são responsáveis, entretanto, uns são mais responsáveis que outros pelos desequilíbrios, desigualdades e desafios para evitar o aquecimento global via redução de emissão de gases de efeito estufa.

No ano 2000, com o lançamento dos Objetivos do Milênio, ODMs e depois de realizados novos ciclos de revisão das conferências (+5, +10 e +20) ficaram evidentes os sinais de “fadiga” do sistema das Conferências. A ONU como instituição começou a perder seu poder e legitimidade política. Isso ficou claro, ao longo do tempo, pelo baixo nível de comprometimento dos governos, pelas ausências de investimento e de força política, por parte do próprio sistema ONU, para impedir que as questões decididas fossem reabertas para uma revisão para pior.

O esgotamento das cúpulas acabou produzindo uma nova negociação, na virada do milênio, que ficou conhecida como Conferência do Milênio, que produziu, por sua vez, os 8 Objetivos do Milênio (ODMs), em 2000. Dizia a ONU que foi o acordo possível para que os acordos anteriores pudessem ser medidos e avaliados. Segundo eles, era a primeira vez que se definia claramente metas e indicadores para serem avaliados ao fim de 2015.

Entretanto, os ODMs foram compreendidos pelos movimentos sociais, acadêmicos e especialistas das organizações da sociedade civil global ligados a esse debate como uma redução de tudo que se havia alcançado nas cúpulas dos anos anteriores. O debate realizado por quase uma década, na verdade, foi reduzido a oito metas, cheias de problemas éticos, de implementação e de definição de responsabilidades. E não abarcava todos os responsáveis pelas mazelas do sistema.

Temas como pobreza, desigualdade, dívida externa, Ajuda Oficial ao Desenvolvimento (ODA), nova arquitetura financeira, desenvolvimento sustentável, financiamento ao desenvolvimento e nova governança, que eram presentes em nosso vocabulário desde então, não tiveram eco efetivo, assim como a ONU não teve força política para reverter decisões econômicas e financeiras no âmbito internacional. Políticas públicas globais passaram a ser definidas no G8 e pelo Fórum Econômico Global e depois elaboradas e implementadas pelas instituições financeiras internacionais e pela OMC. 

Mais recentemente com a crise econômica dos países ricos, o G8 teve de ampliar o escopo de países para poder continuar seu papel hegemônico, ainda que os países em desenvolvimento, partícipes deste agrupamento, possuam estratégias de influenciar a governança global, como o G20 e agora como os BRICs.

O enfraquecimento da ONU e dos Estados nacionais, impactados pela chamada crise tripla (econômica, ambiental, alimentar) fez com que esses começassem a buscar nas grandes corporações transnacionais o apoio financeiro para resolver suas dificuldades econômicas e viceversa, as Corporações Financeiras Transnacionais (TNCs) buscaram nos Estados (e muitas foram salvas com o dinheiro público na última crise dos países desenvolvidos). As instituições financeiras multilaterais fragilizadas, Banco Mundial e FMI, foram reerguidas, entre outras coisas, para operar como formuladores dessa nova era do capitalismo financeiro, agora revitalizados com o conceito de economia verde, usando um método que parece ser a chave milagrosa de uma nova governança global, as parcerias público/ privada.

Para garantir hegemonia do processo de privatização do sistema multilateral e dos Estados nacionais era necessário também alterar o marco regulatório de direitos constituídos no famoso ciclo social da ONU. 

Criou-se, para isso, o Global Compact que passou a ter um papel assessor tanto na era Kofi Anan, como na atual era Ban Ki-moon e, para tal objetivo, abraçaram a agenda ambiental, foram parceiros importantes na formulação dos conteúdos saídos dos acordos na Rio+20 e, são atuantes na construção da agenda do pós-2015. Se apresentam como a solução dos problemas globais da crise climática, via uso de novas tecnologias por meio do financiamento público-privado, sem alterar nenhum base estruturante do modelo atual.

Os que comandam hoje o nosso mundo são o Fórum Econômico Mundial, a OMC, as Instituições Financeiras Internacionais (IFIs), tendo tanto os Estados nacionais como a ONU capturados pelos interesses dessas corporações transnacionais, ainda que reste uma certa legitimidade e independência política, nas frágeis democracias de nosso tempo. É tempo para repensar nossas democracias e quem são os beneficiários de seus processos e da forma em que as instituições operam.

Em 2015 acaba o prazo definido para os Objetivos do Milênio (ODMs) e deverão entrar em vigor os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Em certa medida, os debates sobre mudança climáticas, ODS, e financiamento ao desenvolvimento caminham em uma mesma direção rumo a esse ano cabalístico de 2015.

Dessa forma tornam-se necessários novos indicadores e novas metas para a agenda global ao enfrentamento da pobreza, das desigualdades e da crise ambiental. Os ODSs são uma tentativa de construir indicadores mais universais para articular com o tripé econômico, social e ambiental, definido na Rio+20. Assim querem nos fazer crer, que os ODSs serão mais inclusivos e mais amplos em termos dos direitos humanos quando comparados aos ODMs. Pretendem apresentar uma nova agenda até 2030. Será?

O relatório do Fórum Econômico Global, apresentado antes da Rio+20, sugere que o sistema de governança no futuro será melhor administrado por coalizões de corporações multinacionais, Estados-nação (incluindo a ONU) e um seleto grupo de organizações não governamentais. E essa tem sido a diretriz usada em nome da nova governabilidade haja visto as novas arquiteturas do poder global.

Segundo o Banco Mundial e a revista Fortune, 110 entre as 175 maiores economias globais, em 2011, são corporações. A publicação de Lou Pingeot, Corporate in Post 2015 process, nos mostra que as megacorporações tais como Royal Dutch Shell, Exxon Mobil e Wal Mart produzem desequilíbrio total no sistema de poder global, pois juntas são maiores que 110 economias nacionais, mais da metade dos membros da ONU.

Portanto, o poder dessas corporações no mundo e nos espaços políticos de decisão são inquestionáveis. Além do mais, as PPPs abrem caminho para os negócios das corporações que detêm poder real sobre as instituições da governança global nessa nova onda do capitalismo verde. São elas: indústrias extrativistas, de tecnologia de ponta, do setor químico, farmacêutica e de alimentação e bebidas.

Nesse contexto um dos principais desafios na construção da agenda pós-2015 será enfrentar o enfraquecimento do poder público, enfraquecimento da política e seus espaços para formulação de novos consensos e os riscos de redução marco dos direitos humanos. Estamos assistindo um evidente rebaixamento do marco dos direitos humanos em nome de uma agenda possível. Possível para quem?

* Iara Pietricovsky é membro do Colegiado de Gestão do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) e do Grupo de Reflexão sobre Relações Internacionais (GR-RI).


Ciclo de palestras debate educação integral, cidade educadora e meio ambiente.
por Redação do Portal Aprendiz
Termina no dia 13 de novembro o ciclo de palestras “Carta da Terra: movimento de transformação”, realizado pelo Programa Carta da Terra em Ação, apoiado pela Prefeitura de São Paulo e pela UMAPAZ (Universidade Aberta de Meio Ambiente e Cultura de Paz), que convida a cada semana um especialista para falar de temas relativos ao meio ambiente, agentes transformadores e educação.

Nesta quinta-feira, 30/10, Helena Singer, socióloga e diretora da Associação Cidade Escola Aprendiz, apresentará os princípios da educação integral e a formação de uma cidade educadora, das 19h às 21h. No dia 6/11, a arquiteta Flávia Feitosa, discutirá a complexidade da cidade e em 13/11, Marcos Sorrentino, biolóho e pedagogo, discutirá metodologias integrativas na educação ambiental.

Os debates são públicos e gratuitos e são realizados na sede da UMAPAZ, localizado no Parque Ibirapuera. Av. Quarto Centenário, 1268. Não é necessário inscrição prévia e a admissão é por ordem de chegada, de acordo com a capacidade do auditório, que conta com 150 vagas. Para maiores informações, envie um e-mail para:

Para maiores informações, clique aqui.


Cadastro Ambiental Rural alcança 500 mil registros, 10% da meta total de cadastros até março de 2015.


Número representa cerca de 10% da meta total, que é de 5,2 milhões de cadastros até março de 2015
por Portal Brasil.

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) alcançou no mês de outubro a marca de 500.113 registros de propriedades e posses rurais no país.

O número representa cerca de 10% da meta total, que é de 5,2 milhões de cadastros até março de 2015.

A região norte lidera o número de cadastramentos, com 174.093 registros, seguida pelas regiões centro-oeste (166.954), sudeste (71.756), sul (48.850) e nordeste (38.460). Os dados são do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Criado pela Lei 12.651/12, o Cadastro Ambiental Rural (CAR) é um registro eletrônico, obrigatório para todos os imóveis rurais. A partir dele, é formada uma base de dados estratégica para o controle, o monitoramento e o combate ao desmatamento das florestas e demais formas de vegetação nativa do Brasil, bem como para planejamento ambiental e econômico dos imóveis rurais.

Segundo o secretário Caio Rocha, da Secretaria Nacional de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (SDC/Mapa), o CAR é um importante instrumento de planejamento para o produtor rural.

“É fundamental para a preservação e monitoramento de áreas degradadas, contribuindo para a melhoria da qualidade ambiental”, afirma Caio.

Os produtores rurais devem ficar atentos ao prazo de inscrição no Sistema de Cadastro Ambiental Rural (Siscar) – sistema eletrônico que comporta todas as informações da propriedade – que vai até o mês de março de 2015.

No momento do cadastro, o produtor identifica a localidade e as delimitações da propriedade e deve fornecer ainda imagens por satélite. Por isso, agricultores que não tiverem as informações necessárias para realizar o cadastro, devem procurar a ajuda de um técnico.

Para realizar o cadastro, o produtor pode deve baixar o Módulo de Cadastro, preenche-lo e enviá-lo para análise por meio da internet.


Belo Horizonte inova e quer segundo título no Desafio das Cidades.
por Redação do WWF Brasil
Igreja da Pampulha, em Belo Horizonte. Foto: © Prefeitura Municipal de Belo Horizonte/Divino Advincula.

Vencedora nacional da última edição do Desafio das Cidades, Belo Horizonte voltou a concorrer em 2014/2015 com metas ambiciosas. O Plano de Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa (PREGEE), criado para contribuir com a redução da emissão de GEEs sem prejudicar o desenvolvimento econômico no âmbito da Política Municipal de Mitigação dos Efeitos das Mudanças Climáticas, é uma das iniciativas de destaque da prefeitura este ano. O plano, cujo processo de elaboração contou com ampla participação dos setores da sociedade, deverá cumprir metas de redução de 20% das emissões até 2030, considerando 2007 como ano base.

Os esforços rumo a uma economia de baixo carbono ganharam um reforço de peso com a Lei 10.175, que instituiu a Política de Mitigação dos Efeitos das Mudanças Climáticas. “Ela destaca estratégias de mitigação e adaptação e instrumentos econômicos, fiscais e de controle institucional para que se possa assumir responsabilidades na redução das emissões dos GEE”, avalia o Comitê Municipal sobre Mudanças Climáticas e Ecoeficiência (CMMCE), responsável pelas ações de mitigação. “Também propõe a formulação e a adoção de planos envolvendo os órgãos públicos e parcerias com a sociedade civil para a implementação da política”, completa.

Outras medidas relatadas na plataforma Carbonn, do ICLEI (Governos Locais pela Sustentabilidade), desde a última edição do Desafio são o Selo BH Sustentável, que apresenta uma política pública de reconhecimento e comprovação de medidas a condomínios residenciais, comerciais e indústrias capazes de promover a redução de consumo de água, emissões de GEE, energia e resíduos sólidos; e o PROCEL RELUZ, a partir do qual a Unidade de Gestão Energética Municipal (UGEM) se tornou uma comissão com fins normativo, consultivo e deliberativo para analisar todas as unidades consumidoras de alta tensão da prefeitura.

Com o objetivo de requalificação urbana e ambiental das vilas, favelas e aglomerados da capital mineira, a prefeitura criou o Programa Vila Viva, que reúne ações de urbanização, recuperação ambiental, desenvolvimento econômico e regularização fundiária. Entre seus resultados desde 2005 estão obras de saneamento, remoção de famílias de áreas de risco e construção de unidades habitacionais.

A Ferramenta de Avaliação Rápida de Energia da Cidade (TRACE), financiada pelo Banco Mundial em 2012, serviu para que Belo Horizonte identificasse a oportunidade e discutisse a substituição de lâmpadas tradicionais por LED na iluminação pública. Atualmente, também corre na Câmara um Projeto de Lei (PL) criado pelo Grupo de Trabalho de Energia, no âmbito do PoliCS (Políticas de Construção Sustentável) e pelo Comitê Municipal sobre Mudanças Climáticas e Ecoeficiência da Prefeitura, que dispõe sobre a instalação de sistema de aquecimento de água por energia solar nas edificações públicas e particulares.

Desafio das Cidades

Trata-se de uma iniciativa concebida pela Rede WWF para homenagear as cidades que estão se tornando lugares mais verdes, de vida mais saudável e sustentável em direção a um futuro de clima mais ameno para o planeta. O objetivo é reconhecer esforços para o desenvolvimento de baixo carbono, as ações em andamento, por que e como relatar os compromissos. Estão convidadas a participar cidades que proponham soluções e planos de mitigação em setores como transportes, habitação, iluminação pública, resíduos e alimentação.


Fonte: WWF Brasil
As mãos solidárias podem piorar desastres ambientais.
por Jewel Fraser, da IPS
Vista aérea de um acampamento provisório em Porto Príncipe. Além do cólera levado pelos nepaleses da força de paz após o terremoto de 2010, os problemas ambientais surgiram pela distribuição de barracas de campanha de lona, que tiveram que ser substituídas em poucos meses. Foto: Marco Dormino/UN Photo.

Porto Espanha, Trinidad e Tobago, 30/10/2014 – A primeira resposta humanitária quando ocorre um desastre natural pode acabar exacerbando, involuntariamente, alguns problemas e agravando as consequências de futuros eventos climáticos, alerta a Sociedade da Cruz Vermelha de Trinidad e Tobago. Durante as fortes chuvas de 2012, quando as perdas chegaram a quase US$ 20 milhões em Diego Martin, oeste da ilha caribenha de Trinidad, o pessoal de socorro se mobilizou rapidamente para ajudar as vítimas que perderam suas casas.

No entanto, duas semanas depois a área voltou a inundar, só que desta vez devido a uma tempestade tropical. O informe da Sociedade da Cruz Vermelha fala da possibilidade de a segunda inundação ter sido causada, em parte, pelos “recipientes não biodegradáveis descartáveis, como garrafas, embalagens de alimentos e utensílios plásticos, distribuídos depois da primeira”.

“Além das intensas chuvas, um dos principais fatores contribuintes das inundações em Diego Martin foi que os cursos de água estavam barrados. A coleta de resíduos ficou restringida depois do desastre. O uso de materiais biodegradáveis que não prejudicam o ambiente poderia ter evitado a segunda inundação”, acrescenta o relatório.

A apresentação do informe Resposta Verde: Um Estudo de País esteve a cargo do Escritório de Gestão e Preparação de Desastres de Trinidad e Tobago e foi realizado em uma reunião da Associação de Estados do Caribe (ACS). O documento foi preparado após um estudo de viabilidade “sobre como reduzir de maneira sustentável o impacto ambiental dos produtos e da tecnologia usada na resposta a desastres”.

Trinidad e Tobago decidiu investigar a respeito após uma reunião da ACS em 2011, na qual surgiu a necessidade de a resposta aos desastres naturais ser mais respeitosa com o ambiente. Conseguir que a resposta aos desastres naturais seja mais ecológica é um tema de preocupação internacional. A Ferramenta Verde para a Reconstrução e Recuperação diz: “A redução do risco de desastres (RRD) busca reduzir o dano. As atividades para reduzi-lo representam um risco em si mesmas se não se considerar a sustentabilidade ambiental”.

O informe da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e da Meia-Lua Vermelha (IFRC) indica que as organizações dedicadas a esse tipo de tarefa devem incluir “os riscos da mudança climática e os futuros e atuais desastres, bem como várias medidas para contê-los nos programas de recuperação”.

A necessidade de considerar o tema foi especialmente evidente no Haiti, após o terremoto de 2010 que deixou mais de 200 mil mortos. Além do cólera, levado pelos nepaleses da força de manutenção de paz enviada para ajudar na recuperação, surgiu o problema ambiental criado pela distribuição de dezenas de milhares de barracas de lona, não biodegradáveis, que tiveram que ser substituídas em poucos meses.

O informe sobre as práticas da IFRC no Haiti aponta que serão necessárias 50 mil árvores para compensar a emissão de dióxido de carbono das barracas descartadas, se forem jogadas em lixões. “A questão fundamental é encontrar a forma de garantir que o que fizermos tenha o menor impacto possível no ambiente”, disse o diretor de RRD e Transporte da ACS, George Nicholson.

O governo de Porto Espanha se comprometeu a incorporar elementos ambientais e vinculados à mudança climática em todos os seus programas de resposta. Quando surgiu na ACS o tema de uma resposta verde à gestão de desastres, esse país ofereceu a realização de um estudo de viabilidade para o que se chamou Resposta Verde. A ACS trabalhou com o Escritório de Gestão e Preparação de Desastres do país, responsável pela iniciativa, a IFRC e a Sociedade da Cruz Vermelha de Trinidad e Tobago, para fazer o estudo.

Stephen Kishore, da Sociedade da Cruz Vermelha, disse que os esforços verdes para a atenção de desastres incluiriam atividades como produção local de suprimentos para reduzir a pegada de carbono que implica trazê-los da China, de onde procede a maioria dos produtos. Também implicaria procedimentos simples, como usar papel ou roupa, em lugar de plásticos, para envolver os suprimentos, ou embalar vários produtos, como sabão, em um mesmo pacote, e não de forma individual.

Os esforços de socorro também fomentariam a reciclagem e o uso de energia solar, em lugar de combustíveis fósseis. Para que os esforços de socorro sejam mais verdes, deve-se ter em conta o contexto legislativo que rege as organizações humanitárias. Segundo Nicholson, o estudo de viabilidade analisa o “processo legislativo de Trinidad e Tobago e seus sistemas operacionais para ver onde obter benefícios para conseguir um enfoque mais verde”.

Porém, não será fácil ter normas que permitam a sustentabilidade das respostas humanitárias aos desastres, destacou Kishore. Outra complicação, segundo Nicholson, é que os membros da ACS operam sob vários contextos legislativos, pois na região há países onde se fala alemão, francês, espanhol e inglês e têm tradições legais diferentes. “Não se pode fixar as melhores práticas. Os países deverão olhar o estudo e decidir a melhor maneira de adaptar as propostas ao seu próprio contexto”, explicou.

Terminada a etapa do estudo de viabilidade, o próximo passo da Resposta Verde será identificar e criar processos de resposta verde e produtos na região, o que será um incentivo para que a indústria local comece a produzir elementos recicláveis para usar durante um desastre natural.


Fonte: ENVOLVERDE