domingo, 26 de outubro de 2014

Como boas práticas agropecuárias podem contribuir na recuperação do Rio Peruaçu.
por Damaris Adamucci, do WWF Brasil
Reuniao entre representantes do Programa Agua Brasil, agricultores e demais entidades. Bacia do Rio Peruacu, Januaria, Minas Gerais, Brasil. Programa Agua Brasil, eixo Agua e Agricultura. Foto:
© WWF-Brasil / Eduardo Aigner.

A situação dos rios brasileiros é cada dia mais preocupante. Prova disso é a triste notícia de que, pela primeira vez na história, a nascente do Rio São Francisco está completamente seca. Além do grande período de estiagem que estamos vivendo, práticas irresponsáveis – como queimadas e desmatamento – contribuem para que a água dos rios diminua cada vez mais.

No início de outubro, o Programa Água Brasil visitou Januária (MG), cidade que abriga o Rio Peruaçu, um dos principais afluentes do Rio São Francisco e que também encontra-se em uma situação complicada, com muito menos água do que antigamente no leito do rio que é parte integrante da identidade da cidade, carinhosamente chamado de Velho Chico.

O agricultor Jorge Martins, da comunidade quilombola da Onça, não esconde sua preocupação com o rio Peruaçu, que já foi muito frequentado por ele durante sua infância. “Pode ir lá e ver com seus próprios olhos, [o rio] está seco. É uma tristeza pra gente, porque quem conheceu sabe o lugar maravilhoso que era, com água abundante”, lamenta.

Para tentar reverter esse cenário, o programa reuniu, durante dois dias, agricultores e agricultoras da região para uma oficina de capacitação de boas práticas agropecuárias. O evento contou com o apoio de parceiros locais importantes, como: Cáritas Januária e Cáritas Regional MG; Núcleo de Estudos em Agroecologia (NEA) do IFNMG Campus Januária, ICMBio, Funatura, Instituto Biotrópicos e Banco do Brasil –MG.

O encontro foi uma ótima oportunidade para que as associações de camponeses e quilombolas, instituições e estudantes pudessem se reunir para trocar experiências, aprender e dialogar sobre as boas práticas agropecuárias e agroecológicas realizadas na região.

No primeiro dia, os participantes visitaram as Unidades Demonstrativas (UD´s) das comunidades Vereda Grande I, Vereda Grande II, Areião, Araçá, Várzea Grande, Olhos D’agua e as quilombolas Onça e Pedras. Em cada uma delas, foi possível conhecer diversas práticas agroecológicas, como criação de pequenos animais, restauração ecológica, roça sem fogo, quintal produtivo, canteiro econômico e as tecnologias sociais, como fossas biodigestoras, unidade de beneficiamento de frutos do cerrado e quintais, casas de sementes crioulas, além das cisternas domésticas e calçadão.

Para o produtor Manoel Rodrigues da comunidade quilombola de Pedras, o Água Brasil ajudou a prover alimentação para a população: “Se dependêssemos da água do rio, não teríamos alimento. Hoje, com a água das cisternas, conseguimos fazer nossas plantações. Isso mudou muito a vida de todos os agricultores e agricultoras da região”.

Já Edivaldo Fernandes, outro produtor da região, acredita que o maior benefício do programa é a conscientização ambiental da comunidade. “Nossa maior necessidade no momento é preservar o ambiente e as nascentes dos rios. Hoje, a maioria das pessoas sabe da importância de preservar a água. O maior exemplo disso é usar o fogo apenas para cozinhar, chega de queimadas por aqui”, explica.

No segundo dia, o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG) abriu as portas para a oficina de validação das boas práticas visitadas no dia anterior. Os participantes puderam colocar na ponta do lápis as experiências que presenciaram durante as visitas de campo, e discutir as vantagens, desvantagens e desafios de cada uma das práticas e tecnologias sociais.

Ao final do dia, todos se reuniram em frente ao rio São Francisco para a avaliação do encontro, compartilhando o que aprenderam durante a oficina e o que levam para seu dia a dia.

O estudante Jarbas Mendes Andrade, agradeceu a oportunidade de participar do encontro. “Não existe aprendizado melhor do que a prática. Tudo o que vimos aqui nesses dois dias, não aprendemos em nenhuma escola ou universidade. Foi um privilégio estar aqui e compartilhar essa experiência com vocês”, disse.

Por fim, o analista de conservação do Programa Água Brasil, pelo WWF-Brasil, Vinicius Pereira, concluiu agradecendo a dedicação, o amor e a gratidão de cada família agricultora durante a apresentação das Unidades Demonstrativas. “Mesmo com tantas ameaças, que vão desde a seca dos rios aos incêndios florestais, as pessoas da região continuam firmes na luta por um outro mundo possível e isso recarrega nossas baterias e aumenta nosso desejo de contribuir nesta transformação socioambiental da região”.


Fonte: WWF Brasil

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