domingo, 30 de novembro de 2014

SP, Rio e Minas apresentarão até fevereiro solução sobre interligação do Paraíba do Sul.
Os estados de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais deverão apresentar, até 28 de fevereiro de 2015, uma solução conjunta para o problema da falta d’água na Região Sudeste, provocada pela escassez de chuvas. A decisão foi anunciada ontem (27) pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux, após audiência de mediação com os governadores dos três estados e órgãos ambientais e de gestão de recursos hídricos dos governos estaduais e federal.
Os governadores do Rio,Luiz Fernando Pezão, de São Paulo, Geraldo Alckmin, e de Minas Gerais, Alberto Pinto Coelho, cumprimentam-se durante audiência sobre transposição do Paraíba do Sul. Foto:  José Cruz/Agência Brasil.

Fux explicou que os estados já estão autorizados a fazer licitações e obras necessárias à implementação do acordo a ser apresentado. “Já há um consenso, os trabalhos desse acordo técnico já estão em conclusão e cada estado vai fazer as obras necessárias, dentro das suas peculiaridades e características. As obras podem começar antes de fevereiro, funcionando de acordo com a Lei de Licitações. Não é solução de uma questão só imediata, é a solução prospectiva do problema”, disse.
O ministro Luiz Fux, na audiência de mediação sobre o  Rio  Paraíba  do  Sul . Foto:  José  Cruz/Agência  Brasil.

A decisão do ministro de convocar a audiência de mediação foi motivada por uma ação do Ministério Público Federal para proibir os estados de São Paulo, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais de conceder autorização para uso da água sem que estudos técnicos para avaliação dos impactos ambientais sejam feitos. A ação diz respeito à captação de água da Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul para alimentar o Sistema Cantareira, que abastece a região metropolitana de São Paulo.

Ao analisar o caso, Fux negou pedido de liminar, por entender que não há provas de que o governo de São Paulo está fazendo obras para captação da vazão da Bacia do Paraíba do Sul. A apresentação do acordo em fevereiro de 2015 acarretará a extinção de todas as ações e procedimentos extrajudiciais no âmbito do Ministério Público relacionadas ao tema.

Segundo o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, as obras necessárias ainda serão definidas pela equipe técnica do governo. “Estamos confiantes que vamos poder garantir a vazão do Rio de Janeiro, a interligação de São Paulo e a participação de Minas Gerais. Vamos nos debruçar para arrematar essas garantias do momento e para o futuro, dando melhor aproveitamento dos nossos recursos hídricos”, disse.

O governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão, ressaltou que o acordo vai prever também um conjunto de obras de preservação, como a recomposição das matas ciliares da Bacia do Paraíba do Sul e de saneamento. “Vínhamos focando em uma parceria com o governo federal, com recursos para fazer um grande programa de reflorestamento e tratamento de esgoto na Baixada Fluminense. A Sabesp [empresa responsável pelo fornecimento de água em São Paulo] já vem fazendo o dever de casa nos municípios do Vale do Paraíba, e queremos ter linhas de crédito para fazer com cidades que têm serviços próprios, como Resende, Volta Redonda e Barra Mansa, para cuidar do esgoto e melhorar a condição do Paraíba do Sul, que abastece 83% da região metropolitana do Rio de Janeiro”, disse.
O  governador do  Rio de  Janeiro, Luiz Fernando Pezão, e o  ministro  do Supremo Luiz Fux. Foto: José Cruz/Agência Brasil.

A proposta do governo de São Paulo é a interligação do Reservatório Jaguari Paraibano, no Rio Jaguari, da Bacia do Paraíba do Sul, e do Reservatório Atibainha, do Sistema Cantareira. A ideia é fazer um sistema de bombeamento de “mão dupla”, assim, quando um dos reservatórios tiver excedente de água, o volume será enviado para a outra represa, desde que o volume esteja abaixo de 35% da capacidade de armazenamento.

O conjunto de cinco reservatórios do Sistema Cantareira é responsável pelo abastecimento de quase 9 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo e apresenta os piores níveis dos últimos 40 anos. Ontem (26), o nível das represas caiu para 9,2%% da capacidade de armazenamento.


No curto prazo, nada pode ser feito pela seca no sudeste, afirma futuro relator da ONU para o Direito à Água.
Para o mineiro Léo Heller, futuro relator das Nações Unidas para o Direito à Água e ao Saneamento Básico, crise hídrica não tem solução imediata a não ser chuva e redução do consumo.
A crise hídrica no Sudeste não tem solução a curto prazo a não ser chuva e redução do consumo, afirma Léo Heller, futuro relator das Nações Unidas para o Direito à Água e ao Saneamento Básico. A partir de 1º de dezembro, o pesquisador e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vai substituir a portuguesa Catarina de Albuquerque na ONU. O mandato dura três anos e pode ser renovado pelo mesmo período.

“Já estão adotando todas as medidas necessárias e usando o volume morto do reservatório. No curto prazo, é muito difícil pensar em outras soluções”, afirmou Heller, em entrevista à DW Brasil.

Caso não chova nos próximos meses, alerta o engenheiro, a situação pode ficar “dramática”.

Ele considera que o volume de água desperdiçada ao longo do sistema de abastecimento brasileiro “não é admissível”. “Ao invés de buscar novos mananciais, é mais ético trabalhar na redução dessas perdas.”

Heller é cauteloso ao falar do tratamento do esgoto para transformação em água de reúso. Recentemente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, anunciou a construção de uma estação que irá empregar a técnica, com o objetivo de aumentar a oferta de água.

DW Brasil: O que o senhor acha que poderia ter sido feito para minorar a seca no Sudeste?
Léo Heller: Deveria ter tido um planejamento mais adequado, que levasse em conta a possibilidade de estiagem, que é um fenômeno natural e sazonal. Esses momentos precisam ser incluídos no planejamento. Os atuais mananciais e captações de água têm sido insuficientes para atender a demanda, isso requer aumentar e diversificar as fontes de água, não só quantitativamente, mas qualitativamente. Isso inclui água subterrânea e de chuva, por exemplo.

E do ponto de vista da demanda?

É preciso reduzir as perdas no sistema de abastecimento de água. Além disso, poderíamos consumir menos água com mudanças nos hábitos da população e com equipamentos mais econômicos, como a descarga dual (com dois botões, um para resíduos sólidos e outro para líquidos). Algumas cidades estão incentivando a captação da água da chuva no nível domiciliar para alimentar a descarga dos vasos sanitários. É uma solução muito inteligente, porque usamos uma água de altíssimo padrão, sem necessidade. E é onde mais se consome água nos domicílios.

O que pode acontecer caso não chova nos próximos meses no Sudeste?

A situação ficaria dramática e precisaríamos intensificar o racionamento. Eu prefiro pensar no longo prazo, que os gestores tomem as providencias necessárias para que, no próximo verão, isso não volte a acontecer.

Então, no curto prazo, não tem muito o que possa ser feito…

Não, não tem. Exceto campanhas para que as pessoas economizem. Já estão adotando todas as medidas necessárias e usando o volume morto do reservatório. No curto prazo, é muito difícil pensar em outras soluções.

Que medidas preventivas poderiam ter sido tomadas para economizar água?

Deveríamos ter feito gestão da demanda, trabalhado para diminuir o consumo de água, com campanhas contra o desperdício e combate às perdas. A redução da pressão também ajuda a diminuir o consumo. Todas essas medidas deveriam ter sido tomadas preventivamente.

Como o senhor vê a tentativa transferir água do Rio Paraíba do Sul para o Cantareira?

A transferência de água de uma bacia para alimentar a captação de outra, se for realizada e gerenciada de forma inteligente, pode ser uma solução. Desde que, obviamente, essa transferência não comprometa a água da bacia doadora. Aparentemente, estudos desenvolvidos pela própria ANA [Agência Nacional de Águas] mostram que isso não colocaria em risco o abastecimento dos outros estados. Mas isso precisa ser feito com muito cuidado.

Há uma mentalidade de que a água é um recurso infinito. Essa crise hídrica pode mudar isso?

A crise no Sudeste alerta para a necessidade de uma mudança de paradigma da gestão de água. Ela não é infinita e ela não tem um volume constante ao longo do ano e das décadas. Alguns autores falam que o abastecimento de água deve mudar de uma lógica linear – captação, uso e descarte – para uma lógica mais circular, com o reúso e outras fontes. Precisamos sair de uma acomodação e investir não só em novas obras, mas na modernização da gestão. É muito possível que uma parte do problema atual tenha origem nas mudanças climáticas globais, o que sinaliza que esse fenômeno pode ocorrer com mais frequência.

O que o senhor acha da proposta de multar pessoas que, por exemplo, seguem lavando carros e calçadas com mangueira, apesar da seca?

Associada a um conjunto de medidas, a multa pode ter efeito. Isoladamente é quase uma transferência de responsabilidade, como se os culpados fossem os usuários e o gestor não tivesse nenhuma responsabilidade. Isso não é correto. De certa forma, os modelos de tarifação de água hoje já incluem essa lógica, porque quem consome muito paga mais pelo metro cúbico. Só que esse modelo tarifário se demonstrou incapaz de coibir esse tipo de desperdício. Mas nós não temos ainda condições empíricas para dizer que as multas contribuiriam a redução do consumo. Pode ser que um proprietário muito rico concorde em pagar mais para continuar desperdiçando.

Estudiosos têm alertado para o desmatamento ao redor de represas, como o Cantareira, e mesmo na Amazônia, como um dos agravantes da seca. O senhor concorda que se dá pouca importância a esse fator no gerenciamento da água?

Sem dúvida. Os profissionais da hidrologia sabem muito bem disso. Não é apenas o desmatamento ao redor das represas que tem impacto, mas nas bacias hidrográficas inteiras. Quando há alterações importantes, no sentido de remover vegetação, ampliar a urbanização e iniciar práticas agropecuárias, a bacia perde sua capacidade de armazenar água. Ou seja, em época de estiagem, a vazão dos rios vai ser cada vez menor. As bacias no Sudeste são muito afetadas pela ação do homem, isso certamente explica parte do que está ocorrendo. Em relação à Amazônia, esse impacto ainda carece de uma comprovação mais firme.

Recentemente, o governo de São Paulo anunciou a construção de uma estação que para fazer o reúso do esgoto. O Brasil está avançado em relação ao reaproveitamento da água em comparação com outros países?

Nós estamos muito atrasados. Há várias formas de reúso, como reaproveitar a água para a irrigação ou para o vaso sanitário. Essa de transformar o esgoto em água potável é a mais radical. Existem tecnologias para isso, sim, mas são mais sofisticadas e nós estamos menos habituados a operá-las. 

É preciso muito cuidado, porque qualquer falha no processo pode levar a uma insegurança sanitária da população. E as falhas são possíveis em um processo novo, quando não temos mão de obra qualificada para isso. Tem que ter um controle muito fino ou podemos trazer risco para a população.

O senhor mencionou o reúso domiciliar, mas o que poderia ser feito em larga escala?

É possível pensar em grandes reservatórios de água de chuva para usos menos nobres. O problema é que muitas vezes esse reúso implica uma grande reformulação dos sistemas, tanto públicos, quanto domiciliares. Alguns países têm rede dupla na rua, uma para água mais pura e outra mais impura. Em uma cidade que já esteja totalmente consolidada, essa transformação é muito penosa. O que parece mais viável são pequenas mudanças em nível domiciliar, mais do que municipal. A tecnologia existe para qualquer tipo de reúso, mas precisamos observar a segurança sanitária, a viabilidade técnica e econômica.

O Brasil tem uma taxa alta de perda de água ao longo do sistema. O que pode ser feito em relação a isso?

Temos uma taxa média nacional de perdas na distribuição de 37%, segundo o SNIS [Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento]. É bem alta. Dificilmente chegaria a zero, mas os engenheiros trabalham com uma meta de 25%. Abaixo disso, costuma ser pouco viável economicamente. Ao invés de buscar novos mananciais, é mais ético trabalhar na redução desse desperdício. Para isso, faltam investimentos públicos e um programa de controle de perdas mais efetivo. Existem incentivos do governo federal, mas muitas vezes os gestores se acomodam e preferem fazer novas obras de infraestrutura do que trabalhar nesse ajuste fino, que requer um trabalho de detetive e dá pouca visibilidade. Do ponto de vista ético, não é admissível perder tanta água no sistema.

O que o senhor, como brasileiro, acha que o nosso país pode contribuir nesse debate sobre água e esgoto no mundo?

O Brasil avançou muito nos seus marcos legais e institucionais, isso pode ser um exemplo interessante. Nós temos agora uma lei nacional que estabelece a regulação da prestação do serviço de água e esgoto, além de um plano nacional e uma estrutura no governo que cuida disso. Também tem havido certa estabilidade nos financiamentos públicos federais para a área. Esse conjunto de medidas terá efeitos de longo prazo, elas prepararam o país para avançar muito na ampliação do acesso ao saneamento.

A maior parte dos brasileiros não tem acesso a tratamento de esgoto. Quais são os desafios para a universalização desse serviço?

Sem dúvida isso tem avançado lentamente, mas tem avançado. O Plano Nacional de Saneamento Básico dá prioridade a isso. A ideia hoje é não implantar nenhum sistema de coleta de esgoto sanitário que não tenha tratamento. Isso já vem sendo feito, mas nós temos um passivo muito grande e superá-lo é um desafio enorme.


Moratória da soja é renovada para fortalecer governança na Amazônia.
por Redação do Greenpeace
Assinatura renovação da moratória da Soja – 24/11/2014. Foto: Wenderson Araujo/Greenpeace.

O acordo voluntário compartilha responsabilidades entre setor produtivo, governo e sociedade civil para evitar a comercialização de grãos plantados em áreas desmatadas da Amazônia após 2008.

Depois de meses de intensas negociações, a Moratória da Soja, acordo que visa eliminar o desmatamento da Amazônia da cadeia produtiva de Soja, foi renovado na manhã desta terça-feira (25), em Brasília, e passa a valer até maio de 2016. O acordo, em vigor desde 2006, vem sendo prorrogado anualmente.

A cerimônia de assinatura aconteceu as 10h30 de hoje, na sede do Ministério do Meio Ambiente (MMA). O novo documento foi ratificado pelos coordenadores do Grupo de Trabalho da Soja (GTS): Carlo Lovatelli, presidente da Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais); Sergio Mendes, diretor geral da ANEC (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais); Paulo Adario, coordenador da sociedade civil no GTS; e pela ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Também estiveram presentes na cerimônia representantes de empresas do setor de soja, do governo federal e de outras ONGs.

“A renovação dos princípios básicos da moratória é um alívio para todos aqueles que, no Brasil e no exterior, temiam que o fim do acordo colocasse mais lenha na fogueira do desmatamento da maior floresta tropical do planeta, que voltou a aumentar no ano passado depois de 7 anos de queda”, disse Paulo Adario, estrategista sênior de florestas do Greenpeace.

O novo acordo mantém o critério fundamental da moratória, que é o veto à soja plantada em novas áreas de desmatamento. Antes, no entanto, o pacto previa o boicote ao produto semeado em áreas desmatadas a partir de 2006. Já o novo documento passa a utilizar como referência a data definida pelo novo Código Florestal, que anistiou desmatamentos até junho de 2008.

Assim, a partir desta safra, as traders da soja – responsáveis por mais de 80% das exportações brasileiras do produto (grãos, óleo e farelo) – se comprometem a não comprar soja de áreas desmatadas na Amazônia depois de junho de 2008.

Pelo novo critério, cerca de 400 mil hectares desmatados entre uma data e outra poderiam se somar às áreas de produção de soja. Mas nem toda a área é adequada ao grão.

E agora?

Desde o início da moratória, em 2006, dos 5,2 milhões de hectares desmatados no bioma Amazônia no período, cerca de 1 milhão de hectares (ou 19,7% do total) estão nos 73 municípios produtores de soja monitorados pelo GTS – responsáveis por 98% da soja produzida no bioma. Mas apenas 47 mil hectares em desacordo com a moratória foram plantados com soja na safra 2012-2013. A área total ocupada com soja no bioma era de 3 milhões de hectares na safra passada.

Esses dados constam do relatório consolidado sobre o monitoramento da produção de soja na Amazônia desde o primeiro ano de vigor da moratória, 2007, até 2013, e foram divulgados durante a cerimônia de hoje. Os dados demonstram que a moratória foi bem sucedida em conter o desmatamento para plantio do grão, mesmo em um período de alta de preços da soja no mercado global.

A eficácia do acordo também foi citada este ano pela Union of Concerned Scientists (UCS), que classificou a Moratória como um dos principais motivos para a redução do desmatamento na Amazônia brasileira nos últimos anos.

Mas o termo moratória, por definição, é usado para nomear medidas provisórias, e não permanentes. E é isso que ela deveria ser: uma solução emergencial para conter o avanço do desmatamento, até que mecanismos públicos e eficientes fossem criados para substituí-la.

O Cadastro Ambiental Rural (CAR) e o Programa de Regularização Ambiental (PRA), dois instrumentos fundamentais do Código Florestal, ainda têm baixa adesão. Quando estiverem implementados (segundo a lei, até 2016), serão muito úteis para auxiliar no rastreamento e monitoramento da produção. Mas sem um compromisso das empresas pelo Desmatamento Zero, a floresta poderá continuar sendo destruída para dar lugar a soja e outras commodities e isso compromete o nosso futuro.

O Greenpeace espera que nos próximos 18 meses o GTS consiga construir um novo mecanismo que, mantendo as conquistas feitas até aqui, assente as bases para um novo modelo produtivo, que contribua para o fim do desmatamento não apenas na Amazônia, mas em todos os biomas até 2020, e que envolva as demais commodities agrícolas. Um modelo que servirá de exemplo para o mundo no combate às mudanças climáticas e à perda acelerada da cobertura florestal.

Com esta nova página que acaba de ser escrita, a floresta amazônica ganha um pouco mais de tempo. Mas as consequências de um fim precoce da Moratória, sem a prática de uma solução permanente, podem ser desastrosas para todo o planeta.


Fonte: Greenpeace
Lixo produzido em universidade na Califórnia vira energia para campus.
por Heitor Shimizu, para a Agência Fapesp
Construída a partir de tecnologia desenvolvida por Ruihong Zhang, professora da University of California, em Davis, usina converte 50 toneladas de lixo em 12 mil quilowatts-hora de energia por dia. Foto: foto: Karin Higgins/UC Davis.

Agência Fapesp – A principal área de pesquisa de Ruihong Zhang, professora no Departamento de Engenharia Biológica e Agrícola da University of California, Davis, tenta resolver de uma só vez dois importantes problemas na atualidade: a falta de energia e o excesso de lixo.

Zhang e os cientistas do grupo que coordena estudam o uso de bactérias para transformar lixo orgânico – principalmente sobras de alimentos – em energia. Ela pesquisa o tema há quase 20 anos em busca de solução para uma questão que se resume em “como transformar o máximo possível de lixo orgânico em energia renovável”.

A pesquisa deixou de ser básica para ser aplicada quando, em abril deste ano, a UC Davis inaugurou uma usina de biodigestão de lixo a partir da pesquisa de Zhang.

A usina ganhou o nome de Digestor Anaeróbico de Energia Renovável da UC Davis – ou simplesmente Read, na sigla em inglês. O custo foi de US$ 8,5 milhões.

Instalado no antigo depósito de lixo da universidade, o Read usa uma tecnologia desenvolvida por Zhang e licenciada pela UC Davis para a CleanWorld, empresa formada por ex-alunos de Zhang e da universidade. No sistema, microrganismos em grandes tanques sem oxigênio consomem o lixo orgânico produzido no próprio campus e lá armazenado.

O sistema utiliza um processo no qual, por meio da fermentação, bactérias devoram o lixo e produzem metano e gás carbônico, ou seja, biogás.

A usina foi projetada para converter 50 toneladas de lixo em 12 mil quilowatts-hora de energia por dia. Além de produzir energia renovável, o Read livra a UC Davis de 20 mil toneladas de lixo por ano.

Os números são importantes, pois destacam uma vantagem na tecnologia desenvolvida por Zhang. 

O uso de digestores anaeróbicos para produzir energia é conhecido, mas a diferença nesse caso está na eficiência. Segundo a pesquisadora, o sistema utiliza variedade e quantidade muito maiores de lixo do que em modelos tradicionais.

Denominada HSAD (High Solids Anaerobic Digestion), a tecnologia é capaz de usar uma grande variedade de dejetos orgânicos, tem uma taxa de digestão rápida e elevada produção de energia.

“Também destrói patógenos presentes no lixo, resultando na produção de biofertilizantes”, disse a pesquisadora, que dirige o Centro de Pesquisa em Biogás na UC Davis. Durante a pesquisa de Zhang, uma usina piloto foi construída em 2004.

Por estar instalada em um antigo depósito de lixo, que produz naturalmente grande quantidade de metano, a usina também combina o biogás produzido por meio das bactérias com o metano do antigo lixão. O resultado é a capacidade de gerar 5,6 milhões de quilowatts-hora de energia.

Além disso, por transformar os gases em energia, a usina reduz em 13,5 mil toneladas por ano a emissão de gases causadores do efeito estufa. Tanto a energia produzida como os créditos de carbono ficam na UC Davis.

Para a produção de fertilizantes, o Read tem capacidade para gerar cerca de 15 milhões de litros por ano, suficiente para suprir a demanda de cerca de 600 mil metros quadrados de área cultivada.

“É preciso destacar que o sistema de biodigestão não é importante apenas por produzir energia ou fertilizantes, mas também por trazer uma utilização para o lixo que produzimos. Trata-se de uma tecnologia que permite que sejamos mais sustentáveis, tanto econômica como ambientalmente”, disse Zhang, uma das palestrantes da FAPESP Week California, realizada em dois campi da University of California (Berkeley e Davis) de 17 a 21 de novembro.

O evento contou com apoio do Brazil Institute do Woodrow Wilson International Center for Scholars, em Washington.

Mais informações sobre a Fapesp Week California 
www.fapesp.br/week2014/california.


Lições para a Jamaica de uma seca de US$ 1 bi.
por Desmond Brown, da IPS
O rio Yallahs, uma das principais fontes de água do depósito de Mona, há meses está seco. Foto: Desmond Brown/IPS.

Bahia Morant, Jamaica, 27/11/2014 – Enquanto a Jamaica sofre uma das piores secas que já conheceu, especialistas afirmam que garantir a segurança alimentar dos setores mais vulneráveis é um dos maiores desafios apresentados pela mudança climática.

“A disparidade entre pessoas muito ricas e muito pobres na Jamaica significa que os que vivem na pobreza ou pobreza extrema, mulheres chefes de família com muitos filhos e idosos, sofrem uma grande desvantagem nesse período”, afirmou Judith Wedderburn, diretora de projeto neste país da fundação alemã Friedrich-Ebert-Stiftung (FES).

Wedderburn, que conversou com a IPS por ocasião de um painel para jornalistas organizado pelo FES e pela Panos Caribe no começo deste mês,  acrescentou que “o que preocupa é como as consequências da mudança climática se estendem por vários anos, e esse tipo de situação, com maiores inundações e períodos de seca extrema, se torna cada vez mais grave”.

Ela afirmou que os países dessa região, que já contam com um espaço delimitado para a produção de alimentos, agora têm o desafio adicional de enfrentar episódios de precipitações ou secas extremas devido à mudança climática. “Na Jamaica tivemos vários meses de seca que afetaram as paróquias (divisão política) produtoras de alimentos mais importantes”, destacou, acrescentando que o problema não acaba com o fim da seca.

“Nos afetam os extremos de chuvas que derivam em inundações. As comunidades agrícolas perdem seus cultivos durante as secas e as famílias sofrem o impacto”, ressaltou Wedderburn. “A produção de alimentos fica perturbada e o custo da comida aumenta, por isso numerosas famílias que já são pobres têm ainda mais dificuldades para conseguir os produtos locais a um preço razoável, o que contribui para a insegurança alimentar; isto é, as pessoas não têm fácil acesso aos produtos necessários para que a família esteja bem alimentada”, enfatizou.

Dale Rankine, candidato a doutorado na Universidade das Índias Ocidentais, prevê que a situação pode piorar. Segundo disse à IPS, os modelos de mudança climática indicam que a região se tornará mais seca entre meados e finais deste século. “Vemos projeções que sugerem que podemos ter uma redução de 40% ou mais na quantidade de precipitações, especialmente nos meses de verão. Normalmente, estes coincidem com a típica estação de chuvas”, apontou.

“Isso é particularmente importante porque terá impacto especial na segurança alimentar. Também há indícios de que poderemos experimentar maior frequência de secas e inundações, e esta grande variabilidade seguramente prejudicará os cultivos”, destacou Rankine. E ressaltou um “interessante padrão” de aumento de chuvas nas regiões centrais, mas só nas regiões exteriores, enquanto no oeste e leste houve uma queda nas precipitações.

“Isso é bem interessante porque os locais mais importantes para a segurança alimentar, especialmente para as paróquias de Saint Elizabeth e Manchester, por exemplo, experimentam uma redução na média de chuvas e isso tem consequências sobre o quanto serão produtivas nossas regiões produtoras”, observou Rankine.

A Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA) anunciou que setembro deste ano foi o mais quente nos 135 anos de que se tem registros. Nesse mês, a média de temperatura global foi de 15,72 graus, o que o converteu no quadrimestre recorde, junto com maio, junho e agosto. Segundo o Centro Nacional de Dados Climáticos da NOAA, os primeiros nove meses de 2014 registraram temperaturas globais médias de 14,78 graus, competindo com 1998 pelos primeiros nove meses mais quentes.

O ministro de Mudança Climática, Ambiente, Água e Terra da Jamaica, Robert Pickersgill, disse que mais de 18 mil pequenos agricultores sofreram o impacto da atual seca extrema que este país sofre há meses. A agricultura perdeu quase US$ 1 bilhão devido à seca e aos incêndios florestais causados pelo calor extremo.

Pickersgill explicou que a redução de chuvas diminuiu de forma significativa o fluxo de água, desde os riachos até os rios, em várias partes do país. “Os dados preliminares das precipitações para junho deste ano indicam que a Jamaica recebeu 30% menos água de chuva do que o habitual e todas as paróquias, salvo partes de Westmoreland (54%), receberam menos da metade do que recebiam normalmente”, acrescentou.

“As paróquias de Saint Elizabeth, Manchester, Clarendon, Saint Catherine, Kingston e Saint Andrew e Saint Thomas, junto com Saint Mary e Portland, foram as mais afetadas”, contou Pickersgill. Claredon recebeu apenas 2% das chuvas normais, seguida de Manchester com 4%, Saint Thomas com 6%, Saint Mary com 8% e Kingston e Saint Andrew com 12%, acrescentou.

Além disso, Pickersgill disse que a entrada de água no reservatório Mona, vinda dos rios Yallahs e Negro, atualmente é de 18,7 milhões de litros por dia, o menor volume desde a construção da tubulação de Yallahs, em 1986. Já a entrada na represa de Hermitage está em 22,7 milhões de litros por dia, abaixo dos mais de 68 milhões diários na estação úmida.

“Para mim está claro que a evidência científica sobre a mudança climática ser um perigo claro e atual é mais forte do que nunca. Por isso, a necessidade de mitigar e nos adaptarmos às suas consequências é ainda maior, e por isso costumo dizer que com a mudança climática também temos que mudar”, ressaltou Pickersgill à IPS.

A Jamaica tem de tomar medidas imediatas para adaptar-se à mudança climática, concordou Wedderburn, do FES. “O desafio do governo é explorar que tipo de adaptação pode servir para ensinar os agricultores a melhorar a coleta de água, para que nos períodos de seca severa possam continuar cultivando e vendendo seus produtos a preços razoáveis, como forma de enfrentar a insegurança alimentar”, enfatizou.


Fonte: ENVOLVERDE
Jovens brasileiros participam da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas em Lima.
por Agência Jovem de Notícias
Os brasileiros vão atuar em conjunto com outros 20 adolescentes e jovens do Peru,  Argentina, Colômbia, Itália, Grécia e Sri Lanka.

Uma delegação de 20 adolescentes e jovens brasileiros vai marcar presença na 20ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP20), que acontece de 1 a 12 de dezembro de 2014 em Lima, no Peru. Por meio de produção e divulgação de textos, fotos, vídeos, intervenções urbanas, eles vão participar da cobertura educomunicativa promovida pela Agência Jovem de Notícias, projeto encabeçado pela ONG Viração Educomunicação. Já a ONG liderada por jovens, Engajamundo, foca sua participação no trabalho de incidência política e advocacy, com o objetivo de influenciar o posicionamento do Brasil e resultados mais ambiciosos para a conferência.

De carácter internacional e em sua quarta edição, o projeto conta com a parceria da Fundação Friedrich Ebert, Rede de Adolescentes e Jovens Comunicadoras e Comunicadores, Rede Mas Vos, Engajamundo, Coletivo Clímax Brasil, Fundación TierraVida,  Província Autônoma de Trento, Associazione Jangada, Universidade de Trento e Centro Europeu Jean Monnet.

Os brasileiros vão atuar em conjunto com outros 20 adolescentes e jovens do Peru,  Argentina, Colômbia, Itália, Grécia e Sri Lanka.

A delegação jovem do Brasil na COP20 também terá o objetivo de incidir na YOUNGO, que é o grupo oficial de jovens dentro da Convenção Quadro de Mudanças Climáticas da ONU, que tradicionalmente não tem representação forte dos países da América Latina e África.

O evento de Lima traz em si um desafio de extrema importância para o mundo: aprovar o rascunho de um novo Acordo Climático Global vinculante – a ser aprovado na COP de Paris, em 2015 -, que redefina os compromissos dos Estados e da comunidade internacional, para reduzir os gases de efeito estufa e implementar políticas de adaptação e mitigação para enfrentar o maior problema global que a humanidade enfrenta: a mudança climática.

Além das delegações oficiais, a COP20 também conta com a participação de representantes de movimentos sociais e organizações não governamentais – ONGs que assumem o papel de pressionarem as tomadas de decisões e garantir que os tratados contemplem as expectativas das pessoas. A Conferência também contará com uma série de eventos paralelos de apresentação de relatórios e pesquisas e de discussão dos mais variados temas que envolvem as Mudanças Climáticas, como agricultura, mobilidade, cidades sustentáveis entre outros.

Pela primeira vez na história das COPs, a sociedade civil está organizando um mega evento paralelo, a Cúpula dos Povos contra a Mudança Climática, que acontece de 8 a 11 de dezembro em um importante parque da capital peruana.

Movimentos e organizações sociais e ambientalistas do Peru e diversos países vão promover atividades autogestionadas, conferências e apresentação de propostas para um modelo de vida que “vá além da ‘economia verde’, que, baseada na lógica capitalista, precifica a Natureza e a mercantiliza com o disfarce de responsabilidade social e ambiental”, diz o comunicado da Comissão Política  Organizadora da Cúpula dos Povos contra a Mudança Climática.

Antes mesmo da COP começar, os jovens já terão uma integração durante a COY10, Conferência da Juventude preparatória para a COP20, organizada pela YOUNGO de 28 a 30 de novembro. Nesse encontro os representantes da Agência Jovem de Notícias vão se unir a outros adolescentes e jovens comunicadores de todo o mundo para juntos planejarem uma cobertura colaborativa e integrada.

Para acompanhar a cobertura jovem da COP20 acesse:  www.agenciajovem.org e www.redmasvos.org. Os conteúdos serão produzidos em português, espanhol, italiano e inglês.