terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Criando oásis em meio ao deserto.
por Luciano Frontelle e Luiza Winckler*
Entenda como o capim-vetiver pode ajudar a superar vários desafios em Lima.

Em uma cidade com clima de deserto como Lima, é difícil acreditar que a região metropolitana ultrapassa 9 milhões de pessoas, sendo a quinta maior capital da América Latina, a segunda maior cidade do mundo construída em região de deserto. Além do clima, a região também enfrenta constantes abalos sísmicos, por estar em uma área de encontro de placas tectônicas. Aqui, as pessoas continuariam suas refeições ao presenciarem um abalo sísmico menor, mas entrariam em pânico se ouvissem um trovão! Unindo o clima de deserto, com abalos sísmicos e as grandes áreas de “pueblos jovenes” (favelas), que concentram cerca de 30% da população, a região metropolitana tem grandes desafios em abastecimento de água, coleta de lixo e saneamento, por exemplo. Mas no meio do distrito de Vílla Maria Del Triunfo há uma planta que pode ajudar a superar alguns desses desafios, o capim-vetiver.

O Projeto “Deserto Florido” estuda e aplica as possibilidades do capim-vetiver, mas levou um tempo até o projeto encontrar essa planta. Tudo começou quando uma escola no distrito de Vílla Maria cedeu um terreno que possuía para que a APIBiMI (Associação para a promoção das necessidades das crianças do mundo em desenvolvimento, que atua no Trentino, na Itália) testasse plantas que pudessem ajudar a combater os principais desafios da região: desertificação, deslizamentos e falta d’água. Foram várias tentativas que falharam, até que Alois Kennerknecht, um engenheiro agrônomo da Alemanha, apresentou o vetiver para a Associação.

“Em apenas alguns meses, nosso terreno já tinha outra cara, ele cresceu muito rápido!”, explica Giovanni Vaccaro, coordenador do projeto. “Tivemos que aguar mais no primeiro mês, mas depois, uma vez por mês bastava.” Ele também diz que mesmo em casos extremos, a planta resiste, o que é ótimo para o propósito do projeto. “Houve um tempo em que tivemos que ficar 6 meses sem molhar o capim. As pontas da planta secaram, mas tudo se manteve como você vê hoje”, lembra.

Segundo o engenheiro agrônomo, Alois Kennerknecht, o capim-vertiver tem muitos usos. Por suas raízes crescerem sempre verticalmente, a planta cria uma espécie de “muro vivo” embaixo da terra, isolando áreas de terra e compactando o terreno, o que ajuda a garantir que a água despejada no solo permaneça próximo da superfície. “Devido a esse efeito, entre outras coisas, o capim pode ser usado para formar hortas comunitárias ou ainda proteger reservatórios de água”, conta Alois.

Do ponto de vista da comunidade, a APIBiMI planeja, entre outras coisas, usar o capim ao lado de escadas e casas nos morros onde vivem os moradores. “O terreno aqui da região, por ser de deserto, é muito solto, o que pode gerar desastres em terremotos, essa planta pode nos ajudar a evitar isso”, explica Giovanni. Além disso, a planta também serve como “filtro” e descontaminação de solos, sendo usada para tratamento e reuso da água de escolas e, futuramente, de casas na região. As folhas secas da planta podem servir para produzir telhados e artesanato. E sobre o futuro do projeto, o coordenador afirma que o objetivo é que a comunidade conheça as vantagens de uso cada vez mais. “Estamos promovendo visitas de escolas e, em breve, queremos que esses jovens possam começar seus próprios cultivos.”, conclui.

* Luciano Frontelle e Luiza Winckler são repórteres da Agência Jovem de Notícias, projeto encabeçado pela ONG Viração Educomunicação. Todo o conteúdo produzido pela agência durante a COP20 será publicado pela Envolverde neste espaço. Acompanhe! 


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