quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

E atrás da cortina na crise da energia?
por Washington Novaes*
Que vai o Brasil fazer nas áreas de petróleo e energia em geral, com o mundo em rebuliço e nós aqui diante de tantas incógnitas, recheadas por escândalos financeiros, obras inacabadas, falta de recursos e necessidade de contingenciar gastos governamentais?

No recém-realizado Fórum de Davos, onde líderes do pensamento econômico mundial discutiram o papel da energia na atual transformação do modelo de crescimento planetário, chegou-se a conclusões importantes. Uma delas é sobre as consequências da queda do preço do petróleo no panorama global. As análises – disseram os líderes – devem soar como uma trombeta de alarme (The Huffington Post, 29/1) para empresas que exploram petróleo. Com o encarecimento de projetos de exploração de petróleo no Ártico, em águas profundas e em outras áreas, com o preço do petróleo em baixa e já com subsídios cortados em muitos lugares, os combustíveis fósseis vão perdendo terreno para as energias eólica e solar, por exemplo, com seus custos em baixa. Por isso mesmo, em 2014 o índice da agência S&P 500 para essa área dos combustíveis fósseis caiu 9,5%. 

E a tendência continuará de alta para as renováveis.

Não se trata de discussão acadêmica, disseram os debatedores. A eólica e a solar não são mais “tecnologias marginais”. Em 2014 os investimentos nessas áreas chegaram a US$ 312 bilhões, 16% mais que em 2013. Até países do Oriente Médio, que sempre investiram pesado no petróleo, estão ingressando na energia solar.

Com esse mesmo panorama e questões cada vez mais problemáticas na área do clima, grandes corporações mundiais estão ingressando no chamado “mercado mundial do baixo carbono”, porque acham as transformações inevitáveis. Em Davos, mil dessas empresas pediram uma manifestação intergovernamental sobre a viabilidade de o mundo caminhar para emissão zero de poluentes em 2050, como recomendam cientistas para evitar que a temperatura planetária vá além de 2 graus Celsius. E manifestaram, muitas dessas corporações, que a estratégia de eliminação de poluentes e busca de energias renováveis, ao lado da agricultura e do transporte adequados, são e serão contribuições decisivas para o “desenvolvimento sustentável”, para a segurança nos campos da alimentação e da água, assim como da saúde pública.

Não por acaso, discutem-se hoje em muitos fóruns, como The Global Calculator (BBCNews, 28/1), previsões de que em 2050 centenas de milhões de carros elétricos estarão circulando no mundo; e de que o dióxido de carbono por unidade de eletricidade precisará cair pelo menos 90%. E o consumidor em geral precisará mudar seus formatos de alimentação ricos em vegetais e carnes.

Na revista New Scientist (15/11/14), o estudioso Tim Ratcliffe prevê um declínio de US$ 30 bilhões por ano nos investimentos em energias fósseis, enquanto os investimentos em energia de baixo carbono precisarão aumentar em US$ 147 bilhões, assim como em US$ 100 bilhões os da área de eficiência energética. Outro estudo, de John Dyer (news.vice.com, 1.º/1/15), lembra que a baixa do preço do petróleo, se favorece os Estados Unidos (já beneficiados pelo uso do gás de xisto), “empobrece a Rússia, a Venezuela e outros países”, com cotações que já estiveram em US$ 100 o barril agora reduzidas à metade. Não por acaso, o valor do rublo caiu 50%, já que o petróleo contribui com 30% para o PIB russo. A participação do petróleo na demanda de energia no mundo foi de 31% em 2012 e pode ter chegado a 48% em 2014. Mas os investimentos em energias limpas, segundo a Bloomberg, aumentaram 16% em 2014. Na solar e na eólica o crescimento será de 10% este ano.

E não param de surgir questões. Estudo do governo dos EUA, mencionado por Justin Gillis (The New York Times, 28/1) sustenta que as nações ocidentais deveriam também rever suas políticas de energia baseadas no uso em larga escala de vegetais como combustíveis. A conversão para biocombustíveis seria “ineficiente” e não atenderia a parcela importante da demanda mundial. Além disso, implica o uso de vastas extensões de terras férteis que poderiam aumentar a oferta mundial de alimentos. Energia eólica e energia solar seriam alternativas melhores.

Chega-se perto do Brasil. Texto do deputado Arnaldo Jardim (29/1) sustenta o contrário, ao defender o nosso setor sucroalcooleiro – que tem estado em crise com a contenção de seus preços e a não ampliação de sua participação nos combustíveis. Foram extintos, com o fechamento de 60 usinas e a recuperação judicial de 66, nada menos que 300 mil postos de trabalho – embora o etanol seja “ambientalmente correto e economicamente viável”. Tudo está em revisão agora. Mas já em 2014 o setor forneceu 132,9 bilhões de litros de combustíveis (mais 5,5% em relação a 2013), garantiu a adição do etanol à gasolina com 44,2 bilhões de litros (mais 7,1%) e 13 bilhões de litros de etanol hidratado (mais 10,4%). Mudanças na mistura poderiam adicionar 1,3 bilhão de litros de álcool anidro – sem falar na possibilidade de geração de energia a partir da biomassa da cana: em 2014 ela já contribuiu, no setor elétrico, com quase 21 mil GWh, ou 18% mais que em 2013.

E por aí se ingressa de novo na discussão sobre a nossa matriz energética. Qual é nossa estratégia diante das questões globais na área do petróleo e com a redução dos preços? Que vamos fazer no pré-sal? Na nossa matriz de combustíveis para veículos e em suas ligações com os problemas do clima? Vamos ouvir o que o mundo diz sobre a energia eólica? Chegamos a 4.708 MW no final de 2014, que poderiam ser mais com a instalação de linhas de transmissão e maior investimento; mas espera-se chegar ao final deste ano com 10.354 MW (4,7% da matriz energética nacional). Para 2023 a projeção é de 25,6 GW. Na solar, a participação na matriz energética nacional ainda é de apenas 1,03%. Mas os custos poderão baixar.

Atrás da cortina da crise econômico-financeira há muita informação a ser discutida.

* Washington Novaes é jornalista.


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