sábado, 23 de maio de 2015

Ciência, igreja e Estado se unem para pedir ambição no clima.
Foto: ONU/Mark Garten
Por Cíntya Feitosa, do Observatório do Clima.

Em evento organizado pelo Vaticano, líderes religiosos, políticos e cientistas afirmam que acordo é oportunidade de desenvolvimento mais igualitário.

As preocupações e orações dos líderes religiosos em todo o mundo estão em sintonia com os alertas dos cientistas: a mudança climática global é real e pode comprometer a justiça social e a paz. Esses dois magistérios, que geralmente não se bicam, afirmaram nesta terça-feira, durante um seminário no Vaticano, que a conferência do clima de Paris é provavelmente a última oportunidade de frear o aumento de temperatura da Terra.

O evento, aberto pelo secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, foi organizado por um conjunto de instituições religiosas, como a Pontifícia Academia de Ciências e a Pontifícia Academia das Ciências Sociais, teve participação de acadêmicos, políticos e líderes religiosos.

A “Declaração de Líderes Religiosos, líderes políticos, líderes empresariais, cientistas e profissionais de desenvolvimento” mostrou especial preocupação com comunidades mais pobres e mais vulneráveis ao aumento da frequência de secas, tempestades extremas, ondas de calor e elevação do nível do mar. O documento reforça a necessidade de um acordo ambicioso em Paris.

“O mundo tem ao seu alcance tecnologia, meios financeiros e know-how para mitigar a mudança climática e ao mesmo tempo acabar com a pobreza extrema, por meio da aplicação de soluções de desenvolvimento sustentável, incluindo a adoção de sistemas de energia de baixo carbono apoiados pelas tecnologias da informação e da comunicação”, diz um trecho da declaração.

Os signatários pedem, ainda, que os países desenvolvidos auxiliem e financiem os países pobres e mais vulneráveis e sugerem “a mudança do financiamento público de gastos militares para investimentos urgentes para desenvolvimento sustentável”.

Santa aliança

Em seu discurso, Ban pediu aos líderes religiosos que ajudem a aumentar a consciência sobre o clima. “Ciência e religião não estão em desacordo sobre mudanças climáticas. Na verdade, estão totalmente alinhados”, afirmou.

“A erradicação da pobreza extrema e a proteção do meio ambiente são valores que estão em plena consonância com os ensinamentos das grandes religiões (…). Somos a primeira geração que pode acabar com a pobreza em nosso tempo de vida, e a última geração para combater a mudança climática antes que seja tarde demais.”

O secretário-geral da ONU reuniu-se durante cerca de meia hora com o Papa Francisco, que afirmou que sua encíclica sobre mudança climática já está em tradução e deve ser publicada em junho. “Ela irá transmitir ao mundo que proteger o nosso ambiente é um imperativo moral urgente e um dever sagrado para todas as pessoas de fé e as pessoas de consciência”, disse Ban.

A teóloga Teresa Berger, da Universidade Yale, nos EUA, disse ao jornal The Guardian que a encíclica papal deverá trazer uma visão teológica que considera a exploração sem limites da Terra “um pecado”.


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