quarta-feira, 17 de junho de 2015

Café sustentável da cereja à xícara.
Agricultor José Antônio na lavoura de café da Fazenda Serrado. Foto: Newton Santos/Divulgação.

Por Silvia Borges, especial para a Envolverde – 

Empresa do grupo Nestlé, revela a origem de seus cafés especiais. O processo de produção garante sustentabilidade em toda a cadeia e proporciona qualidade de vida aos produtores e suas famílias. Silvia Borges, da Envolverde, foi conhecer de perto as fazendas da Nespresso. Confira! 

Carmo de Minas está  localizada no sul Minas Gerais e faz parte da maior região produtora de café do Brasil, com cerca de 7 mil lavouras e produção anual estimada em 1 milhão de sacas, que representa 4% da produção total no Estado.

Influenciada pelo microclima da Serra da Mantiqueira a região é dotada de características únicas que contribuem para a produção de cafés especiais. Ganhou destaque no cenário da cafeicultura mundial quando em 2005 o Cup of Excellence (concurso mundial de cafés especiais) concedeu o prêmio de excelência em qualidade na produção do café, com 95,85 pontos (escala de 0 a 100), recorde mantido até hoje. Importante dizer que apenas 10% da produção mundial atinge o potencial de qualidade excepcional para classificar o café como especial, também conhecido como café gourmet.

A pureza, o sabor e o aroma do café gourmet que chega à xícara do consumidor envolve um processo longo e complexo que se inicia na preparação do solo para garantir uma planta saudável produtora de grãos de altíssima qualidade. Colheita, separação de grãos, secagem, torra, moagem e embalagem são processos importantes para preservar as características singulares de cada tipo de café.

Para conhecer a origem destes cafés especiais, a Nespresso, empresa do grupo Nestlé, convidou alguns jornalistas para uma visita de dois dias às fazendas de Carmo de Minas que produzem cafés dentro das exigências estabelecidas pelo AAA Sustainable Quality Program (Triple A), programa de qualidade sustentável criado pela Nespresso em parceria com a Rainforest Alliance. Iniciado em 2003 na Costa Rica, o programa chegou ao Brasil em 2005, com  objetivo de garantir a produção sustentável do café de mais alta qualidade e melhorar a qualidade de vida dos produtores e suas famílias. O Triple A está baseado em 3 pilares: Qualidade, que envolve cuidados com a colheita e o processamento do café; Sustentabilidade, baseada na melhoria contínua das vidas e do meio ambiente, monitorando avanços nas condições sociais e conservação de ecossistemas, com objetivo de aumentar a qualidade de vida das pessoas e contribuir para um planeta melhor; e Produtividade, focada na eficiência econômica das fazendas, controlando custos de produção e aumentando os ganhos financeiros dos cafeicultores.

“Hoje, por causa da Nespresso, somos melhor remunerados porque o café tem qualidade e isso nos dá reconhecimento”, diz José Antônio Carneiro Pereira, proprietário da fazenda Serrado, que entrou para o programa Triple A em 2011. “Com a lavoura de café os filhos puderam estudar e hoje vivemos melhor”, acrescenta José. Com 25 hectares dedicados à lavoura de café, a fazenda produziu nos últimos 5 anos uma média de 42 sacas por hectare da variedade Bourbon Amarelo, da espécie Arábica. Para a safra de 2015 estão estimadas 80 sacas por hectare.

Atingir o nível de excelência em qualidade demanda muito trabalho, comprometimento, responsabilidade e parcerias de longo prazo, afirmam os representante da Nespresso, que conta com uma equipe de 25 agrônomos para visitar sistematicamente as 2 mil fazendas integrantes do programa Tripe A, espalhadas pelo Sul de Minas, Cerrado Mineiro e Espirito Santo, orientando, dando suporte técnico e capacitando os agricultores. “Manejo sustentável é a base de todo o processo. Mantendo o solo fértil, com todos os nutrientes necessários e ph equilibrado conseguimos uma planta saudável que irá produzir mais frutos e de melhor qualidade. Além disso, fazemos o plantio de árvores criando uma barreira que reduz a ação do vento nas plantações, evitando a quebra das folhas e diminuindo a propagação de pragas. O manejo sustentável possibilita reduzir significativamente ou eliminar o uso de pesticidas”, afirma o engenheiro agrônomo Vinicius Scarpa.

Para ilustrar a dedicação à lavoura, o comprometimento e a importância do AAA Sustainable Quality Program, José Antônio nos contou uma história: “É preciso fazer vistorias diárias na lavoura, de manhã, de tarde e à noitinha. Este ano fiquei apavorado quando vi a flor (do café) com uns pontinhos pretos. Eu tinha que marcar onde estava o problema, mas neste dia eu não carregava nenhuma cordinha e não estava com a máquina fotográfica – eu fotografo tudo –  e não dava pra voltar e pegar nada pra marcar porque não acharia mais a planta que estava com problema. Então eu comecei a rasgar tiras da barra da minha camisa e amarrei galhinho por galhinho. Liguei para a Nespresso e eles vieram. Ficamos monitorando. Todo dia eu ia ver se os pontinhos pretos tinham aumentado. Depois vimos que não era praga. Foi um alívio.”

Nas fazendas que fazem parte do programa Triple A todas as nascentes e fontes de água estão protegidas por vegetação natural em conformidade com o Código Florestal Brasileiro, que estabelece uma zona de 50 metros ao redor das nascentes e 30 metros ao longo dos rios. “Vinte por cento da área agrícola é destinada à conservação da mata, além das áreas de preservação permanente que protegem nascentes e rios. Desta forma conseguimos criar corredores naturais para animais silvestres e também para a água”, explica Guilherme Amado, gerente de café verde da Nespresso Brasil.

Sobrevoando a Fazenda Sertão, a bordo de balões, tivemos uma visão geral dos cafezais, das barreiras de vento que protegem a plantação e a preservação da mata nativa.

Aromas e sabores

Aroma e sabor são definidos a partir da origem do grão verde e do clima da região onde o café foi plantado. Para obter os melhores blands (combinação de grãos) especialistas da Nespresso na Suíça selecionam os grãos originários de diversos países e fazendas e determinam a quantidade correta para a mistura desejada. A partir daí os grãos verdes selecionados seguem para torra, moagem e embalagem em cápsulas de alumínio que foram desenvolvidas para evitar o contato do pó do café com o ar e consequentemente preservar o frescor do café ao longo do tempo.

Os descafeinados da Nespresso são obtidos a partir de processo natural à base de água sob pressão, que dissolve a cafeína sem alterar o sabor. “Quando o consumidor toma qualquer um dos sabores disponíveis nas duas versões, não percebe no paladar nenhuma diferença entre o descafeinado e café que contem cafeína”, explica Stefan Nilsson, diretor da Nespresso Brasil. “O sabor de todos os nossos cafés que chegam às xícaras dos consumidores será o mesmo em qualquer país, seja descafeinado ou não”, garante Stefan.  “Para garantir a qualidade dos nossos cafés, desenvolvemos um sistema de rastreamento que nos permite identificar a procedência de cada cápsula”, acrescenta Claudia Leite, gerente de assuntos de café da Nespresso para  América Latina.

Trade

Os grãos verdes produzidos nas pequenas lavouras de Carmo de Minas, são cuidadosamente selecionados e exportados com o apoio da CarmoCoffees,  trade pioneira na promoção e divulgação dos cafés especiais da região para o mundo.

Jacques Carneiro e Luis Paulo Pereira Dias Filho, sócios-fundadores da CarmoCoffees,  estão constantemente em busca de pequenos produtores que tenham potencial para produzir cafés exclusivos, de atributos extraordinários. A partir de um relacionamento de longo prazo, baseado na confiança e comprometimento, a trade conecta estes pequenos produtores-parceiros aos compradores que buscam qualidade, no Brasil e no exterior.

Esta visão de negócio viabilizou uma associação com a Nespresso. A CarmoCoffees busca e cadastra as propriedades com potencial para integrar o programa Triple A, além de dar suporte técnico aos produtores para adequar as fazendas às modernas práticas de cafeicultura sustentável. Por outro lado, seus provadores certificados pela Specialty Coffee Association of America avaliam a produção dos parceiros, identificando os grãos verdes que atendem às exigências da Nespresso.
Stefan e Luís Paulo plantam muda de árvore na Fazenda IP. A meta é plantar 10 milhões de mudas até 2020. Foto: Newton Santos/Divulgação.

Sustentabilidade

No ano passado a Nespresso anunciou um investimento de 500 milhões de francos suíço (cerca de R$ 1,7 bilhão) para garantir que o ciclo do café, da cereja à xícara, seja 100% sustentável até 2020. Apesar do termo cereja lembrar aquela deliciosa fruta vermelha que costumeiramente acompanha bolos de aniversário e sorvetes, o fruto maduro do café é também chamado de cereja.

Para o cumprimento desta meta ambiciosa, serão plantadas 10 milhões de mudas de árvores nas fazendas parceiras do AAA Sustainable Quality Program, espalhadas em 11 países.

O plantio da segunda muda de árvore foi feito na Fazenda IP, em Carmo de Minas pelas mãos do diretor da Nespresso Brasil, Stefan Nilsson, e por Luís Paulo Pereira Dias, proprietário da IP,  que participa do programa Triple A há 4 anos.  Esta ação foi testemunhada pelo grupo de jornalistas que visitaram as fazendas em Carmo de Minas.

Além da neutralização do carbono por meio do plantio de árvores, a empresa assume o compromisso de ter a produção dos grãos verdes 100% sustentável, assim como aquisição, uso e descarte de alumínio utilizado na confecção das cápsulas de café. Hoje, a Nespresso tem capacidade de reciclar 80% das cápsulas comercializadas mundialmente, mas não divulgou o percentual atualmente reciclado. Neste processo, o alumínio é separado da borra do café e enviado para uma empresa parceira para reaproveitamento do material. A borra do café destina-se à compostagem, para produção de fertilizante orgânico.

Em relação às máquinas comercializadas pela empresa, os painéis laterais do modelo Pixe Brow utilizam 98% de alumínio originados das cápsulas.

Como parte da abordagem de sustentabilidade, as fábricas da empresa, instaladas na Suíça, seguem técnicas avançadas de torrefação que economizam entre 16% e 20% da energia necessária no processo, em comparação com a geração anterior. A energia gerada no processo produtivo também é usada para fins de aquecimento das áreas administrativas das fábricas, representando uma economia de aproximadamente 230 mil m3 de gás por ano. Finalmente, a água das chuvas é coletada, reciclada e reutilizada.

Essa cadeia produtiva sustentável me fez refletir sobre aquele café que todas as manhãs está sobre nossas mesas para acompanhar a primeira refeição do dia. Será que há alguma preocupação socioambiental no processo daquele café? Talvez não.


Fonte: ENVOLVERDE

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