sábado, 18 de julho de 2015

Ban Ki-moon quer equidade na cúpula do clima.
O secretário-geral Ban Ki-moon (ao microfone), acompanhado por Manuel Pulgar, ministro de Ambiente do Peru (primeiro à esquerda), Laurent Fabius, ministro de Relações Exteriores da França (segundo) e Sam Kutesa, presidente da 69ª sessão da Assembleia Geral (direita). Foto: ONU.

Por Thalif Deen, da IPS – 

Nações Unidas, 1/7/2015 – O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, advertiu que todo acordo proposto na próxima cúpula mundial sobre mudança climática, que acontecerá em dezembro na cidade de Paris, deverá se basear no princípio da equidade. Ban fez essas declarações no dia 29, em uma reunião de alto nível sobre a mudança climática celebrada na Assembleia Geral da ONU.

A cúpula de Paris, oficialmente conhecida como 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, deverá aprovar um novo tratado vinculante e universal que apoie as necessidades de adaptação do Sul em desenvolvimento e, sobretudo, “demonstre solidariedade com os países mais pobres e vulneráveis mediante um pacto de ajuda focada”, afirmou Ban.

O secretário-geral pretende conseguir US$ 100 bilhões por ano até 2020, para fortalecer a capacidade de resistência dos países em desenvolvimento à mudança climática e reduzir as emissões de gases-estufa que a provocam. Os Estados insulares dos oceanos Índico e Pacífico estão em perigo de desaparecer da face da Terra devido à elevação do nível do mar causado pela mudança climática.

“Os impactos da mudança climática estão sofrendo uma aceleração”, disse Ban, no dia 17 deste mês, no Fórum Mundial de Seguros, realizado em Nova York. “Os desastres meteorológicos são mais frequentes e mais intensos. Todos nós somos afetados, mas não todos igualmente”, ressaltou, insistindo nas desigualdades do impacto da mudança climática.

O ugandense Sam Kutesa, presidente da 69ª sessão da Assembleia Geral da ONU, que convocou a reunião de alto nível, disse que os desastres recorrentes afetam distintas regiões como consequência das mudanças dos padrões climáticos, que “são motivo de profunda preocupação para todos nós”.

Kutesa destacou que muitos pequenos Estados insulares em desenvolvimento, como Kiribati, enfrentam uma ameaça existencial devido ao aumento do nível do mar, enquanto outros países sofrem secas devastadoras que deixam suas terras inabitáveis e improdutivas. “Também presenciamos cada vez mais secas, inundações, deslizamentos de terra. Em meu país, Uganda, o impacto da mudança climática afeta os meios de vida da população rural que depende da agricultura”, ressaltou.

Por outro lado, Ban apontou que, desde 2009, quase duplicou o número de leis e políticas climáticas nacionais, e que 75% das emissões anuais do mundo estão cobertas pelas metas nacionais. “As maiores economias do mundo (China, União Europeia e Estados Unidos) apostaram no crescimento com baixo consumo de carbono e resistente ao clima”, acrescentou.

“Me agrada o fato de a resiliência estar presente na discussão de alto nível sobre a mudança climática na ONU”, afirmou Roger Mark de Souza, diretor de População, Segurança Ambiental e Resiliência da organização Wilson Center, com sede em Washington. A resiliência tem o potencial de ser uma estratégia transformadora para abordar os riscos de fragilidade climática, ao permitir que os países vulneráveis prevejam, se adaptem e saiam fortalecidos das crises, acrescentou.

Segundo Souza, três intervenções em nível internacional, e no contexto dos debates sobre a mudança climática anteriores e posteriores à COP 21, liberarão esse potencial transformador. Em primeiro lugar, a análise de prognóstico que proporcione uma metodologia de avaliação de riscos unificada, compartilhada e acessível, e rigorosos indicadores de medição da capacidade de recuperação que informam as ações práticas e a eficácia operacional em nível regional, nacional e local, detalhou.

Em segundo lugar, Souza propôs que a redução do risco, as estratégias de recuperação e o planejamento de adaptação de longo prazo se integrem a todos os mecanismos de resposta em matéria de mudança climática, de desenvolvimento e humanitárias. E, em terceiro lugar, afirmou que o fortalecimento das alianças nesses níveis é vital, em todos os setores, como no caso das novas tecnologias e do financiamento de cunho inovador.

“Já não se pode esperar que as medidas ou decisões internacionais tenham um efeito de gotejamento para gerar resultados locais, e isso deverá ser fomentado e apoiado deliberadamente, mediante a análise prognóstica, com a participação do setor privado e o vínculo com as políticas e os programas de mitigação e adaptação”, disse Souza à IPS.

Perguntado sobre as consequências ambientais dos atuais conflitos no Oriente Médio, Ban respondeu aos meios de comunicação, no dia 29, que a instabilidade política tem sua origem na falta de bom governo e na injustiça social. A pobreza extrema e a degradação ambiental também incidem na instabilidade sociopolítica, já que afetam as oportunidades de emprego e a situação econômica, pontuou.

Para o secretário-geral, “é importante que os benefícios que vamos conseguir com o acordo sobre a mudança climática (em Paris) ajudem principalmente os 48 países menos adiantados e os países em conflito”.

O ator norte-americano Robert Redford, firme defensor do ambiente, também falou aos delegados, no dia 29, na qualidade de “pai, avô e também um cidadão preocupado, um dos milhares de milhões de todo o mundo que pedem aos senhores que tomem medidas, agora, sobre a mudança climática”.

“Sou ator de profissão, mas ativista por natureza, alguém que sempre acreditou que temos de encontrar o equilíbrio entre o que desenvolvemos para nossa sobrevivência e o que conservamos para nossa sobrevivência. A missão de vocês é tão simples quanto esmagadora. Salvar o mundo antes que seja muito tarde”, enfatizou Redford.

O ator também afirmou que a mudança climática é real e resultado da atividade humana. “Vemos as consequências à nossa volta, as secas e a fome na África, as ondas de calor no sul da Ásia, os incêndios florestais na América do Norte, e os furacões devastadores, e as paralisantes inundações aqui em Nova York. Assim, para onde olhamos, o clima moderado está se extinguindo”, ressaltou.

Os 15 primeiros anos do século 21 estão entre os mais quentes da história. E, na medida em que as temperaturas sobem, também se exacerba a instabilidade mundial, a pobreza e os conflitos armados, concluiu Redford.


Fonte: ENVOLVERDE

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