segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Cresce número de empresas que divulgam emissões de gases do efeito estufa.
Foram analisados os inventários de emissões de GEE de 133 membros do Programa Brasileiro GHG Protocol, que representam 17 setores da economia. Foto: Shutterstock.

Por Redação do GVces –

O Programa Brasileiro GHG Protocol, maior iniciativa da América do Sul para publicação de inventários corporativos de gases de efeito estufa (GEE), realizou no dia 11 de agosto, no Teatro Vivo, em São Paulo (SP), a sétima edição de seu evento anual. Na ocasião, foram publicados 313 inventários – sendo 133 de organizações membros da iniciativa.

Coordenada pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces) da EAESP-FGV, a iniciativa tem como objetivo a difusão da cultura de realização de inventários de GEE entre organizações brasileiras e, desde sua criação em 2008, possui em seu Registro Público de Emissões mais de 1.100 inventários de GEE disponíveis para consulta.

Os dados apresentados no Evento Anual apontam que a mensuração das emissões de GEE está na pauta de organizações em diferentes elos da cadeia de valor, não sendo a prática restrita apenas às grandes empresas – mais de 50% das organizações que publicaram seus inventários tiveram emissões diretas menores que 9 mil toneladas de CO2e.

Dos membros do Programa em 2015, 37 organizações possuem emissões diretas (Escopo 1) entre 9 e 100 mil tCO2e (28%) e 24 organizações com emissões diretas acima de 100 mil tCO2e (18%). Este último grupo, apesar de menos representativo, possui grande relevância frente ao total de emissões dos membros do Programa e, consequentemente, grande potencial para contribuir para a transição para uma economia de baixo carbono.

Inventários de emissões

Para o levantamento deste ano, foram analisados os inventários de emissões de GEE de 133 membros do Programa Brasileiro GHG Protocol, que representam 17 setores da economia. Dessas organizações, 88% são empresas privadas, 7% empresas públicas/mistas ou instituições governamentais e 4% organizações do terceiro setor.

Buscando aumentar sua transparência, 20% apresentaram o relato desagregado das emissões de GEE, mesmo percentual do ano passado que permite um olhar mais completo e detalhado do perfil de emissões de cada unidade de uma empresa. Esse percentual representa um aumento significativo na transparência dos membros do Programa: em 2012, o grupo que desagregou o seu inventário foi de 17%, e em 2011, de 4%.

Setores representativos

Desde 2008, quando o Programa foi criado, houve um aumento de 393% na participação de organizações – de 27 para 133 membros. Hoje, os setores com maior representatividade são indústrias de transformação (35%), atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados (10%), eletricidade e gás (9%), atividades profissionais científicas e técnicas (6%), transporte, armazenagem e correio (5%), construção (5%) e outros setores somaram 36%.

Durante o evento, especialistas e convidados refletiram sobre como as empresas estão se engajando em estratégias de redução e gestão de suas emissões. “Muitos líderes empresariais entendem que, se você quer ter sucesso nos negócios hoje, você precisa ter as mudanças climáticas dentro da sua estratégia global, da gestão da sua cadeia de valor e de risco”, argumenta Preeti Srivatav, diretora de estratégia da coalizão empresarial We Mean Business.

Para Carlo Pereira, gerente de sustentabilidade corporativa da CPFL Energia,independente do cenário econômico nacional, as empresas brasileiras precisam continuar se esforçando em torno de soluções para gestão e redução de suas emissões. “As empresas são parte da solução no enfrentamento das mudanças climáticas e precisam estar atentas às oportunidades que surgem nesse cenário”.

Janela de oportunidades

Assim, mais do que enxergar a questão climática como um risco, as empresas estão aprendendo a percebê-la também como uma janela de oportunidade para o Brasil crescer a partir de uma economia de baixo carbono. “Olhar para a questão climática como uma ameaça faz sentido apenas para quem não se move – para quem se move, ela abre um mundo novo”, explica Jorge Soto, diretor de desenvolvimento sustentável da Braskem. “As empresas que estão se movimentando para esse mundo novo farão parte da solução e serão capazes de gerar valor.”

O coordenador do Programa Brasileiro GHG Protocol, George Magalhães, avalia que as empresas brasileiras têm avançado na gestão dos seus impactos climáticos, o que é perceptível a partir do constante aumento no número de empresas tornando pública a informação sobre suas emissões de GEE. “O setor privado possui um grande potencial de redução de emissão desses poluentes, e, para realizar esse potencial, é imprescindível conhecer o perfil destas através do inventário de GEE. Há um movimento global de transição para uma economia de baixo carbono e a atuação do setor privado, aliado às políticas públicas sobre clima, contribuirá decisivamente para o sucesso dessa transição”.

Diretrizes para empresas

Os resultados completos apresentados no evento – que teve participação de mais de 320 representantes das empresas membros, governos e sociedade civil (presentes e via internet) – estão disponíveis no site www.ghgprotocolbrasil.com.br.

O Programa Brasileiro GHG Protocol, além de adaptar para o contexto brasileiro o método mais utilizado no mundo para realização de inventários de emissões de GEE (GHG Protocol), tem desenvolvido ferramentas de cálculo e incentivado o setor público na criação de políticas nacionais e subnacionais para o relato de inventários corporativos de GEE.

Atualmente, quatro estados brasileiros possuem diretrizes para que as empresas enviem seus inventários de GEE aos órgãos ambientais estaduais: Rio de Janeiro e São Paulo – de forma mandatória para setores específicos – e Paraná e Minas Gerais – de forma voluntária, oferecendo benefícios às empresas que aderirem à regulação. Em todos esses estados, o método GHG Protocol é aceito como padrão para contabilização dos inventários.



Fonte: ENVOLVERDE
Do Mar à Mesa.
Cerco na Ponta do Espia. Foto: © Paula Bolta.

Por Redação do WWF Brasil –

Campanha movimenta gastronomia caiçara.

Em agosto, apaixonados por peixes e pela culinária caiçara terão um bom motivo para visitar dezenas de restaurantes, bares, quiosques, cafés e padarias gourmets de Ubatuba. De 14 a 30 deste mês estará em cartaz o VIII Festival Gastronômico de Ubatuba. Verdadeiro e saboroso roteiro gastronômico, o “Sabor Caiçara” irá oferecer pescados frescos e ingredientes 100% locais advindos da pesca e cultivo sustentável.

O “Sabor Caiçara” é uma realização da parceria entre a ABRASEL (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes) e o WWF-Brasil, e vem dar continuidade á iniciativa “Do Mar à Mesa”, que esteve entre as atividades do 10º Festival Gastronômico Brasil Sabor (realizado em maio nas quatro cidades do Litoral Norte Paulista, Capital e na cidade carioca de Paraty).

No primeiro evento, foi iniciada a discussão sobre as espécies mais recomendadas para o consumo, cujos estoques pesqueiros não se encontram ameaçados. Neste segundo evento, trabalharão não só com as espécies, mas também com a procedência. Isso garante que o pescado seja originário de uma pesca que não agride o meio ambiente, beneficia a comunidade local e emite menos carbono para o transporte.

As pescarias estão inseridas na Área de Proteção Ambiental (APA) Marinha do Litoral Norte, que já vem trabalhando as boas práticas pesqueiras desde sua criação, em 2008.

Na contramão da pesca predatória, o objetivo deste projeto é a valorização da pesca tradicional em pequena escala do litoral paulista, criando uma conexão direta entre o pescador sustentável e os chefs dos estabelecimentos, que além de poder trabalhar com produtos frescos, incentivará a cadeia produtiva local e ainda contribuir com o controle dos pescados em extinção ou que esteja caminhando para esta situação.

A mecânica do festival é simples. Cada estabelecimento incluirá em seu cardápio, com preço atraente e promocional, pratos com pescados oriundos da pesca artesanal, de cerco, da maricultura e que não estejam em processo de extinção, ou receitas com ingredientes tradicionalmente locais, como a mandioca, farinhas, gengibre, juçara, banana, entre outros produtos encontrados na região.

O Festival que conta com a parceria da Setur e Fundart, irá acontecer simultaneamente com a Caiçarada, que será repleta de eventos culturais. A cultura também terá vez com apresentações no “Casco Acústico” do Projeto Tamar nos dois primeiros finais de semana do festival. Além do Projeto Tamar, a Secretaria Municipal de Pesca, Agricultura e Abastecimento também tem contribuído na parceria. O apoio da APA Marinha do Litoral Norte tem sido igualmente importante, já que mobilizou os pescadores de cerco-flutuante e aquicultores locais para participarem das reuniões que aconteceram nos dias 25 e 30 de julho.

Foram realizadas reuniões prévias com os pescadores para incentivar e capacitar os pescadores e restaurantes participantes do evento.

Acesse o Guia de Consumo Responsável de Pescados e conheça quais são as espécies que estão na lista verde para o consumo.


Fonte: WWF Brasil
Setor energético quadruplica emissões.
Só nos últimos cinco anos, as emissões da área energética aumentaram 34%. Foto: Shuttertsock.

Por Redação do Observatório do Clima – 

Faltando quatro meses para a COP21, a conferência do clima de Paris, o Observatório do Clima apresenta análise inédita das emissões brasileiras de gases de efeito estufa entre 1970 e 2013, além de projeções para os próximos anos; documento inclui recomendações para a participação do Brasil no novo acordo climático. 

São Paulo, 11 de agosto de 2015 ‒ O Observatório do Clima (OC) ‒ rede que reúne 37 entidades da sociedade civil com o objetivo de discutir as mudanças climáticas no contexto brasileiro ‒ acaba de divulgar uma análise ampliada sobre as emissões brasileiras de gases do efeito estufa (GEE), entre 1970 e 2013. Nesse período, o setor de energia — que inclui produção e consumo de combustíveis e energia elétrica — quadruplicou seus níveis de GEE, chegando a 2013 com 29% das emissões brasileiras. Nenhum outro setor teve crescimento tão acelerado e em níveis tão altos de emissão.

A análise permite traçar uma curva de emissões brasileiras em toda a economia e projetá-las para os próximos anos. O resultado é preocupante: embora o Brasil ainda tenha chance de cumprir a meta proposta em 2009 (de reduzir suas emissões em 2020 em relação à tendência), tudo indica que daqui a cinco anos essa trajetória será ascendente. Isto é: o país estará na contramão da recomendação da ciência de declínio das emissões para evitar os piores efeitos do aquecimento global. Caso o desmatamento na Amazônia saia do controle, nem a meta de 2009 será cumprida.

Os dados foram levantados pelo SEEG, o Sistema de Estimativa de Emissões de Gases de Efeito Estufa, plataforma de acesso aberto criada pelo OC (www.seeg.eco.br). Além de relatórios analíticos com informações atualizadas sobre as emissões de cinco setores da economia (agropecuária, energia, processos industriais, mudança de uso da terra e tratamento de resíduos), o SEEG também lançou hoje um documento-síntese, que identifica alguns dos principais desafios do Brasil para reduzir os gases que provocam o aquecimento global. Dessa forma, procura auxiliar na contribuição do país para um novo acordo climático global, a ser firmado na COP21, que acontecerá em Paris, em dezembro.

“É muito importante que o Brasil volte ao seu papel de protagonista nas discussões climáticas mundiais. Com essa análise em mãos, a sociedade terá melhor condição de cobrar das lideranças brasileiras a proposição de metas adequadas à realidade do país”, afirma André Ferretti, gerente de estratégias de conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e coordenador geral do Observatório do Clima.

Só nos últimos cinco anos, as emissões da área energética aumentaram 34%. “A expansão se deve à queda da participação do etanol, ao aumento do consumo de gasolina e diesel, além do incremento de geração termelétrica no Brasil”, informa Carlos Rittl, secretário-executivo do OC. Para ele, essa tendência é alarmante, mesmo quando comparada àquele que ainda é o pior vilão das emissões brasileiras, o desmatamento (que respondeu por 35% do total dos GEE do Brasil em 2013).

Montanha-russa de números

O relatório do SEEG traz conclusões positivas, pelo menos, à primeira vista. Por exemplo, o setor de mudança no uso do solo (desmatamento) apresentou uma redução de mais da metade de participação nas últimas duas décadas — de 70%, nos anos 1990, caiu para 35% em 2013. Essa queda, somada a um cálculo inflado de aumento do PIB, foi a principal responsável por colocar o Brasil no trilho de cumprir a meta de reduzir emissões em 36,1% a 38,9% em 2020 em relação à tendência.

No entanto, Tasso Azevedo, coordenador do SEEG, alerta que não dá para deitar nos louros. “As emissões ligadas à mudança do uso da terra atingiram seu valor mais baixo em 2012 (32%), mas, em 2013, voltaram a subir (para 35%). O principal motivo foi o aumento do desmatamento na Amazônia”, argumenta Azevedo. Como medida elementar para auxiliar na desaceleração do aquecimento global, ele frisa que “é imprescindível acabar com o desmatamento, ilegal e legal”.

Já na área energética, André Ferreira, diretor-presidente do Instituto de Energia e Meio Ambiente (Iema), explica que se registrou no período em foco uma evolução das emissões por fonte primária, com amplo predomínio do petróleo (72% em 2013), seguido do gás natural (17%) e do carvão (6%). “Ao mesmo tempo, a participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira, que nos 1990 chegou a superar 50%, caiu para 41% em 2013”.

Panorama total

A agropecuária aparece como a terceira maior responsável pelas emissões do Brasil, com 27% do conjunto. Desde 1970, a taxa já cresceu 160%. Os principais contribuintes são o metano emitido pelo gado e o uso de fertilizantes nitrogenados. A grande oportunidade aqui está no manejo correto e na recuperação das pastagens degradadas. “Quando bem manejados, mesmo os pastos podem ajudar a neutralizar carbono, sem dizer que as técnicas acabam por proporcionar um crescimento considerável da produção”, explica Marina Piatto, do Imaflora, que analisou essas estimativas.

Processos industriais é o penúltimo colocado (6% das emissões totais de 2013). As emissões nesse setor mais do que triplicaram entre 1970 e 1990 e, desde então, quase dobraram. Os segmentos que mais contribuíram para essa situação no ultimo ano do estudo foram a siderurgia e a produção de cimento — 52% somadas. Com base nisso, André Ferreira, do Iema, assegura que “a queda dessas emissões depende de aumentos da eficiência energética, inovações em processos, a exemplo do uso de carvão vegetal na siderurgia”.

O setor de resíduos responde pela menor parcela de emissões no Brasil com 3% do total em 2013. A cifra representa um crescimento de 300% desde 1970, porém, com números totalizados muito menores dentro do conjunto de emissões do país. O tratamento correto de resíduos tende, no primeiro momento, a acelerar as emissões, por envolver processos que potencializam as emissões de metano (de lixão para aterro controlado, por exemplo). “Para uma maior eficiência, é necessário universalizar o tratamento biológico de resíduos sólidos e esgoto no Brasil com o aproveitamento do biogás e dos materiais recicláveis”, assinala Igor de Albuquerque, do Iclei, que coordenou o relatório analítico do setor.

Pará, campeão nacional de emissões

Na versão mais recente do SEEG foi possível alocar mais de 90% das emissões de gases de efeito estufa nos Estados brasileiros ao longo de todo o período estudado. Focando em 2013, Pará e Mato Grosso figuram como os maiores emissores do país, devido ao desmatamento e à atividade pecuária. Logo em seguida vêm São Paulo e Minas Gerais, onde predominam emissões do setor de energia (especialmente o transporte) e, no caso mineiro, o gado leiteiro.

Embora o Brasil tenha passado por avanços importantes no que diz respeito às políticas públicas voltadas às mudanças climáticas, as análises do SEEG indicam que o país ainda não incorporou uma estratégia de desenvolvimento que leve em conta o controle das emissões de gases do efeito estufa. 

“As inciativas do governo federal, derivadas da Política Nacional sobre Mudança Climática, de 2009, têm escala muito tímida, e são frequentemente atropeladas por outras, como os subsídios à gasolina e o incentivo ao carro”, pondera Carlos Rittl. “É como se houvesse dois governos em ação: um que elabora políticas avançadas de descarbonização e outro que sabota sistematicamente essas políticas.”

O resultado é que o país não aproveita as oportunidades e as vantagens únicas que uma economia de baixo carbono pode oferecer. “A governança que sustenta as políticas públicas brasileiras relacionadas às mudanças climáticas não é claramente estabelecida. O país ainda não possui um sistema claro de monitoramento e avaliação para todas as políticas públicas ou para o conjunto de iniciativas sobre mudanças do clima e de cada um dos planos setoriais”, finaliza Rittl.

Sobre o SEEG

O SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa) é uma iniciativa do Observatório do Clima que compreende a produção de estimativas anuais das emissões de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil, documentos analíticos sobre a evolução das emissões e um portal na internet para disponibilizar, de forma simples e clara, os métodos e dados gerados no sistema.

As informações são sistematizadas de acordo as diretrizes do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), com base em Inventários Brasileiros de Emissões e Remoções Antrópicas de Gases do Efeito Estufa — elaborado pelo MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação) — e em dados obtidos junto a relatórios governamentais, institutos, centros de pesquisa, entidades setoriais e organizações não governamentais.

Entre meados de 2014 e meados de 2015, foi desenvolvida a segunda versão do SEEG que, além de revisar as estimativas para o período 1990-2012 e incluir as estimativas de emissões para o ano de 2013, acrescenta as estimativas de emissões nacionais desde 1970 e, pioneiramente, apresenta uma primeira aproximação da distribuição das emissões por unidade da federação ao longo de todo o período.


Obama assume a liderança climática.
O Plano de Energia Limpa pode ser o legado verde da administração de Obama. Foto Bigstock.

Por Nora Happel, da IPS – 

Nações Unidas, 11/8/2015 – O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, revelou formalmente os detalhes de seu Plano de Energia Limpa para a redução de carbono que, em um discurso filmado previamente e publicado na rede social Facebook, o mandatário descreve como “o maior e mais importante passo da história para o combate à mudança climática”.

Como determina o texto final divulgado no dia 3 deste mês pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, o Plano requer que os donos de centrais elétricas reduzam em 32% suas emissões de dióxido de carbono até 2030, em relação aos registros de 2005. Entre 2005 e 2013, as emissões desse gás-estufa caíram 15% no país, o que colocou os Estados Unidos na metade da meta.

Os 50 Estados do país têm permissão para criar seus próprios planos de redução de gases contaminantes, derivados das existentes unidades geradoras de eletricidade, que são alimentadas por combustíveis fósseis. As versões iniciais desses planos terão que ser apresentadas no ano que vem, e as finais até 2018.

Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, afirmou que “o Plano é um exemplo da liderança visionária que se necessita para reduzir as emissões e enfrentar a mudança climática”. Em uma reunião mantida no dia 4, por Obama e Ban no Escritório Oval da Casa Branca, o chefe da ONU elogiou o papel de liderança do presidente norte-americano na abordagem da mudança climática.

Os Estados Unidos são o maior emissor mundial de dióxido de carbono depois da China. Porém, o elogio a Obama por seus esforços para reduzi-lo parece sugerir uma mudança na percepção que se tem de Washington, deixando de ser visto como um dos principais infratores e passando a ser um líder no combate ao aquecimento global.

O anúncio do Plano ocorre depois de uma série de êxitos diplomáticos por parte do governo dos Estados Unidos, como o acordo nuclear iraniano e a normalização das relações diplomáticas com Cuba. Muitos analistas atribuem essas decisões históricas ao desejo de Obama de deixar um legado em política externa. E o Plano pode ser o legado verde da presidência de Obama, cujo segundo mandato terminará em janeiro de 2017.

“Esse plano histórico implanta os primeiros limites nacionais da história à contaminação com carbono gerada por centrais elétricas, a maior fonte de contaminação da nação”, ressaltou à IPS Sara Chieffo, vice-presidente da organização Assuntos do Governo na Liga de Eleitores pela Conservação.

Segundo Chieffo, “se for considerado junto com outros importantes avanços obtidos pelo governo de Obama, como aumentar os padrões de eficiência dos combustíveis veiculares e os investimentos em energia renovável, o Plano de Energia Limpa representa uma significativa redução da contaminação com carbono até 2030, bem como um impulso à saúde pública. Ao dar esses passos, o governo de Obama está demonstrando uma verdadeira liderança na redução da contaminação com carbono, fortalecendo o crescente movimento pela ação global”.

Após ser objeto de críticas generalizadas, o Plano foi submetido a várias modificações, até que o texto final foi publicado no dia 3. Essa versão, comparada com as anteriores, mostra que a atual se centra muito mais nas centrais elétricas alimentadas por combustíveis fósseis como emissoras de dióxido de carbono, e menos em os Estados cumprirem suas metas, com explicou Jody Freeman em um artigo para o site Político.

Antes do anúncio do Plano, os debates legais se centraram em outra regulamentação da Agência de Proteção Ambiental que está em vigor desde 2011. Trata-se dos padrões de mercúrio e tóxicos aéreos (conhecidos pela sigla inglesa MATS), que buscam limitar as emissões contaminantes perigosas derivadas de centrais que funcionam com combustíveis fósseis.

Em uma sentença de 29 de junho sobre Michigan versus a Agência de Proteção Ambiental, a Suprema Corte dos Estados Unidos bloqueou a regulamentação da entidade federal por maioria de cinco votos contra quatro. O argumento foi que a agência não havia considerado adequadamente os custos da regulamentação tal como exigia a Lei de Ar Limpo. 

O tribunal enviou o caso ao Circuito do Distrito de Columbia para mais consultas e para passar por procedimentos consistentes com a opinião da Suprema Corte. Várias organizações industriais e cerca de 20 Estados apelaram contra a iniciativa de 2011 para regulamentar emissões contaminantes aéreas.

A decisão da Suprema Corte pode ser vista como um contratempo importante para a Agência de Proteção Ambiental em sua iniciativa, mas também facilita o Plano de Energia Limpa, ao impedir a existência de uma dupla regulamentação, que era um dos principais argumentos legais dos que se opunham ao Plano, segundo destacaram Brian Potts e Abigail Barnes em um artigo na revista Forbes.

Chieffo pontuou à IPS que os grandes contaminadores “estão recorrendo às mesmas regras de jogo desesperadas, com as previsões fatalistas que usam desde que o presidente Richard Nixon aprovou a Lei de Ar Limpo, em 1970. Mas, uma vez e outra, a história demonstra que limpar nosso ar é bom para nossa saúde e nossa economia”.

O Plano de Obama foi apresentando faltando menos de quatro meses para a 21ª Conferência das Partes (COP 21) da Convenção Marco das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, que acontecerá entre os dias 30 de novembro e 11 de dezembro, em Paris.

Dujarric destacou que a iniciativa de Washington será crucial na hora de definir se a cúpula francesa conseguirá ou não aprovar “um acordo universal, duradouro e significativo”.


Fonte: ENVOLVERDE
Potencial para mais infraestrutura verde.
Um dos 31 parques eólicos em operação no México. Até 2020, a capacidade instalada dessa energia renovável será de 15 mil megawatts no país. Foto: Cortesia de Dforcesolar.

Por Diego Arguedas Ortiz, da IPS – 

São José, Costa Rica, 11/8/2015 – Diante do desafio de ajustar sua infraestrutura energética para conseguir duplicar a oferta elétrica até 2050 e ao mesmo tempo reduzir suas emissões de gases-estufa (GEE), a América Latina tem apenas uma saída: a geração elétrica verde. Diversos estudos sugerem que essa meta dupla está ao alcance dos países latino-americanos, pois suas fontes renováveis ainda têm um enorme potencial não aproveitado.

Junto ao transporte e à mudança de uso do solo, a produção de eletricidade é um dos desafios regionais não resolvidos na luta contra a mudança climática. Atualmente, a geração elétrica latino-americana é a mais verde entre as regiões do planeta, um marco impulsionado por sua histórica aposta na hidroeletricidade. Mas o grande desafio é manter esse ritmo diante da demanda interna crescente.

“Quando se olha o conjunto, a infraestrutura regional continua fazendo como no século 20, tendo requerimentos e cenários para o século 21 totalmente diferentes”, disse à IPS o mexicano Joseluis Samaniego, diretor da Divisão de Desenvolvimento Sustentável e Assentamentos Humanos da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal). A eletricidade é fundamental no projeto das contribuições previstas e determinadas em nível nacional (INDC), a série de compromissos que cada nação se autoimporá para reduzir suas emissões de dióxido de carbono e outros GEE.

O estudo Repensemos Nosso Futuro Energético, elaborado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), afirma que a região vai precisar duplicar a capacidade de geração elétrica até 2050. Mas utilizar combustíveis fósseis como petróleo, carvão ou gás natural, gera gases-estufa que causam o aquecimento global. Isso leva á pergunta sobre que tipo de infraestrutura a América Latina incluirá em seu futuro energético.

Segundo o estudo do BID, a capacidade de geração renovável latino-americana (eólica, solar, hidrelétrica, geotérmica, biomassa) é tão extensa que só precisaria de 4% do potencial técnico total disponível para atender as necessidades até 2050. Entretanto, durante os últimos anos, a região investiu em geração mais suja. Embora por décadas a hidrelétrica tenha liderado a matriz energética da região, os dados mais recentes mostram que perdeu protagonismo.

Segundo a Organização Latino-Americana de Energia (Olade) representava apenas 38% em 2013, deslocada pelo gás natural, que agora representa 40%. Os países latino-americanos deverão reverter esse processo se querem propor metas ambiciosas e realistas em seus INDC. Apenas uma política energética forte permitirá propor compromissos adequados, afirmam especialistas. Até o momento, somente o México apresentou formalmente os seus, enquanto Chile, Colômbia e Peru mostraram progressos.

Todos os países deverão apresentar seus compromissos nacionais antes de 1º de outubro, para serem incorporados ao novo tratado universal e vinculante que será aprovado em dezembro, na cúpula sobre a mudança climática que acontecerá em Paris, na França.
Parte da barreira de concreto da represa da hidrelétrica binacional de Itaipu, compartilhada por Brasil e Paraguai. É a segunda central do mundo em potência instalada, atrás da de Três Gargantas, na China. Foto: Mario Osava/IPS.

“A América Latina, bem como o resto do mundo, deve se focar em desenvolver infraestrutura elétrica com fontes renováveis e com o menor impacto ambiental possível, procurando depender cada vez menos dos combustíveis fósseis”, apontou à IPS o engenheiro colombiano Santiago Ortega, especializado em fontes renováveis.

Ortega, também professor da colombiana Escola de Engenharia de Antioquia, acrescentou que a geração renovável deve fazer um balanço entre projetos locais que sejam menos invasivos e megaprojetos como as represas que permitem o armazenamento de energia, o que os torna confiáveis. “Os recursos financeiros sempre serão escassos, e é necessário investi-los da forma mais inteligente possível”, acrescentou.

De outro modo, o futuro energético mundial será caro. Se a economia mantiver seu alto consumo de carbono, o investimento necessário durante os próximos 15 anos “deverá estar em cerca de US$ 90 trilhões, ou uma média de US$ 6 trilhões por ano”, segundo o documento Melhor Economia, Melhor Clima, do projeto da Nova Economia da China.

Porém, o informe também ressalta que, ao incluir fontes renováveis e fazer cidades mais compactas, “a necessidade de investimento em infraestrutura de baixo consumo de carbono aumentará em apenas cerca de US$ 270 bilhões ao ano” em nível mundial. Por isso, especialistas como a economista costarriquenha Mónica Araya afirmam que “o giro em gestação no mundo, e nós não seremos a exceção, é para a diversificação (limpa) e a descentralização energética”.

Entretanto, a matriz elétrica compõe apenas uma parte da grande matriz energética da região, onde os combustíveis fósseis ainda reinam soberanos. Dados de 2013 da Olade indicam que o petróleo representará 49% como fonte de energia primária na estrutura regional, o gás natural 26% e o carvão 7%. Apenas 6% do total da energia primária é de hidrelétrica. A biomassa, a nuclear e outras fontes renováveis minoritárias completam o panorama.

O que a América Latina faz com esses 80% de combustíveis fósseis se tem uma eletricidade relativamente verde? Segundo o argentino Pablo Bertinat, diretor do Observatório de Energia e Sustentabilidade, da Universidade Tecnológica Nacional, quase metade dessa energia vai para o setor de transporte. “Em transporte é chave a infraestrutura”, afirmou Bertinat à IPS. “Grande parte do dinheiro público da região está colocada nas obras de infraestrutura que em grande medida buscam consolidar modos de transportes intensivos em energia”, acrescentou.

Bertinat apontou, como exemplo, que, enquanto a Argentina transporta 75% de sua carga por caminhões, países como França ou Estados Unidos só movimentou por esse meio 20%, priorizando vias fluviais e férreas.

As cidades também precisam mudar seus modelos e a costarriquenha Araya aposta em um transporte público coletivo que seja ao mesmo tempo moderno e limpo, eletrificando as frotas privadas, como táxis e veículos de carga. “Nos falta imaginação. Nem a classe política nem a empresarial despertaram para a necessidade de se investir em transporte público e de carga que seja limpo, moderno e digno”, ressaltou à IPS essa especialista que lidera a organização não governamental Nivela.

Todos esses esforços no setor energético também exigirão propostas em outros campos. A principal fonte regional de gases-estufa é o uso da terra e a silvicultura (47%), seguida da energia (22%), agricultura (20%), e dos resíduos (3%).

Potencial limpo não aproveitado

A América Latina só utiliza 22% de seu potencial disponível de hidroenergia. No futuro, os países da região precisarão incluir mais o potencial dos rios e de outras fontes limpas para tornar sustentável e diversificada sua matriz energética, afirmam especialistas. Um estudo publicado em 2008 pela REN21, uma rede mundial de políticas públicas sobre energias renováveis, afirma que essa riqueza hidroenergética poderia ser ofuscada por outras fontes na região, como a solar e a eólica.

Em conjunto, seus países têm um potencial hidrelétrico de 2,8 PWh (petawatts por hora, ou 1015 watts), superado pela geotérmica (quase 3 PWh), eólica terrestre (11 PWh) e solar fotovoltaica (cerca de 31 PWh). Esse potencial resulta gigantesco se comparado com a demanda regional. Em 2014, os países latino-americanos consumiram no total 1,3 PWh de eletricidade e os especialistas esperam que a demanda não supere os 3,5 PWh até 2050.


Fonte: ENVOLVERDE

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

80 mil toneladas de resíduos sólidos.
A política nacional de resíduos sólidos, sancionada em 2010, coloca como meta a eliminação de lixões até 2020 para cidades menores e até 2018 para cidades maiores. Foto: Shutterstock.

Por Redação da ONU Brasil – 

Encontro em Brasília reunirá prefeitos e secretarias municipais do meio ambiente para melhorar a gestão dos resíduos sólidos urbanos.

Cerca de 80 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos são descartadas de forma inadequada no Brasil todos os dias, correspondendo a mais de 40% do lixo coletado. Mesmo com aumento de 6,2% ao ano do volume de resíduos disposto de forma adequada, “esse índice tem evoluído a passos lentos, e o volume absoluto de resíduos disposto de forma inadequada tem aumentado gradativamente”, afirma o representante do Instituto Ekos Brasil, Ricardo Scacchetti.

Para discutir o assunto, o Instituto Ekos Brasil vai reunir, com apoio do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), especialistas dos setores público, privado e do terceiro setor, no Seminário de gestão de resíduos sólidos urbanos, dia 27 de agosto, em Brasília. O evento pretende debater a importância do Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos e o planejamento para implantação e financiamento da gestão sobre o tema.

No Brasil, “existem 1.775 lixões, e muitos deles ainda com pessoas catando materiais em condições insalubres e degradantes à dignidade humana”, explica Scacchetti.

Um modelo de gestão de resíduos sólidos urbanos eficiente deve apresentar uma relação custo-qualidade vantajosa e contribuir com a inclusão social. A política nacional de resíduos sólidos, sancionada em 2010, coloca como meta a eliminação de lixões até 2020 para cidades menores e até 2018 para cidades maiores.

“Grande parte dos municípios brasileiros tem muita dificuldade nessa gestão dos resíduos, não só pela questão ambiental, mas também pelas questões de gestão propriamente ditas”, disse a analista de programa da unidade de desenvolvimento sustentável do PNUD, Rose Diegues.


Fonte: ONU Brasil