sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A piscicultura colhe êxitos na África.
A piscicultura permitiu a muitos africanos combater a pobreza e a fome. Foto: Jeffrey Moyo/IPS.

Por Jeffrey Moyo, da IPS – 

Harare, Zimbábue, 6/8/2015 – O zimbabuense Hillary Thompson, de 62 anos, joga os grãos de arroz que restaram de sua última refeição, misturados com restos de cerveja que fez a partir de seu próprio sorgo, em uma piscina que transformou em tanque para piscicultura. “Por mais de uma década, o cultivo de peixes foi um hobby que me permitiu ganhar uma fortuna”, contou à IPS este homem, que vive em Milton Park, uma área suburbana e pouco povoada de Harare.

E é verdade: graças a essa atividade, pôde comprar várias propriedades que agora aluga. Thompson é apenas um dos muitos que encontraram uma espécie de mina de ouro na piscicultura. Os progressos africanos nessa área ganham força em um momento em que a Organização das Nações Unidas (ONU) pede urgências aos países para adotarem padrões de consumo e produção sustentável, como parte de seus novos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que substituirão os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que expiram em dezembro deste ano.

Os ODS são um pacote de 17 objetivos que os 193 Estados membros da ONU deverão empregar como parâmetros de desenvolvimento para guiar suas agendas e políticas nos próximos 15 anos.

Ao sofrer déficit nutricional, muitos africanos recorrem à piscicultura para completar sua dieta, inclusive nas cidades. Estima-se que no Zimbábue existam 22 mil pessoas que se dedicam a esta atividade, segundo o Ministério da Agricultura. Por trás do êxito de muitos desses produtores, está a Fundação de Aquicultura do Zimbábue, criada em 2008 para mobilizar recursos para o desenvolvimento da pesca ecológica no país, como estratégia para paliar a pobreza crônica e melhorar os meios de sustento da população.

A quantidade de piscicultores é ainda maior no Malawi, onde cerca de 30 mil pessoas se dedicam a essa atividade e às derivadas dela, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). As reservas pesqueiras fornecem cerca de 70% da ingestão de proteínas dos 14 milhões de habitantes que, se estima, o país tenha, a maioria deles pobres demais para comprar carne.

Muitos malauítas como Levis Banda, de Blantyre, a segunda cidade mais populosa do país, conseguiram sair da indigência graças à aquicultura. Esse tipo de empreendimento é menos exigente do ponto de vista econômico, todos podem realizá-lo, e o pescado é vendido mais rapidamente por ser mais barato, explicou Banda à IPS.

Em muitas pequenas localidades e cidades da África, produtores pesqueiros, conforme foram prosperando, converteram seus quintais dos fundos em tanques para produção aquícola em pequena escala, acelerando assim sua proverbial passagem da pobreza para a riqueza.

A FAO estima que, no mundo, o valor do comércio de pescado chega a US$ 51 bilhões anuais, empregando diretamente mais de 36 milhões de pessoas e permitindo que 200 milhões obtenham renda direta e indireta graças a esse produto. Esta agência da ONU também informou que, em toda a África, a pesca proporciona renda direta para cerca de dez milhões de pessoas, metade delas mulheres, e contribui para o fornecimento de alimentos a outros 200 milhões de pessoas.

Em Uganda, por exemplo, o que é produzido nos tanques aquícolas representa mais de US$ 200 milhões por ano, representando 2,2% do produto interno bruto do país, enquanto a atividade emprega cerca de 135 mil pescadores e outras 700 mil pessoas no processamento e comércio.

Essa crescente tendência aquícola se registra justamente quando a Nova Aliança para o Desenvolvimento da África defende que iniciativas como a aquicultura sejam repetidas para fortalecer as economias nacionais, combater a pobreza e melhorar a segurança alimentar dos africanos.

No ano passado, na África do Sul, Alan Fleming, diretor da The Business Place, uma organização dedicada ao desenvolvimento e à assistência com sede na Cidade do Cabo, propôs usar contêineres portuários como tanques aquícolas. As comunidades pobres do país receberam bem essa ideia. “Agora, todos meus filhos vão à escola” graças a essa modalidade, disse à IPS o produtor Mpho Ntabiseni, de Philippi, um distrito pobre da Cidade do Cabo.

Citando a crescente escassez de pescado colhido de maneira tradicional, em 2014, o governo sul-africano investiu US$ 7,8 milhões em projetos aquícolas. Também em 2014, cerca de 71 mil africanos participaram dessa atividade, segundo o Departamento de Assuntos Ambientais do país. “A aquicultura ajuda as comunidades africanas pobres a agregarem proteína de alto valor à sua dieta”, ressaltou à IPS a nutricionista independente Agness Mwansa, de Lusaka.

Segundo Julius Sadi, da Fundação de Aquicultura do Zimbábue, “os consumidores preferem o pescado obtido nos tanques aquícolas, porque é criado em água exposta e com muito pouca ou nenhuma contaminação”. Em conseqüência, agências como o Departamento de Desenvolvimento Internacional da Grã-Bretanha ajudaram na última década a impulsionar a indústria da piscicultura na África.


Fonte: ENVOLVERDE

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