sexta-feira, 30 de outubro de 2015

O Sistema Financeiro que Precisamos.
Relatório do Pnuma mostra como melhorar a eficácia do sistema financeiro no apoio ao desenvolvimento sustentável.

Lima, Outubro de 2015 – O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) divulgou, nesta quinta-feira (8), durante o encontro anual do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, o novo relatório “O Sistema Financeiro que Precisamos”. Resultado de uma investigação de dois anos, o documento mostra como aproveitar os ativos do sistema financeiro mundial para a sustentabilidade.

Entre as principais conclusões, o relatório afirma que uma ‘revolução silenciosa’ está em andamento conforme os formuladores de políticas e reguladores financeiros tomam medidas para integrar as questões sobre desenvolvimento sustentável aos sistemas financeiros e torná-los aptos para o século 21.

O ‘momentum’ está ganhando força e é, em grande parte, impulsionado por países emergentes e em desenvolvimento, incluindo Bangladesh, Brasil, China, Quênia e Peru, com campeões de países desenvolvidos como a França e o Reino Unido.
Achim Steiner. Foto: Divulgação.

Ampliar essas experiências através de ações nacionais e internacionais poderia direcionar o capital privado para financiar a transição para uma economia inclusiva, verde e apoiar a realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

Para Achim Steiner, Subsecretário-Geral da ONU e Diretor Executivo do Pnuma, a pesquisa pela primeira vez compilou e analisou iniciativas inspiradoras de todo o mundo que buscam alinhar melhor o sistema financeiro com o desenvolvimento sustentável, mostrando que há muito a ser aprendido com o mundo em desenvolvimento. “Precisamos agora elevar o nível de ambição e de cooperação para garantir que as zonas centrais da economia global e o sistema financeiro possam evoluir para servir o seu propósito central de crescimento e sustentação da economia real”, analisa. Steiner acredita que o relatório abre um novo capítulo, estabelecendo como tal evolução pode ser alcançada.

Sobre o relatório

A pesquisa relativa ao Plano de um Sistema Financeiro Sustentável teve início em janeiro de 2014 com um mandato para desenvolver opções políticas que melhorassem a eficácia do sistema financeiro no apoio ao desenvolvimento sustentável. Apoiado por um Conselho Consultivo de líderes financeiros de alto nível, o Inquérito examinou com profundidade a prática em mais de 15 países, bem como entre os segmentos-chave do sistema financeiro, como mercados bancários, de obrigações e de ações, investimento institucional, seguro e política monetária. Para chegar a suas conclusões, o Inquérito tem trabalhado com os bancos centrais, ministérios do meio ambiente, instituições financeiras internacionais, grandes bancos, bolsas de valores, fundos de pensão e companhias de seguros.
Capa do relatório. Foto: Reprodução

Foram identificadas cinco tipos de medidas que estão sendo introduzidas pelos formuladores de regras financeiras:

– Melhorar as práticas de mercado através de uma melhor divulgação, responsabilidades claras e critérios de produtos melhorados;

– Aproveitar o balanço público, através de incentivos fiscais, instituições financeiras públicas e ação do banco central;

– Direcionar as finanças através de medidas políticas, tais como empréstimos ao setor prioritário, requisitos legais e os regimes de responsabilidade;

– Transformar a cultura financeira, através da capacitação, revisão dos incentivos e da estrutura de mercado;

– Governar o sistema de atualização através de princípios orientadores, exigências regulatórias e medição de desempenho.

No total, a pesquisa descobriu mais de 100 medidas que já estão em prática, incluindo:

– China: um portfólio com 14 recomendações distintas para promover o sistema financeiro verde da China, cobrindo informações, medidas legais, institucionais e fiscais;

– França: novos requisitos de divulgação sobre a mudança do clima têm sido introduzidos para os investidores institucionais, como parte da legislação sobre a transição energética do país;

– Quênia: possui inclusão financeira avançada através do dimensionamento de serviços de pagamento móveis, que agora também estão apoiando o financiamento verde;

– Peru: novos requisitos de vigilância foram introduzidos para os bancos para ajudar a reduzir as externalidades sociais e ambientais;

– EUA: enfatizam medidas fiscais que aceleram o financiamento verde e têm dado avanços significativos na publicação e na ação de investidores.

O relatório apresenta um Quadro de Ação que inclui uma caixa de ferramentas com cerca de 40 medidas diferentes, um conjunto de cinco pacotes de políticas em toda a operação bancária, títulos e mercados de ações, investidores institucionais e seguros, e um conjunto dos 10 próximos passos prioritários para promover a cooperação financeira internacional.

Para acessar O Sistema Financeiro que Precisamos (inglês) clique aqui.


Fonte: ENVOLVERDE
Brasil ganha plano para se adaptar ao clima.
Banhistas se refrescam no Parque Nacional de Brasília durante onda de calor em setembro de 2015. Foto: Claudio Angelo/OC.

Com poucas metas quantitativas, documento do governo federal dá diretrizes gerais para que 11 setores se preparem para efeitos da mudanças climáticas; sociedade tem 45 dias para contribuir.

Por Cíntya Feitosa e Claudio Angelo, do OC

Uma boa notícia para os milhões de brasileiros que estão sofrendo nesta primavera escaldante e para os mais de 1.400 municípios que já decretaram emergência ou calamidade pública por eventos climáticos extremos este ano: o Brasil enfim ganhou um plano para se adaptar às mudanças climáticas. Um pouco genérico demais, mas um plano ainda assim.

O Plano Nacional de Adaptação à Mudança do Clima (PNA), que foi posto em consulta pública nesta quinta-feira (8), traça diretrizes para a sociedade se preparar para os efeitos das mudanças do clima no Brasil. O documento prevê ações para o período de 2016 a 2019 e uma revisão a cada quatro anos.
O PNA considera os efeitos da mudança climática em 11 setores – agricultura, cidades e desenvolvimento urbano, ecossistemas e biodiversidade, gestão de risco de desastres naturais, indústria e mineração, infraestrutura, povos e populações vulneráveis, recursos hídricos, saúde, segurança alimentar e zonas costeiras.

O documento não traz medidas práticas para adaptação, mas, de acordo com o diretor do departamento de licenciamento e avaliação ambiental do MMA, Pedro Christ, ele tem como eixo principal o incentivo a pesquisas e gestão do conhecimento para adaptação.

“Um aumento da temperatura poderá conduzir a um incremento na frequência de eventos extremos nas diferentes regiões do Brasil, bem como uma alteração no regime das chuvas, com maior ocorrência de secas, inundações, alagamentos, deslizamentos de encostas e consequentes deslocamentos populacionais”, destaca o texto do plano. “Essas alterações terão consequências na sociedade, nos ecossistemas e nos diferentes setores da economia.”

Entre as metas do PNA estão aprimorar a qualidade das projeções climáticas, a integração de dados para monitoramento dos impactos, a capacitação de governos, setor privado e comunidades e o diagnóstico de vulnerabilidades em diversas áreas – povos tradicionais e agricultura familiar, por exemplo.

Mesmo que ainda não haja plano tático, Christ afirma que as ações setoriais não vão depender da implementação total do plano de adaptação. “Não é porque as informações ainda não estão todas colocadas que não vamos começar as ações a partir de agora.” Ele ressalta que adaptação é uma agenda recente e que o Brasil já a incluiu em sua INDC, a proposta de contribuição para o acordo do clima que será firmado no fim do ano na COP 21 (Conferência do Clima das Nações Unidas).

André Ferretti, da Fundação Grupo Boticário e coordenador-geral do Observatório do Clima, queixou-se da falta de metas quantificáveis em todos os setores do PNA – diferentemente da INDC, que tem números precisos. Ele lembrou que a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira afirmou no começo do ano que “plano sem metas é carta de intenção”.

Sem metas, por exemplo, ficou o capítulo de energia – segundo o OC apurou, o Ministério de Minas e Energia pressionou o Ministério do Meio Ambiente para excluí-las. Estudos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República têm apontado, por exemplo, para reduções expressivas na vazão de rios que alimentam hidrelétricas no país inteiro. Se esses cenários forem levados a sério, o governo precisará reconsiderar todo o planejamento futuro de usinas no país, inclusive a multibilionária São Luís do Tapajós, que no melhor cenário teria redução de vazão de 20% já em 2040.

“Os estudos demonstram que a matriz brasileira é muito vulnerável e isso precisa estar incorporado. O resultado desta consulta pública precisa ser metas para todos os setores”, disse Carlos Rittl, secretário-executivo do OC.

Por outro lado, Ferretti disse ver como positiva a inclusão da adaptação baseada em ecossistemas em cinco planos setoriais do PNA. Ele acredita, no entanto, que o tema pode estar em todas as frentes da adaptação. “A adaptação baseada em ecossistemas não está, por exemplo, no capítulo sobre segurança hídrica e no de agricultura”, diz. “E a ligação do equilíbrio dos ecossistemas com esses setores é muito clara.”

A sociedade terá 45 dias para se manifestar a respeito da estratégia elaborada para influenciar o planejamento em diversos setores, com o objetivo de preparar e diminuir os impactos das mudanças climáticas.

Financiamento para o clima aumenta, mas ainda é insuficiente.
Dos US$ 100 bilhões prometidos pelos países ricos aos países em desenvolvimento, até agora haveria sinalização de US$ 75 bilhões, numa perspectiva considerada otimista. Reunião do Banco Mundial e FMI em Lima, Peru, aponta a necessidade de lutar contra a evasão fiscal e parar de subsidiar atividades que contribuem para o aquecimento global.

Os fundos comprometidos no combate às mudanças climáticas ainda não atingem os US$ 100 bilhões prometidos pelos países ricos aos países em desenvolvimento para o acordo que deverá ser fechado na Conferência do Clima de Paris, em dezembro. Mas, para resolver a equação do financiamento climático, tão urgente quanto é a necessidade de lutar contra a evasão fiscal e parar de financiar as atividades que contribuem para o aquecimento global. Essa foi a principal conclusão da reunião anual do Banco Mundial com Fundo Monetário Internacional (FMI), no último fim de semana (9 a 11/10), em Lima, Peru. O evento foi coordenado pelos governos peruano e francês, encarregados de organizar as Conferências do Clima de 2014 e 2015, respectivamente.

A reunião contou com ministros da economia e diretores de bancos centrais dos 188 países membros do Banco Mundial – do qual o Brasil detém 2,24% das ações. A delegação brasileira foi encabeçada pelo ministro da Fazenda Joaquim Levy.

No encontro, foram firmados novos compromissos para o clima da parte dos bancos multilaterais de desenvolvimento. O Banco Mundial pretende aumentar seus financiamentos diretos para ações de enfrentamento às mudanças climáticas dos atuais US$ 10,3 bilhões para US$ 16 bilhões anuais, até 2020, e aumentar em ainda US$ 13 bilhões anuais seu cofinanciamento para projetos relacionados ao clima, totalizando um crescimento de US$ 29 bilhões.

“À medida que nos aproximamos de Paris, os países identificaram trilhões de dólares de necessidades relacionadas com o clima. O Banco [Mundial], com o apoio dos nossos membros, irá responder de forma ambiciosa a esse grande desafio” declarou o diretor do Banco Mundial Jim Yong Kim (saiba mais).

Outros bancos multilaterais de desenvolvimento anunciaram novos recursos. Por exemplo, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) pretende expandir de 14% para 30% seu financiamento de projetos de enfrentamento às mudanças climáticas.

Nas últimas semanas, diversos países divulgaram compromissos de financiamento. O Reino Unido, a França e a Alemanha comprometeram-se em dobrar a ajuda climática bilateral para 2020 para os países em desenvolvimento. A China lançou um compromisso oferecendo US$ 3,1 bilhões dentro da cooperação sul-sul para os países em desenvolvimento – mais do que a contribuição norte-americana ao Fundo Verde do Clima (veja aqui). Espera-se que os anúncios sejam seguidos de outros nas próximas semanas.

“São gestos positivos, mas ainda insuficientes. Existe um consenso de que é importante chegar a Paris com um ambiente otimista. A questão dos recursos tem sido uma obsessão dos governos peruano e francês para avançar no processo de negociação até Paris. Tem muito trabalho atrás disso”, comentou, em entrevista ao ISA, o mexicano Santiago Lorenzo, responsável de Finanças Verdes da Iniciativa Global de Clima e Energia da WWF que participou da reunião de Lima.

No caminho dos US$ 100 bilhões

A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) em colaboração com a Climate Policy Initiative (CPI) lançou um relatório, pouco antes da reunião de Lima, mostrando que, em 2014, houve um financiamento de US$ 62 bilhões de países desenvolvidos para países em desenvolvimento relacionado às mudanças climáticas. Desse total, 70% vieram de fontes públicas – bilaterais e multilaterais – e 30%, de fontes privadas. Isso significa um aumento de quase US$ 10 bilhões em relação ao total de 2013 (leia mais).

Os compromissos realizados pelo Banco Mundial e os Bancos de Desenvolvimento Multilaterais, mais os da França, Reino Unido e Alemanha, aumentariam esse financiamento até atingir os US$ 75 bilhões, em 2020, somando a ajuda bilateral dos governos e multilateral dos bancos e fundos, segundo Tim Gore, da Oxfam. O valor ainda está abaixo dos US$ 100 bilhões prometidos pelos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento para a luta contra a mudança climática em Copenhague, em 2009 (veja gráfico abaixo) (leia mais).
US$ 75 bilhões em 2020 ainda ficam distantes dos US$ 100 bilhões prometidos pelos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento para a luta contra a mudança climática em Copenhague em 2009. O gráfico mostra também, na parte da direita, os recursos existentes para políticas de adaptação – em termos de doações –, as mais estratégicas para diminuir os efeitos da mudança climática nos países mais pobres.

Mesmo que paire a suspeita desde as ONGs de que esses números sejam muito otimistas, o indicador positivo é a constatação de uma tendência crescente do financiamento climático, analisa Santiago Lorenzo.

O presidente da França, François Hollande, já havia mencionado, em setembro, na Assembleia Geral da ONU, que um dos principais elementos para avaliar o sucesso do acordo que deverá ser fechado na Conferência do Clima de Paris, em dezembro, seria “o comprometimento no financiamento dos países mais pobres e em desenvolvimento tal e como foi anunciado em Copenhague [de US$ 100 bilhões]”.
Jovens ativistas da ONG Amigos da Terra confiscam cadeiras dos bancos envolvidos na evasão fiscal em Paris.

Dinheiro para o clima nos paraísos fiscais

Em Lima, foi ratificada uma iniciativa da OCDE no marco do G 20 para evitar a evasão fiscal. A iniciativa chamada de Erosão da Base e Transferência de Benefícios (BEPS, nas sigla em inglês) mostra que até 10% da arrecadação mundial de impostos sofre evasão fiscal, o que envolve entre US$ 100 e US$ 240 bilhões. “As multinacionais não pagam impostos onde operam e deslocam lucros por meio de paraísos fiscais, isso precisa ser resolvido para termos um plano real que ponha fim à sangria fiscal que penaliza os países pobres”, comentou Winnie Byanyima diretora executiva da OXFAM.

Enquanto acontecia a reunião de Lima, em Paris jovens ativistas da organização Amigos da Terra realizavam ações pacíficas contra os bancos envolvidos na evasão fiscal e lavagem de dinheiro nos paraísos fiscais.

“Existe dinheiro para o clima. Ele está nos paraísos fiscais” afirmou Gabriel Mazzolini, da ONG Amigos da Terra em Paris. A organização está confiscando de maneira pacífica até a COP de Paris cadeiras de sucursais de bancos que tenham casos de fraude fiscal e de evasão de dinheiro nos paraísos fiscais. As cadeiras serão custodiadas por personalidades globais como Susan George ou Patrick Viveret e serão devolvidas quando os bancos devolvam os recursos aos cidadãos. Em escândalo divulgado no começo do ano, o HSBC teria fraudado US$ 180 bilhões, lembra Mazzolini. (veja abaixo o vídeo da ação em Paris).

A procura de recursos para o clima terá de lidar com as assimetrias do sistema econômico mundial. Ninguém menos que Christine Lagarde, diretora do FMI, fez um chamado em Lima aos ministros das Finanças para o combate à desigualdade. A América Latina é a região mais desigual do mundo, onde 1% do segmento mais rico da população detém 41% da riqueza, lembrou Lagarde.

Subsídios às energias fósseis

O FMI e o Banco Mundial fizeram um chamado em Lima para o avanço nas duas medidas econômicas mais importantes para realizar a transição à uma economia de baixo carbono no longo prazo: reduzir os subsídios nas energias fósseis e incrementar o preço do carbono. Já as ONGs demandaram que estas medidas se implementassem levando em conta seu impacto sobre os mais pobres.

Segundo a OCDE, anualmente são destinados em todo mundo US$ 200 bilhões para subsidiar o uso das energias fósseis, ou seja, o dobro do valor prometido para o combate às mudanças climáticas (saiba mais).

Segundo a Bank Track Initiative, existe uma responsabilidade dos bancos privados na indústria do carvão, que é o setor que mais emissões de gás de efeito estufa gera: 8 gigatoneladas anuais de CO2 . 

Entre 2005 e 2014, US$ 500 bilhões foram investidos em carvão no mundo. A produção mundial do setor cresceu 69% desde 2000. Por isso, a iniciativa solicita assinaturas de cidadãos para realizar um chamado aos bancos para que realizem compromissos de retirar investimentos do carvão antes da COP-21 de Paris (assine).

“Aqueles atores que estão deixando os combustíveis fósseis estão tendo maiores lucros econômicos”, afirmou Anthony Hobley, da Carbon Tracker. “Hoje os valores das empresas petrolíferas estão em queda. O movimento de desinvestimento nos mostra que o mundo está mudando”, comenta ele, em entrevista para Skynews (leia mais).

Entenda mais sobre finanças e clima aqui e aqui.

* Por Carlos García Paret e Juliana Splendore, especial para o ISA de Paris.


Fonte: ISA
A natureza está falando.
Ator Max Fercondini empresta sua voz para chamar atenção para a ameaça aos corais.

Verdadeiros berçários para centenas de espécies marinhas, os corais de recife contribuem para a cadeia alimentar e para a saúde dos oceanos. Mas, devido ao aumento da temperatura dos oceanos, eles estão sendo ameaçados.

Para falar da importância desses elementos à vida no planeta, a Conservação Internacional produziu um vídeo. Na versão em português, o recife de coral fala na voz do ator e apresentador de TV Max Fercondini. Este curta-metragem faz parte da campanha “A Natureza Está Falando” (“Nature Is Speaking”), lançada em inglês em outubro do ano passado, nas vozes de atores famosos de Hollywood. O “Oceano”, por exemplo, foi narrado por Harrison Ford .

Os outros filmes da campanha, que também mostram elementos da natureza, têm a participação de brasileiros famosos engajados nas causas em defesa do meio ambiente: a cantora Maria Bethânia é a “Mãe Natureza” e atriz Maitê Proença é a “Água”. Ainda serão lançados “Flor”, com a atriz Juliana Paes; “Recife de Coral”, com o ator Max Fercondini; “Solo”, com o cantor Gilberto Gil; e “Floresta”, com o jornalista e apresentador Pedro Bial.
Quer saber mais detalhes sobre a campanha “A Natureza Está Falando”? Acesse o site da Conservação Internacional.


Fonte: Akatu
Um em cada quatro brasileiros usa o ônibus como principal meio de transporte.
Um em cada quatro brasileiros usa ônibus para ir ao trabalho ou à escola todos os dias. Foto: José Cruz/Agência Brasil.

Um em cada quatro brasileiros se desloca de ônibus para as atividades do cotidiano, como ir ao trabalho ou à escola. Os dados constam de um levantamento sobre transporte público encomendado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) e indicam que, diariamente, um quarto dos brasileiros (25%) vai de ônibus para o trabalho ou para a escola.

Os que fazem o percurso a pé somam 22%. Já o automóvel da família é o meio de locomoção adotado por 19% da população, seguido pelo uso de motocicletas (10%) e de ônibus ou van fretados (9%). Apenas 7% dos brasileiros se deslocam, no dia a dia, de bicicleta. É o caso, por exemplo, do copeiro Edmilson Alves, de 31 anos, que trocou o ônibus pela bicicleta para ir ao trabalho e não se arrepende.

Todos os dias, ele sai da Vila São José, em Osasco, município a oeste da Grande São Paulo, rumo à avenida Imperatriz Leopoldina, na Vila Leopoldina, zona oeste da capital paulista. “Eu levava em torno de trinta minutos para chegar aqui e agora são só quinze minutos”, disse.

O Ibope, instituto contratado pela confederação, ouviu 2.002 pessoas, no ano passado, em 142 cidades, e constatou que o brasileiro está mais insatisfeito com as opções de transporte. O percentual de entrevistados que avaliou o transporte como ruim ou péssimo subiu de 26%, em 2011, para 32%, na última sondagem. Já a parcela de brasileiros que avaliou o setor como bom ou ótimo caiu de 39% há quatro anos, para 24%.

Trânsito

Entre os problemas apontados pelos usuários está o tempo gasto para se chegar aos destinos: há quatro anos, 26% das pessoas levavam mais de uma hora para chegar ao destino. O percentual passou para 31%. A maioria (74%) perde até uma hora no trânsito. Em 2011, esse percentual era 69%.

A corretora de imóveis Thais Couri, de 36 anos, mudou-se do Guarujá para São Paulo há seis meses e vai de ônibus para o trabalho. Ela conta que leva uma hora e meia, diariamente, para sair do bairro de Perdizes, na zona oeste, até o Parque D. Pedro, onde trabalha no centro da cidade. “A condução chega a demorar até 45 minutos, às vezes”, disse.

No caso dos brasileiros que levam mais de duas horas no trânsito, 22% estão nos ônibus ante 9% em carros. Já no percurso de até uma hora, 51% ocupam assentos de ônibus enquanto 76% estão em carros.

Em um recorte da pesquisa por gênero, as mulheres (28%) usam mais os ônibus do que os homens (19%) para deslocamentos diários. Elas também andam mais a pé do que eles: 26% dos pedestres são mulheres, ante 17% de homens. Quando o meio de transporte é a bicicleta, a proporção se inverte: 9% dos homens optam por pedalarem no dia a adia, ante 4% de ciclistas mulheres. O mesmo ocorre em relação à motocicleta (13% homens e 7% mulheres) e ao carro (23% homens e 16% mulheres).

A motocicleta é o meio preferido dos jovens enquanto o carro é apontado como ideal pelos mais velhos. No perfil de 16 a 24 anos, 17% disseram que usam a motocicleta, percentual que cai para 3% entre os que tem 55 anos ou mais. Já entre os que usam o carro, 10% estão entre os mais jovens e 21% entre os mais velhos.

Descolamento nas cidades

Entre a população com rendimento de até um salário mínimo, 39% seguem a pé para os seus destinos, 20% vão de ônibus e 3% de carro. Já entre os brasileiros com faixa de renda acima de cinco salários mínimos, quase a metade (48%) tem o carro como principal meio de locomoção, 16% usam ônibus e 12% caminham até seus destinos.

De acordo com o levantamento, quanto menor a cidade, maior o percentual de moradores que vai a pé para o trabalho ou escola. Em cidades menores, com até 20 mil habitantes, 44% dos entrevistados cumprem os trajetos a pé. Em municípios que têm entre 20 mil e 100 mil habitantes, o percentual cai para 31% e apenas 12% caminham em cidades com mais de 100 mil habitantes.

O levantamento detectou ainda que a maioria dos que segue a pé faz essa opção por ser a mais rápida, caso de 37% dos entrevistados. Quem escolhe a bicicleta (54%) aponta a agilidade do modal, mesmo motivo indicado pelos que optam por motocicleta (64%) e pelo carro (58%). Já 44% dos entrevistados que usam o ônibus disseram que este é o único meio de transporte disponível.

Ao perguntar aos usuários como melhorar o transporte público no país, a maioria (47%) sugere aumentar o número de linhas e corredores exclusivos de ônibus. Para 28%, o preço da tarifa deveria ser reduzido. Vinte e um por cento consideram que, para ser mais atrativo, o transporte deveria ser mais seguro, e a mesma parcela, defende investimento em conforto.

Lucas David tem 25 anos e trabalha em uma empresa de biscoito, em Vila Anastácio, na mesma região onde mora. Apesar disso, sente que o tempo que gasta do Rio Pequeno, onde mora, até a empresa aumentou. “Antes eu gastava só 40 minutos, agora chega a uma hora e meia. E demora mais ainda quando eu trabalho em dias de feriado, quando a frota é reduzida em mais de 30%”, lamentou.

Para ele, a frota de ônibus não acompanhou o aumento da demanda. Além disso, ele aponta a necessidade de mais fiscalização para não permitir que veículos comuns transitem nos corredores exclusivos. “Tem também o fato que muitos motoristas não respeitam os corredores [de ônibus]. Precisa de mais fiscalização”, disse.

* Matéria ampliada às 14h27. Edição: Denise Griesinger.


quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Cadeia socioprodutiva do babaçu é foco de estudo no noroeste mato-grossense.
Estudo foi apresentado a agricultores familiares e jovens rurais, na comunidade de Ouro Verde. Foto: Divulgação/ICV

Sucena Shkrada Resk/ICV 

O Instituto Centro de Vida (ICV), por meio de levantamento encomendado à consultoria Ecooideia – Ideias Ambientais e Tecnologias Sociais, apresentou os resultados do Estudo relacionado à cadeia socioprodutiva do babaçu no Noroeste de Mato Grosso, em evento que reuniu mais de 40 pessoas na comunidade Ouro Verde, no Projeto de Assentamento Nova Cotriguaçu, no último dia 21. O trabalho também foi exposto em encontro na Câmara Municipal, no dia 23, que contou com a participação de 15 pessoas. A iniciativa dá prosseguimento a um mapeamento do setor realizado em julho deste ano, que envolve os Grupos de Mulheres das Comunidades de Ouro Verde e de Santa Clara.

Os consultores Fábio Melo e Luciana Rocha identificaram propostas de ações de fortalecimento, como busca e divulgação de tecnologias adequadas ao segmento, capacitações contínuas na área de gestão e boas práticas e incentivo à participação em feiras. Um dos aspectos importantes da consolidação, segundo eles, está na formalização em curto prazo dos grupos de mulheres e comercialização no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), que já tem fluxo no noroeste e norte mato-grossense, em Colniza e Nova Monte Verde, e no Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae).

Antes de buscar uma certificação, a recomendação é que as agricultoras familiares atinjam uma escala de produção significativa em relação ao seu potencial, com infraestrutura e assistência técnica adequadas para a agregação de valor à produção e melhoria do processo produtivo. Essas adequações já estão em curso, com a aquisição de equipamentos para despolpa e corte, entre outros e capacitações realizadas neste ano, Entre elas, boas práticas de fabricação.

Os consultores expuseram que existe um mercado nacional da cadeia socioprodutiva do babaçu no setor de cosméticos, saboaria e energia para o óleo de amêndoa do babaçu, com pelo menos, 11 empresas atualmente. E há cinco organizações do setor de alimentos para a aquisição da farinha de mesocarpo. No Mato Grosso, tanto o óleo como a farinha de babaçu já são utilizados na alimentação pela Pastoral da Saúde, em Colniza, como na mistura da ração animal comercializada pela Cooperativa Agropecuária de Cotriguaçu (Coopercotri).
Estudo também foi apresentado a interessados na cadeia socioprodutiva e gestores públicos, na Câmara Municipal de Cotriguaçu. Foto: Divulgação/ICV.

 ”Um dos objetivos do estudo e das oficinas é fazer sair da invisibilidade a produção do babaçu pelas famílias, para pautar esse tema e do extrativismo como um todo junto aos gestores públicos e em espaços estratégicos de discussão de normas e políticas públicas que balizam a cadeia produtiva”, diz Solène Tricaud, analista de desenvolvimento comunitário do ICV.

Segundo ela, como próximos passos cada ator precisa efetivar as ações levantadas. “O ICV acompanhará a implementação dos planos e ajudará em diversos momentos, tanto a nível local junto aos grupos de mulheres até a nível estadual, levando e discutindo essas informações com a Secretaria de Agricultura e Assuntos Fundiários de Mato Grosso (SEAF).

O estudo integra as ações desenvolvidas pelo Instituto Centro de Vida (ICV), no Projeto Cotriguaçu Sempre Verde – Fase II, que busca consolidar uma nova trajetória de desenvolvimento municipal, pautada na construção de soluções sustentáveis de produção e governança socioambiental. O projeto iniciado em 2011 tem o apoio do Fundo Vale. Também faz parte de ações em parceria com o Projeto PPP-ECOS (Programa de Pequenos Projetos Ecossociais), com recursos do Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN) e com o Fundo Socioambiental CASA.

Veja também:


Fonte: ICV
Aquecimento pode triplicar seca na Amazônia.
Seca em Silves (AM) em 2005. Foto: Ana Cintia Gazzelli/WWF.

Modelos de computador sugerem que leste amazônico, que contém a maior parte da floresta, teria mais estiagens, incêndios e morte de árvores, enquanto o oeste ficaria mais chuvoso.

As mudanças climáticas podem aumentar a frequência tanto de secas quanto de chuvas extremas na Amazônia antes do meio do século, compondo com o desmatamento para causar mortes maciças de árvores, incêndios e emissões de carbono. A conclusão é de uma avaliação de 35 modelos climáticos aplicados à região, feita por pesquisadores dos EUA e do Brasil.

Segundo o estudo, liderado por Philip Duffy, do WHRC (Instituto de Pesquisas de Woods Hole, nos EUA) e da Universidade Stanford, a área afetada por secas extremas no leste amazônico, região que engloba a maior parte da Amazônia, pode triplicar até 2100. Paradoxalmente, a frequência de períodos extremamente chuvosos e a área sujeita a chuvas extremas tende a crescer em toda a região após 2040 – mesmo nos locais onde a precipitação média anual diminuir.

Já o oeste amazônico, em especial o Peru e a Colômbia, deve ter um aumento na precipitação média anual.

A mudança no regime de chuvas é um efeito há muito teorizado do aquecimento global. Com mais energia na atmosfera e mais vapor d’água, resultante da maior evaporação dos oceanos, a tendência é que os extremos climáticos sejam amplificados. As estações chuvosas – na Amazônia, o período de verão no hemisfério sul, chamado pelos moradores da região de “inverno” ficam mais curtas, mas as chuvas caem com mais intensidade.

No entanto, a resposta da floresta essas mudanças tem sido objeto de controvérsias entre os cientistas. Estudos da década de 1990 propuseram que a reação da Amazônia fosse ser uma ampla “savanização”, ou mortandade de grandes árvores, e a transformação de vastas porções da selva numa savana empobrecida.

Outros estudos, porém, apontaram que o calor e o CO2 extra teriam o efeito oposto – o de fazer as árvores crescerem mais e fixarem mais carbono, de modo a compensar eventuais perdas por seca. Na média, portanto, o impacto do aquecimento global sobre a Amazônia seria relativamente pequeno.

Ocorre que a própria Amazônia encarregou-se de dar aos cientistas dicas de como reagiria. Em 2005, 2007 e 2010, a floresta passou por secas históricas. O resultado foi ampla mortalidade de árvores e incêndios em florestas primárias em mais de 85 mil quilômetros quadrados. O grupo de Duffy, também integrado por Paulo Brando, do Ipam (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia), aponta que de 1% a 2% do carbono da Amazônia foi lançado na atmosfera em decorrência das secas da década de 2000. Brando e colegas do Ipam também já haviam mostrado que a Amazônia está mais inflamável, provavelmente devido aos efeitos combinados do clima e do desmatamento.

Os pesquisadores simularam o clima futuro da região usando os modelos do chamado projeto CMIP5, usado pelo IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática) no seu último relatório de avaliação do clima global. Um dos membros do grupo, Chris Field, de Stanford, foi um dos coordenadores do relatório – foi também candidato à presidência do IPCC na eleição realizada na semana passada, perdendo para o coreano Hoesung Lee.

Os modelos de computador foram testados no pior cenário de emissões, o chamado RMP 8.5, no qual se assume que pouca coisa será feita para controlar emissões de gases-estufa.

Eles não apenas captaram bem a influência das temperaturas dos oceanos Atlântico e Pacífico sobre o padrão de chuvas na Amazônia – diferenças entre os dois oceanos explicam por que o leste amazônico ficará mais seco e o oeste, mais úmido –, como também mostraram nas simulações de seca futura uma característica das secas recorde de 2005 e 2010: o extremo norte da Amazônia teve grande aumento de chuvas enquanto o centro e o sul estorricavam.

Segundo os pesquisadores, o estudo pode ser até mesmo conservador, já que só levou em conta as variações de precipitação. “Por exemplo, as chuvas no leste da Amazônia têm uma forte dependência da evapotranspiração, então uma redução na cobertura de árvores poderia reduzir a precipitação”, escreveram Duffy e Brando. “Isso sugere que, se os processos relacionados a mudanças no uso da terra fossem mais bem representados nos modelos do CMIP5, a intensidade das secas poderia ser maior do que a projetada aqui.”

O estudo foi publicado na PNAS, a revista da Academia Nacional de Ciências dos EUA.