quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Nova abordagem no combate à fome.
O camponês Vicente Castrellón, de 69 anos, mostra sua plantação de arroz biofortificado no distrito de Olá, no Panamá, uma das iniciativas que há na América Latina para impulsionar, ao mesmo tempo, a pequena agricultura familiar e combater a fome. Foto: Fabíola Ortiz/IPS.

Por Fabíola Ortiz, da IPS – 

Nações Unidas, 6/10/2015 – A proporção de pessoas subalimentadas na América Latina e no Caribe caiu de 14,4% em 1990 para 5,1% em 2014, mas ainda falta uma abordagem multidimensional para garantir a segurança alimentar dos mais de 50 milhões de pessoas que saíram da pobreza extrema nos últimos 15 anos.

“Segurança alimentar não é só ter acesso a alimentos, mas ter uma cesta de alimentos nutritivos com qualidade. Não é só o problema da desnutrição, o que falta é uma boa alimentação”, disse na sede da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque a secretária-executiva da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), Alicia Bárcena.

Nos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), que foram substituídos em uma cúpula mundial realizada no mês passado na sede da ONU pelos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), “estávamos concentrados no combate à fome e a partir de agora nos focamos na segurança alimentar’, acrescentou durante encontro com a IPS e outros quatro jornalistas.

Os oito ODM, estabelecidos pela comunidade internacional em 2000, representaram um esforço mundial par ao combate à pobreza e à redução de desigualdades, com metas que tomaram como base o ano de 1990 e deveriam ser cumpridas até o final deste ano.

Agora, uma centena e meia de chefes de Estado e de governo estabeleceram a Agenda 2030, com 17 ODS para que em mais 15 anos a humanidade conte com um mundo mais sustentável, igual e inclusive. Segundo Bárcena, os ODM representaram uma agenda que mirava as “necessidades básicas” e não se focava tanto em assuntos estruturais.

“Na América Latina, o tema estrutural é a desigualdade, a grande pedra no caminho que é um obstáculo ao nosso desenvolvimento. Somos a região mais desigual do mundo. Os ODS chegam com uma agenda integradora com uma perspectiva universal unindo os pilares econômicos, sociais e ambientais”, afirmou Bárcena.

Dados da Cepal mostram que os países da região fizeram um grande esforço para reduzir a pobreza. Entre 2003 e 2008, mais de 50 milhões de pessoas deixaram de viver na extrema pobreza. Porém, ainda existem 76 milhões nestas condições – aproximadamente 12% da população da região – e a fome afeta mais de 34 milhões de pessoas.

Em 1990, 14,4% da população latino-americana sofria fome, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO). A prevalência caiu para 5,1%. A pobreza também diminuiu e passou a afetar 28% da população, contra 44%. Mas, persistem grandes disparidades.
A secretária-executiva da Cepal, Alicia Bárcena, durante um encontro a IPS e outros quatro jornalistas na sede das Nações Unidas em Nova Iorque. Foto: Fabíola Ortiz/IPS.

Na América do Sul a subalimentação está abaixo dos 5%, e é nesta área onde apresenta maiores avanços. A América Central apresenta uma tendência de redução da fome, embora de menor proporção, ao passar de 10,7% para 6,6% entre 1990 e 2014. O Caribe é a área mais atrasada. 

Atualmente 7,5 milhões de pessoas sofrem fome, um escasso avanço desde 1990, quando a extrema pobreza afetava 8,1 milhões de caribenhos. A proporção diminui apenas de 27% para 19,85.

Agora, nos ODS, o enfoque da luta contra a fome muda de um olhar setorial para uma perspectiva transversal e intersetorial. “Cremos que é possível alcançar a meta, até 2030, de erradicar a pobreza por completo na América Latina. Agora é preciso nos concentrarmos também na segurança alimentar”, afirmou Bárcena.

Segundo a FAO, os países mais vulneráveis são Haiti com 53,4% de sua população subalimentada, Nicarágua com 16,6%, Bolívia 15,9% e Guatemala 15,6%.

O lançamento da Agenda 2030 surge em um contexto global de crise financeira que pode entorpecer o começo dos ODS. “Estamos muito preocupados quanto ao início deste primeiro ano da nova agenda em meio a um contexto econômico mundial tão cinza”, afirmou a secretária-geral da Cepal.

A economia da região crescerá somente um por cento este ano, segundo previsões da comissão, ligeiramente inferior ao ano passado. Esta novo entorpecimento se deve à paralisia econômica sul-americana, onde se observará uma taxa de crescimento nula em 2015.

Na opinião do presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, um modelo que pode ter sucesso é o estabelecimento de iniciativas com múltiplas partes interessadas, para somar esforços em causas comuns.

Um exemplo é a plataforma de financiamento público-privado AgroLAC 2025, lançada este ano com o objetivo de estimular o desenvolvimento agrícola sustentável na região e reforçar seu papel de celeiro mundial de alimentos. “Este é um modelo inovador, a ideia é aportar US$ 50 milhões nos próximos cinco anos à iniciativa”, disse Moreno à IPS.

Segundo o presidente do BID, metade dos alimentos produzidos provém dos 14 milhões de pequenos produtores rurais que há na região. “Queremos aumentar a produtividade dos pequenos agricultores e melhorar suas vidas. O grande desafio que o mundo tem é como cumprir estas metas (ODS) e como fazê-lo com investimentos público-privado. E aqi o estamos mostrando”, acrescentou Moreno.

A plataforma AgroLAC 2025 foi estabelecida pelo BID em colaboração com a organização The Nature Conservancy, dedicada a proteger a biodiversidade, e com apoio inicial da empresa norte-americana The Dow Chemical Company, uma das maiores empresas do setor químico do mundo. O objetivo da iniciativa é beneficiar 800 mil agricultores de 26 países nos próximos 10 anos.

A coordenadora da AgroLAC e especialista sênior de operações do BID, Ginya Truitt Nakata, disse que não há nenhuma iniciativa semelhante na região. “Nos focaremos em três pilares: produtividade agrícola sustentável, planejamento agroambiental e ajudar a conectar os produtores rurais com o mercado. Queremos trabalhar em todos os níveis da cadeia de fornecimento. Esta é uma rechã que requer solução na região”, disse Nakata à IPS.

Para esta especialista, trata-se de uma resposta à visão estendida de que a América Latina conta com água, terras e inovação necessárias para expandir seus recursos agropecuários de forma sustentável e sem nova perda de ecossistemas.

“A região é grande produtora de alimentos, mas já perdeu 40% de suas florestas. Agora é preciso unir conservação ambiental e produção de alimentos. Não existe uma solução única, vamos adaptar de acordo com as características de cada comunidade”, afirmou Nakata.


Fonte: ENVOLVERDE

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