segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Paris aponta caminhos para o futuro.
Foto: Shutterstock

COP21 inova ao tratar dos temas relativos ao clima com o enfoque mais econômico do que ambiental.

Por Dal Marcondes e Reinaldo Canto*

Pela primeira vez em uma COP os presidentes de algumas das nações mais poderosas do mundo se envolveram pessoalmente para obter os compromissos necessários para um acordo. François Hollande apostou todas as fichas em encontros bilaterais com muitos dos 150 Chefes de Estado que foram a Paris. Isso deu aos negociadores uma plataforma de diálogo consistente, pois já havia uma base negociada com seus líderes. Até mesmo o presidente Barack Obama gastou os dedos em telefonemas para aliados e para colegas relutantes, como o presidente chinês Xi Jinping, que acabou autorizando uma proposta de redução das emissões a partir de um pico em 2030.

O Presidente da Conferência, Laurent Fabius, ministro de Negócios Estrangeiros da França, também foi pródigo em encontros bilaterais com os negociadores para ajudar a destravar o caminho do Acordo de Paris. Os primeiros rascunhos chegavam a mais de 100 artigos e um texto que mais parecia um tratado de detalhes do que um acordo capaz de encampar as aspirações e necessidades de todos os 195 países envolvidos, o texto final foi organizado em 29 artigos. A própria presença de Fabius à frente da organização e da direção da COP foi uma inovação uma vez que a tradição sempre apontou como responsável o ministro do meio ambiente do país anfitrião.  As duas semanas da COP21 deixaram claro que não se tratou de um evento ambiental, mas sim uma reunião para desenhar o futuro da economia global.

O protagonismo das empresas é fundamental para a construção dessa nova economia descarbonizada e isso ficou explícitopela participação de empresas globais de muitos setores e de suas representações organizadas. O Brasil levou a Paris a direção do CEBDS, da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e a Iniciativa Empresarial pelo Clima, além do tradicional Instituto Ethos.  Para a maior parte dos empresários e executivos presentes a participação das empresas nas conversas com os governos dos países onde atuam, e durante a COP foi importante, porque as áreas que irão precisar de mais transformações estão justamente em cenários empresariais, como a geração e uso de energias, meios de transportes de pessoase cargas, produção industrial e o fomento a um agronegócio de baixo carbono.  Para Marina Grossi, presidente do CEBDS, a aproximação de temas como agricultura e florestas é estruturante em um país como o Brasil. “Temos um agronegócio forte e há muitas oportunidades em conduzir o setor para um modelo de produção de baixo carbono e de integração com os biomas naturais”, explicou.

O mundo empresarial tem demonstrado o pragmatismo dos negócios, empresas globais, muitas delas presentes na COP de Paris, já incorporaram o horizonte de baixo carbono em seus cenários de presente e futuro. “Quando as empresas percebem uma tendência clara, redirecionam seus esforços para manter a competitividade”, explicou Ricardo Young, ex-presidente do Instituto Ethos e atual vereador em São Paulo.  O mesmo tem acontecido com os grandes bancos brasileiros e globais, que terão uma responsabilidade importante na oferta de crédito para o setor privado nessa guinada para uma economia de menor impacto ambiental.  Para Roberto Waack, coordenador da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, não há soluções únicas para o avanço da descarbonização dos diversos setores da economia. “A diversidade de abordagens vai garantir enormes oportunidades para inovação e novos negócios”, explicou.

Os representantes brasileiros na COP21 tiveram um papel ativo na estruturação do Acordo de Paris. O embaixador Luiz Alberto Figueiredo e a ministra do meio Ambiente Izabella Teixeira foram reconhecidos, em um telefonema do presidente norte-americano Barack Obama à presidente Dilma na segunda-feira, dia 15.  Entre as contribuições importantes do Brasil está a adoção do modelo móvel de responsabilidade dos países pobres, que deverão assumir mais responsabilidades à medida em que suas economias se fortaleçam. “É um acordo de longo prazo, é preciso haver mobilidade de metas e compromissos”, explicou Izabella Teixeira.

Membros de organizações sociais e da representação oficial brasileira entendem que oAcordo de Paris não deve ser visto como um documento final, mas como um passo importante para dar início a uma transição econômica e a uma nova ordem no cenário multilateral. Para Carlos Rittl, do Observatório do Clima, “o acordo foi construído sobre compromissos voluntários em corte de emissões e financiamento, tudo dependerá de se manter esse espírito de engajamento”.

No encerramento da conferência a brasileira Raquel Rosenberg, representante da organização Engajamento, falou em nome da juventude global sobre a importância do Acordo de Paris para um futuro onde a economia será descarbonizada e as florestas estarão protegidas. Raquellembrou que desde a Conferência Rio92 os países ricos não se moveram para ampliar o financiamento e a transferência de tecnologias limpas aos países pobres, e que agora isso não pode mais ser adiado. “Nesta geração as mudanças climáticas saíram das projeções científicas para as tragédias dos eventos extremos”, disse a militante.  E avisou: “Nós, jovens, estaremos acompanhando todos vocês em seus países”.

Dal Marcondes é jornalista, diretor da Envolverde e especialista em meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Reinaldo Canto é colunista do site de Carta Capital e foi enviado especial do Portal Envolverde a Paris.


Fonte: ENVOLVERDE

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