terça-feira, 15 de março de 2016

Crescimento da classe média em risco.
Complexo residencial na Romênia. O crescimento da classe média está em risco na Europa oriental e na Ásia central, segundo estudo do Pnud. Foto: Claudia Ciobanu/IPS.

Por Thalif Deen, da IPS – 

Nações Unidas, 16/2/2016 – A Agenda de Desenvolvimento Pós-2015, da Organização das Nações Unidas (ONU), que governantes de todo o mundo aprovaram em uma reunião de cúpula realizada em setembro, inclui uma meta muito ambiciosa – a erradicação da pobreza extrema até 2030.A redução da pobreza refletida no cumprimento parcial dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), cujo prazo terminou em dezembro, teve o surgimento de uma nova classe média como uma consequência positiva.

No entanto, um estudo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) indica que vários fatores estariam pondo em risco a queda da pobreza e o fortalecimento da classe média, como a redução nos preços das matérias-primas e a redução das remessas de dinheiro, especialmente na Europa oriental e Ásia central. Nessas duas regiões, a classe média cresceu de 33 milhões de pessoas, em 2001, para 90 milhões, em 2013, segundo os últimos dados disponíveis.

“Em muitos sentidos, a história nessa região difere do que ocorre em outras partes do mundo. A proporção de pessoas que vivem com US$ 10 ou US$ 50 por dia aumentou na maioria desses países”, afirmou Cihan Sultanoglu, diretora do escritório regional do Pnud para a Europa e a Comunidade de Estados Independentes. A extrema pobreza atinge pessoas que vivem com menos de US$ 1,25 por dia.

Nesse mesmo período, o número de pessoas da região que viviam na pobreza diminuiu de 46 milhões, em 2001, para, aproximadamente cinco milhões, em 2013. “Mas os avanços da região estão ameaçados, e é preciso prestar atenção na melhora de suas perspectivas de desenvolvimento sustentável”, advertiu Sultanoglu à IPS.Segundo a diretora do Pnud, as oportunidades geradoras de renda e emprego estão desaparecendo devido ao colapso dos preços dos produtos básicos, à queda nas remessas e ao lento crescimento econômico na Europa, Rússia e em grande parte da região.

“Que impacto pode ter a desigualdade na redução da pobreza? Nessa região é fundamental que a desigualdade seja baixa, ou esteja em queda, para as perspectivas de redução da pobreza, crescimento integrador e desenvolvimento sustentável”, ressaltou Sultanoglu.

No dia 8 deste mês, diante da Comissão das Nações Unidas para o Desenvolvimento Social, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que “a experiência demonstrou que a prosperidade da economia não basta para erradicar a pobreza e promover a prosperidade compartilhada. Aeconomia deve ser posta a serviço das pessoas, mediante políticas sociais integradas e eficazes”.Segundo Ban, “a crescente brecha entre ricos e pobres marginaliza e afasta os mais vulneráveis da sociedade”.

Nesse sentido, Ben Slay, economista do Pnud para Europa oriental e Ásia central, opinou à IPS que “é improvável um crescimentoda classe média muito maior em 2016 ou 2017, devido ao difícil contexto de crescimento geral”. O estudo do Pnud calcula que aproximadamente 50% dos trabalhadores daAlbânia,Azerbaijão, Georgia, Quirguistão e Tajiquistão estão em situação de emprego vulnerável.

Vinicius Pinheiro, diretor do escritório da ONU na Organização Internacional do Trabalho, disse à Comissão de Desenvolvimento Social que, em 2015, outro 0,7 milhão de pessoas engrossaram as filas do desemprego, alcançando um total de 197,1 milhões no mundo. Isso equivale ao crescimento de um milhão de desempregados em relação a 2014 e mais de 27 milhões em relação aos níveis anteriores à crise.

Segundo o Pnud, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), aprovados em setembro, estão dedicados a combater a desigualdade e a exclusão. E os 193 Estados membros da ONU se comprometeram a erradicar a pobreza, combater desigualdades mediante a construção de sociedades pacíficas, inclusivas e resistentes, e assegurar o futuro do planeta e o bem-estar das gerações futuras.

Cerca de 1,5 bilhão de pessoas vivem na pobreza, segundo o Índice de Pobreza Multidimensional do Pnud, e quase 800 milhões são vulneráveis de recaírem nela. Das pessoas de idade avançada, 80% carecem da proteção social básica, o que as converte em um setor especialmente em risco. “O desafio não é só tirar as pessoas da pobreza, mas garantir que esta saída seja permanente”, destacou a administradora do Pnud, Helen Clark.

“Isso é difícil se não existe proteção social e nos casos em que as sociedades são vulneráveis a conflitos armados e enormes retrocessos devido a desastres naturais”, indicouClark. “Na medida em que avançarem as economias emergentes dinâmicas e as sociedades estáveis, veremos de forma crescente que a extrema pobreza se localizará nas zonas expostas a conflitos e com alto risco de desastres, e onde há mau governo e escasso império da lei”, pontuou.

Portanto, será um exercício inútil falar sobre a erradicação da pobreza se o contexto no qual existe não é abordado, ressaltouClark.“No Pnud, esperamos que a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015 assuma esses desafios. Também esperamos desempenhar plenamente nossa parte na construção de sociedades mais inclusivas, pacíficas e resilientes, que possam promover o desenvolvimento humano”, afirmou.

A batalha contra a pobreza também deve lidar com os conflitos bélicos e as crises humanitárias. 

“Vivemos em um mundo de confusão e problemas”, afirmou Ban no dia 9 deste mês. Embora, talvez, existam menos guerras entre os países, há mais insegurança, apontou.Segundo o secretário-geral, “a desigualdade continua sendo muito elevada, e afeta os esforços de redução da pobreza e a coesão social nos países industrializados e em desenvolvimento”.

Muitas pessoas continuam sofrendo exclusão e não podem desenvolver todo seu potencial. Poucas economias alcançaram um crescimento inclusivo e sustentável e podem promover um verdadeiro progresso social, enfatizou Ban.“As pessoas estão frustradas. Trabalham mais e ficam para trás. Com muita frequência, em lugar de decisões, veem um caminho sem saída. E perguntam: os governantes ao menos escutam?”, concluiu o secretário-geral.


Fonte: ENVOLVERDE

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