Zika: Serviços adequados de água e saneamento são a melhor resposta.
Em meio à falta de saneamento, moradores
equilibram-se em ‘ruas’ de madeira para chegar a suas casas em Altamira, no
Pará. Foto: Valter Campanato/ABr.
“Há um forte vínculo entre sistemas de saneamento
deficientes e o surto atual do vírus zika, bem como a dengue, a febre amarela e
o chikungunya, sendo todos eles transmitidos por mosquitos”, afirmou o relator
especial sobre água e saneamento, que divulgou comunicado sobre o tema com três
outros especialistas independentes.
Por Redação da ONU Brasil –
“Enquanto o mundo procura soluções de alta
tecnologia para combater o vírus zika, não devemos esquecer o péssimo estado do
acesso à água e ao esgotamento sanitário para as populações desfavorecidas”,
afirmou o relator especial das Nações Unidas para o direito humano à água e ao
saneamento, Léo Heller.
Na sexta-feira (11), Heller e outros três
especialistas independentes da ONU divulgaram um comunicado alertando para o
tema.
“Podemos criar mosquitos estéreis ou utilizar
ferramentas da Internet para mapear dados globalmente, mas não devemos esquecer
que, atualmente, há 100 milhões de pessoas na América Latina que ainda carecem
de acesso a sistemas adequados de saneamento, e 70 milhões de pessoas que não
têm água encanada em seus terrenos ou dentro de suas residências”, enfatizaram
os especialistas no comunicado.
“Há um forte vínculo entre sistemas de saneamento
deficientes e o surto atual do vírus zika, bem como a dengue, a febre amarela e
o chikungunya, sendo todos eles transmitidos por mosquitos”, afirmou Heller. “A
maneira mais efetiva de enfrentar esse problema é melhorar esses serviços”,
acrescentou.
O especialista destacou que a região da América
Latina cumpriu a meta referente ao abastecimento de água dos Objetivos do
Desenvolvimento do Milênio das Nações Unidas em 2010, mas esses avanços ainda não
estão ao alcance de todos.
No que diz respeito ao saneamento básico, o
objetivo não foi cumprido e 3 milhões de pessoas ainda defecam a céu aberto.
“Devido às definições mais estritas desses objetivos no marco dos novos
Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, a falta de acesso à água segura e
saneamento básico na região será expressa em termos mais dramáticos”, advertiu.
“Quando as pessoas têm condições de vida e de
moradia inadequadas e não têm acesso a serviços bem geridos de abastecimento de
água, elas tendem a armazenar água de maneira insegura, favorecendo a
propagação de mosquitos”, observou a especialista das Nações Unidas sobre
moradia adequada, Leilani Farha.
“Além disso, os sistemas precários de saneamento
básico, nos quais o esgoto escorre em canais abertas e é disposto em fossas
inadequadas, resultam em água estagnada – a condição perfeita para a
proliferação de mosquitos.”
Para as pessoas da região, o direito ao desfrute
dos mais elevados padrões de saúde física e mental encontra-se seriamente
comprometido neste momento. Isso é diretamente vinculado à falta de acesso à
água segura e ao esgotamento sanitário por grandes proporções da população.
Na região latino-americana, são os mais pobres e
marginalizados que sofrem de maneira desproporcional pela carga adicional do
vírus zika, sendo que este é potencialmente associado com a microcefalia –
bebês nascidos com o tamanho de cabeça anormalmente pequeno – e a Síndrome de
Guillan-Barré (uma condição neurológica), além de outras doenças transmitidas
por mosquitos.
Essas “novas” doenças representam um peso a mais
sobre as mulheres, que carregam o fardo do medo durante suas gravidezes e,
muitas vezes, cuidam das crianças que potencialmente adoecem. As mulheres e
crianças são afetadas de forma desproporcional pelo surto atual do vírus zika.
Os sistemas de saúde precisam estar prontos para atender as necessidades e os
direitos relativos à saúde dessas pessoas, no sentido de garantir sua autonomia
e envolvê-los nas medidas que as afetam.
“Os governos dessa região devem acelerar a melhoria
das condições relativas à água e ao saneamento, particularmente para as
populações mais vulneráveis, de modo a salvar vidas diante do desenvolvimento
dessa crise global”, completou Heller.
Os relatores especiais fazem parte do que é
conhecido como os procedimentos especiais do Conselho de Direitos Humanos.
‘Procedimentos Especiais’, o maior órgão de peritos independentes no sistema de
direitos humanos das Nações Unidas, é o nome atribuído aos mecanismos de
inquérito e de monitoramento independentes do Conselho, que trabalha sobre
situações específicas de cada país ou questões temáticas em todas as partes do
mundo.
Especialistas em Procedimentos Especiais trabalham
numa base voluntária; eles não são funcionários da ONU e não recebem um salário
pelo seu trabalho. São independentes de qualquer governo ou organização e
prestam serviços em sua individualidade.
Para mais informações e solicitações de imprensa,
clique aqui.
Fonte: ONU Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário