quarta-feira, 29 de junho de 2016

Seca expõe problemas de irrigação em Cuba.
Uma das máquinas de irrigação por aspersão na fazenda La Yuraguana e que várias vezes este ano não pôde ser usada por falta de água em uma represa próxima, devido à seca que assola a província de Holguín e muitas outras áreas de Cuba. Foto: Ivet González/IPS

Por Ivet González, da IPS – 

Holguín, Cuba, 24/6/2016 – Cinco modernas e chamativas máquinas irrigam os 138 hectares da fazenda estatal La Yuraguana, na província de Holguín, a terceira mais importante de Cuba. Mas,“às vezes, não podem ser ligadas devido ao baixo volume de água”, explicou seu administrador, EdilbertoPupo.“Os últimos três anos foram tensos pelas poucas chuvas. E para regar nos abastecemos de uma represa que quase secou”, contou à IPS o responsável pela exploração, que em 2008 recebeu novos sistemas de irrigação graças ao financiamento internacional.

As máquinas do tipo com pivô central, montadas em Cuba com componentes europeus, irrigam pelo método de aspersão, que imita a chuva que cai sobre ou entre as plantas. Desde o final de 2014, Cuba sofre a seca mais severa dos últimos 115 anos, que alerta para a urgência de modernização e ajuste da gestão da água no setor agropecuário aos desafios climáticos, entre outros problemas, como desperdício devido ao mau estado das redes hidráulicas, ineficientes políticas de economia e pouca medição do volume entregue.

O processo de reformas,iniciadonesse país em 2008, ainda não conseguiu levantar o setor agropecuário, que, ainda assim, é o maior consumidor de água, ao absorver 65% do total de extrações para irrigação, aquicultura e pecuária.A situação se torna complexa para o futuro porque as secas serão cada vez mais estacionais no Caribe, como efeito da mudança climática, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) anuncia em seu último estudo sobre a área, divulgado no dia 21 deste mês.

“A agricultura será o setor mais afetado, com graves consequências econômicas e sociais, já que a maioria da agricultura do Caribe é de terra seca”,além de se observar maior demanda de abastecimento de água doce pelo “uso cada vez mais generalizado da irrigação”.Dos 36 países com maior escassez de água no mundo, sete são caribenhos, segundo a FAO.Comono resto do leste cubano, a região do país que mais sofre secas, os camponeses da província de Holguín enfrentam o problema com outras alternativas e sabem que, em situações extremas, as máquinas de irrigação de pouco servem.
O camponês Julio César Pérez na plantação de mandioca em uma das propriedades da Cooperativa de Crédito e Serviços Eduardo R. Chibás, na província de Holguín, em Cuba. Graças a um sistema de irrigação instalado em 2010, o rendimento da cooperativa aumentou 70%. Foto: Ivet González/IPS

“Nos momentos mais críticos, tivemos que semear cultivos resistentes, como mandioca e banana, que se mantêm até serem colhidos”, explicouPupo, sobre a fazenda que vende hortaliças, grãos, frutas e tubérculos paraos 287.800 habitantes da cidade de Holguín, capital da província.A meta de produção para 2016 de La Yuruguana, com 93 trabalhadores, dos quais 14 são mulheres, é de cerca de 840 toneladas de alimentos, que são vendidos diretamente para mercados na cidade.

“Esperamos que São Pedro nos ajude, que chova e a represa encha para podermos regar e produzir sem parar”, destacouPupo, se referindo ao santo católico cuja data é comemorada no dia 29 de junho, e que os crentes rurais invocam porque lhe atribuem o poder de fazer chover. A área agrícola de Cuba chega a 6.240.263 hectares, dos quais apenas 459 mil dispõem de sistemas de irrigação, a maioria com tecnologias obsoletas, segundo o informe governamental Panorama doUso da Terra. Cuba 2015.

Atualmente, apenas 11% das terras cultivadas são irrigadas, mas a FAO prevê que, até 2020, a superfície equipada praticamente duplicará e cobrirá cerca de 875.600 hectares, mediante um programa, iniciado em 2011, de modernização das máquinas e reorganização da irrigação e da drenagem no setor agropecuário. A irrigação eleva em até 30% os rendimentos agrícolas, segundo especialistas do setor.

As autoridades cubanas desejam que a produção local alivie o gasto de US$ 2 bilhões anuais em alimentos importados, para atender a demanda dos 11,2 milhões de habitantes e dos turistas que chegam ao país, que em 2015 foram três milhões.O agrônomo Theodor Friedrich, representante da FAO em Cuba, opinou à IPS que “a irrigação não é a resposta à seca”.

Cuba“deveria reduzir o uso da irrigação em lugar de estendê-lo”, aconselhouFriedrich, porque espremer as fontes de água, sobretudo as subterrâneas, pode levar “à degradação e salinização acelerada dos recursos hídricos”.A alternativa “é aplicar técnicas de economia de água de forma imediata, como reduzir as perdas ao longo da rede de distribuição, evitar qualquer irrigação por aspersão, aplicar diretamente a água no solo e regar segundo as necessidades do cultivo, considerando também as previsões meteorológicas”, destacou.

Para o agrônomo, a solução sustentável reside “no manejo do solo”, com técnicas de conservação. 

Também destacou que a agricultura ecológica “permite produzir mais com menos água e abre os solos para que as futuras chuvas possam se infiltrar de forma completa e encher o aquífero”. Por sua geografia, sem grandes lagos e rios, Cuba depende das chuvas, cuja água retém em 242 represas e dezenas de microrrepresas.

Como o representante da FAO, especialistas locais desaconselham levar ao extremo a exploração subterrânea, porque há o risco de salinização e perda da fonte de água doce. Originada no fenômeno El Niño/Oscilação do Sul, que causou estragos este ano na América Latina, a atual escassez de água afetou 75% do território cubano, segundo fontes oficiais, com os maiores danos em Santiago de Cuba, província vizinha de Holguín.
Um reservatório quase vazio, perto da fazenda La Yuraguana, que recolhe água de chuva, que é usada pelos camponeses dos subúrbios rurais da cidade de Holguín para dar de beber ao gado. Foto: Ivet González/IPS

Apesar de medidas que priorizam o consumo da população sobre a agricultura e as indústrias, um milhão de pessoas sofreu em maio alguma limitação no acesso a água, informou o estatal Instituto Nacional de Recursos Hídricos.

No dia 20 deste mês, a União Europeia anunciou que entregará cem mil euros adicionais a Cuba, por intermédio da Cruz Vermelha, para dar assistência a dez mil pessoas prejudicadas pela seca em Santiago de Cuba. O apoio busca melhorar o acesso a água segura, com a entrega de equipamentos de transporte, reservatórios e materiais para tratá-la. Apesar disso, responsáveis do setor agrícola e camponeses veem a irrigação como fundamental para disparar a produção.

“O rendimento com os ciclos exigidos de irrigação é muito maior do que quando se espera pela natureza”, argumentou Abdul González, vice-prefeito para a agricultura do governo municipal de Holguín. “Hoje, 80% de nossas áreas cultivadas estão desprotegidas de irrigação”, afirmou à IPS.“Os camponeses de todas as formas produtivas (Estatal, privada e cooperativa) pedem sistemas de irrigação, inclusive alguns fazem tanques e poços para minorar um pouco a situação”, pontuou.

Na Cooperativa de Créditos e Serviços Eduardo R. Chibás, próxima a La Yuraguana, Virgilio Díaz, usufrutuário com 22 hectares onde planta alho, milho, batata-doce, papaia e sorgo, atribui parte de seu êxito ao sistema de irrigação que pôde comprar em 2010,por intermédio da associação de 140 integrantes.“A renda aumentou em mais de 70%, e melhoramos os salários, pude pedir mais terra em usufruto e construí uma nova casa”, ressaltou à IPS esse produtor, que costuma obter, junto com seus cinco trabalhadores, 200 toneladas anuais de alimentos, em condições climáticas favoráveis.


Fonte: ENVOLVERDE
Por que tanto medo da sustentabilidade?
No Brasil, muitas práticas importantes de manejo têm sido usadas. Na foto, feira de agricultura familiar em Brasília. Foto: Tony Winston/ Agência Brasília/Fotos Públicas.

É estranha a pouca ousadia dos agricultores brasileiros no uso de tecnologias poupadoras de solos, ambiente e bolsos.

Por Rui Daher*

Muitas vezes volto de Andanças Capitais certo de que grande parte dos agricultores brasileiros pensa sustentabilidade como o desejo pessoal de sustentar-se.

Viagem anual a Miami, caminhonete nova, colheitadeira mais potente, toneladas de agroquímicos para aplicarem em suas lavouras. Luxo, comodismo e tradição, enfim.

Maltrato-os? Verão que não. Tanto os mais capitalizados como os que se valem de financiamento subsidiado pelo governo, safra após safra, repetem os mesmos manejos nutricionais e fitossanitários de altos custos, até cartelizados, sem que isso lhes garanta efetividade ou evite riscos.

É estranha sua pequena ousadia no uso de tecnologias poupadoras de solos, ambiente e bolsos.

Pode parecer fascínio pelo jogo. Driblar os humores de Chicago, Nova York e o apetite chinês, emociona. Roleta girando! Preto: “Ufa, mais um ano sustentável”. Vermelho: “Ferrou. Os EUA produziram muito, os subsídios europeus nos massacraram, os chineses pousaram pesado, o clima não colaborou, a infraestrutura e a Dilma também. Ficamos insustentáveis”.

Cada país cultiva e produz alimentos de acordo com suas aptidões regionais e hábitos alimentares. 

Este o motivo para a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) medir a produção mundial dos mais de 250 países, através dos 20 principais alimentos lá produzidos.

Em 2012 (o último divulgado), a produção global de alimentos alcançou 9,2 bilhões de toneladas, época em que a população mundial acabara de chegar aos sete bilhões.

Uma ração anual per capita de 1,3 tonelada, confortável para ninguém passar fome. Sobrariam ainda alpiste para pássaros, rãs para apreciadores e quinoa para veganos.

Nessa relativa fartura, contribuem: a União Europeia (22%); China (15%); Brasil (11%); EUA (8%); e África (7%). Mais de 60%.

Se, de um lado, tais expressões produtivas são repassadas às conquistas agroquímicas, de outro lado, elas começam a ser percebidas como limitantes da produtividade agrícola futura. Embora milhares de moléculas sejam patenteadas a cada ano, suas efetividades pouco acrescem aos níveis já alcançados nas principais regiões de agricultura.

Em artigo no China Daily, Asia Weekly, os pesquisadores em sustentabilidade agrícola e energética, Colin Osborne, Duncan Cameron e Mark Sinclair, da University of Sheffield, no Reino Unido, afirmam: “A união das práticas antigas à biotecnologia moderna é a chave para alimentar a crescente população global”.

Essa a crítica aos nossos agricultores, submissos à pressão dos grandes fabricantes de agroquímicos, equivocados por dois fatores. A primeira é a de que produtos orgânicos e naturais se aplicam apenas em cultivos de baixa escala. A segunda é a cegueira ambientalista de não os permitirem associados às tecnologias minerais e de baixo impacto ambiental em doses mais baixas.

São erros dos produtores rurais, principalmente os grandes, coonestados por órgãos oficiais regulatórios, educacionais e dos técnicos, consultores e agrônomos, indutores do discurso agroquímico de massa.

A China possui ao redor de 9% das terras agricultáveis do planeta. Ainda assim, é exportadora líquida de alimentos e supre um mercado interno que representa 21% da população global.

Tais resultados, até aqui, vieram da prática de agricultura intensiva.

Reformulam. Perceberam os altos custos dessa receita, os índices de erosão, poluição do solo, escassez de água e perda de biodiversidade, daí decorrentes.

Pesadas adubações químicas provocam alto uso de energia para obter suprimento de nitrogênio inorgânico (consumo de 5% da produção mundial de gás natural); esgotamento das minas de fósforo; lixiviação de nutrientes que poluem águas dos rios e costeiras; proliferação de algas que exaurem a oxigenação da água e letais para a fauna aquática.

Segundo os autores, o Ministério de Proteção Ambiental da China encontrou contaminantes em 20% das áreas agricultáveis, sem que houvesse aumento de produtividade no país, estagnada há 15 anos.

O fato tem repercutido junto à comunidade acadêmica chinesa e o governo lançou programas de manejo agrícola que conjugam métodos antigos (orgânicos) e novos (biotecnologia).

Redesenham, pois, seu modelo agrícola para diminuir a excessiva nutrição com fertilizantes artificiais e o controle tóxico de pragas e doenças. Valem-se da simbiose com micróbios, benéfica à extração de nutrientes e resistência das plantas.

Tornam assim o solo um sistema hidropônico, capaz de retenção de água, fornecimento de nutrientes pelas trocas catiônicas, minimizam a erosão.

Querem mais?

Ao argumento de que é impossível atender o consumo mundial de alimentos apenas com manejos estritamente orgânicos, a resposta está neles combinados. Em todos os sentidos.Aumentam a produtividade, diminuem a expansão de áreas, têm menor impacto ambiental, limitam o esgotamento dos solos e reduzem o custo por hectare.

No Brasil, muitas práticas importantes de manejo têm sido usadas. Desde o bom e velho plantio direto na palha, passando pela fixação de nitrogênio nas plantas através de leguminosas, e chegando à rotação de culturas, ao uso crescente de resíduos orgânicos, e a integração lavoura, pasto, floresta.

Por que, então, o medo?

O infinito exército de micróbios que habita os solos vive a perguntar o que esperam para ativá-los? Serão os chineses mais corajosos mesmo em condições edafoclimáticas piores?

* Rui Daher é colunista da Carta Capital. Criador e consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola (ruidaher@yahoo.com.br).


China lança campanha para reduzir em 50% o consumo de carne.
Homem vende tofu em mercado chinês. Foto: 5 to do today

Vídeo reúne astros do Ocidente e do Oriente, como Arnold Schwarzenegger, Li Bingbing e James Cameron. 

O governo chinês, juntamente com oficiais de saúde, lançou esta semana uma campanha para incentivar as pessoas a comerem menos carne. O objetivo é uma redução de 50% – percentual recomendado pelo novo guia alimentar nacional da China, atualizado recentemente. Com apoio da Sociedade Chinesa de Nutrição e da organização 5 To Do Today, a campanha conta com o apoio de um relatório sobre o tema e um filmete com participação do diretor James Cameron, do ex-governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger e da atriz mais famosa da China, Li Bingbing.

As novas diretrizes alimentares da China representam uma grande ruptura com as tendências de alimentação em todo o mundo. O consumo global de carne deverá aumentar 76% até 2050, impulsionado principalmente pelas economias em desenvolvimento. Se os padrões de consumo continuarem nesse ritmo, a China será a maior fonte desse aumento da demanda. Ela é hoje responsável por 28% do consumo de carne e produtos lácteos e metade da carne de porco do mundo. Desde 1978, o consumo de carne na China aumentou seis vezes.

Apesar dos altos níveis de consumo de carne, 83% dos cidadãos da China estão dispostos a comer menos carne. O consumo excessivo de produtos de origem animal, como carnes processadas, está associado à obesidade e um aumento do risco de contrair doenças cardíacas e diabetes tipo 2. “O consumo excessivo de carne (…) vai impor efeitos adversos sobre o nosso corpo, afetando a nossa saúde no longo prazo”, disse Yuexin Yang, presidente da Sociedade Chinesa de Nutrição.

O consumo de carne é também uma das principais causas do aquecimento global: as emissões da pecuária representam 14,5% do total das emissões de gases estufa do mundo, o equivalente ao combustível queimado por todos os veículos de transporte do mundo. No Brasil, em 2014, a pecuária respondeu por quase metade das emissões nacionais (1,56 bilhão de toneladas, segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima) – seja pelas emissões diretas do rebanho, seja pelas emissões por desmatamento, praticado sobretudo para a criação de gado.

As diretrizes de redução no consumo de carne anunciadas pelo Ministério da Saúde da República Popular da China, destinam-se a melhorar a saúde pública, e também a ter um impacto significativo sobre o clima. Se forem seguidas, as emissões podem cair significativamente – de 6% das emissões chinesas, ou 1,5% das emissões globais, segundo o relatório da 5 To Do Today.

“Esta iniciativa da China para cortar pela metade o consumo de carne pode não só ter um grande impacto sobre a saúde pública, como também ser um passo enorme no sentido de liderar uma redução drástica nas emissões de carbono para atingirmos os objetivos estabelecidos no Acordo de Paris”, destacou James Cameron, diretor de sucessos como Avatar e Titanic. “A pecuária emite mais do que todos os transportes combinados. Reduzir a demanda por alimentos de origem animal é essencial se quisermos limitar o aquecimento global abaixo de 2° C, tal como acordado na COP21.”

“Por meio desse tipo de mudança de estilo de vida, espera-se que a pecuária irá se transformar e as emissões de carbono serão reduzidas”, disse Li Junfeng, diretor-geral do Centro Nacional de Estratégia de Mudanças Climáticas e Cooperação Internacional. “Combater as alterações climáticas envolve julgamento científico, decisões políticas, o apoio do setor empresarial, mas, também, o envolvimento do público em geral para mudar o comportamento de consumo na China. Cada um de nós tem de acreditar no conceito de baixo carbono e lentamente se adaptar a ele.”

De acordo com o “think-tank” britânico Chatham House e pesquisa publicada na revista PNAS, o nível atual de consumo de carne em todo o mundo não é sustentável e tem um tremendo impacto sobre a saúde da sociedade e do meio ambiente. Estudos mostram que é um uso altamente ineficiente da terra e da água e favorece o desmatamento e a perda de biodiversidade.


Fonte: ENVOLVERDE
Austrália pode perder 1 milhão de turistas por ano por causa do branqueamento da Grande Barreira de Corais.
Foto: STR/ XL Catlin Seaview Survey/AFP arquivos

O branqueamento da Grande Barreira de corais da Austrália, causado pelo aquecimento global, é mais que um desastre ambiental. Segundo relatório divulgado pelo think tank econômico The Australia Institute, a destruição contínua dos corais causada pelas mudanças climáticas pode levar o país a perder mais de 1 milhão de visitantes e mais de US$ 900 milhões dos US$ 3,3 bilhões gastos anualmente por turistas nas regiões da barreira, colocando em risco 10 mil postos de trabalho.

O relatório examina as implicações do branqueamento do coral e da postergação de ações para conter as mudanças climáticas sobre a indústria do turismo da Austrália como um todo.  Além das regiões dos corais, esse impacto pode afetar o turismo da Austrália como um todo, com perdas adicionais de mais de 174.000 visitantes e US$ 1 bilhão em gastos de turistas.

De acordo com a pesquisa, a Grande Barreira de Corais é considerada uma das principais atrações por 73% dos potenciais visitantes da China, do Reino Unido e dos EUA. No entanto, 174.000 visitantes desses três países, que poderiam gastar mais de US$ 1 bilhão em turismo na Austrália, se sentem mais propensos a visitar um país diferente se branqueamento dos corais persistir.
Foto: XL Catlin Seaview Survey/divulgação

No início de 2016, a Grande Barreira de Corais sofreu o branqueamento de coral mais grave já registrado, causado principalmente pelo aquecimento global. Os dados mais recentes do Great Barrier Reef Marine Park Authority indicam que a mortalidade já atingiu 22%. Para reduzir a ameaça de branqueamento dos recifes de corais, é preciso combater o aquecimento global. No caso da Austrália, a ação mais eficaz é eliminar o uso do carvão para gerar energia. Programas para aliviar as pressões locais sobre a barreira e melhorar sua capacidade de resiliência não são suficientes.

Mais de 80% das pessoas de fora da Austrália que foram entrevistadas para esse relatório acreditam que o país tem  obrigação de proteger a Barreira. Cerca de 70% deles dizem que a Austrália deve parar de aprovar novas minas de carvão e avançar para as energias renováveis para proteger os corais.  Mas a indústria do carvão se opõe a qualquer ação séria sobre o aquecimento global, como uma moratória sobre as minas de carvão, a precificação do carbono ou a expansão das energias renováveis. No entanto, sem essas medidas, a indústria do turismo do recife está em risco.

O turismo motivado pela Grande Barreira de Corais emprega 39.000 a 45.000 pessoas por ano, enquanto a mineração de carvão responde por apenas 20.000 empregos. Em 2015, a Grande Barreira de Corais atraiu 2,4 milhões de turistas australianos e 1,1 milhões de turistas internacionais, que gastaram um total de US$ 3,3 bilhões.


Fonte: ENVOLVERDE
Aprender com índios, uma boa experiência.
Menino Munduruku durante reunião do povo. Foto: ©Fábio Nascimento/Greenpeace

Por Washington Novaes*

Há alguns anos, o chefe indígena Atamai, que morava na aldeia waurá, no Xingu, deslocava-se, como passageiro de um carro, por uma via pública de Goiânia (episódio que talvez já tenha sido narrado neste mesmo espaço, mas que vale a pena rememorar). Em certo momento, voltou-se para o autor destas linhas e perguntou: “Por que caraíba (homem branco) cobre de asfalto todo o piso de ruas e não deixa lugar pra terra respirar?”. Foi-lhe dito que o asfalto servia para nivelar a terra, remover buracos e permitir mais velocidade aos veículos. Mais adiante, ao passar por uma lombada na pista, Atamai quis saber para que ela servia. E, ante a resposta de que servia para obrigar motoristas a reduzirem a velocidade, de modo a não ameaçar pedestres e evitar colisões, foi fulminante: “E por que caraíba, primeiro, cobre a terra pra aumentar a velocidade dos carros e, depois, constrói calombos no chão e obriga a reduzir a velocidade dos carros?”. Felizmente, chegávamos ao destino e ele ficou sem resposta.

Respostas como essa, capazes de esclarecer complexidades do nosso mundo, continuam sendo buscadas em todos os lugares, por estudiosos de todos os setores do conhecimento, além de fazerem parte dos questionamentos de todas as pessoas. Ainda há pouco tempo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) lançou o livro Megatendências Mundiais 2030, em que reúne o pensamento de entidades e personalidades internacionais sobre “o futuro do mundo” daqui a uma década e meia. E ali está dito o que neste tempo deve moldar o panorama mundial nas áreas de população, geopolítica, ciência e tecnologia, economia e meio ambiente. “Muitos dos problemas que enfrentamos hoje é porque no passado não olhamos para o futuro no longo prazo. Ou não nos preparamos para evitar que ocorressem ou para que estivéssemos mais bem preparados para essa ocorrência”, escreveu a professora Elaine Coutinho Marcial, que organizou a edição (Eco-Finanças, 16/10/2015).

O pensamento e a ação concreta dos colonizadores, a pequena escala dos problemas, certamente, os levaram a desconsiderar o modo de se organizar e de viver das culturas indígenas em todo o território brasileiro. E chegamos aonde chegamos. O fato é que, como lembra o Ipea no livro sobre as megatendências mundiais, “o modelo econômico vigente, associado ao comportamento dos cidadãos e dos países, é agressivo ao meio ambiente, provoca a poluição do ar, desmatamento, perdas ecossistêmicas nos meios marinho e da costa, enfim, degradação, de forma geral”. Pensam os autores do livro que, “se não houver ruptura nos padrões de consumo e diminuição na geração de resíduos, esse modelo continuará conduzindo à escassez de recursos naturais nos próximos anos”.

É um bom momento, então, para que nos debrucemos sobre os formatos de vida entre povos indígenas – há muita documentação sobre o passado e ainda se encontram no Brasil cerca de 1 milhão de índios, de 305 etnias, falando 274 línguas em mais de 500 terras reconhecidas. No mundo são mais de 5 mil povos.

E, de fato, no Brasil as perdas são gigantescas. Produzimos mais de 250 mil toneladas diárias de lixo, que são inteiramente desperdiçadas. O lixo orgânico (metade do total) poderia ser reaproveitado de muitas formas, a começar pela compostagem que o transforma em adubo. Os resíduos da construção civil, dos quais quase nada se fala, têm um volume superior ao dos domiciliares. A reciclagem é ínfima. Valeria a pena, nesta hora, visitar uma aldeia indígena que, isolada, ainda mantenha os modos de vida dos antepassados – para ver se ali se produz lixo. Ou o que acontece quando uma aldeia cresce muito e decide se separar em duas, também para não ameaçar os modos de vida – e assim aconteceu, por exemplo, no Xingu, com os waurá. Também se poderá ver a questão do poder: o chefe não dá ordens; ele é o que mais sabe da cultura de seu povo e é procurado sempre para saber o que pensa – mas não dá ordens a ninguém. Cada morador da aldeia planta e colhe alimentos e pesca para os que com ele vivem. Mas, se alguém lhe der ordens, vai achar graça. O conhecimento é aberto: o que um sabe todos podem saber. São questões descritas e estudadas com muita competência por Pierre Clastres em seu livro A sociedade contra o Estado.

Mesmo que se saiba de tudo isso, continuamos a colocar como centro de tudo o cálculo do chamado Produto Interno Bruto (PIB) – a soma, em valores monetários, dos bens e serviços finais produzidos em certo período (ano, em geral) – e compará-lo com outro ano, ou com outro país. E isso determinaria se um país é rico, médio ou pobre. Não leva em conta nada do meio ambiente, nada da cultura. E isso tem implicações fortes na política e na relação entre países ou regiões.

Um país como o Brasil tem muitos privilégios – território continental (só na Amazônia, milhões de quilômetros quadrados), sol durante todo o ano, quase 12% dos recursos hídricos do planeta, biodiversidade extraordinária, clima ameno, mais de 7.300 quilômetros de costa marítima, possibilidade de matriz energética “limpa”, sem emissão de gases que acentuam mudanças climáticas, etc. Mas nada disso é considerado para o PIB. O desmatamento amazônico voltou a crescer no ano passado (474 quilômetros quadrados). Desperdiçamos uma fatia considerável dos alimentos que produzimos, embora tenhamos em torno de 40 milhões de brasileiros que vivem na pobreza extrema – a renda é fortemente concentrada. A população junta-se cada vez mais em grandes cidades, onde os problemas crescem exponencialmente. Multiplicam-se os conflitos com populações indígenas, quase sempre em disputa de suas terras.

É claro que não faz sentido propor que voltemos todos a viver como índios. Mas pelo menos veremos com clareza os nós que nos engasgam.

* Washington Novaes é jornalista.


Abertas as inscrições para o VII Prêmio Hugo Werneck.
“A destruição dos recursos da natureza, mesmo a título de progresso, é uma triste tendência dos homens da atualidade. E cremos que semelhante agressão à vida natural se fará seguida por amargas consequências de que o tempo trará notícias à humanidade terrestre.” (Chico Xavier)

Por Redação da Envolverde – 

Já estão abertas as inscrições e indicações para o “VII Prêmio Hugo Werneck de Sustentabilidade & Amor à Natureza”. Sob o tema “Mudanças Climáticas – Qual a sua contribuição?”, a edição deste ano reconhecerá indivíduos, projetos e instituições que desenvolvem iniciativas sustentáveis que contribuem para reduzir os efeitos do aquecimento global bem como o enfrentamento das mudanças climáticas potencializadas pela ação humana, e que também incentivam a proteção do meio ambiente a melhoria da qualidade de vida das populações.

O homenageado especial de 2016 será o médium espírita Chico Xavier (1910-2002), que há mais de cinco décadas já alertava para a urgência de como evitar o aquecimento global. Sua revelação climática – que aponta 2019 como a data limite para as nações respeitarem as diferenças, evitar a III Guerra Mundial e, assim deixar de destruir a natureza e viver em paz -, tornou-se um alento para a evolução espiritual da humanidade. E uma orientação máxima para o ser humano deixar de aquecer o planeta.

As inscrições e indicações à maior premiação ambiental brasileira focada na sustentabilidade são gratuitas e vão até o dia 05 de setembro próximo, às 23h59. Elas podem ser feitas pela internet, por meio do site www.premiohugowerneck.com.br.

Criado em 2010, a premiação tem apoio institucional do Ministério do Meio Ambiente e do Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad)/Feam-IEF-IGAM; da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg)/Sesi; Fecomércio-MG/Sesc-Senac; Prefeitura de Belo Horizonte; Fundação Dom Cabral; Sucesu Minas,  Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda), do Centro Hugo Werneck de Proteção à Natureza e da Fundação SOS Mata Atlântica. Desde sua primeira edição, 111 projetos, personalidades e instituições foram premiados entre mais de 800 indicações e inscrições recebidas de todo o país.

Categorias 2016
 Abertas
  1. Melhor Exemplo em Água, Ar, Flora ou Fauna
  2. Melhor Exemplo em Educação Ambiental
  3. Melhor Exemplo em Inovação Ambiental
  4. Melhor Exemplo em Mobilização Social
  5. Melhor Exemplo do Terceiro Setor
  6. Melhor Anúncio ou Campanha Publicitária
  7. Melhor Empresa
  8. Melhor Empresário
  9. Melhor Político
  10. Destaque Municipal
  11. Destaque Estadual
  12. Destaque Nacional
  13. Personalidade do Ano
Específicas para patrocinadores
  1. Melhor Parceiro Sustentável
  2. Melhor Projeto de Parceiro Sustentável

Fonte: ENVOLVERDE

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Um novo DNA para a humanidade.
Por Dal Marcondes, da Envolverde – 
A busca pelos fósseis de 60 milhões de anos deveria servir para se perceber a insignificância de uma espécie que destrói o próprio habitat em pouco mais de 50 anos – 

Todos os anos, no dia 5 de junho, data em que se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente, as empresas distribuem milhares de releases enaltecendo as próprias qualidades de sustentabilidade, escolas promovem oficinas de reciclagem e políticos posam com criancinhas plantando árvores. É uma beleza só, de repente o mundo fica mais sustentável, só que não! Contudo, as ações e discursos enaltecendo as atitudes sustentáveis servem para mostrar que o problema não é mais a falta de educação ou falta de conhecimento sobre os impactos que os hábitos humanos estão causando sobre o planeta, sobre a biodiversidade, sobre o habitat humano.

Já não há mais tanta gente falando em “salvar o planeta”, porque esse não é o dilema que a humanidade vive, pelo contrário, a Terra sabe se virar sozinha. Ela vem fazendo isso a quatro bilhões de anos e vai continuar girando em torno do Sol por mais quatro ou cinco bilhões de anos. É muito tempo de passado e de futuro. Já a humanidade está aqui a pouco mais de 100 mil anos, tem 10 mil anos de agricultura e pouco mais de 2 mil anos de história escrita. Até o anos de 1800 os impactos da humanidade sobre o planeta eram quase insignificantes, apesar de já terem extinto algumas espécies de animais.

Nesses últimos 200 anos, mais propriamente nos últimos 60 anos, é que a humanidade realmente mostrou suas garras e passou a exigir da Terra muito mais do que ela pode oferecer. A população durante o século 20 saltou de 1,65 bilhão no ano de 1900, para 2,50 bilhões em 1950 e para 6,07 bilhões em 2000. Em 2011 a população humana ultrapassou 7 bilhões de pessoas e a estimativa é de que seremos 9 bilhões em 2050.
Esse crescimento exponencial da população se reflete, também, na superexploração de recursos naturais e na degradação de ambientes em todo o planeta. O mais impressionante nessa história é que os impactos da humanidade sobre a maior parte dos recursos naturais era muito baixo até o ano de 1950, depois disso o desarranjo dos ecossistemas se tornou praticamente irreversívelcaso os modelos de desenvolvimento e os tradicionais métodos de produção e consumo não sejam drasticamente alterados. O gráfico abaixo mostra como todos os indicadores de uso de recursos naturais e a perda de espécies e biomas estão em um movimento crescente.

Impactos da Humanidade sobre o Planeta
Ref: Ladislau Dowbor

Educação e conhecimento não bastam

A conversa corrente de que é preciso mais educação e conhecimento para que as pessoas mudem de comportamento em relação ao meio ambiente não é mais o suficiente para uma real transformação ainda a tempo de preservar o habitat humano e de outras milhares de espécies que povoam a Terra.  

Não se trata mais de um desenvolvimento civilizatório, a ciência já tem todos os diagnósticos necessários em relação às mudanças climáticas, à extinção de espécies, a perda de florestas tropicais, o uso de combustíveis fósseis e sobre a maior parte dos Indicadores que apontam para uma tragédia socioambiental de grandes proporções.

Um dado alarmante é que atualmente a população humana é de pouco mais de sete bilhões de pessoas. No entanto, apenas três bilhões tem um padrão de vida que pode ser considerado confortável. Os quatro bilhões e pouco restantes padecem de algum tipo de carência, seja alimentar, de saúde, de educação, de habitação, água, trabalho ou outros direitos considerados universais, mas que não estão universalizados. Ou seja, o atual modelo de desenvolvimento não consegue suprir as necessidades básicas da humanidade como um todo. E não é por falta de informação ou conhecimento que as coisas não funcionam como deveriam.

Empresas e governos estão há anos debatendo quais são os limites de suas ações e procrastinando as possíveis soluções. As conferências realizadas no âmbito das Nações Unidas avançam de forma discreta em diversas frentes, conseguem resolver umas poucas coisas, mas não tem a efetividade necessária para gerar resultados em escala e duradouros. Há registros de resoluções, mas há, também, muitos apontamentos de fracassos. No caso das empresas, as maiores e mais importantes do mundo publicam regularmente seus Relatórios de Sustentabilidade, onde alardeiam suas qualidades e providências por um mundo melhor, mas não abandonam, em sua grande maioria, o tão conhecido “business as usual”, ou seja a maneira usual como fazem negócios e ganham dinheiro.

Hora do salto evolucionário

Há muita resistência a qualquer tipo de mudança nos atuais padrões de produção e consumo da parte privilegiada da humanidade. Muitos alegam que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global irá levar ao uma equalização no desenvolvimento humano, oferecendo a todos a oportunidade de um padrão de vida digno. Ao se avaliar no gráfico acima a evolução do PIB e o crescimento das iniquidades em todos os sentidos, nota-se que não há uma relação entre PIB e justiça social, pelo contrário, aparentemente o crescimento do PIB global tem levado a uma maior concentração de renda e aumento da desigualdade.

O principal problema a ser enfrentado pela humanidade neste século 21 não é o crescimento do PIB, mas sim a desigualdade na partição dos benefícios em uma economia realmente globalizada. Uma globalização que não se atenha ao comércio de bugigangas, mas que oferte bem estar e qualidade de vida para todo o planeta. E isso está muito longe de ser alcançado.
O desenvolvimento humano não é mais uma questão de educação, conhecimento ou civilização. Esses elementos já estão presentes em todas as organizações, empresas ou governos que realmente importam. Ou seja, as empresas, os bancos, os governos e a mídia sabem exatamente o tamanho de seus impactos negativos sobre o planeta. Não mudam de atitude por serem incapazes de romper uma inércia assassina onde cada qual quer tirar o máximo de vantagem no menor tempo possível como se o mundo fosse, de fato, acabar nos próximos dias.

Bom, o resultado disso é que possivelmente o mundo não acabará nos próximos dias ou anos, mas se tornará um lugar bem mais inóspito e difícil para se viver. A ciência tem alertado, principalmente em relação às mudanças climáticas, que o preço de não se fazer nada para melhorar o perfil ambiental do planeta torna-se muito mais alto a cada dia que passa. Talvez, daqui a alguns anos nem haja mais recursos suficientes para uma reversão.

A humanidade precisa com urgência realizar um novo salto, desta vez não um salto industrial como nos últimos 200 anos, ou um salto civilizatório, como no século 20, ou ainda um salto tecnológico como dos últimos 50 anos, mas um salto evolucionário. É preciso evoluir como espécie ou não terá pela frente os mesmo 10 mil anos que tem de passado. A Terra vai se recuperar da presença humana em bem pouco tempo. Especulações feitas por escritores e arqueólogos apontam que em dois mil anos poucos vestígios restariam da presença humana na Terra depois que ela se for. Um ou outro monumento e, o resto, seria trabalho para arqueólogos de uma espécie futura, que cavaria em busca de vestígio como hoje fazemos buscando dinossauros.

A própria busca pelos fósseis de 60 milhões de anos deveria servir para se perceber a insignificância de uma espécie que destrói o próprio habitat em pouco mais de 50 anos. A mudança do modo de vida da humanidade ainda neste século é necessária para a sua sobrevivência como espécie. Para isso não basta uma transformação, será preciso uma evolução, no melhor princípio darwiniano.

Fonte: ENVOLVERDE