sábado, 30 de julho de 2016

Seguradoras são negligentes aos riscos climáticos.
Estudo mostra que falta de ações sustentáveis geram perdas de trilhões de dólares.

Por Katherine Rivas, da Envolverde –  

Um estudo realizado pela AODP (Asset Owners Disclosure Project), organização dedicada a proteger as economias dos aposentados frente aos desafios ambientais, revelou que as seguradoras, do mundo todo, apresentam múltiplas fraquezas na gestão de ações frente às mudanças climáticas, colocando assim trilhões de dólares dos seus clientes em risco.

Segundo o relatório, os fundos de pensões superam as seguradoras na política de gestão de crise. 

Presidente do Banco da Inglaterra e do Conselho Internacional de Estabilidade Financeira (FSB), Mark Carney, afirmou que a falta de estratégias por parte das seguradoras expõe as empresas a perdas gigantes que podem deixar reservas de combustíveis fosseis sem ativos.

Ele também ressaltou a importância dos investimentos em baixo carbono e afirmou que as finanças “verdes” precisam caminhar junto das mudanças climáticas “O financiamento de descarbonização da nossa economia é uma grande oportunidade para as seguradoras com investidores de longo prazo. 

Estas precisam se adaptar a estratégias de redistribuição e revolução tecnológica contribuindo com investimentos que sejam o quádruplo da taxa atual”, completa.

O estudo denominado “Global Climate 500 Index 2016: Insurance Sector Analysis” concluiu que as seguradoras estão atrasadas em gestão de risco e que ainda precisam investir em estratégias de baixo carbono e fortalecer laços com empresas preocupadas por mitigar os danos climáticos.

Os dados revelam que somente 5% das seguradoras no mundo controlam as emissões de carbono nos seus clientes e apenas 8% se dedicam a integração dos riscos climáticos nos processos de investimento. Deste universo 3% têm uma política de integração com empresas comprometidas com o desenvolvimento sustentável e apenas 0,2% dos ativos destas seguradoras é investido no controle de baixas emissões de carbono.

Já os fundos de pensão apresentam dados mais animadores sendo 13% dedicado a controlar a emissão de carbono nos clientes ou 15% comprometidos com uma política de sustentabilidade.

As seguradoras hoje investem em renda fixa, porém as agencias de dados estão alertando sobre esta conduta de risco que pode desestabilizar o sistema financeiro.  O motivo principal é que as mudanças climáticas hoje constituem uma dupla ameaça para a indústria de seguros. O aumento de créditos relacionados às alterações ambientais colocam os clientes destas instituições em perigo toda vez que a economia de baixo carbono se acelera.

No relatório Global Climate 500 proprietários de ativos foram classificados em categorias de AAA a D, e X para determinar empresas que não participam de nenhuma ação conhecidas como “retardatários”.

De acordo a pesquisa, 1 de cada 8 seguradoras (12%) adota ações para mitigar o risco do clima, entrando na classificação C. Do total, 59% das seguradoras reconhecem os riscos climáticos e 41% pertencem ao grupo dos retardatários ( que não adotam nenhuma ação) colocando em risco US$ 4,2 trilhões em investimentos mundialmente.

Europa lidera mudanças mundiais

Os mercados regionais também apresentam diferenças em iniciativas de sustentabilidade. No mercado europeu, 1 de 4 seguradoras (42% dos ativos regionais) tem medidas consideráveis. Sendo a escala de risco na Europa de US$ 730 bilhões.

No mercado norteamericano só duas seguradoras (16% dos ativos) adotam estratégias frente as mudanças climáticas. O fator de risco representa US$ 954 bilhões dos investimentos.

E na Ásia só uma seguradora, Companhia de Seguros Popular da China, conta com estratégias importantes. O risco de ativos é de US$ 2,5 trilhões.

O relatório conclui que de US$ 15,3 trilhões de ativos só US$ 30 bilhões são investidos em emissões de baixo carbono. Nesse contexto as seguradoras contribuem em 0,8%.

A Cúpula do Clima em Paris marcou o fim da era dos combustíveis fósseis colocando a  indústria de seguros na posição de entender as constantes alterações climáticas e tomar medidas urgentes.



Fonte: ENVOLVERDE
Produzir alimentos ou conservar florestas.
Por Baher Kamal, da IPS – 

Roma, Itália, 22/7/2016 – O mundo enfrenta um enorme desafio: por um lado, a necessidade imperiosa de produzir alimentos para a crescente população mundial, por outro, a pressão de frear e reverter o desaparecimento das florestas, tão necessárias para a vida humana como cobrir as necessidades de sua dieta.
Desmatamento. Foto: FAO

As florestas têm um papel fundamental no desenvolvimento da agricultura sustentável por vários fatores: ciclos da água, conservação de solos, sequestro de carbono, controle natural de pestes, incidência nos climas locais, e preservação do habitat dos polinizadorese de outras espécies.

Mas a agricultura responde pela maior parte do desmatamento. Nas regiões tropicais ou subtropicais, a agricultura comercial e a de subsistência são responsáveis por 50% e 33%, respectivamente, da conversão de florestas, e os restantes 27% do desmatamento ocorre pelo crescimento urbano, pela expansão da infraestrutura e da mineração.

Para conseguir os dois objetivos, as agências da Organização das Nações Unidas (ONU) encarregadas da alimentação e da agricultura oferecem dados específicos que falam por si mesmos. “A agricultura continua sendo a principal responsável pelo desmatamento e é urgente a necessidade de promover interações mais positivas entre ela e a silvicultura, para construir sistemas agrícolas sustentáveis e melhorar a segurança alimentar”, destacou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).

Essa foi a principal mensagem do informe O Estado das Florestas do Mundo, apresentado no dia 18 deste mês, na abertura da sessão do Comitê Florestal da FAO (Cofo), que termina hoje. “A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e o Acordo de Paris sobre mudança climática reconhecem que não podemos pensar a segurança alimentar e a gestão dos recursos naturais separadamente”, pontuou o diretor-geral da FAO, José Graziano da Silva.
Foto: FAO

“Os dois acordos exigem um enfoque coerente e integrado da sustentabilidade de todos os setores da agricultura e dos sistemas alimentares”, apontou Graziano. “As florestas e a silvicultura têm um papel importante nesse campo. A mensagem do Cofo é clara: não precisa desmatar para produzir mais alimentos”, ressaltou. A agricultura ocupa um lugar importante na retórica sobre as florestas, mas a FAO destaca que estas cumprem muitas funções ecológicas vitais que beneficiam a própria agricultura, já que incentivam a produção de alimentos.

“A segurança alimentar pode ser obtida pela intensificação da agricultura e de outras medidas como proteção social, em lugar da expansão das áreas cultivadas à custa das florestas”, disse Eva Müller, diretora da Divisão de Recursos e Políticas Florestais da FAO. “Precisa-se é de melhor coordenação entre os setores das políticas agrícolas, florestais, de alimentação e de uso da terra, bem como melhor planejamento do uso da terra, marcos legais efetivos e maior participação das comunidades e dos pequenos agricultores”, afirmou.

Para Müller, os “governos deveriam garantir às comunidades locais não somente a posse da terra, como também direitos sobre as florestas. Um agricultor sabe como manejar seus próprios recursos, mas costuma carecer dos instrumentos legais para isso”.

Melhorar a segurança alimentar frear o desmatamento

O fato é que as florestas bem administradas têm um potencial enorme para promover a segurança alimentar. Além de sua vital contribuição ecológica, diz o informe a FAO. As florestas são um meio de subsistência para as comunidades rurais e uma forma de aliviar a pobreza, ao permitirem a geração de renda mediante a elaboração de produtos florestais e serviços ambientais.

Cerca de 24 bilhões de pessoas usam lenha para cozinhar e deixar a água potável. Além disso, as florestas oferecem proteínas, vitaminas e minerais às comunidades e são uma alternativa em casos de escassez de alimentos.Desde 1990, mais de 20 países conseguiram melhorar a segurança alimentar porque mantiveram ou melhoraram sua cobertura vegetal, demonstrando que não é necessário cortar árvores para produzir alimentos, segundo o informe da FAO.

Os 12 países que aumentaram sua cobertura vegetal são: Argélia, Chile, China, República Dominicana, Gâmbia, Irã, Marrocos, Tailândia, Tunísia, Turquia, Uruguai e Vietnã. Seu êxito se baseou em um conjunto de ferramentas: marcos legais efetivos, garantias na posse da terra, medidas para regular a mudança de uso da terra, incentivos para a silvicultura e a agricultura sustentável, fundos adequados e definições claras sobre papéis e responsabilidades de governos e comunidades locais.
Foto: FAO

Casos de sucesso

O informe apresenta sete estudos de casos de sucesso, de Chile, Costa Rica, Gâmbia, Geórgia, Gana, Tunísia e Vietnã. Esse grupo de países, segundo o documento, ilustra as oportunidades de melhoria na segurança alimentar, bem como o aumento ou a manutenção da cobertura vegetal. Seis desses países conseguiram mudanças positivas entre 1990 e 2015 em dois indicadores de segurança alimentar (prevalência de pessoas subalimentadas e o número de pessoas subalimentadas), bem como no aumento da superfície reflorestada.

No caso de Gâmbia, único país de baixa renda entre os sete mencionados, se conseguiu o primeiro objetivo de reduzir pela metade a proporção de pessoas com fome nesse período.O Vietnã, por exemplo, implantou com sucesso uma reforma agrária para garantir a posse da terra, como forma de impulsionar o investimento de longo prazo. O processo foi acompanhado de uma mudança na gestão florestal, de uma silvicultura estatal para uma de múltiplos atores, com a participação das comunidades locais, incluído o programa de destinação de áreas florestais e contratos para sua proteção com os moradores locais.

A reforma agrária também foi acompanhada de instrumentos para aumentar a produtividade agrícola, como isenção de impostos, empréstimos brandos, promoção da exportação, garantia de preços, apoio à mecanização e redução das perdas de cultivos colhidos.

Na Costa Rica, o desmatamento atingiu seu máximo na década de 1980, principalmente pela conversão de florestas em áreas de pastagem. O país conseguiu reverter essa tendência graças a uma lei florestal que proíbe mudanças no uso das florestas naturais e a um sistema de pagamento por serviços ambientais, que oferece aos agricultores incentivos para plantar árvores e apoio para a conservação florestal. Graças a essas medidas, a cobertura florestal aumentou para quase 54% da superfície do país em 2015.

Na Tunísia, os planos de desenvolvimento nacional reconhecem os benefícios das florestas em proteger a terra da erosão e da desertificação. A produção agrícola aumentou com intensificação, que melhora o uso das terras cultiváveis existentes mediante a irrigação, os fertilizantes, a mecanização, melhores sementes e práticas agrícolas. Os incentivos para fomentar o plantio de árvores incluem distribuição gratuita de sementes e compensações pela perda de renda derivada da agricultura.

Os temas mais importantes da sessão do Comitê Florestal da FAO buscavam responder diretamente aos acordos históricos de 2015 e pesquisar como as florestas e a gestão sustentável podem contribuir para o sucesso dos objetivos de desenvolvimento acordados pela comunidade internacional.

Na Semana Florestal Mundial, o Comitê avalia como aproveitar melhor o potencial das florestas, incluída sua contribuição parao sustento, a segurança alimentar, o emprego, a igualdade de gênero e muitos outros dos objetivos de desenvolvimento incluídos na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e no Acordo de Paris.


Fonte: ENVOLVERDE

Pnuma vai banir subsídios da sobrepesca.

Por Katherine Rivas, da Envolverde – 

Diretor- executivo do PNUMA afirmou que em 2020 todas as práticas serão proibidas.

O Diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) Erik Solheim reafirmou em declaração o seu apoio para pôr um fim aos subsídios ofertados na prática da pesca predatória. O pedido foi feito pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a Conferência das Nações Unidas do Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD).

“Ao longo da história, mares e oceanos contribuíram para a vida no nosso planeta. Acreditávamos que essas grandes massas de água eram infinitas e inesgotáveis, nossa imaginação não entendia sua complexidade. Hoje as conhecemos melhor” afirmou Solheim.

Estudos revelam que o meio ambiente marinho enfrenta ameaças crescentes como a contaminação, lixo e a pesca predatória. Um terço dos peixes são alvo deste tipo de atividade que coloca em risco a saúde dos mares, oceanos e a capacidade de dar sustento a vida humana.

Para Erick é inaceitável o fato que o mundo destine 20 bilhões de dólares anualmente para contribuir diretamente com a sobrepesca. O diretor-executivo qualificou isso como um tiro no pé para destruir um ecossistema do qual depende a vida humana.

O chamado das instituições pretende estabelecer práticas de Desenvolvimento sustentável para o cuidado dos mares e oceanos. O objetivo principal é proibir os subsídios destas práticas até 2020. 

“Não podemos esperar mais, o tempo é curto, precisamos alternativas que beneficiem todos nós, até mesmo os pescadores. Com a pesca predatória não haverá mais peixes no mar nem indústria pesqueira” apontou Solheim.

Confira a declaração completa neste link.


Fonte: ENVOLVERDE
Plataforma reúne conteúdos para treinar empreendedores.
Escola de Startups traz mais de 300 materiais sobre o universo empreendedor, entre artigos, guias, palestras, resumos de livros e infográficos.

Por Marina Lopes, do Porvir – 

De boas idéias, o universo empreendedor está cheio. Mas na hora de impulsionar um negócio, nem sempre elas são suficientes. Para alavancar de vez uma startup, também é preciso partir em busca de conhecimento, validar idéias e ouvir experiências de quem já trilhou esse caminho. Com o objetivo de apoiar a construção e solidificação de novos negócios, a plataforma Escola de Startups reúne conteúdos voltados para o treinamento de empreendedores.

Desenvolvida pela escola online Acelera Startups, que já oferece workshops e consultorias para organizações, a plataforma abrange conteúdos para empreendedores em diferentes estágios, desde quem está começando a estruturar o seu negócio, até aqueles que já deram seus primeiros passos. 

Entre artigos, guias, palestras, resumos de livros e infográficos, a escola virtual conta com mais de 300 conteúdos disponibilizados para os seus assinantes.

A ideia de criar uma ferramenta voltada para o treinamento de empreendedores veio de uma lacuna observada no mercado. “O conteúdo que é ensinado [sobre empreendedorismo], principalmente dentro das universidades, tem um distanciamento muito grande do mercado”, avalia o especialista em marketing digital, Cláudio Brito, CEO da Acelera Startups. Segundo ele, embora a troca de experiências com quem já percorreu esse caminho faça diferença na hora de começar sua própria startup, muitos professores nunca abriram uma empresa e não tiveram bagagem de mercado. “Como eu vou aprender a montar um negócio com alguém que não teve essa experiência?”, questiona.

Inicialmente, a proposta da Acelera Startups era criar uma espécie de Netflix dos negócios, compartilhando histórias e lições do empreendedorismo brasileiro e norte-americano. No entanto, a equipe de idealizadores do projeto percebeu que os vídeos não eram suficientes. “O público não tinha interesse em consumir conteúdo como na Netflix, mas tinha interesse em treinamentos que pudessem ensiná-lo a empreender, usar as redes sociais e etc. Aí veio a idéia da escola, que surgiu a partir desse movimento de produção de conteúdo”, recorda Brito.

Todos os conteúdos disponibilizados na plataforma são produzidos com base em consultas realizadas com os usuários, que podem apontar suas principais dificuldades e demandas. Existem materiais com orientações sobre negociação, marketing digital e captação de recursos.

Entre as principais dificuldades encontradas pelos empreendedores brasileiros, Brito aponta que em 90% dos casos eles não conseguem validar a sua idéia. “Nós percebemos na prática que eles precisam conversar com o mercado”, observa o especialista em marketing digital. “Se eu tive uma idéia, não importa se eu acho que ela é maravilhosa ou penso que vou ficar rico com ela. Eu preciso validar a minha idéia. Tenho que ir ao mercado, conversar com o meu cliente e saber se aquilo realmente é aceito.”

Com o objetivo de apoiar o processo de validação das soluções, além dos materiais disponíveis, a plataforma também oferece um serviço de mentoria via Skype para os seus assinantes. Em muitos casos, ele diz que o empreendedor até tem uma boa idéia, mas ele ainda precisa de ajuda para desenvolver o seu plano de negócios.

Desde que foi lançada, no início deste ano, o CEO da Acelera Startups diz que a plataforma já conta com quase 4 mil inscritos. Para ter acesso aos materiais disponíveis, os empreenderes devem optar por um plano de assinatura, que pode ser mensal (R$39,90) ou anual (R$279,49). “Trabalhamos com conteúdo objetivo, sem enrolação. O empreendedor pode se dedicar 15 minutos por dia”, sugere Brito.


Fonte: Porvir.
Pelo doce do Rio Doce.
Já está circulando a edição  91 da Revista Ecológico. Uma das principais publicações sobre temais socioambientais e a sustentabilidade do planeta, a Ecológico deste mês traz excelentes textos. Veja abaixo o editorial.

Hiram Firmino *

Rio Doce perguntou para o doce qual é o doce que é mais doce. E o doce respondeu para o Doce que o doce que é mais doce é ele mesmo, o Rio Doce, que precisa recuperar as suas matas, nascentes e águas, antes que elas se tornem salgadas e percam, de vez, o doce que tem.

Foi assim, como numa brincadeira de roda ou de contar estórias, que a artista Yara Tupynambá se inspirou para sua nova mostra, “Pintando a Natureza”, com destaque ecologicamente político para a necessidade de recuperação do ecossistema da Mata Atlântica – atingido pela tragédia de Mariana.

Só pela beleza  da natureza – Yara proclama com os seus pincéis – a humanidade deveria socorrer e preservar o planeta.

Precisa de mais motivos?

É uma pena. Mas precisamos sim, como demonstramos nesta edição da Revista Ecológico, diante do estado do mundo nada atlântico, nem vergel, quase sem esperança em que sobrevivemos.

Que outros motivos buscamos, caro leitor, cara leitora, para sairmos juntos e salvos da crise planetária que se avizinha, com as mudanças climáticas?

É o que vocês irão ler nesta edição.

Primeiro, o recado do professor Ricardo Abramovay, um dos especialistas brasileiros mais notórios em aquecimento global. Sem falar em mais um catedrático, o professor CástorCartelle, para quem a extinção de toda a vida terrestre, tal como dos dinossauros,  está por um fio – mais fino do que imaginamos. E por aí afora até chegarmos em uma mensagem vinda de onde menos imaginaríamos: do desumano e antiecológico mundo do boxe, assinada pelo campeão dos campeões, Muhammad Ali, o eterno Cassius Clay, falecido recentemente.

Do boxe à pintura, tudo que precisamos continua sendo o amor. Não o amor salgado, mas o doce. Tal como o rio mineiro-capixaba atingido pela tragédia de Mariana, que sempre e historicamente contaminamos com o nosso desamor, até o seu superdesamor recém-ocorrido desde o doce das montanhas de Minas até o seu desaguar morimbundo nas águas salgadas do Atlântico.

Rio Doce, a sua recuperação ambiental, tal como repintada nas matas de Yara, continua nas mãos dos representantes de todos nós. Da Samarco à cada descarga sem tratamento nem amor que continuamos dando nos nossos rios, à espera parceria e não omissa dos nossos governantes, em suas políticas nada ecoeficientes.

Até quando?

É o que a natureza retratada pela artista não nos responde. Só mostra a sua igual reação, como mostramos nesta edição.

* Hiram Firmino é diretor e editor-geral da Revista Ecológico


Para não dar tiro no pé dos maiores interessados.
Foto: Shutterstock

Por Washington Novaes*

As perdas anuais com a erosão do solo agrícola podem passar de 10% da produção até 2050.

Por mais que seja inquietante – e por mais que provoque reações de inconformismo no setor agropecuário –, é indispensável seguir tratando das questões nessa área, tantos são os alarmas que soam, vindos de várias fontes confiáveis. O mais recente está em estudo de 600 pesquisadores de 60 países, coordenado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). 

Publicado no livro Status of the World’s Soil Recources, ele mostra que mais de 30% dos solos no mundo estão degradados (portaldbo, 13/7). E, nesse setor, as mais ameaçadas são exatamente as pessoas que militam ou têm interesses específicos.

Segundo a pesquisadora da Embrapa Maria de Lourdes M. S. Brefin, a perspectiva é de que a situação “possa piorar se não houver ações concretas que envolvam indivíduos, setor privado, governos e organizações internacionais”. O índice de degradação “é alto e provocado principalmente por erosão, compactação, perda de matéria orgânica e desequilíbrio de nutrientes”. E ainda se pode agravar com mudanças climáticas.

As perdas anuais no setor com a erosão, que já chegam a 0,3% da produção, podem chegar a mais de 10% até 2050. Essa erosão em solo agrícola e de pastagem intensiva varia, diz o documento, entre cem e mil vezes a taxa de erosão natural; e o custo anual de fertilizantes para substituir os nutrientes perdidos por essa erosão está calculado em US$ 150 bilhões. Já as perdas pela compactação do solo agrícola podem reduzir em 6% os rendimentos da agricultura no mundo.

Não bastasse, segundo a FAO (18/7), a agricultura comercial é a principal causa de desmatamento no mundo – quase 70% na América Latina; 280 mil quilômetros quadrados na África e na Ásia, um total de 680 mil quilômetros quadrados (ou 4% da área total de terras), segundo um painel de 27 especialistas em solo (ITPS), da ONU. O pisoteio dos rebanhos e a cobertura insuficiente do solo pela vegetação natural ou pelas culturas respondem pela compactação.

Tudo isso influi no ciclo da água, na conservação do solo, na captura de carbono, no controle natural de emissões, no clima local, no potencial de polinização: 25% de todas as espécies vivas residem no solo; em um metro quadrado há bilhões de organismos e milhões de espécies; fungos e bactérias decompõem a matéria orgânica do solo, controlam a dinâmica do carbono orgânico, provêem nutrientes para as plantas. Ainda de acordo com o mesmo estudo, ameaças em terra, em fertilizantes químicos, pesticidas, herbicidas já são problema grave para 56% da biodiversidade na Europa.

O aumento do conhecimento, a pesquisa, a integração da proteção do solo na legislação existente e um novo instrumento legal podem ser caminhos eficazes. Um dos exemplos apontados é o Ato de Conservação do Solo no Meio-Oeste norte-americano, de 1935, que reverteu a tendência de erosão forte nos 80 anos seguintes.

E as soluções? Há quatro pontos básicos definidos pela União Européia, como o avanço da pesquisa e do conhecimento na área, a integração das medidas de proteção do solo na legislação vigente, a implantação de novos instrumentos legais. A pesquisadora da Embrapa Maria de Loudes M.S. Brefin pensa que “existe evidência de que a humanidade está perto dos limites globais para a fixação total de nitrogênio e os limites regionais para o uso de fósforo”. Mas a própria Embrapa acentua que “aumentar a eficiência de hidrogênio e a utilização de fósforo pelas plantas é um requisito fundamental”.

Muitos caminhos são enfatizados pelos mesmos pesquisadores: 1) reduzir ao mínimo o revolvimento da terra e evitar a colheita mecanizada; 2) aumentar uma camada protetora orgânica na superfície do solo, usando grãos de cobertura e resíduos desses grãos; 3) cultivo de grande variedade de espécies de plantas – anuais e perenes – em associações, sequências e rotações, que podem incluir árvores, arbustos, pastos e grãos; 4) usar espécies bem adaptadas para resistir aos estresses bióticos e abióticos, com boa qualidade nutricional, plantadas no período apropriado; 5) aumentar a nutrição dos grãos e a função do solo, usando rotação de grãos e uso criterioso de fertilizantes; 6) assegurar o manejo integrado de pestes, doenças e sementes, usando práticas apropriadas e pesticidas de baixo risco, quando necessários; 7) gerenciamento correto da água; 8) controlar as máquinas e o tráfego nas propriedades, a fim de evitar a compactação.

E há ainda problemas em outras áreas, como o de 2,6 bilhões de pessoas no mundo dependerem de lenha para seus fogões domésticos (o uso em várias partes já foi comentado neste espaço) – Chile, Costa Rica, Gâmbia, Geórgia, China, Tunísia e Vietnã. A Costa Rica aumentou em 54% sua cobertura florestal.

Segundo a Unep (fevereiro de 2015), a degradação ambiental e a poluição respondem por 234 vezes mais mortes prematuras do que conflitos militares no planeta. No Observatório do Clima (15/7), Cláudio Ângelo lembra que pagar a fazendeiros para não desmatarem no País inteiro custaria R$ 5,2 bilhões anuais. Isso evitaria a emissão de 5,6 bilhões de toneladas anuais de dióxido de carbono (equivalentes a quatro anos de emissões totais pelo Brasil), impediria a motosserra em 205 mil quilômetros quadrados. E há outros caminhos aos quais se voltará neste espaço.

De qualquer forma, com os problemas a que já chegamos, não se pode fugir, daqui por diante, à vinculação entre incentivos agrícolas e critérios ambientais, práticas de silvicultura, pagamento por serviços ambientais, recuperação de pastagens degradadas e evitar a expansão da fronteira agrícola, entre outros.

Este jornal mesmo já publicou (23/5) texto segundo o qual os proprietários rurais “preservam menos do que declaram (…) 30% têm déficit de reservas” que a lei os obriga a manter e declarar. Não fazê-lo significa dar um tiro no próprio pé – dos maiores interessados.

* Washington Novaes é jornalista. (e-mail: wlrnovaes@uol.com.br)


quinta-feira, 28 de julho de 2016

Olimpíada 2016: o que descobrimos.
A Agência Pública acaba de lançar o Projeto 100, o maior levantamento multimídia já feito sobre as remoções ocorridas no Rio de Janeiro por conta das obras para a Olimpíada deste ano. Foram quatro meses de apuração, e o trabalho é resultado do primeiro laboratório Transmitia da Casa Pública – o primeiro Centro Cultural de Jornalismo do Brasil.

O projeto 100 é uma verdadeira maratona jornalística

Esta reportagem especial busca investigar o que aconteceu após as remoções causadas pelas grandes obras construídas para a Olimpíada de 2016. É o momento em que a sede jornalística pelo fato noticioso tende a murchar, deixando de lado uma parte vital da história: para onde as famílias foram removidas? As vidas das pessoas melhoraram? As promessas do poder público foram cumpridas?
As expulsões olímpicas deixaram um legado difícil de esconder: violências psicológicas e físicas, relações sociais dilaceradas, moradores endividados e sujeitos ao controle das milícias da zona oeste do Rio.

Não existem dados oficiais detalhados e verificáveis sobre as remoções olímpicas no Rio, que se somam às massivas demolições ocorridas em nome da Copa do Mundo em 2014. Diante da falta de informações sobre essa penosa política, decidimos fazer o óbvio: escutar as famílias expulsas de suas casas.

Para isso, usamos como parâmetro a estimativa do Comitê Popular da Copa e Olimpíadas do Rio de Janeiro a respeito de três obras listadas como Legado dos Jogos Olímpicos – o BRT Transolímpica, o BRT Transoeste e o Porto Maravilha – e as obras para reforma do estádio do Maracanã, palco de partidas de futebol durante o evento esportivo. O comitê identificou 2.548 famílias removidas apenas para esse conjunto de obras. Decidimos ouvir 100 delas, uma amostra significativa do total (cerca de 4%). Trata-se do mais extenso levantamento já feito com essas vítimas de remoção, de interesse para pesquisadores, jornalistas, gestores de políticas públicas e qualquer um que queira ouvir seus relatos. Uma base de dados viva, e interativa.

Não foi fácil. Nossa equipe de reportagem, composta por quatro jornalistas mulheres, passou meses buscando contatos a partir de ex-moradores, lideranças, ONGs, o Comitê Popular, pastorais. Batemos também de porta em porta em conjuntos habitacionais construídos para receber esse contingente, os condomínios do programa Minha Casa Minha Vida.

Aos poucos, essas famílias foram abrindo suas portas e as suas vidas para nós. Muitas venceram o medo impingido por condições assustadoras – como a constante vigilância de milícias nos condomínios – para nos contar o que aconteceu depois da remoção, quando os gravadores e as câmeras das TVs já estavam desligados. O conjunto de histórias apresentado aqui revela padrões assustadores que serão sem dúvida um dos maiores legados das remoções forçadas por causa do megaevento. A síntese dessas revelações está na reportagem “O que descobrimos”.

Em maio, tivemos a ajuda de 19 alunos da universidade ESPM Rio, graças a uma parceria coordenada pela professora Monica Mourão e o coordenador de Jornalismo, Pedro Curi. Os intrépidos estudantes aprenderam em pouco mais de duas semanas como nós, da Pública, fazemos reportagens: com os pés na rua. Encararam as longas viagens de transporte público, lama nos sapatos, visitas a locais insalubres, muitos “nãos” e muitas lágrimas durante a apuração.

Também colaboraram a repórter Lena Azevedo e o fotógrafo JV Santos, que cederam histórias apuradas anteriormente a este projeto. E os fotógrafos AF Rodrigues e Luiz Baltar nos brindaram com seu cuidadoso olhar – são deste último as imagens do vídeo de abertura.

Graças ao empenho dos nossos repórteres, conseguimos entrevistar pessoalmente e registrar 62 histórias contadas pelos próprios moradores. Elas foram produzidas em formato multimídia e dispostas pela equipe da editora criativa Olga Lucía Lozano neste especial online, no qual cada usuário pode navegar como preferir, permitindo uma multiplicidade de leituras e descobertas. O design é da colombiana Lorena Parra e o desenvolvimento do iraniano Babak Fakhamzadeh. Conheça aqui toda a equipe que tornou esse projeto realidade.

Agora, os 38 depoimentos que faltam só serão concluídos se o público se engajar. Por isso, lançamos um chamado a moradores removidos, jornalistas, midialivristas, estudantes de jornalismo, ativistas, pesquisadores que queiram contribuir com essa maratona, nos ajudando a completar nosso pódio de expulsões e violações de direitos humanos, o maior Legado da Olimpíada de 2016: 100 histórias, 100 expulsões olímpicas.

O projeto 100 ultrapassa, ainda, este site na internet. Ele é mais que um projeto de jornalismo multimídia. Ele se completa com objetos artísticos dispostos na Casa Pública, o primeiro centro cultural de jornalismo do Brasil, em Botafogo, na capital fluminense, numa transposição do jornalismo para novas linguagens – a arte, a fotografia, a instalação – que juntas formam o primeiro especial transmídia da Agência Pública.



Licenciatura indígena no Amazonas na corda bamba.
Alunos da etnia Baniwa no curso de Licenciatura indígena em São Gabriel da Cachoeira. Foto: Ivani Faria.

Enquanto MEC e UFAM decidem quem paga a conta, alunos e professores da licenciatura indígena convivem com a incerteza sobre continuidade das aulas.

Rosana Villar, da Carta Capital –

Ser aprovado no vestibular de uma grande universidade pública é um prazer experimentado por pouquíssimos brasileiros. É a meta de boa parte dos jovens ao final da adolescência e o drama de muitas famílias que, em caso negativo, nunca terão condições de arcar com os estudos de seus filhos.

Assim, não é difícil de imaginar como Gabriel Gonçalves sentiu-se ao receber a notícia de que, “em razão da crescente crise econômica que passa o país”, seu curso seria cancelado.

Ele foi o primeiro colocado em um vestibular que selecionou 120 estudantes para uma seleta turma de Licenciatura Indígena, Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável, em São Gabriel da Cachoeira.

O curso, oferecido pela Universidade Federal do estado (UFAM), foi cancelado e retomado no intervalo de dois meses, sob circunstâncias controversas e que deixam, até hoje, um clima de incertezas: a coordenação do curso e organizações relatam atrasos na liberação de pagamentos e um cenário de constante descaso com a educação superior indígena.

São Gabriel da Cachoeira fica no extremo noroeste do Amazonas, na região conhecida como “Cabeça do Cachorro”, na tríplice fronteira entre Colômbia, Venezuela e Brasil.

A cidade tem a maior população indígena do país, são mais de 29 mil pessoas, com necessidades educacionais bastante específicas. Além do português, o município tem outros três idiomas oficiais, o Nheengatu, Tukano e o Baniwa, e 23 povos indígenas pertencentes às famílias linguísticas Japurá-Uuapés, Aruak, Tupi e Yanomami

O curso de Licenciatura, vinculado ao Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL) da UFAM, foi o primeiro oferecido diretamente no município, em 2010. Atualmente, existem quatro turmas na cidade, de nove oferecidas em todo o Amazonas. A metodologia alia atividades de ensino, pesquisa e extensão, com foco na formação de professores e no atendimento às necessidades de cada aldeia.

Na prática, o curso permite que 380 alunos indígenas desenvolvam seus conhecimentos tradicionais e técnicos, sem sair de suas comunidades – que, neste caso, ficam há dias ou até semanas de distância de grandes centros acadêmicos do estado, como Manaus.

A novela dos recursos

“Acontece todo início de ano: o governo Federal não usa os recursos para o curso e as universidades tem que arcar sozinhas até que o MEC libere os pagamentos. No ano passado esse recurso chegou apenas em setembro”, relata a coordenadora da licenciatura, professora Dra. Ivani Ferreira de Faria.

Mas em dezembro de 2015, quando as verbas do Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas Interculturais Indígenas (Prolind), do MEC, não apareceram no Orçamento da União de 2016, a UFAM publicou um comunicado informando aos alunos e professores sobre o cancelamento de “determinados programas institucionais devido a falta de recursos financeiros” – apenas o curso de licenciatura Indígena entrou no corte.

“Primeiramente a gente ficou chocado, porque não sabíamos que o curso não ia acontecer. Existe uma praxe no comportamento da universidade e do MEC de nunca querem liberar estes orçamentos, embora os recursos sempre existam”, conta Deuzimar Morais Cordeiro, indígena Baré, aluno do sexto período do curso na comunidade de Cucuí, em São Gabriel da Cachoeira.

Após o choque inicial, grupos de estudantes buscaram o apoio da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (Foirn), do Conselho Geral da Tribo Sateré-Mawé (CGTSM) e da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), para questionar a decisão junto ao Ministério Público Federal do Amazonas.

A decisão foi revertida quando o governo federal sancionou o orçamento do ano, em 14 de janeiro deste ano. À época, a reitora da UFAM, Marcia Perales, chegou a afirmar que, por isso, iria retomar o curso e que a decisão era “um sinalizador importante, embora não signifique, ainda, garantias reais de que receberemos o que está previsto para 2016”.

De acordo com a assessoria de comunicação da universidade, houve um atraso no repasse dos recursos por parte do MEC no início deste ano, mas a situação foi normalizada. A UFAM informou, através de nota, que “não houve contingenciamento dos recursos do Prolind, pelo contrário, em 2016 os valores destinados à UFAM foram superiores aos dos dois anos anteriores. Este ano, o Programa de Educação Indígena recebeu R$ 4,394 em recursos do Prolind. Já em 2015, o repasse chegou a R$ 3,920. Em 2014, o Programa teve R$ 3,157”.

Os valores informados pela universidade referem-se ao total dos repasses do Prolind, divididos entre a ICHL e a Faculdade de Educação (FACED), que oferece outro curso de licenciatura indígena em Manaus. Segundo o MEC, foram “descentralizados” R$ 2,280 milhões para o curso da ICHL este ano.

Mas apesar da informação de que os recursos estão em caixa, a realidade relatada no campo é diferente. “Existe a previsão orçamentária, que é o limite que poderá ser gasto, e o financeiro, que é o dinheiro de verdade. Para receber o financeiro temos que enviar as notas fiscais dos serviços para Brasília para obter o pagamento. Mas o que tem acontecido é que acionam Brasília, mas eles não pagam ou pagam o mínimo, e começamos a atrasar fornecedores, com o risco de ter serviços, como alimentação e transporte, interrompidos”, afirma a professora Ivani Faria. “O Ministério da Educação brinca com a gente. Não é uma política pública, é uma política de temor”, desabafa.

Em nota, o MEC informou que o Prolind será mantido e que não sofreu cortes orçamentários este ano.

“Diziam que o curso indígena não era prioridade”

Depois de todo o imbróglio, com a publicação e republicação de editais, o curso foi finalmente iniciado, sem que os principais interessados fossem devidamente informados sobre os motivos da decisão.

“Eles vieram com a frase de que o curso indígena não era prioridade e quisemos imediatamente saber o por quê. A verdade é que não era prioridade pois queriam reduzir nossos direitos. Mas entramos com as cartas e a ação para mostrar que somos sim prioridade e que esses direitos estão garantidos na Constituição”, afirma Deuziano. Para o estudante, se não fosse a reação dos povos indígenas, o curso poderia realmente ter sido extinto.

Ideia reforçada pela Coordenação do Departamento de Educação da (FOIRN), em nota. “Quando falamos dos cursos que são ofertados pelas instituições de ensino que se fazem presentes na região do Rio Negro, sempre temos afirmado que não são as instituições de ensino que trazem esses cursos. Eles são resultados das reivindicações do movimento indígena”, afirma o documento, assinado pelos coordenadores Ivo Fernandes Fontoura e Edison Cordeiro.

A semente para a criação da Licenciatura Indígena, Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável foi germinada em 2004, no Seminário sobre o Ensino Médio promovido pela SECAD/MEC, FOIRN e COPIARN (Conselho dos Professores Indígenas do Alto Rio Negro), com a Carta de São Gabriel, que pedia à UFAM que discutisse e implantasse cursos específicos para indígenas. Foram necessários seis anos de discussões e revisões para que o projeto fosse aprovado.

“O MEC demorou para aprovar o curso, fizemos várias diligências. Falavam que nosso curso não era intercultural, que não respeitava as línguas e o movimento indígena”, lembra a coordenadora do curso.
“Atualmente temos duas vertentes de ensino superior indígena. Um sistema colonizador, mais comum na maioria dos estados, que não traz nada diferente para os povos indígenas, com conteúdos da sociedade ocidental, e o nosso, que respeita a língua e os conhecimentos tradicionais. Por isso nosso curso sofre muita resistência e isso já foi inclusive usado pelo MEC como justificativa para não destinar verbas”, conta Ivani.

De acordo com a nota da FOIRN, o curso sofre constante resistência dos meios acadêmicos tradicionais por favorecer saberes e valores tradicionais dos povos indígenas. “O MEC precisa compreender que os povos indígenas sabem do que é importante para o bem viver dos povos indígenas do Brasil e que o país é que precisa aprender com nossa filosofia de gestão territorial”.

“Para mim não faz sentido eu fazer um curso voltado a indígenas na Universidade de Brasília, por exemplo. Esses cursos não iam me ajudar a desenvolver minha comunidade, mas sim a empresa de alguém, o produto de alguém. Aqui eu me desenvolvo como eu quero e como penso que tem que ser para o bem da minha comunidade, é a filosofia do retorno”, resume Deuzimar.