segunda-feira, 11 de julho de 2016



Banco Asiático financiará projetos verdes.
“Muitas nações em desenvolvimento da Ásia Pacífico sempre quiseram criar uma instituição de crédito que não concedesse empréstimos burocráticos com condições inaceitáveis. O BAII foi a resposta às suas necessidades”, afirmou o ex-representante permanente do Sri Lanka na ONU Palitha Kohona. Foto: Alexandra Di Stefano Pironti/IPS

O Banco Asiático de Investimento e Infraestrutura (BAII), a primeira instituição multilateral encabeçada pela China, comprometeu US$ 500 milhões em quatro empréstimos concedidos a Bangladesh, Indonésia, Paquistão e Tajiquistão, começando a garantir seu peso no desenvolvimento de alguns dos países mais povoados do mundo.

Por Thalif Deen, da IPS – 

Nações Unidas, 8/7/2016 – Todos os projetos a serem financiados pelo BAII, criado em 2015, com sede e Pequim, serão “ajustados, verdes e limpos”, segundo seu presidente, Jin Liqun. “O banco tem a marca de nascimento da China, mas seu crescimento é internacional”, acrescentou, pois a instituição de 57 membros inclui Grã-Bretanha, França e Alemanha.

O diretor executivo do Centro Sul, com sede em Genebra, Martin Khor, disse à IPS que “o BAII é uma iniciativa muito importante cujo momento chegou”. E recordou que, durante décadas, a atuação dos bancos de desenvolvimento internacional esteve nas mãos dos países mais industrializados, com um sistema de governança muito criticado pelas nações em desenvolvimento, que tinham direitos de votação minoritários.

Segundo Khor, “o BAII é uma instituição com estrutura de governança diferente, na qual as nações em desenvolvimento são maioria, mas também com a participação de muitos países ricos, que decidiram se unir”. Além disso, indicou que esse banco vem preencher um vazio, porque financiará a infraestrutura que as nações em desenvolvimento necessitam.

A primeira reunião da junta diretora, em junho, e também a primeira aprovação de projetos, mostra que finalmente o Banco começa a operar, e sem dificuldades. “A direção também anunciou que serão adotados os padrões globais em matéria ambiental, bem como as salvaguardas sociais. Espero que cumpram essa promessa”, pontuou Khor.

Toda a operação do novo banco, prosseguiu Khor, significará um enorme desafio para as nações em desenvolvimento, especialmente para a China, que o concebeu e realizou o maior investimento de capital, para demonstrar que podem ter êxito na condução de um banco de desenvolvimento. “Acredito que o banco terá sucesso”, ressaltou.

Em junho, a junta de diretores aprovou o primeiro investimento em quatro empréstimos: projetos de expansão e distribuição de energia em Bangladesh, melhoria em estradas no Tajiquistão, construção de uma autopista no Paquistão, e melhoria de assentamentos irregulares na Indonésia. O projeto de Bangladesh foi a primeira operação autônoma do BAII, e os outros três são iniciativas conjuntas com o Banco de Desenvolvimento Asiático, Banco Europeu para a Reconstrução e o Desenvolvimento, e Banco Mundial, respectivamente.

Tanto os Estados Unidos como o Japão no momento não querem se unir ao novo banco. Consultado sobre o papel de Washington, um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, John Kirby, declarou à imprensa em 2015: “Notamos que a China expressou seu interesse em encabeçar esse esforço”. Obviamente, outros países decidem o grau em que vão se envolver.

“O que considero importante para nós, e foi o que conversamos com os chineses quando estiveram aqui (nos Estados Unidos), é que aplaudimos o crescimento de uma China próspera e em paz e de uma China que contribua para a estabilidade e a segurança, o que inclui a dimensão econômica na região. Mas a participação de outros países naturalmente se trata de decisões soberanas que eles têm de tomar. E veremos como agirão”, acrescentou Kirby.

O ex-representante permanente do Sri Lanka na Organização das Nações Unidas (ONU), Palitha Kohona, afirmou à IPS que o BAII foi a resposta da China a certos desafios práticos imediatos que emergiam na Ásia Pacífico.

Apesar de alcançar a posição de segunda economia do mundo, a influência da China nas instituições de Bretton Woods (Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional) foi limitada, pois o poder de votação e os cargos mais altos estavam nas mãos dos Estados Unidos e de seus aliados, recordou, com ampla experiência em negociações de sucesso com os chineses. Naturalmente, Pequim quis garantir um papel mais significativo nas finanças e no desenvolvimento global, segundo seu novo status, acrescentou.

Além disso, o gigante asiático acumulou vastas reservas financeiras, que agora busca aplicar de forma segura e vantajosa para as partes, indicou Kohona. “O BAII também terá um papel na tentativa chinesa de projetar um poder brando. E o mais importante, muitas nações em desenvolvimento da Ásia Pacífico sempre quiseram criar uma instituição de crédito que não concedesse empréstimos burocráticos com condições inaceitáveis. O BAII foi a resposta às suas necessidades”, destacou Kohona.

O diplomata destacou que,“embora os Estados Unidos e alguns de seus aliados tenham mencionado a possibilidade de se diluírem os padrões de crédito e as considerações políticas incidirem nas decisões, é preciso recordar que o Ocidente recorreu às instituições de Bretton Woods para impulsionar seus objetivos políticos”. As condições que acompanhavam os empréstimos do FMI invariavelmente acabavam causando distúrbios nas ruas e deixando mortos.

Um caso emblemático revelado pela Wikileaks foi quando, em 2009, Hillary Rodham Clinton, então secretária de Estado, tentou impedir que o FMI estendesse um crédito de contingência ao Sri Lanka, que estava a ponto de derrotar os insurgentes Tigres tâmeis, após 27 anos de guerra civil e considerados uma organizações terrorista pelos próprios Estados Unidos, apontou Kohona.

“Washington exerceu forte pressão para impedir que seus aliados se unissem ao BAII. Mas, diante da perspectiva de que muitas de suas companhias participem de projetos de desenvolvimento em infraestrutura, muitos países ocidentais com economias em dificuldades romperam fileiras e se uniram ao banco, entre eles Austrália, Nova Zelândia, Alemanha, Grã-Bretanha e França”, explicou Kohona. “A China claramente se colocou como um ator estratégico do desenvolvimento e das finanças globais por meio do BAII”, acrescentou.

O presidente do Banco, Jin Liqun, e o vice-ministro de Finanças da China, Chi Yaobin, assinaram, em junho, um Acordo de Contribuição pelo qual esse país aportará US$ 50 milhões ao novo Fundo de Preparação para Projetos Especiais do BAII. Este órgão procura ajudar os membros do banco na preparação de “propostas sólidas de projetos”. “A contribuição chinesa, a primeira do Fundo, permitirá que este comece a operar no próximo outono boreal.

Segundo o BAII, o Fundo concederá empréstimos aos seus membros de renda média e baixa para preparar atividades prévias a projetos, como análises e avaliações ambientais, sociais, legais, de compras e técnicas, bem como serviços de consultoria. O Banco buscará mais aportes para garantir a sustentabilidade do Fundo.

A Ásia atravessa uma grande carência de fundos para infraestrutura, ressaltou Jin, mas faltam projetos financiáveis em acordo com as limitadas capacidades. “Nossos membros destacaram essas dificuldades durante o processo de criação do BAII. Estou contente por nossa direção responder rápido às necessidades de nossos membros criando o Fundo. Agradecemos a contribuição oportuna e generosa da China, que nos permitirá implantá-lo para que esteja operacional no outono”, concluiu. 

Fonte: ENVOLVERDE

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