quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Um passo para o futuro.
Instalação de placas solares na Terra Indígena Sawré Muybu, do povo Munduruku, mostra o caminho da energia verdadeiramente limpa. Foto: © Otávio Almeida/Greenpeace.

A não construção da hidrelétrica no Tapajós aponta um caminho para o setor elétrico brasileiro, que vai em direção ao futuro e passa muito longe da energia suja das termelétricas.

Por Redação do Greenpeace Brasil –

Os entusiastas da energia hidrelétrica estão tentando mostrar o cancelamento de São Luiz do Tapajós, no Pará, como algo extremamente prejudicial ao país, que poderá “sujar” nossa matriz, levando ao aumento do uso das termelétricas. Isso não é verdade. Pelo contrário, o cancelamento de São Luiz do Tapajós representa a oportunidade para o Brasil colocar de vez um pé no futuro e investir nas energias renováveis verdadeiramente limpas, como a solar e a eólica.

Energia hidrelétrica que custa o desmatamento da floresta, a morte de milhares de animais que vivem nesses locais, o deslocamento forçado de pessoas que dependem dos rios para sobreviver, roubando seu presente, seu futuro e desrespeitando a Constituição, não pode ser considerada energia limpa.

Nas últimas décadas, devido à abundância de nossos rios, o país optou por gerar eletricidade a partir de usinas hidrelétricas, criando assim um modelo “hidro dependente”. Por volta dos anos 2000, quando a energia das hidrelétricas não foi suficiente e tivemos a crise do “apagão”, apostou-se na construção de um grande número de usinas térmicas. Em 2014 e 2015, por conta da grave seca que comprometeu a geração das hidrelétricas, as térmicas ficaram ligadas o tempo todo, o que encareceu – e muito – a conta de luz do consumidor, sem falar no custo ambiental.

Construir novas hidrelétricas, como São Luiz do Tapajós, ou as outras previstas para a Amazônia, é justamente perpetuar esse antigo modelo, que já se mostrou poluente e caro para o consumidor, e que sempre vai precisar de mais térmicas quando não conseguir atender a demanda. Por conta desse “vício” nas hidrelétricas, que custa a destruição das nossas florestas e dos povos que vivem nelas, outras fontes de geração foram desconsideradas por muito tempo e mesmo hoje são pouco aproveitadas. Para piorar, atualmente, dados revelam que os efeitos das mudanças climáticas nas próximas décadas podem levar a reduções nas vazões dos rios amazônicos da ordem de 20% a 30%, indicando que são grandes as chances dessas usinas não conseguirem entregar a energia prometida.

Enquanto isso, o mundo caminha em outra direção. Em 2015, a China alcançou dois novos recordes mundiais de energia limpa, instalando 30,8 gigawatts (GW) em usinas eólicas e 15,2 GW em usinas solares. Estados Unidos e Alemanha também não ficam muito atrás. Aqui no Brasil, o preço médio da fonte eólica já caiu cerca de 40% entre 2009 e 2012 e hoje ela já é uma das mais baratas. Não há mais justificativas para continuarmos protelando o uso dessas fontes.

Dizer que sem São Luiz do Tapajós precisaremos usar as termelétricas por mais tempo é o equivalente a dizer que o planejamento energético do país está paralisado. Ora, se um projeto foi cancelado, é necessário contratar alternativas que já existem e são verdadeiramente limpas para substituí-lo, e não usar as térmicas, que foram concebidas apenas para situações de emergência.

 Sabemos que não falta sol e nem vento no país, então por que não contamos com essas fontes para suprir nossa demanda?

Hoje é possível fazer a substituição do projeto de São Luiz do Tapajós com uma combinação de usinas eólicas, fotovoltaicas e a biomassa, que poderiam fornecer toda a energia que era prevista para São Luiz do Tapajós no mesmo período de tempo e com patamar similar de investimentos. Para isso basta aumentar em 50% o nível médio de contratação atual dessas fontes.

Além de possível, apostar nessas novas fontes é ainda mais vantajoso e torna o sistema mais seguro, pois usinas eólicas, fotovoltaicas e a biomassa podem trazer energia firme para o sistema e ainda são descentralizadas, ou seja, produzem energia em muitos lugares e mais perto dos centros de consumo, diminuindo o alto custo com novas linhas de transmissão. Como resultado, teríamos um suprimento diverso, deixando de depender apenas de hidrelétricas ou de combustíveis fósseis. Mas, claro, é preciso vontade política para investir nessas fontes, em vez de continuar olhando para o passado. O cancelamento de Tapajós nos deu a oportunidade de darmos um passo à frente no setor energético, impulsionando o uso de novas e modernas fontes de energia, e não um passo atrás, como propõe o discurso falso e ultrapassado das térmicas. Chegou o momento de mudar de vez essa história.


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