segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Árvores na cidade: isso não é contradição.

Por Cibele Quirino*

Afinal, existem árvores na rua onde você mora, onde trabalha, nos caminhos que você percorre no dia a dia? Na cidade mesmo, nas calçadas, nos canteiros, ao alcance dos olhos e das mãos, durante a semana. Inúmeros estudos apontam os benefícios da arborização urbana para a qualidade de vida, fruto dos serviços ambientais de uma cidade mais verde. O próprio Manual da prefeitura de São Paulo sobre o tema relaciona as influências do meio ambiente equilibrado, mas dependendo do lugar, do distrito observado, isso pode soar como realidade ou quase ficção.

A prefeitura de São Paulo não possui um dado oficial das árvores que estão nas vias da cidade, mas estima que entre 650 e 780 mil garantem certa dose de verde ao sistema viário.

Como forma de ampliar esse número, a atual gestão manifestou o compromisso de plantar 900 mil mudas de árvores nos passeios públicos, canteiros centrais e no Sistema de Áreas Verdes, via Programa de Metas 2013-2016. No entanto, a menos de quatro meses do término do prazo, apenas cerca de 334 mil mudas foram plantadas, o que corresponde a36,8%, segundo dados do Planeja Sampa – site oficial do Programa.

No último dia de agosto, a Rede Nossa São Paulo realizou evento para divulgar balanço do cumprimento do Programa de Metas da gestão Fernando Haddad. “Das 123 metas, temos 19 superadas, 42 concluídas, realização de 61 metas, o que dá 49,59% do previsto”, revelouo coordenador da Secretaria Executiva da Rede Nossa São Paulo, Maurício Broinizi.

Quando o assunto são as metas relativas ao objetivo Meio Ambiente, o balanço mostra variedade nos níveis de execução. “Das seis metas, duas estão abaixo de 50%, (metas 86 e 88);uma está entre 50% e 75% (meta 84); umaacima de 75% (meta 87); e duas 100% concluídas (metas 83 e 85). A política de arborização avançou relativamente pouco”, pontuou Maurício Broinizi. Vale ressaltar que os temas relativos a Resíduos Sólidos constituem uma área independente do objetivo Meio Ambiente.

Meio Ambiente: cumprimento das metas
Abaixo de 50%

Meta 86:readequar e requalificar com ações prioritárias 34 parques e Unidades de Conservação Municipais;
Meta 88:plantar 900 mil mudas de árvores em passeios públicos, canteiros centrais e no Sistema de Áreas Verdes;
Entre 50% e 75%
Meta 84:concluir as fases II e III do Programa de Mananciais beneficiando 70 mil famílias;
Acima de 75%
Meta 87: implantar 32 polos de educação ambiental, capacitando e sensibilizando 120.000 cidadãos;
100% concluídas
Meta 83: criar sistema de contrapartida para fins de implantação de áreas verdes e financiamento de terrenos para parques;
Meta 85: criação e efetivação de programa de incentivos fiscais para prédios verdes.

O secretário adjunto da Secretaria Municipal de Governo, Weber Sutti, presente no evento, afirmou que o plantio das 900 mil mudas (meta 88)de fato não será cumprido na totalidade.“A meta de arborização foi muito ambiciosa, praticamente dobrar o que foi realizado na última gestão, não vamos conseguir cumprir.Em muito porque o plantio de árvores na cidade geralmente tem a ver com os empreendimentos imobiliários, com os termos de ajustamento de conduta, e isso também teve um decréscimo na ação do mercado imobiliário, o que conseguimos foi igualar o que havia sido feito pela gestão anterior”.

No entanto, acompanhamento do balanço do Programa de Metas 2009 a 2012, feito pela Rede Nossa São Paulo,com base nos dados do site da Agenda 2012 – programa de metas da gestão em questão – registrou nos dois primeiros anos, o plantio de mais do que o dobro de mudas da atual gestão:em 2009, foram 202.929 mil mudas (101% do previsto) e em 2010,541.043 mil mudas, 271% do previsto.

Mapa da Desigualdade

O quanto São Paulo é desigual? Muito, no quesito Cultura/Acervo de livros para adultos em bibliotecas municipais, o abismo social é de 6.087,94 vezes. O melhor indicador está no distrito da Sé com 7,92 livros por habitante e o pior no Jardim São Luís com índice de 0,001 – distante do mínimo recomendado pela Unesco de 2 livros por habitante.

Na área da saúde, o desigualtômetro (a diferença entre o melhor e o pior índice) chega a 1.138,15 vezes. São 46,45 leitos hospitalares na Bela Vista e 0,041 na Vila Medeiros, para cada mil habitantes. A referência é do Ministério da Saúde que recomenda de 2,5 a 3 leitos hospitalares públicos e privados para cada mil habitantes. Neste tópico há 31 distritos onde o índice é 0.

Ocoordenador geral da Rede Nossa São Pauloe do Programa Cidades Sustentáveis, Oded Grajew, acredita que para diminuir e se possível zerar a desigualdade, o primeiro passo é conhecer as respectivas dimensões e as múltiplas faces. “O mapa da desigualdade busca fazer com que as pessoas tomem conhecimento e saibam como e onde a desigualdade se expressa. A ação é também uma tentativa de em breve retirar das estatísticas os indicadores zero”.

Entre os cerca de 40 temas, o índice que se refere ao meio ambiente é o dado sobre a relação m2 de área verde pública/por habitante. “A referência de no mínimo 12m2 de área verde pública/ por habitante vem da Organização Mundial da Saúde. Na Cidade Ademar o índice é de 0,773m2, menos de 1m2. Parelheiros tem 441,85 vezes mais área verde pública/por habitante do que a Cidade Ademar, com 341m2, concluiu Oded Grajew.

Meio Ambiente/Área verde por habitante

Desigualtômetro: 441,85 vezes
Melhor indicador: 341,44/Parelheiros
Pior indicador: 0,773/ Cidade Ademar
Referência: a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o mínimo de 12m2 de área verde por habitante
Fórmula: número total, em m2, de áreas verdes ÷ População total

Confira os dados completos do Mapa da Desigualdade aqui.

* Cibele Quirino é jornalista freelancer pós-graduada em Meio Ambiente e Sociedade. Possui experiência também como coordenadora de comunicação. É autora de biografias da série de livros “Me conte a sua história”, programa voluntário com foco no bem-estar de idosos que vivem em instituições de longa permanência.


Fonte: ENVOLVERDE

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