sexta-feira, 7 de outubro de 2016

O verde que está logo depois da esquina.
Foto: Shutterstock

Por Carolina de Barros e Alexandre Gonçalves Jr*

O contato com a natureza pode parecer complicado e muito raro, difícil de acontecer. Só que há várias maneiras inovadoras para se relacionar com o ambiente, muito mais próximas do que as pessoas costumam imaginar. 

Experiências com o meio ambiente podem acontecer de maneiras bastante práticas, sem a necessidade de sair dos centros urbanos ou rurais. É possível, sim, vivenciar a natureza sem ser preciso se deslocar para alguma região intocada.

Ao descer uma rua asfaltada, pode ser que você se depare com um grande aglomerado de árvores. Apesar do cenário parecer contraditório, essas são as florestas urbanas, que trazem inúmeros benefícios, além da sombra e do som dos passarinhos, e vêm se tornando cada vez mais conhecidas.

São fragmentos florestais situados dentro de cidades ou próximo a elas, existentes em diversos países, inclusive no Brasil. Criam em si um micro ecossistema, podendo abrigar pequenos animais e espécies variadas de plantas, contribuindo assim para a manutenção da biodiversidade. Auxiliam também a diminuir o impacto das ilhas de calor, fenômeno comum em cidades, sendo responsáveis por uma redução considerável da temperatura. Outro fator importante é aumentarem a absorção de água, fundamental para evitar enchentes em regiões altamente impermeabilizadas, como são as áreas urbanas.

Além de terem um papel fundamental na conservação, possuem caráter social. Funcionam como locais de lazer, estimulando a coexistência do homem com espaços florestais no dia a dia, o que tem efeitos significativos na melhora da qualidade de vida. Nos maiores centros brasileiros, o investimento urbanístico nas florestas, ainda que pequeno, é crescente. Lugares como o Parque Tenente Siqueira Campos (Trianon), em São Paulo, ou a icônica Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, são visitados diariamente por milhares de pessoas, que buscam um refúgio em meio ao caos das conurbações.

Se é possível uma aventura na mata a algumas quadras de casa, por que não fazer o mesmo, sem precisar abrir a porta? Outra iniciativa que tem se tornado muito popular, os telhados verdes possibilitam realocar a vegetação onde antes era impensado: no alto de uma construção. De maneira análoga às florestas urbanas, surtem efeito na retenção de água, diminuição da temperatura e melhoria do ar. Porém, possuem um benefício próprio, muito desejável para quem mora em cidades constantemente alertas – podem funcionar como isolantes acústicos, diminuindo a poluição sonora que chega aos cômodos do imóvel.

Segundo o Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica (Idhea), coberturas vivas não precisam de nenhum tipo de manutenção especial. Não requerem nem poda, nem adubação ou irrigação intensiva. No entanto, apesar do cuidado simples, para implantar um telhado verde é essencial a consulta a um profissional, engenheiro ou arquiteto.  Eles são construídos em quatro camadas específicas, o que viabiliza sua existência sem que corra risco de infiltrações na casa ou prédio. A base é feita de material impermeabilizante, acima da qual fica a camada responsável por acumular a água, utilizada pelas plantas, seguida da terra e da vegetação. Nem toda construção é capaz de sustentar o peso de uma cobertura viva, por isso é necessário que a obra seja, antes, avaliada por um especialista.

A prática já é relativamente antiga, tendo começado na Europa na década de 1960, mas só ganhou expressão mundial recentemente.

Telhado Verde

Em 2014, a Avenida Paulista, em São Paulo, teve seu primeiro telhado verde construído no prédio da TV Gazeta e, em Recife, encontra-se em trâmite um projeto de lei para tornar obrigatória a instalação de tetos verdes nos prédios. Para quem não vê a hora de entrar na moda, mas não tem possibilidade de fazer um verdadeiro telhado vivo em casa, não há problemas. Alternativas mais viáveis são hortas verticais ou jardins de vasos, que podem ser plantados até reutilizando garrafas PET.

Os telhados verdes criam em si um micro ecossistema, podendo abrigar pequenos animais, como aves, e espécies variadas de plantas, contribuindo assim para a manutenção da biodiversidade. 

Auxiliam também a diminuir o impacto das ilhas de calor, fenômeno comum em cidades, sendo responsáveis por uma redução considerável da temperatura. Outro fator importante é aumentarem a absorção de água, impedindo infiltrações e até a economia dela, pois a água pode ser absorvida e servir para reuso.

Porém, possuem um benefício próprio, muito desejável para quem mora em cidades constantemente alertas – podem funcionar como isolantes acústicos, diminuindo a poluição sonora que chega aos cômodos do imóvel.
O mais importante é que a cobertura seja feita com flora nativa, numa maneira de resgatar e preservar as espécies locais que foram desmatadas para dar lugar a cidade. Em São Paulo, foi registrado uma diferença de até 14°C na temperatura entre um bairro arborizado e outro sem árvores, no mesmo dia e horário, como relatam os especialistas da Sky Garden. Isso pode ser solucionado com a presença de telhados verdes, que contribuem para uma temperatura mais amena na região e para umidificar a área nos meses de seca.

Além dos benefícios ecológicos, também auxiliam numa melhor qualidade de vida, podendo ser ambientes de lazer e visita. O telhado verde da Cásper Líbero, por exemplo, é aberto a seus alunos e funcionários, que o utilizam em intervalos e horário de descanso, sendo um lugar muito mais agradável e natural, por ser ao “ar livre”.


Agroflorestas

Quando a ordem é plantar, o Brasil, sem dúvida, figura entres as maiores potências. Mas isso nem sempre está integrado a preservação. O interior brasileiro é recheado de plantações extensivas de monocultura e os ecossistemas nativos, no campo, são reduzidos a retalhos. Novas práticas, no entanto, buscam aliar o desenvolvimento da agricultura com a conservação da fauna e flora regionais. 

São as agroflorestas, que integram o plantio, a mata e o homem.

Trazido pelo suíço Ernst Götsch, o manejo consiste na utilização de espécies produtoras de alimento inseridas entre espécies nativas, sendo uma reprodução de sucessões ecológicas, ou seja, do surgimento gradual de áreas florestais em locais deteriorados. Götsch foi capaz de revitalizar uma área degradada de 480 hectares, que passou a ter microclima próprio e recuperou 14 nascentes.

Apesar de não ser muito disseminado no país, esse manejo sustentável já alcançou várias regiões. A Fazenda São Luiz, localizada em um polo agropecuário, próxima as cidades de Morro Agudo e São Joaquim da Barra (SP), é adepta da prática desde 1997. A bióloga Denise Bittencourt Amador conta que o cotidiano de trabalho requer observação e sensibilidade para perceber os processos naturais. 

Conhecimentos sobre funções das plantas e dos animais e organização dos ciclos de chuvas são indispensáveis. Ela afirma que a produtividade seria suficiente para atender a populações maiores, pois a produção de alimento por área é maior do que na agricultura convencional, mas preservando água e solo.

A técnica, porém, segundo a bióloga, precisa de melhoria nas tecnologias e de certificação.

As espécies utilizadas no plantio variam de acordo com a região, prezando sempre pela conservação da flora natural, que é o que permite o contato humano com o ambiente, no contexto rural. Na Fazenda São Luiz, são cultivados principalmente café, banana, inhame e gengibre, em conjunto com as árvores nativas, entre as quais se destacam baru, jatobá, palmeira guariroba, babosa e mutambo.

* Alexandre Gonçalves Jr é jornalista estudante da Faculdade Cásper Líbero. É estagiário na área de comunicação no Instituto Pro Bono e se interessa por temas de direitos humanos, meio-ambiente e design. Carolina de Barros é jornalista, estudante da Faculdade Cásper Líbero, e graduanda em biologia na USP. Se interessa por sustentabilidade e meio ambiente.


Fonte: ENVOLVERDE

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