Saiba
porque andar de bicicleta em Marrocos será sua melhor decisão.
Por Alexandre Gonçalves Jr e Carolina de Barros, de
Marrakech, especial para a Envolverde –
Marrakech já teve um histórico de grande uso de
bicicletas como meio de transporte e agora tenta voltar a estas origens devido
às mudanças climáticas.
Andar em duas rodas por Marrakech pode ser
desafiador. A cidade que recebe a COP22 possui um trânsito para lá de caótico e
praticamente sem semáforos. Por aqui, a sinalização são buzinas e gritos em
árabe. Apesar disso, as ciclovias são uma realidade na cidade, mas são pouco
respeitadas pelos carros e ônibus.
Bicicletas, motocicletas, pedestres e carros
disputam as ruas da Medina, centro da cidade de Marrakech, Marrocos. Foto:
Alexandre Gonçalves Jr
Pegar uma bicicleta na cidade vermelha é uma chance
segura (ou nem tanto) de se aventurar. Sem andar sempre por ciclovias, os
ciclistas pedalam entre os carros, caminhões, carroças, tuc tucs, motos e
pessoas. A todo momento, temos que ficar atentos para desviar do que está logo a
frente. Mas vale a pena pelos cheiros temperados que impregnam o ar, pelo vento
fresco e pelas crianças que apostam corrida com a gente na saída da escola.
Enquanto digo um arranhado “excuse moi” depois de quase atropelar alguém,
continuo a tentativa falha de me locomover por entre esse caos que faz sentido,
mas ao qual ainda não estamos acostumados.
Pedaladas sustentáveis
Ao andar de bicicleta por Marrakech, é possível
perceber a substituição quase que total por motocicletas. Saad Jittou, que
trabalha na organização Pikala Bikes (pikala significa bicicleta no árabe de
Marrakech), conta que até a década de 70 muitas pessoas utilizavam bikes, mas
que, por conta da pressa cotidiana, o uso de motocicletas aumentou. “As
políticas de Marrocos estão mudando por causa da COP22 e as iniciativas estão
focando nas mudanças climáticas. Acredito que tentarão incentivar as pessoas a
utilizarem bicicletas”, conta.
Bicicletário que repara bicicletas para a população
durante a realização da COP. Foto: Alexandre Gonçalves Jr
Dentro das ações da COP22, este evento paralelo,
idealizado pela fundação Art of Change 21 em parceria com a Pikala Bikes, que é
uma ONG marroquina com apoio de holandeses, instalou um bicicletário em uma das
avenidas mais movimentadas da cidade e convida os visitantes para passeios
grátis que mostram a Marrakech vista pelos ciclistas. A organização reparou
bikes conseguidas em lixões na Holanda, reutilizando e dando nova vida ao que
já era velho em outro lugar. Na praça, uma pequena multidão divide o espaço
entre bicicletas para poder usufruir do serviço de reparo disponibilizado.
Foto: Alexandre Gonçalves Jr
Estações de aluguel, como as já existentes em São
Paulo, foram recém inauguradas aqui em Marrakech, buscando uma nova alternativa
de meio de transporte sem emissão de gases estufa. “Essa iniciativa não é só
para a COP. Ela começou na COP e depois será para o uso geral da cidade. Essa
nova mentalidade, que já existiu no passado, que nós devemos pedalar, isto será
bom”, reflete Jittou.
Rumo à inovação
Além do uso pessoal, as bicicletas ao redor do
mundo estão se tornando uma alternativa para pequenos comerciantes e também
para grandes empresas de entregas. Esta já é a realidade de países como
Espanha, Holanda, Dinamarca e França. As vantagens em utilizar este transporte
são a baixa emissão de gases estufa e o fácil acesso por menores vias, o que
torna a entrega mais rápida ou possibilita o negócio em regiões históricas que
não podem ser acessadas por carros. Além de, é claro, ter o bom efeito
colateral de tornar os funcionários mais saudáveis.
Para carregar grandes quantidades de peso foram
desenvolvidas as “cargo bikes”, que podem carregar até 800 quilos. A tecnologia
criada para possibilitar essa capacidade modificou a estrutura das bicicletas,
incluindo até motores movidos a energia elétrica e containers acoplados às
magrelas.
Pequenos comércios que utilizam do “food delivery” também possuem
bicicletas adaptadas com placas solares que geram energia para refrigerar o
compartimento de entrega.
Jos Sluijsmans, diretor do Cargo Bike Festival e
membro da Federação Europeia de Ciclo-logística, acredita que a substituição de
carros ou vans por bicicletas seja o futuro dos serviços de entrega. Ele afirma
que 25% dos deliveries feitos atualmente na Europa já poderiam ser substituídos
por bicicletas e a tendência é só aumentar, no continente e no mundo. Na visão
de Sluijsmans, a melhor maneira para diminuir a poluição e o congestionamento
causado pelos automóveis é substituí-los por bikes.
“A única solução é também
ter espaço para as bicicletas. O primeiro passo é construir ciclovias. Isso vai
ser o futuro, mas precisamos de apoio e atitude dos governantes para isso
acontecer”, acredita.
Fonte: ENVOLVERDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário