quarta-feira, 26 de abril de 2017

Agritempo GIS, sistema agrometeorológico para celular e tablet ganha versão mais interativa.

Foto: Nadir Rodrigues
Aplicativo permite salvar locais favoritos

O aplicativo Agritempo GIS, que fornece informações agrometeorológicas em tempo real, acaba de ganhar uma versão mais amigável e interativa. Criado para a plataforma Android, ele fornece informações agrometeorológicas atualizadas diariamente, para todo o Brasil. O software também disponibiliza, com acesso gratuito, índices de seca e previsão de geadas.

Mapas de monitoramento e previsão para a agricultura, gerados em tempo real, agora podem ser consultados com um toque na tela do smartphone ou tablet. “A grande vantagem da nova versão é a visualização. É só clicar no mapa”, conta o pesquisador da Embrapa Informática Agropecuária Ariovaldo Luchiari Júnior. Para saber como está a disponibilidade de água no solo, por exemplo, é só selecionar esse item no menu que é mostrado na tela um mapa numa escala de cores indicando a distribuição espacial dessa condição no País.

Além disso, basta mais um clique para se ter acesso às informações referentes ao local onde o usuário se encontra, que são apresentadas com muita rapidez, com indicação do respectivo bioma. Outra novidade é que podem ser selecionados pontos no mapa e adicionados à lista de locais favoritos. Ainda é possível fazer buscas e consultar a descrição das indicações de cada mapa apresentado.

O aplicativo oferece a mesma funcionalidade disponível no Sistema de Monitoramento Agrometeorológico Agritempo <www.agritempo.gov.br> disponível na internet, chamada WebGIS, que integra dados agrometeorológicos georreferenciados. Os vários mapas estão distribuídos em categorias que incluem estiagem, estiagem agrícola, evapotranspiração, precipitação, temperatura, condições para tratamento fitossanitário e para manejo do solo, necessidade de irrigação e condições para colheita, entre outras.

“Com esse app, o monitoramento agrometeorológico ganha mobilidade”, destaca André Fachini Minitti, analista de transferência de tecnologia da Embrapa Informática Agropecuária. O Agritempo GIS usa o sistema de posicionamento global, ou GPS, do celular ou tablet, identificando automaticamente onde o usuário se encontra. As informações ajudam a fazer o monitoramento de forma mais rápida e também subsidiam a tomada de decisão por produtores, agentes de extensão, consultores agrícolas, agências de crédito e seguro rural.

Para Luciano Vieira Koenigkan, analista da Embrapa Informática Agropecuária e um dos desenvolvedores da tecnologia, uma vantagem de se usar esses serviços espaciais é que são baseados em padrões abertos e permitem que outros sistemas se conectem a eles e façam uso dos dados. “As tecnologias geoespaciais trazem melhoria na forma de visualizar a informação. É possível ver mais detalhes nos mapas e de uma forma localizada”, explica. Essa plataforma é bastante acessível e também permitirá adicionar novas fontes de informações geográficas no futuro.


Mais de 1.600 estações meteorológicas

Desde 2002, é possível consultar informações agrometeorológicas na internet pelo Agritempo. Desenvolvido em parceria entre a Embrapa Informática Agropecuária e o Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o sistema conta com uma base de dados gerada por cerca de 40 instituições. São mais de 1.600 estações meteorológicas distribuídas pelo País que fornecem registros diários.

Para atender à crescente demanda por tecnologias que informatizam o gerenciamento das atividades agrícolas, em 2015 foi criado o aplicativo Agritempo. A ideia foi levar a informação até o campo auxiliando na rápida tomada de decisão. Essa tecnologia também apresenta mapas de monitoramento e previsão, índices de seca e previsão de geadas, mas os mapas são estáticos.

Segundo Raíssa de Almeida Papa, coordenadora de Risco Agropecuário do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), as funcionalidades do Agritempo GIS auxiliam na identificação e dimensionamento dos riscos climáticos inerentes à atividade agrícola concomitante às informações publicadas pelas portarias do Zoneamento Agrícola de Risco Climático. “Esta ferramenta será muito útil para o monitoramento agrícola, devido à agilidade da informação, e tem o intuito de minimizar a exposição do produtor ao risco climático, reduzindo-se assim as perdas decorrentes de eventos adversos e, consequentemente, garantindo a sustentabilidade da atividade ao produtor”, afirma.

Como obter:
O Agritempo WebGIS está disponível aqui para dispositivos com sistema Android.


Conheça outros aplicativos da Embrapa.

Por Nadir Rodrigues (MTb 26.948/SP)
Embrapa Informática Agropecuária


Fonte: EcoDebate
Maria-do-nordeste, ave nativa do Nordeste brasileiro, corre risco de extinção e precisa de ajuda.
A maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae)

Uma ave pequenina, amarela e parda, típica dos chamados ”brejos de altitude”, localizados no estado do Ceará, Pernambuco e Paraíba está em grande perigo. A maria-do-nordeste (Hemitriccus mirandae) praticamente desapareceu de seu habitat natural e os pesquisadores buscam agora descobrir seu paradeiro. Para isso, iniciaram o projeto de pesquisa intitulado “Por onde anda a maria-do-nordeste no estado do Ceará?”.

O estudo, da Associação Caatinga, da Universidade Federal do Ceará e Universidade do Estado do Rio de Janeiro, com oapoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, pretende melhor entender a distribuição geográfica e tamanho populacional, além de reavaliar o status de conservação da espécie.

Segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) e o Ministério do Meio Ambiente, a maria-do-nordeste encontra-se hoje ameaçada na categoria “vulnerável”, o que significa que a espécie enfrenta um risco elevado de extinção na natureza em um futuro bem próximo, a menos que as circunstâncias que ameaçam a sua sobrevivência e reprodução melhorem. De acordo com a bióloga Flávia Guimarães Chaves, doutora em Ecologia e Evolução da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e responsável pelo estudo, as principais ameaças à espécie são a perda dehabitat, a degradação do meio ambiente, dificuldade de troca genética e as mudanças climáticas.

Segundo a pesquisadora, as mudanças climáticas podem atuar modificando as condições que permitem a existência da ave. “As áreas de ocorrência da ave têm temperaturas mais amenas e precipitações maiores que as áreas ao redor”, explica. A doutora explica que um aumento de temperatura e ausência de chuvas podem colocar em risco a espécie. “Por se encontrarem em áreas isoladas, que são serras distantes umas das outras, e não serem aves migratórias, também é praticamente impossível que haja uma troca genética entre as populações, o que contribui para uma diminuição da variabilidade genética da espécie”, alerta.

Desde o início da pesquisa, em setembro do ano passado, até o momento, a ave foi encontrada em 11 municípios dentre os 18 visitados pela equipe. “A princípio, as quatro regiões amostradas seriam Serra de Baturité, Serra de Ibiapina, Serra da Meruoca e Serra de Uruburetama. Infelizmente, a ausência de detecção da espécie nesta última serra impede que ela seja incluída no monitoramento do tamanho populacional. Observando a mata presente no local onde ela foi avistada anos atrás, percebemos que pouco resta”, lamenta a bióloga. Os últimos registros da maria-do-nordeste em Uruburetama datam de 2007.

Para Malu Nunes, diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, um cenário tão ameaçador para uma espécie é um exemplo claro da necessidade de mais esforços em prol da conservação da biodiversidade brasileira. “A maria-do-Nordeste é apenas uma das diversas espécies altamente prejudicadas pela degradação do meio ambiente. É preciso que haja um trabalho integrado entre diversos atores, como instituições da sociedade civil, governos e população, no sentido de conservar as áreas naturais que ainda restam no nosso país e tentar reverter esse quadro”, completa Nunes.

Participação da comunidade

De acordo com a responsável pelo projeto, um trabalho de sensibilização e acesso à informação da comunidade local está sendo realizado em parceria com escolas e associações de moradores. 

“Acreditamos que apenas conseguimos conservar aquilo que conhecemos. A comunidade poderá nos ajudar atuando na diminuição da degradação ambiental e perda de habitat, bem como replantando mudas de espécies vegetais nativas para recuperar algumas áreas degradadas”, explica Chaves.


Fonte: EcoDebate
Cientistas documentam entrada de plástico na cadeia alimentar terrestre.
A poluição por plásticos é muito grande em locais como esta praia em Mumbai (Índia). Foto: UN Environment-Divulgação.

Uma equipe de cientistas mexicanos e holandeses documentou pela primeira vez a entrada de microplásticos na cadeia alimentar terrestre, graças a um estudo de campo desenvolvido na reserva da biosfera de Los Petenes (México). As informações são da agência EFE.

Apesar de existirem, há anos, estudos sobre a entrada do plástico na cadeia alimentar marinha, este seria o primeiro trabalho documentando o fenômeno no entorno terrestre, disse nesta terça-feira (25) a cientista mexicana Esperanza Huerta.

Ela apresentou hoje, em Viena, durante reunião da União Europeia de Geociências, o resultado de um estudo desenvolvido junto à Universidade de Wageningen, na Holanda. A pesquisadora mostrou que, devido à falta de recolhimento e gestão dos plásticos, os habitantes da zona de Los Petenes os queimam e enterram no chão de suas hortas, o que aumenta o risco de microfragmentação.

Para avaliar a situação, os pesquisadores analisaram em setembro o solo e as minhocas, as fezes e a moela de galinhas domésticas de 10 hortas dessa reserva mexicana. Assim, foi possível documentar a presença de plásticos de diminuto tamanho na terra, dentro das minhocas e nas fezes e na moela das galinhas analisadas, o que pode representar risco para a saúde humana.

Trabalho pioneiro

“Este é o primeiro trabalho feito em sistemas terrestres que mostra como o plástico entra na cadeia alimentar”, explicou Esperanza. “Não sei por que não foi feito [esse tipo de estudo] antes. Talvez não tenha havido consciência para fazê-lo”, acrescentou a pesquisadora, que considerou que as pessoas não sabiam do potencial perigo do descarte descuidado do plástico.

Esperanza disse que as minhocas, ao digerir o plástico, ajudam a fracioná-lo, e essa substância, depois, passa às galinhas que se alimentam dela. As galinhas também se contaminam diretamente, porque beliscam plásticos que aderem a restos de comida, acrescentou a pesquisadora.

Ela ressalatou que, como Los Petenes é uma reserva da biosfera e seus habitantes recebem educação ambiental, é possível que, em outras regiões, a situação seja pior. Para Esperanza, o grande problema é o costume de queimar o plástico, o que agrava a contaminação. “[As pessoas] pensam que, ao queimá-lo resolvem o problema, mas o plástico, então, fica acessível aos invertebrados do chão e, se for acessível para eles, é também para o resto da cadeia alimentar. Para as galinhas, por exemplo. E as pessoas comem galinhas”, resumiu.

A pesquisadora disse que, nas moelas analisadas, foram  encontradas concentrações de microplásticos e lembrou que essa parte da galinha é usada em diferentes pratos mexicanos. Além disso, pessoas ouvidas por Esperanza confessaram que não limpavam as moelas por dentro, que somente as lavavam por fora e depois as coziam, uma prática que a pesquisadora considera preocupante.

Sobre o possível efeito do consumo de plástico na saúde humana, ela disse que são necessários mais estudos, mas considera um “grande risco”.

Mais mortalidade, menos fertilidade

Esperanza Huerta, que é especialista em minhocas, disse que, dependendo da concentração e do tempo de exposição ao plástico, a mortalidade desses invertebrados aumenta de forma clara e sua fertilidade se reduz.

Para a pesquisadora, embora o acesso ao plástico tenha melhorado a vida das pessoas, sua escassa degradação é um grande problema e deveria haver algum tipo de regulamento internacional desse material para evitar doenças e a poluição crescente com o produto.


Fonte: EBC
RIC (Rússia, Índia e China): o triângulo estratégico que pode mudar a governança mundial, artigo de José Eustáquio Diniz Alves.
O termo BRIC (tijolo em inglês) foi inventado, em 2001, pelo economista Jim O’ Neill, do banco de investimento Goldman Sachs, com o objetivo de orientar as empresas e os investidores mundiais como ganhar dinheiro com os grandes países “emergentes” do mundo: Brasil, Rússia, Índia, China. Estes quatro países estão entre aqueles da comunidade internacional com maior território ou maior população. O termo fez grande sucesso, especialmente no período do superciclo das commodities. 

Mas no acrônimo original não havia nenhum país da África, o que era politicamente incorreto. Então foi incluída a África do Sul (South África) e o termo BRIC ganhou uma letra a mais, se transformando em BRICS (que seriam os tijolos da nova economia global). Porém, a África do Sul sempre foi um país muito pequeno (diante dos 3 gigantes) e o Brasil virou país submergente, depois de quatro anos de redução do PIB per capita (de 2014 a 2017). Quinze anos após a invenção do termo, os BRICS desmoronaram.

Mas tirando a primeira letra e a última, o acrônico vira RIC (Rússia, Índia e China) que são os três países que estão forjando uma nova aliança estratégica global e reconfigurando a governança mundial. A Rússia possui o maior território do mundo (área de 17,1 milhões de km², mais de duas vezes o tamanho do Brasil). Índia e China são os dois países mais populosos. Em 2016, a China tinha 1,38 bilhão de habitantes e a Índia 1,33 bilhão de habitantes (a Rússia tinha 143 milhões de habitantes). Daqui a 20 anos, em 2036, a China terá 1,39 bilhão e a Índia terá 1,66 bilhão (a Rússia terá 132 milhões de habitantes). Portanto, até 2036, Índia e China (IC), somarão mais de 3 bilhões de habitantes.

Em termos econômicos os RICs já são uma parcela significativa na economia internacional. Segundo dados de 2016, do FMI (em poder de paridade de compra – ppp), o PIB da China era de US$ 20,9 trilhões, o da Índia de US$ 8,6 trilhões e da Rússia de US$ 3,7 trilhões. Portanto, os RIC tinham um PIB conjunto (em ppp) de US$ 33,2 trilhões. Para comparação, o PIB dos EUA (em ppp), em 2016, era de US$ 18,6 trilhões. Os RIC caminham para ter uma economia duas vezes maior do que a americana e uma população quase dez vezes maior (embora a renda per capita seja entre cinco e seis vezes menor).

Artigo de Federico Pieraccini (11/03/2017) mostra que, enquanto o mundo continua a decifrar, ou digerir, as incógnitas da nova presidência isolacionista dos EUA, de Donald Trump, diversas mudanças importantes estão em andamento na área formada por Rússia, a Ásia Central, a Índia e a China. Enquanto os EUA enveredam no nacionalismo e no bairrismo, há avanços importantes no continente euro-asiático. Com uma população de mais de cinco bilhões de pessoas, o futuro da humanidade passa por esse imenso território. China, Rússia e Irã, estados euro-asiáticos fundamentais, estão esculpindo um papel de liderança no desenvolvimento do vasto continente. A Índia e a China são importantes consumidores de gás do Irã. Além disto, tanto a China quanto a Índia estão cooperando com a Rússia em uma base militar, o que ajuda a entender como Washington perde influência.

Ainda segundo Pieraccini, olhando para os grandes projetos dentro do continente euro-asiático, várias iniciativas se destacam. O projeto “One Belt, One Road”, proposto por Pequim (investimentos de cerca de um trilhão de dólares nos próximos dez anos); a União Econômica Euro-asiática (EAEU) onde Moscou busca integrar as ex-repúblicas soviéticas da Ásia Central; e as iniciativas do Irã no Oriente Médio com o objetivo de trazer estabilidade e prosperidade para a região da Eurásia. O papel indiano neste contexto é mais difícil de administrar, comprimido dentro de um sentimento anti-Paquistão e anti-chinês, bem como uma sujeição aos Estados Unidos, acompanhado de boa amizade histórica com a Federação Russa.

O papel de Nova Delhi nesta parte do mundo é o mais indecifrável, vendo os esforços da Índia (inescrutável) para avançar seus próprios objetivos estratégicos. A importância estratégica de Moscou e Teerã é essencial para equilibrar a posição indiana. Historicamente, a Índia era um importante aliado da URSS e a Índia continuava militarmente a avançar importantes projetos militares com a Rússia. Nos últimos anos, a República Islâmica do Irã tem contribuído grandemente para a diversificação da oferta de energia indiana. O fato de Teerã ser um parceiro privilegiado de Pequim mostra como é um mundo multipolar e também ajuda a equilibrar o sentimento anti-chinês profundamente enraizado no establishment indiano. Neste caso, a Rússia e o Irã estão claramente desempenhando um papel mediador entre a China e a Índia.

Ainda segundo o autor, a estratégia global das três principais nações eurasiáticas visa, principalmente, fortalecer as fronteiras nacionais dos países com as regiões mais turbulentas. Em uma visão estratégica, que historicamente incorpora décadas de planejamento, Teerã, Moscou e Pequim compreenderam plenamente que a estabilidade é o principal objetivo a ser alcançado a fim de promover efetivamente o desenvolvimento econômico que beneficia todas as nações envolvidas. O presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, entendeu os ganhos potenciais da cooperação multipolar e o caminho seguido por seu país nos últimos meses forja um caminho para todas as outras nações asiáticas, especialmente depois que os EUA abandonaram a Parceria Trans-Pacífico (TPP).

O fato é que Rússia, Índia e China (RIC) estão assumindo um protagonismo crescente na Eurásia, com forte influência nos oceanos Pacífico e Índico. Não será difícil ampliar esta influência para a África e a América Latina. A China já é líder na produção de energias renováveis e tem um projeto de construir uma rede elétrica global UHVDC de US$ 50 trilhões até 2050. Isto seria fundamental para a mudança da matriz energética e para a redução das emissões de gases de efeito estufa (Alves, 13/03/2017).

Parece que as elites ocidentais (Estados Unidos e Europa) vão ter que se conformar com um papel diminuído na futura ordem internacional. Isto abre espaço para que o “Consenso de Beijing” substitua o “Consenso de Washington”. Enquanto os EUA constroem muro e a Europa se fecha aos imigrantes e refugiados, os RIC fortalecem um triângulo que está mudando a correlação de forças econômicas globais e a governança internacional. A união dos RICs vai fortalecer a China e apequenar os EUA.

Sob a liderança da China, a política “One Belt, One Road” (um cinturão, uma estrada), que foi anunciado pelo Presidente chinês Xi Jinping em 2013, é um plano estratégico de desenvolvimento que consiste na criação de um corredor econômico, lançado através de uma nova rota da seda. Fazem parte da nova rota, a “Silk Road Economic Belt” (cinturão econômico rota da Seda – que ligará a China com a Europa através da Ásia Ocidental e Central), e a “21st Century Maritime Silk Road” (Rota da seda marítima do século XXI – que ligará a China com os países do Sudeste Asiático, a África e a Europa). E como o nome indica, são circuitos inspirados na antiga rota da seda, que ligava o oriente e o ocidente que foi criada em 200 a.C. (ver figura acima). A China também tem liderado a transição energética para uma matriz renovável, uma mudança na indústria automobilística para os carros EVs plugin e está liderando a instalação de redes elétricas inteligentes. Tudo isto é uma amostra da transição do processo de Ocidentalização para o processo de Orientalização.

Artigo de Jeffrey Sachs “Eurasia is on the rise. Will the US be left on the sidelines?” (09/04/2017) diz: “A maior tendência geopolítica da atualidade não é a “America First”, ou a guerra global contra o terror, ou o Brexit, ou a Guerra Fria renovada com a Rússia. A novidade é a integração económica da Europa com a Ásia, especialmente a União Europeia com a China. A Europa e a Ásia convivem com a maior massa terrestre do mundo, a Eurásia. Eles estão cada vez mais conectados economicamente também. O protecionismo e a belicosidade de Trump acelerarão a integração da Europa e da Ásia e ameaçarão deixar os Estados Unidos à margem da economia e da governança global”.

O livro do jornalista Gideon Rachman, “Easternization: Asia’s Rise and America’s Decline From Obama to Trump and Beyond” mostra como tem se dado a ascensão dos países asiáticos. Ele argumenta que a crescente riqueza das nações asiáticas está transformando o equilíbrio internacional de poder. Especialmente a China, que mesmo com seus problemas (especialmente os ambientais), já está desafiando a supremacia dos Estados Unidos e da Europa.

Já o livro do pesquisador Graham Allison, “Destined for War: Can America and China Escape Thucydides’s Trap?” aponta para a possibilidade de uma Guerra entre EUA e China. A razão é a “Armadilha de Tucídides”, que se refere a um padrão mortal de estresse estrutural que resulta quando um poder crescente desafia um poder governante hegemônico. Esse fenômeno é tão antigo quanto a própria história. Sobre a Guerra do Peloponeso que devastou a Grécia antiga, o historiador Tucídides explicou: “Foi a ascensão de Atenas e o medo que isso incutiu em Esparta que tornou a guerra inevitável.” Nos últimos 500 anos, essas condições ocorreram dezesseis vezes. A guerra estourou em doze deles. Pode acontecer agora com EUA e China.

No início de abril de 2017, o presidente chinês Xi Jinping se reuniu, pela primeira vez, com Donald Trump, na residência de Mar-a-Lago, para tratar dos crescentes conflitos existentes entre as duas maiores economias do mundo. O presidente americano prometeu pressionar a China. Mas como um “Tigre de Papel” nada fez de concreto e ainda desviou o assunto com o lançamento de mísseis contra uma base aérea da Síria. O resultado foi bom para Xi Jinping que não teve que ceder nada para as pressões de Trump. A China continua com grandes superávits comerciais com os EUA, que em 2016 foi de cerca de US$ 350 bilhões. A China segue o seu caminho ascendente e os EUA seguem sua tendência declinante. Um conflito direto, no momento, foi adiado.

Mas, em vez de fortalecer os laços econômicos e culturais, a proposta do presidente Trump é aumentar os gastos militares e reduzir o gasto social. Ele pretende diminuir imposto para os ricos e fazer um grande programa de investimento em infraestrutura, o que deve elevar a dívida pública. Artigo de Eric Pianin (10/04/2017) mostra que a dívida pública americana deve ter um crescimento exponencial nas próximas 3 décadas, podendo variar de 150% do PIB a 225% do PIB (como mostra o gráfico abaixo), dependendo da dinâmica econômica.

Sem dúvida, os EUA são uma potência em declínio relativo e com sérias dificuldades econômicas pela frente. A situação da Europa Ocidental não é menos dramática. Segundo Walter Laqueur, autor do livro “Os Últimos Dias da Europa – Epitáfio para um Velho Continente”, o continente europeu vive um estado de letargia, vive uma crise do sistema do “welfare state”, um declínio demográfico, uma pressão de refugiados e imigrantes muçulmanos e africanos e está dilacerada por tensões multiculturais, além de sofrer constantes ataques de terrorismo. Para Roger Cohen, “enquanto a Europa se enfraquece pela ascensão de partidos de esquerda e da direita antimigratória, pelo esfacelamento da periferia grega, uma Europa que vira as costas para os vizinhos orientais, egoísta e sem base moral, enquanto Moscou e Pequim tramam o futuro da Eurásia. Vladimir Putin tem ideias. A Europa, por enquanto, não tem nada”.

Enquanto isto, a Rússia, a Índia e a China (RIC) vão reconfigurando a Eurásia e se fortalecendo para enfrentar uma ofensiva americana no futuro, quando o peso econômico e político dos RICs será maior e o peso da “America First” será menor. A Europa também tende a ser uma região periférica da Eurásia e ficar condicionada aos avanços da China e os RICs.

A Turquia é o país que faz a ponte entre a Ásia e a Europa e é um candidato a entrar na União Europeia. Mas a Turquia vive há meses momentos de turbulência em razão de uma tentativa de golpe por parte das forças armadas, que tentaram tomar o poder assumindo o controle de aeroportos e redes de televisão, além de bloquear pontes na capital Ancara e em Istambul. Contudo, essa tentativa, foi sufocada pelo presidente Recep Tayyip Erdogan. No domingo, 16 de abril de 2017, houve um referendo constitucional para promover as maiores mudanças políticas já vistas desde a fundação do país em 1923. O país está em estado de emergência desde o ano passado. A vitória apertada (51% x 49%) de Erdogan, ligado ao partido islâmico- conservador AKP e que assume abertamente atitudes repressivas contra os seus opositores, foi contestada pela oposição. Isto indica que a maior democracia do mundo islâmico vai enfrentar um período difícil pela frente e é mais uma frente de conflito numa região sobre hegemonia da OTAN. A Turquia praticamente saiu da União Europeia antes de entrar e é mais um sinal de fraqueza da área do Euro.

Também a eleição da França é um marco, pois indica o fim do bipartidarismo e mostra uma sociedade extremamente polarizada, em declínio do padrão econômico, com crescimento dos problemas sociais, aumento da violência, de atentados terroristas e sem saber se quer ficar na União Europeia ou se afundar no isolacionismo e na xenofobia. O presidente François Hollande, com baixíssima popularidade, desistiu de se candidatar e contribuiu para a maior derrota do Partido Socialista em décadas. O candidato da esquerda socialista, Benoît Hamon, sofreu uma derrota histórica. O Partido Republicano também fracassou.

Entre os 11 competidores, quatro estavam próximos de um empate na véspera do primeiro turno: o centrista Emmanuel Macron (24%), a ultradireitista Marine Le Pen (22%), o conservador François Fillon (19%) e o dito ultraesquerdista Jean-Luc Mélenchon (19%). No domingo (23/04), os eleitores classificaram no topo da escolha Emmanuel Macron e Marine Le Pen. Desta forma, o segundo turno será entre um candidato centrista (provável vencedor final) e uma candidata de extrema direita. 

Portanto, a despeito do bom desempenho de Jean-Luc Mélenchon (19%), o conjunto da esquerda francesa teve uma derrota esmagadora.

Não se sabe se o próximo presidente eleito terá maioria parlamentar, pois a governabilidade vai ser decidida nas eleições legislativas de junho e será bastante difícil o presidente conseguir uma maioria sólida no Legislativo. Uma próxima presidência apequenada não é um destino improvável. A França tem assento permanente no Conselho de segurança da ONU e é um país chave da União Europeia. 

Por isto, o populismo e o enfraquecimento da França têm impacto global. A França foi o berço do Iluminismo que promoveu a racionalização do mundo e fortaleceu os valores dos Direitos Humanos no sistema democrático. Mas o momento atual mostra que os ideais de igualdade, liberdade e fraternidade estão cada vez mais enfraquecidos diante das crises civilizacional e ambiental.

A Europa – que já foi a vanguarda da globalização e do desenvolvimento capitalista – tende a ser parte da periferia da Eurásia e cada vez mais dependente do progresso da China. Há de se considerar que em outras épocas históricas, a mudança de hegemonia não ocorreu pacificamente e o mundo sofreu duas Guerras Mundiais na tentativa da Alemanha de se tornar a maior potência global. Novamente uma Europa dividida e enfraquecida pode assustar o mundo.

Além do mais, a ascensão da China (e seus aliados) ao posto de superpotência do século XXI pode estar ameaçada, de início, pela sobrecarga da pegada ecológica, pela insustentabilidade da contínua degradação ambiental e pelas mudanças climáticas. Enquanto as civilizações se revezam nos ciclos históricos, o Planeta pode não suportar esta troca estratégica de hegemonia e pode sucumbir diante do alto grau de dominação e exploração dos recursos ecossistêmicos e o definhamento da comunidade biótica.

Referências:
ALVES, JED. A China e a Rede Elétrica Inteligente global, renovável e UHVDC , Ecodebate, RJ, 13/03/2017
https://www.ecodebate.com.br/2017/03/13/china-e-rede-eletrica-inteligente-global-renovavel-e-uhvdc-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Federico Pieraccini. The Strategic Triangle that Is Changing the World, Strategic Culture, 11/03/2017
http://www.strategic-culture.org/news/2017/03/11/strategic-triangle-that-changing-world.html
Eric Pianin. All Those Warnings About the National Debt May Understate the Problem,
April 10, 2017
http://www.thefiscaltimes.com/2017/04/10/All-Those-Warnings-About-National-Debt-May-Understate-Problem
Gideon Rachman. Easternization: Asia’s Rise and America’s Decline from Obama to Trump and Beyond, 2017
https://www.amazon.com/Easternization-Asias-Americas-Decline-Beyond/dp/1590518519
Graham Allison. Destined for War: Can America and China Escape Thucydides’s Trap?, 2017
https://www.amazon.com/Destined-War-America-Escape-Thucydidess/dp/0544935276
JEFFREY SACHS. Eurasia is on the rise. Will the US be left on the sidelines?, Boston Globe, 09/04/2017
http://www.bostonglobe.com/opinion/2017/04/09/eurasia-rise-will-left-sidelines/RjCjzDf8edwngjWoMfzL6M/story.html

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br


Fonte: EcoDebate

segunda-feira, 24 de abril de 2017

Inovação deve caminhar junto com sustentabilidade.
Liliane Rocha*, especial para a Envolverde – 

Os aplicativos que tanto facilitam a vida nas cidade e em ambientes virtuais são, também, a nova face das empresas. Por estarem na ponta da inovação estrariam também livres dos compromissos com a sustentabilidade empresarial?

Sabemos que a internet passou a incorporar em meados dos anos 90 as empresas on-line, mas o que elas têm em comum? São inovadoras. Surgiram para atender demandas e anseios que a maioria de nós sequer sabíamos que eram tão eminentes. Oferecem produtos ou serviços dos quais sequer detém os materiais físicos ou as estruturas das atividades fins, construindo um império de forma infinitamente mais veloz do que empresas historicamente consolidadas haviam conseguido desde a revolução industrial.

Uber, Facebook, Netflix, Groupon, Cabify, Google, Airbnb, entre outras, são empresas que tiveram uma jornada meteórica. Admiradas pelo êxito de pouco tempo após sua fundação passarem a faturar bilhões. A UBER, em cerca de dois anos de existência, foi avaliada em 17 bilhões de dólares; a Groupon, também no mesmo período, foi avaliada em cerca de 6 bilhões de dólares; a Google, poucos meses após a sua fundação, foi avaliada e vendida por 1,4 bilhões de dólares.

Em tudo mencionado acima certamente não há nada de errado. No entanto, as perguntas que devem ganhar espaço em nossas reflexões são: como e em que medida estas empresas têm se consolidado pautadas nos conceitos de Sustentabilidade?

Páginas de pesquisas e sites de interação social deveriam ser pressionados e responsabilizados por serem veículo para disseminação de falsas notícias? O termo “pós verdade” já foi incluso no Dicionário de Oxford e muitos afirmam que o fenômeno de falsas notícias na internet foram determinantes nas últimas eleições americanas.

E pela disseminação de pornografia infantil? Incentivo ao terrorismo? Um volume inestimável de conteúdos desta natureza navega todos os dias na rede prejudicando as vítimas e, em certa medida, resguardando os algozes.
De que modo, empresas de aplicativos na área de transporte, podem ser motivadas a preocupação com emissões do efeito estufa dos carros? Como devem ocorrer os trâmites de responsabilidade trabalhista? E com a mobilidade urbana? Sim, mobilidade urbana, afinal é inegável que a possibilidade de percorrer a cidade no conforto de um carro a baixíssimo custo, concorre nos grandes centros urbanos com o interesse por transportes coletivos como metrôs e ônibus.

Recentemente um motorista da UBER ganhou na justiça uma causa na qual deverá receber cerca de 80 mil reais, incluindo os valores que ele deixou de ganhar durante os 6 meses de relações de trabalho. Entre os argumentos utilizados estiveram o fato de que o pagamento do cliente ao motorista é feito por intermédio da empresa, que desconta cerca 20% do valor da corrida, configurando a prestação de serviços que é formalizada por meio de contrato.

Se uma mulher for estuprada no carro de um motorista vinculado a uma destas empresas ou em um imóvel alugado por meio de uma empresa de aluguel de imóvel de terceiros de quem é a responsabilidade? E em caso de discriminação de qualquer natureza? A Airbnb já foi acusada em alguns países de diminuir a oferta de habitação a preços acessíveis nas grandes cidades.

Empresas como compras coletivas responsáveis pelo rastreamento da cadeia de fornecedores das empresas que vendem promoções em seus sites? Estariam brechas legais possibilitando que as exponenciais se eximam de algumas responsabilidades?

Deixo claro que estas empresas não são vilãs. Ao contrário oferecem serviços fundamentais para a sociedade em um formato atual e relevante. O que me pergunto, no entanto, é se a sociedade estaria perdendo a noção de que, como qualquer outra empresa, estas também devem ser cobradas a construir seu patrimônio, assegurando a efetivação da Sustentabilidade no cerne da sua estratégia de negócios. Especialistas poderiam ajudá-las a formatar projetos e iniciativas que assegurem o crescimento pautado em preservação ambiental, inclusão social, equidade, entre outros. A hora é agora. Não deveremos esperar que algo de impacto aconteça para começar a construir está visão.

Certamente as exponenciais, em sua magnitude e capacidade de inovação, poderão realizar uma imensa contribuição e transformação no cenário da Sustentabilidade Global.

*Liliane Rocha é diretora executiva da Gestão Kairós – consultoria especializada de Sustentabilidade e Diversidade. Tendo sido responsável da área de Responsabilidade Social e Diversidade América Latina na Votorantim Metais, Walmart Brasil, Banco Real-Santander, Philips, entre outras. Mestranda em Politicas Públicas pela FGV, MBA Executivo em Gestão da Sustentabilidade na FGV, Especialização em Gestão Responsável para Sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral, MBA em Coaching pela Sociedade Brasileira de Coaching, graduada em Relações Públicas na Cásper Líbero. Escreve semanalmente para a Envolverde sobre Diversidade.


Fonte: ENVOLVERDE
Atentado a uma árvores de 700 anos.
Júlio Ottoboni, especial para a Envolverde – 

Árvore símbolo do Vale do Paraíba já sofreu inúmeros atentados em seus 7 séculos de existência. O atual, com fogo, pode ter sido o mais devastador.

Um incêndio atingiu no início de abril o jequitibá-rosa, no distrito de Eugênio de Melo de São José dos Campos, com 700 anos de idade. Ele já foi alvo de várias atos de vandalismo e atentados. Atualmente é escorado por uma imensa estrutura de aço. A árvore, típica da Mata Atlântica e sob ameaça de extinção, queimou por cinco horas e ainda passa por avaliação de técnicos quanto a sua possibilidade de recuperação e de sobrevivência.
Jequitibá de 700 anos que fica no distrito de Eugênio de Melo de São José dos Campos. Foto de: Adenir Britto/PhotoUpBrasil

A árvore é um dos mais importantes símbolos de defesa do meio ambiente da Vale do Paraíba paulista e foi declarada patrimônio histórico e imune de corte por decreto municipal nº 8.25993, de 10 de dezembro de 1993. Mesmo assim não se conseguiu conter os ataques ao jequitibá.
O fogo começou por volta das 11 horas da terça-feira (11) e foi extinto às 16h por equipes do Corpo de Bombeiros e populares. Funcionários da prefeitura também estiveram no local para acompanhar e ajudar no trabalho de contenção do incêndio que adentrou por uma fresta no tronco e queimou a árvore por dentro.

Segundo moradores da região, um homem capinou a área de calçada e ateou fogo no mato, isso a poucos metros da árvores que em minutos estava em chamas. A prefeitura realizará na próxima segunda-feira (17) a limpeza e retirada da vegetação seca e queimada do entorno do jequitibá-rosa.
Equipes das secretarias de Manutenção da Cidade e de Urbanismo e Sustentabilidade realizaram  uma vistoria técnica para identificar os graus de destruição e de lesões sofridas pela árvore. O diagnóstico preliminar mostrou que o incêndio não atingiu profundamente o tecido vivo do jequitibá-rosa. Isso pode ajudar numa futura recuperação da árvore.

Segundo a prefeitura, as equipes técnicas aguardarão o prazo de 20 dias para haver uma resposta fisiológica da árvore. Em seguida vão reiniciar os serviços de adubação, tratamento nutricional e controle de pragas e doenças por meio de inseticidas e fungicidas.
Foto: Adenir Britto/PhotoUpBrasil

Essas atividades são repetidas desde 2006 dentro de um plano de recuperação. Agora ele será intensificado caso o exemplar reaja. As condições de saúde da árvore antes do incêndio só serão alcançadas em um prazo de quatro anos.

Esse exemplar tem 27 metros de altura e 30 de diâmetro de copa e ainda pode durar cerca de mil anos. O Jequitibá teve uma fissura no caule e além de uma armação metálica para impedir que seja derrubado pelos ventos. O tratamento começou em 2002 e deve levar ainda de três a quatro décadas até sua recuperação.

A árvore fica nas margens da antiga estrada velha Rio-São Paulo, num trecho da Estrada Imperial. Ela foi abrigo de bandeirantes e de Entradas que seguiam para Minas Gerais. Também testemunhou o ciclo da cana de açúcar, o cafeeiro e de gado leiteiro, passando imune por mais de 3 séculos de exploração econômica da região em atividade agrária.

Os primeiros problemas começaram a surgir na década de 60, com cultos religiosos feitos sobre suas raízes e nas proximidades de seu tronco. Velas acessas em diversos rituais acabaram por incendiar a árvore diversas vezes e causaram danos significativos em sua saúde. Nos anos 80, a fábrica de veículos militares Engesa usou a árvore para testes com seus caminhões e jeeps, inclusive lançando-os contra o tronco ou mesmo atando correntes na tentativa de derrubá-lo com veículos de tração 4 x 4.

Esses abusos comprometeram toda estrutura radicular da árvore, a fez perder galhos e entrar em colapso até o tombamento. Porém, mesmo com os cuidados, o jequitibá vem nestes 24 anos de preservação legal, passando por uma série de atentados. Os mais comuns são incêndios e tentativas de derrubada. Além da colocação de anéis metálicos em seu tronco, para evitar a abertura da fissura existente, foi criada um imenso suporte de aço para mantê-lo em pé.
* Júlio Ottoboni é jornalista diplomado, tem 31 anos de profissão, foi da primeira turma de pós-graduação de jornalismo científico do Brasil, atuou em diversos veículos da grande imprensa brasileira, tem cursos de pós-graduações no ITA, INPE, Observatório Nacional e DCTA. Escreve para publicações nacionais  e estrangeiras sobre meio ambiente terrestre, ciência e tecnologia aeroespacial e economia. É conselheiro de entidades ambientais, como Corredor Ecológico Vale do Paraíba, foi professor universitário em jornalismo e é coautor de diversos livros sobre meio ambiente.  É colaborador Attenborough fixo da Agência Envolverde e integrante da Rebia.


Fonte: ENVOLVERDE