sexta-feira, 30 de junho de 2017

Mudanças Climáticas: Humanidade tem só mais três anos para salvar o planeta, diz grupo de especialistas.
IHU

Principais autoridades ligadas ao clima se unem em campanha colaborativa para mobilizar setores-chave da economia; sua missão: reduzir a liberação de gases de efeito estufa até 2020 e evitar os piores efeitos das mudanças climáticas.

A reportagem é publicada por Luciana Vicária e publicada por Observatório do Clima, 28-06-2017.

O ano de 2020 será crítico para o futuro do clima. Caso as emissões continuem a subir além dessa data, os objetivos do Acordo de Paris tornam-se praticamente inalcançáveis, concluiu um grupo de especialistas no assunto, liderados pela diplomata Christiana Figueres, ex-secretária-executiva da Convenção do Clima das Nações Unidas. Juntos, eles publicaram nesta quarta-feira (28), na revista científica Nature, um plano para manter as emissões de gases de efeito estufa sob controle nos próximos três anos. Batizado de “Missão 2020”, o documento traça metas de emissão de gases para seis setores da economia: energia, infraestrutura, transporte, uso da terra, indústria e finanças.

O documento foi divulgado uma semana antes de os líderes das maiores economias do mundo reunirem-se em Hamburgo, na Alemanha, na reunião do G20. É o primeiro encontro multilateral realizado após o anúncio de Donald Trump de que os EUA sairão do acordo do clima. “A ideia é justamente trazer o assunto para a pauta política, destacar o que cada uma destas grandes economias está fazendo para enfrentar o desafio climático, compartilhar boas práticas e renovar as esperanças, porque, de fato, ainda temos chances”, disse Figueres.

O aumento de temperatura que o planeta já experimentou neste século serviu para mostrar que os impactos sociais das mudanças climáticas, como as ondas de calor, as secas e o aumento do nível do mar, afetam especialmente os mais pobres. Os mantos de gelo na Groenlândia e na Antártida perdem massa a uma taxa crescente, aumentando o nível do mar; da mesma forma, o gelo marinho de verão do Ártico; além, dos recifes de corais, que morrem devido ao aquecimento das águas.

“A boa notícia é que ainda estamos em tempo de atingir as metas do Acordo de Paris se as emissões caírem até 2020”, afirma Hans Joachim Schellnhuber, diretor do Instituto para Pesquisa de Impactos Climáticos de Potsdam, na Alemanha. Nos últimos três anos, as emissões mundiais de gás carbônico por queima de combustíveis fósseis permaneceram estáveis, enquanto a economia global cresceu pelo menos 3,1% ao ano.

A taxa atual de emissão, de 41 bilhões de toneladas de gás carbônico por ano, ainda está acima do que podemos emitir. Significa que, no ritmo de agora, em quatro anos, ultrapassaríamos o limite de emissões que daria à humanidade uma chance de estabilizar a temperatura em 1,5° Celsius. “É agora ou agora. Não podemos mais esperar”, diz Schellnhuber. “Se atrasarmos, as condições de vida no planeta serão severamente restringidas.”

Para evitar o pior, segundo Schellnhuber, é preciso usar a ciência para orientar decisões e estabelecer metas, replicar com agilidade as boas práticas de sustentabilidade e, sobretudo, incentivar o otimismo. “Temos inúmeras histórias de sucesso que precisam ser compartilhadas. É o que vamos fazer já na reunião do G20 na Alemanha”, disse.

Estas são as metas estabelecidas pela Missão 2020 para cada setor da economia:

1 – Energia: As energias renováveis ​devem compor pelo menos 30% do fornecimento de eletricidade no mundo em 2020, contra 23,7% em 2015. Nenhuma usina a carvão poderá ser aprovada daqui três anos.

2 – Infraestrutura: Cidades e Estados darão sequência aos seus planos de descarbonização, o que inclui a construção de edifícios e infraestruturas até 2050, com financiamento previsto de US$ 300 bilhões por ano.

3 – Transporte: Os veículos elétricos deverão compor pelo menos 15% das vendas de automóveis novos globalmente até 2020 e os híbridos devem avançar 1%. O uso do transporte em massa nas cidades deve dobrar, a eficiência de combustível em veículos pesados deve aumentar 20% ​​e a emissão de gases de efeito estufa na aviação por quilômetro percorrido deve diminuir 20%.

4 – Uso da terra: Novas políticas deverão proibir o desmatamento e os esforços devem se concentrar em reflorestamentos. As práticas agrícolas sustentáveis ​​terão de se espalhar pelo planeta e aumentar o sequestro de gás carbônico.

5 – Indústria: A indústria pesada desenvolverá planos para aumentar a eficiência e reduzir suas emissões, com o objetivo de diminuir pela metade a liberação de gases de efeito estufa até 2050. Atualmente as indústrias de ferro, aço, cimento e petróleo emitem mais de um quinto do gás carbônico mundial.

6 – Finança: O setor financeiro precisará ter pensado na forma de mobilizar pelo menos US $ 1 trilhão por ano para a ação climática. Governos, bancos privados e credores, como o Banco Mundial, vão emitir títulos verdes para financiar os esforços de mitigação do clima. Isso criaria um mercado anual que, até 2020, processaria mais de 10 vezes os US$ 81 bilhões de títulos emitidos em 2016.

** Nota do EcoDebate: Vejam, abaixo, o artigo citado na reportagem.

Christiana Figueres, Hans Joachim Schellnhuber, Gail Whiteman, Johan Rockström, Anthony Hobley, Stefan Rahmstorf (2017): Three years to safeguard our climate. Nature [DOI: 10.1038/546593a]



Fonte: IHU On-line
Atlas Brasileiro de Energia Solar, elaborado pelo INPE, traça o mapa da produção de energia solar no território nacional.
Segundo o Atlas Brasileiro de Energia Solar, país tem enorme potencial para produção de energia solar. Área que vai do Nordeste ao Pantanal reúne as principais condições para ampliar a capacidade produtiva. “O potencial para gerar energia solar no Brasil é gigantesco, especialmente no Cinturão Solar”, diz o físico Enio Pereira
Atlas Brasileiro de Energia Solar. Imagem: Inpe

O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) – lança em julho a segunda edição do Atlas Brasileiro de Energia Solar com informações sobre o potencial de geração de energia elétrica a partir da matriz fotovoltaica do país. Os dados apontam para uma “enorme” capacidade de explorar esse recurso, principalmente no chamado Cinturão Solar, área que se estende do Nordeste até o Pantanal, pegando o norte de Minas Gerais, o sul da Bahia e o norte e nordeste de São Paulo.

A primeira versão do Atlas, produzido em 2006 com dados compilados ao longo de dez anos, já apontava esse potencial de expansão. Agora, a quantidade de material obtido por meio de satélites permitiu uma análise mais profunda sobre a real capacidade do país no setor e indica a possibilidade de expansão da produção total e dos meios de geração de energia elétrica solar. A nova edição utilizou informações levantadas durante 17 anos. Nela, já dados sobre a quantidade e disponibilidade da radiação solar, a variação de potência dos raios, como os fatores climáticos – notadamente a presença de nuvens – influenciam a disponibilidade e a influência da topografia para a incidência dos feixes de luz solar.

Segundo o coordenador dos estudos, Enio Pereira, o Atlas contribuirá para a tomada de decisões estratégicas nas políticas públicas do setor de energia elétrica. “Para você usar qualquer forma de energia, tem que conhecer a disponibilidade dela. O Atlas fornece a informação sobre a quantidade, a disponibilidade da radiação solar e como ela varia, as questões climáticas que influenciam, a topografia, a variação de disponibilidade. Ele serve para tomada de decisões do governo, para a iniciativa privada definir investimentos e para estudiosos entenderem a disponibilidade de energia solar no Brasil”, explica o físico, que atua no Laboratório de Modelagem e Estudos de Recursos Renováveis de Energia (Labrem) do Inpe.

O Atlas também traz informações técnicas para a instalação de equipamentos solares para uso doméstico, como geradores locais de energia elétrica ou aquecedores de água.

Atualmente, a participação da fonte solar na matriz energética brasileira representa apenas 0,02% do total produzido no país. Na avaliação de Enio Pereira, a capacidade produtiva do Brasil pode crescer com a instalação de novos empreendimentos. “O potencial para gerar energia solar no Brasil é gigantesco, especialmente no Cinturão Solar. Toda essa área tem um potencial enorme de geração, porque tem incidência de muita luz solar e durante um longo período, especialmente entre maio e setembro, que é uma época de seca na maior parte desse território”, afirma o físico.

Entraves

Um dos desafios encontrados pelo setor é conseguir manter a produção diante das variabilidades das condições atmosféricas, como em dias chuvosos ou com alta nebulosidade. Esse é considerado um entrave-chave para a expansão da produção solar, especialmente na comparação com a fonte hidrelétrica.

“A hidrelétrica, tendo água, você consegue programar de forma constante a sua produção. Na solar, você não tem controle de quanto vai gerar porque tem uma nuvem passando. É uma energia que varia muito com o tempo. Essa é uma questão que deve ser resolvida”, diz.

O pesquisador do Inpe ressalta que a alternativa apontada pelo Atlas Brasileiro de Energia Solar para resolver este problema é distribuir a produção. Assim, é possível manter o volume de geração, mesmo que determinada área não tenha condições de gerar energia. Ele alerta, porém, que ainda há um longo caminho a ser trilhado para garantir uma técnica eficiente de produção.

“Uma saída é fazer geração descentralizada. Isso pode render em uma produção mais ou menos constante. Técnicas estão sendo desenvolvidas para minimizar a variabilidade, e isso depende de desenvolvimento tecnológico. Estamos trabalhando para buscar soluções para isso. O Inpe tem tido um papel pioneiro no levantamento do levantamento de dados de energia solar no Brasil, e esperamos contribuir para a expansão da energia solar no Brasil”, ressalta.

Para produzir o Atlas Brasileiro de Energia Solar, o Inpe contou com a participação de pesquisadores de várias instituições brasileiras, como a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Tecnológica Federal do Paraná e Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Serão produzidas 1.500 cópias do estudo, que serão distribuídas para instituições do setor.


Fonte: MCTIC
Degelo: Mudança climática poderia aumentar a área livre de gelo na Antártida em 25% até 2100.
Área livre de gelo, oeste da Antártida. Foto: Jasmine Lee / Australian Antarctic Division.

Da Agência EFE / ABr

O fenômeno da mudança climática poderia aumentar em 25% a área livre de gelo na Antártida até o fim deste século, o que provocaria efeitos drásticos na biodiversidade do continente, informaram nesta quinta-feira (29) fontes oficiais.

A área sem gelo representa atualmente 1% da superfície do Continente Polar – cuja extensão total é de aproximadamente 14 milhões de quilômetros quadrados -, local onde se concentra quase toda a sua fauna e flora.

Uma pesquisa da Divisão Antártica Australiana (AAD, a sigla em inglês), a primeira a investigar o impacto da mudança climática nas áreas sem gelo da Antártida, prevê que esses terrenos aumentarão até se unir. O trabalho foi publicada hoje pela revista Nature.

O pesquisador da AAD Aleks Terauds disse que as previsões indicam que o desaparecimento do gelo em 2100 fará com que surjam aproximadamente 17.267 quilômetros quadrados de terreno, o que representa aumento de quase 25%.

“Isso oferecerá novas áreas de expansão para espécies nativas, mas também poderá atrair espécies invasoras e, em longo prazo, levar à extinção das espécies nativas menos competitivas”, disse Terauds em comunicado da AAD.

Segundo o especialista, o degelo afetaria principalmente a Península Antártica e a Costa Leste do continente.

Para a especialista Jasmine Lee, diferentemente de estudos anteriores, que se concentraram na redução da capa de gelo e em seu impacto no aumento do nível do mar, esse novo trabalho analisa os efeitos na biodiversidade do continente.

Lee lembrou que as atuais áreas sem gelo variam de 1 quilômetro quadrado até milhares e são importantes berçários para focas e pássaros marinhos, além de acolher invertebrados, fungos e líquens endêmicos.

A pesquisa foi apresentada ao Comitê para a Proteção Ambiental durante a reunião consultiva do Tratado Antártico, realizada em maio na China.


Fonte: EcoDebate
RJ: Relatório compila violações de direitos cometidas pela TKCSA.
Foi lançado na manhã desta segunda-feira, 26, o relatório Violações de direitos humanos na siderurgia: o caso TKCSA – ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica do Atlântico. A publicação compila diversas denúncias e destrincha o passivo socioambiental causado pela siderúrgica instalada em 2007, em Santa Cruz, bairro da Zona Oeste do município Rio de Janeiro. A publicação foi produzida pelo Instituto Pacs e pela Justiça Global a partir de pesquisa de campo realizada entre novembro de 2016 e março deste ano.

Margarete dos Reis, moradora da região, denunciou durante o lançamento a piora crescente dos casos de adoecimento e lembrou o descompromisso da empresa junto à população do entorno.  “Na época [da instalação da empresa] eu tive a oportunidade de ir até lá e o diretor da TKCSA disse que a chuva de prata [lançamento de partículas poluentes no ar] era um mau menor, como se fosse um bolo que às vezes a gente faz e transborda”, indignou-se. “Desde então, eles não deram nenhum retorno para os moradores e pescadores/’, completou. Flávio Rocha, estudante e também morador da região, questionou o fato de a siderúrgica se instalar num bairro onde a maior parte da população é negra: “Isso é racismo. Não é à toa”, defendeu.

Gabriel Strautman, coordenador-adjunto do Instituto Pacs, explica que o documento traz quatro denúncias principais: o descumprimento da legislação ambiental, a interrupção da pesca artesanal, os danos à saúde dos/as moradores que vivem no entorno da siderúrgica e as violações de direitos civis e políticos de pessoas e coletivos que resistem e denunciam as violações causadas pelo empreendimento.

Atualmente, mais de 300 moradores/as lutam por justiça, por meio de mais de ações judiciais movidas pela Defensoria Pública. Segundo o Defensor Público Cristiano Paiva, que acompanha as ações, a falta de estrutura dificulta uma atuação mais célere da justiça frente a “atores com alto poder econômico”. De acordo com ele, a falta de uma perícia técnica isenta que busque estabelecer o nexo causal entre o crescente adoecimento e a poluição causada pela siderúrgica ou que permite mensurar os danos causados pelas enchentes ocasionadas pela instalação do empreendimento é o principal impedimento para o andamento dos processo.

Além de depoimentos de moradores e pescadores, revisão a documentos e consulta bibliográfica sobre o tema, o Relatório, traz 21 recomendações ao Judiciário, Inea, Governo do Estado, BNDES, Ministério Público, Defensoria e Secretaria Municipal de Saúde visando a garantia dos direitos e a reparação aos atingidos.

Empresas e Direitos Humanos

Para Melisandra Trentin, coordenadora da Justiça Global, o caso TKCSA está dentro de um contexto social e político de permissividade no qual empreendimentos com alto impacto na natureza e nas comunidades – como siderúrgicas e portos – se instalam e funcionam nos países do sul global a despeito da legislação ambiental e de quaisquer responsabilização do Estado. Tal situação caracteriza o que ela chama de “arquitetura da impunidade corporativa”.

Segundo explicou Melisandra, buscando reagir a esse contexto, a ONU aprovou em junho de 2011, os Princípios Orientadores sobre Empresas e Direitos Humanos elaborados pelo Representante Especial do Secretário-Geral das Nações Unidas, John Ruggie. Os princípios se baseiam em três parâmetros: a obrigação dos Estados de proteger os direitos humanos, a obrigação das empresas de respeitá-los e a necessidade de que existam recursos adequados e eficazes para repararem caso de descumprimento destes direitos pelas empresas.

Justiça

Em fevereiro deste ano, a insegurança dos/as moradores e pescadores de Santa Cruz tornou-se ainda maior após o anúncio da venda da siderúrgica para o grupo Ternium. “Agora é que a gente não sabe mesmo como  fica a nossa situação”, declarou Regina. O defensor Público Cristiano Paiva ressaltou, porém, que a venda da empresa não a exime da responsabilidade legal nas reparações. “O legado da justiça no caso TKCSA é uma vitória não só para os moradores diretamente impactados mas para o país todo porque pode abrir um precedente interessante no sentido de fortalecer a legislação ambiental”, completou Gabriel.

Para saber mais sobre o caso, acesse: http://paretkcsa.org/



Por que os adolescentes se expõem aos riscos do Baleia Azul?
Por Sylvia van Enck Meira para a Carta Educação – 

Psicóloga dá dicas a pais e educadores de como orientar os adolescentes e protegê-los dos perigos do jogo.

Desde o início de abril, as mídias vêm divulgando notícias sobre os riscos do uso de um jogo virtual chamado “Desafio da Baleia Azul”. Com terreno bastante fértil entre os adolescentes, o jogo – criado na Rússia, em 2015, e recém chegado ao Brasil – vem causando muito temor entre famílias e educadores.

O “Desafio da Baleia Azul” começa a partir de um convite enviado pelas redes sociais (WhatsApp ou Facebook) por um administrador ou curador, nome dado aos organizadores do jogo. Uma vez aceito o desafio, começam as trocas de mensagens com tarefas que devem ser cumpridas pelo jogador.
Crédito: Foto: Tato Rocha/JC Imagem.

A partir desse momento, o participante é coibido a não desistir do jogo sob pena de punições a si próprio e aos familiares e amigos, já que os organizadores têm acesso aos seus dados pessoais.

Ao todo, são 50 desafios sendo o último o suicídio. Há outras tarefas que consideram por exemplo, assistir filmes deprimentes e de terror durante a madrugada, estimulando sentimentos de menos valia e a depressão. Os jogadores recebem o desafio do dia às 4h20. Sequencialmente, eles se tornam mais perigosos, inserem técnicas como a automutilação e estimulam a privação do sono, simulando etapas preparatórias para o objetivo final.

Nos perguntamos por que muitos adolescentes se expõem aos riscos? Como conseguem driblar a vigilância paterna?
Na busca por identidade, os jovens podem se sentir melancólicos e solitários.

É sabido que a fase adolescente está ligada à busca de identidade pessoal e, muitas vezes, os jovens sentem-se melancólicos e solitários. Eles estão num momento precioso de buscas de novos referenciais e, pertencer a um grupo, passa a ter importância fundamental.

Temos observado que, cada vez mais, as pessoas têm se utilizado dos recursos tecnológicos e de seus benefícios. No entanto,  os filhos, sobretudo os menores de idade, carecem de supervisão paterna frequente.

Na medida em que os próprios adultos se mantém conectados aos aparelhos é comum surgir a dificuldade de estabelecer limites às crianças e adolescentes, inclusive no que diz respeito ao cumprimento das atividades de rotina. Frente a este cenário, as relações familiares se tornam superficiais, distanciadas.

O “Desafio da Baleia Azul” sugere reflexões e ações por parte de pais e educadores para:
  • Atentar às mudanças no comportamento dos jovens, dentre eles mudanças nos hábitos de rotina (alimentação, sono, vestuário, falta às aulas, isolamento) e no humor;
  • Abrir espaço para o diálogo sobre diferentes assuntos;
  • Acolher, ouvir o que o adolescente tem a falar sobre si, sobre seu mundo de relações e incertezas;
  • Orientá-lo acerca dos riscos do uso de jogos que podem colocar sua vida em risco;
  • Estimulá-lo e valorizar suas competências e interesses genuínos;
  • Estabelecer limites de forma coerente e consistente.
Sylvia van Enck Meira: Psicóloga Clínica. Mestre em Psicologia Clínica. Especialista em Terapia Familiar e de Casais. Terapeuta Comunitária. Psicóloga do Ambulatório dos Transtornos do Impulso no Programa de Dependências Tecnológicas do Instituto de Psiquiatria do HCFMUSP.


Fonte: ENVOLVERDE

quarta-feira, 28 de junho de 2017

São Paulo precisa redescobrir a relação com seus rios.
Por Denis Pacheco – do Jornal da USP –

Pesquisa analisa o processo histórico que tornou os rios da capital paulista símbolos de descaso e degradação.

“Hoje a gente só percebe o rio quando ele transborda ou cheira mal. Ou seja, só de uma forma negativa. Apesar de a água refletir a luz do sol e render uma paisagem bonita, só percebemos o rio quando ele paralisa automóveis.” A melancólica constatação é do arquiteto José Paulo Neves de Gouvêa, pesquisador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP.
Na escala de urgência das agendas políticas, rios estão listados como uma prioridade menor – Foto: Marcos Santos / USP Imagens.


Segundo dados do Instituto Trata Brasil, apenas 47% dos dejetos recebem tratamento atualmente na região Sudeste do País – os que não recebem vão parar em rios e represas, corroborando o diagnóstico de Gouvêa. Não por acaso, nomes como Tietê e Pinheiros se tornaram símbolos do descaso com o qual o governo trata seus rios.

Com o objetivo de compreender como os rios da capital paulista chegaram a esse estado de degradação, o arquiteto realizou uma pesquisa que culminou em tese de doutorado defendida na FAU. “Eu queria entender qual foi o processo histórico que levou os rios a ocuparem uma posição tão desprivilegiada na cidade como hoje”, revela. Seu trabalho analisa como se deu a apropriação privada dos rios de São Paulo e sua participação na produção do espaço da cidade, aprofundando aspectos relativos ao desenvolvimento social, político e econômico, desde sua fundação no século 16 até o início do século 20.
Para pesquisador, é necessário criar estratégias mais radicais de reaproximação da população com os rios, superando ações de “embelezamento”. Na imagem, o Rio Tiête – Foto: Marcos Santos / USP Imagens .

Partindo das obras de canalização dos rios Tamanduateí, Tietê e Pinheiros, a pesquisa traçou um recuo histórico até o momento em que os rios e córregos de São Paulo se constituíam como um bem comum e sua principal característica era o uso de suas águas e terras.

Mapeando a história

Filho de geógrafos, Gouvêa trabalhou sua pesquisa intercalando resgate histórico, estudo e elaboração de mapas. “No meu mestrado eu estudei cartografia histórica em São Paulo para entender a relação da cartografia com o desenvolvimento da cidade, e a pesquisa coincidiu com o doutorado”, afirma ele. Os mapas foram então utilizados para que o arquiteto pudesse formar uma ideia ampla sobre como os rios influenciaram a cidade e como a cidade influencia o estado atual dos rios.

Margeando a pesquisa pelos rumos do desenvolvimento paulistano, o arquiteto pontuou os principais rios da cidade, inicialmente, como fontes de subsistência. “Por vários séculos a cidade usava esse bem comum, as pessoas subsistiam a partir dele. Paulatinamente, começou a nascer uma relação com a água e com o rio que já intermediava trabalho”, conta ele, ao lembrar de funções que não mais existem como a de aguadeiro, um grupo de profissionais constituído geralmente de imigrantes portugueses que pegavam a água do rio e a vendiam fora. “Era um verdadeiro serviço de distribuição de água em tonéis”, diz.
De 1850 até o começo do século 20, com o desenvolvimento da propriedade privada como a conhecemos hoje e, em especial, da apropriação privada da natureza, a realidade urbana interferiu na relação dos paulistanos com os rios e eles deixaram de ser uma fonte de subsistência. “Primeiro, porque foram poluídos e, segundo, porque todas as margens já estavam ocupadas por lotes que foram fundamentais para o crescimento da cidade”, descreve o autor do estudo ao destacar que esse crescimento foi baseado no que chamou de uma “expropriação de um bem comum”. “E isso é uma condição do crescimento de quase todas as cidades”, reitera.

Com a meta de empregar imigrantes e ex-escravos, o governo e a iniciativa privada instauraram uma lógica moderna de mão de obra que não mais podia permitir que a população encarasse os espaços dos rios como bens comuns. “É o princípio da propriedade privada que acabou engendrando o espaço”, sumariza ele.

Somando movimentos migratórios à chegada de novos serviços urbanos, providos por companhias estrangeiras, o final do século 19 se configurou em uma transformação radical para a cidade de São Paulo. Um processo tão extremo que, de acordo com o arquiteto, é distinto tanto de cidades europeias quando de capitais sul-americanas.

Nas primeiras décadas do século 20, São Paulo enfrentou uma série de enchentes que atingiu seu ápice em 1929. Para sanar a subida dos rios, empresas como a Light & Power, de capital canadense e responsável pela formação da Represa de Guarapiranga, em 1907, obteve a concessão do governo federal para retificar, canalizar e inverter o curso do Rio Pinheiros. Paralelamente, a prefeitura municipal se responsabilizou por obras no Rio Tietê e São Paulo sofreu o que Gouvêa classificou como “um ponto de inflexão”.
“Os rios foram retificados, as várzeas foram saneadas. A cidade pôde ocupar espaços e eles sumiram. 

Rodovias foram instaladas e isso praticamente consolidou o tipo de relação que a cidade tem com os rios até hoje”, explica o arquiteto.

Para ele, é fundamental compreender como, em uma esfera tanto simbólica quanto factual, terra e água foram separados.

“Terra virou lote e a água virou algo para se obter energia e servir de destino ao esgoto.”

Na visão do pesquisador, em 30 anos, São Paulo migrou de uma cidade pequena para uma cidade grande e isso ainda reverbera na identidade da capital. “Até hoje, nós não temos nenhum espaço dela que possamos considerar um bem comum”, reflete.

Um novo entendimento sobre rios

Não são poucos os projetos e pesquisas que almejam a despoluição dos rios paulistanos, entretanto, Gouvêa não acredita que exista uma solução direta para um problema que está encalacrado nas políticas que formaram São Paulo.

“O rio hoje é a manifestação da forma como a gente vive”, reflete ele. “O agravante é que a gente não vê o rio e o fato de termos rodovias instaladas ao lado dos rios impossibilita qualquer tipo de identificação e ação”, lamenta.
Na opinião do urbanista, o rio foi separado entre terra e água, sendo preciso articular um pensamento que torne o rio de novo uma unidade. Na imagem, o Rio Pinheiros – Foto: Marcos Santos / USP Imagens.


Com canais administrados pelo governo do Estado e as margens pela prefeitura municipal, os rios da capital paulista enfrentam uma série de entraves políticos que dificultam sua gestão conjunta. “O rio foi separado entre terra e água, e nós teríamos que articular um pensamento que tornasse o rio de novo uma unidade”, argumenta o especialista ao apontar que, na escala de urgência das agendas políticas, os rios estão listados como uma prioridade menor.

Para Gouvêa, a melhor alternativa seria criar estratégias mais radicais de reaproximação da população com os rios, num esforço que superasse ações de embelezamento e que, verdadeiramente, educasse gerações futuras.

A tese A presença e a ausência dos rios de São Paulo: acumulação primitiva e valorização da água foi orientada pela professora Angela Maria Rocha, da FAU, e pode ser acessada neste link.

Mais informações: e-mail paulogou@uol.com.br, com José Paulo Neves Gouvêa


Fonte: USP
Bacia do Tapajós é uma das mais ameaçadas por hidrelétricas na Amazônia.
Por Sucena Shkrada Resk, do ICV

ONGs brasileiras também fizeram levantamento sobre cenário de hidrelétricas na Bacia do Tapajós. Mapa: IR-Brasil, ICV e OPAN

A Bacia do Tapajós, localizada nos estados do Mato Grosso, Pará e Amazonas, que liga o Cerrado à Amazônia, é uma das mais ameaçadas na Bacia Amazônica por projetos de empreendimentos hidrelétricos construídos e em planejamento, ao não ser considerado o efeito cumulativo de impactos destas barragens. Esta é uma das conclusões de um grupo de cientistas, no Estudo Damming the Rivers of Amazon Basin, publicado recentemente pela conceituada publicação científica, a Revista Nature, que sinaliza um cenário preocupante de degradação em larga escala, com um horizonte de mais de 500 empreendimentos em toda a Amazônia. O artigo reforça análises que já vêm sendo feitas no Brasil, nos últimos anos (veja abaixo).
Os pesquisadores avaliam que o planejamento da matriz elétrica com a abordagem local geralmente ignora as dimensões muito maiores da escala da bacia, geomorfológicas, ecológicas e políticas que determinarão a condição produtiva e ambiental futura do sistema do rio como um todo. Ao mesmo tempo criticam que não são avaliados os impactos ambientais nas escalas regionais a continentais. 

São os chamados efeitos cumulativos, que levam à degradação em larga escala da planície de inundação e dos ambientes costeiros. Pensar num contexto de Pan-Amazônia é crucial, de acordo com o estudo.

Segundo os cientistas, este cenário de degradação ambiental exige necessidade de ação coletiva entre nações e estados para evitar impactos cumulativos e de longo alcance. Para auxiliar neste objetivo, apresentam uma nova forma de métrica, por meio do Índice de Vulnerabilidade Ambiental da Barragem ou DEVI para quantificar os impactos de 140 barragens construídas e em construção e o impacto potencial de 428 barragens construídas e planejadas (que produzem mais do que 1 MW) na bacia amazônica.

“O rio Tapajós precisa ser uma área prioritária para estudos detalhados sobre impactos de barragens em ecossistemas aquáticos e biodiversidade….e sofrerá impactos maiores do que o rio Xingu devido o número muito maior de barragens planejadas ao longo de centenas de quilômetros…” – esta é uma das principais recomendações apresentadas.

Entre as fragilidades do Tapajós, é exposto que existe uma área menos protegida à montante da barragem mais baixa e uma maior taxa de desmatamento. Também a presença humana em larga escala causa um distúrbio antropogênico das paisagens, possibilitado pela escassez de áreas protegidas e aumento de estoques de sedimentos. Mais um aspecto importante a ser considerado é que na bacia existem espécies em risco de extinção.

Pesquisas no Brasil sobre a Bacia do Tapajós

No ano passado, um grupo de cerca de 50 pesquisadores de diferentes organizações escreveram 25 artigos a respeito deste tema e seus efeitos socioambientais, no livro Ocekadi: Hidrelétricas, Conflitos Socioambientais e Resistência na Bacia do Tapajós. A obra é uma iniciativa do International Rivers Brasil e do Programa de Antropologia e Arqueologia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA) em parceria com o Instituto Centro de Vida (ICV), a Operação Amazônia Nativa (OPAN) e o Instituto Socioambiental (ISA) e tem o apoio da Charles Stewart – Mott Foundation e do Fundo Socioambiental Casa. A WWF – Brasil lançou no mesmo ano, o estudo Uma visão de conservação para a Bacia do Tapajós.

No Estado do Mato Grosso, movimentos socioambientais também se mobilizam nesta agenda, entre eles, o Fórum Teles Pires e a Rede Juruena Vivo, que levam o nome dos principais afluentes que formam o rio Tapajós. E no contexto nacional, o Grupo de Trabalho de Infraestrutura, composto por mais de 30 organizações não governamentais, se dedica a esta pauta.


Fonte: ICV
IUCN vai trabalhar com a Fundação Renova na recuperação da Bacia do Rio Doce.
Iniciativa inédita no Brasil irá avaliar, de forma científica e independente, as melhores soluções para a gestão socioambiental da bacia do Rio Doce.

Uma das mais renomadas instituições globais de ciência na área da conservação, a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês), irá atuar de forma científica e independente, para recomendar as melhores soluções para a recuperação socioambiental da Bacia do Rio Doce. Por meio de um contrato com a Fundação Renova, a IUCN vai implantar e coordenar um Painel Independente de Assessoramento Científico e Técnico (ISTAP, na sigla em inglês) pelos próximos cinco anos.
Yolanda Kakabadse, presidente da WWF Internacional

O trabalho será coordenado pela equatoriana Yolanda Kakabadse, ambientalista mundialmente reconhecida, presidente da WWF Internacional desde 2010, e que conta com passagem pela presidência da IUCN e pelo Ministério do Meio Ambiente do Equador.

O painel do Rio Doce, como será chamado, contará com mais seis membros em busca das melhores soluções socioambientais para a região. Estes membros serão selecionados por meio de editais públicos, que já estão abertos. A atuação do painel será distribuída inicialmente em seis eixos temáticos, considerando os aspectos da vida terrestre, marinha e ribeirinha: estratégia, toxicologia, impactos sobre os ecossistemas, remediação dos ecossistemas, gestão de água, resíduos e rejeitos, e práticas econômicas sustentáveis.

A IUCN é a maior e mais diversificada rede ambiental do mundo, com vasta experiência em estudos científicos e implantação de painéis focados em desafios ambientais de grande escala, como o derramamento de petróleo na Nigéria (2011) e a ameaça às baleias cinzentas no extremo oriente da Rússia (2016). Mais de 16 mil especialistas compõem a rede da IUCN, sendo que muitos de seus integrantes estão dentre as maiores autoridades de suas áreas de conhecimento. Aglutina membros de organizações governamentais e não governamentais, propiciando o diálogo, trocas de informações e cooperações diversas entre todas as regiões do mundo.

Diante da dimensão e complexidade dos desafios enfrentados, a atuação da IUCN será fundamental para avaliar a eficiência das soluções desenvolvidas pela Fundação Renova e por outros atores envolvidos com a Bacia do Rio Doce. “Atuamos na fronteira do conhecimento, o que envolve, inclusive, novos alinhamentos com parâmetros científicos e políticas públicas”, explica Roberto Waack, presidente da Fundação Renova.

Neste sentido, a IUCN irá contribuir com o aprofundamento científico dos impactos socioambientais causados pelo rompimento da barragem de Fundão. Como não há precedentes para alguns dos danos gerados, o papel da entidade poderá ser referência para o estabelecimento de estratégias de recuperação e conservação, envolvendo todos os stakeholders que atuam nesse processo.

As avaliações, pesquisas e recomendações dessa parceria serão apresentadas ao longo de cinco anos, por meio de relatórios contendo orientações científicas robustas e realizáveis. Em função da sua autonomia, a IUCN atuará de forma independente da Fundação Renova – embora possa recorrer a quaisquer níveis de engajamento com a instituição, em prol do adequado funcionamento do painel do Rio Doce. A composição do painel do Rio Doce, sua agenda de atuação, conclusões e recomendações serão divulgados publicamente, de forma periódica, como meio de reforçar a transparência do trabalho. Uma página na internet foi criada para divulgar todas as informações pertinentes ao painel do Rio Doce, incluindo seu termo de referência e os editais para contratação de seu coordenador e membros especialistas.

Confira o hotsite do painel do Rio Doce no link: www.iucn.org/riodocepanel

Sobre a Fundação Renova

A Fundação Renova é uma instituição autônoma e independente constituída para reparar os danos causados pelo rompimento da barragem de Fundão. Entidade privada, sem fins lucrativos, garante transparência, legitimidade e senso de urgência a um processo complexo e de longo prazo. A Fundação foi estabelecida por meio de um Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC), assinado entre Samarco, suas acionistas, os governos federal e dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo, além de uma série de autarquias, fundações e institutos (como Ibama, Instituto Chico Mendes, Agência Nacional de Águas, Instituto Estadual de Florestas, Funai, Secretarias de Meio Ambiente, dentre outros), em março de 2016.


Fonte: ENVOLVERDE
48% das UCs federais sofrem com espécies exóticas da fauna.
O dado consta de estudo feito por analista do ICMBio, que comprovou a presença de 104 dessas espécies nas unidades de conservação, sendo que 59 põem em risco a biodiversidade.

Cães, gatos, cabras e até um inofensivo peixinho dourado de aquário podem se tornar uma grande dor de cabeça para gestores de unidades de conservação (UCs). Segundo estudo da analista ambiental Tainah Guimarães, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), 48% das UCs federais possuem alguma espécie de fauna exótica, sendo que em 60% das unidades de proteção integral há ocorrência desses animais. Ao todo, 104 espécies exóticas estão presentes em UCs e 59 delas colocam em risco a biodiversidade local.

As espécies exóticas são aquelas que estão fora de sua distribuição natural e foram introduzidas por seres humanos. Geralmente, elas são inseridas com objetivos econômicas (tilápias) ou acidentalmente (navios trazem espécies incrustadas nos cascos). Podem ser ainda animais de estimação abandonados (gatos, cães, peixes ornamentais, coelhos).

Fatores como dieta flexível, capacidade de gerar vários filhotes por ninhada, baixo intervalo do ciclo de reprodução, dentre outros, ajudam uma espécie a se fixar num ambiente e a se propagar. “Espécies invasoras têm uma grande capacidade de adaptação ao local, com um ciclo rápido de maturação e ausência de predadores e parasitas locais”, explica Tainah Guimarães.

Com isso, essas espécies conseguem afugentar predadores nativos e serem dominantes no ambiente. 

Elas também podem alterar paisagens. Na Reserva Biológica do Lago Piratuba, no Amapá, por exemplo, búfalos criaram um igarapé, pois o padrão de movimentação desses animais provoca valas no solo.

O manejo é feito por meio da prevenção da entrada dessas espécies, erradicação da população e controle, que pode ser feito por castração, abate ou introdução de agentes como patógenos ou predadores naturais.
Javali

O javali é uma espécie invasora presente em dezenas de UCs pesquisadas. Introduzido nos anos 90 como carne de corte, a população desses animais rapidamente se alastrou pelo país, sendo encontrados indivíduos na Bahia e Tocantins.

Agressivo, ele possui dieta variada, afugenta predadores locais, como catetos e porcos-do-mato, e prejudica a regeneração natural. Também pode haver cruzamentos entre o javali selvagem e porcos domésticos, explodindo a taxa de natalidade desses animais.

O manejo do javali é regulamentado pela Instrução Normativa nº 03/2013 do Ibama, que permite, inclusive, a caça com restrições. No entanto, ainda há insegurança na aplicação desta IN. “Os gestores têm receio em autorizar a caça pois nunca se sabem se eles vão se valer da autorização para caçar espécies não permitidas”, alerta Tainah Guimarães.

Animais domésticos

UCs localizadas perto de cidades costumam abrigar um grande número de espécies exóticas. Isso ocorre porque há a entrada de animais domésticos provenientes de fuga ou abandono. “O fato de ter muitas unidades em torno de conglomerados urbanos facilita a propagação dessas espécies”, conta Tainah.

Cães, gatos, peixes ornamentais, cabras, porcos, cavalos e jumentos são comuns em áreas de conservação. As pessoas costumam abandoná-los nesses locais, o que pode causar grande desequilíbrio ambiental, já que eles acabam se multiplicando. Outro fato preocupante é a soltura indiscriminada de animais exóticos à fauna brasileira como lagartos geckos, espécies variadas de cobras e aranhas.

Em Fernando de Noronha, a dificuldade atual está em conter a população de gatos. O animal é capaz de se reproduzir com facilidade (maturação sexual ocorre a partir dos 5 meses) e até 12 filhotes nascem de uma vez. Além disso, o gato rapidamente entra num estado feral (quando perdem as características domesticadas) e tem uma alimentação variada.

A solução foi a de capturar os animais e encaminhá-los para doação no continente. Entretanto, essa saída nem sempre é viável, especialmente com gatos ferais. Dificilmente eles conseguem ser domesticados e correm o risco de serem abandonados novamente.
Peixe-leão e chital

De acordo com o estudo realizado por Tainah, o ICMBio tem dois grandes desafios pela frente. Um deles é o peixe-leão, uma espécie de recente introdução no país. O peixe-leão é um predador voraz e também é venenoso. Geralmente o manejo de espécies aquáticas se revela desafiador por ter rápida propagação.

Outro animal de recente introdução é o chital. Proveniente da Ásia, essa espécie ficou famosa por ser a mesma do personagem Bambi, da Disney, e sua propagação para finalidade de caça é mundial.


Fonte: ICMBio